Paranoid Android escrita por chibi_cold_mari


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Tive certas dificuldades para escrever esse capítulo, espero que gostem. AVISO: Menção ao estupro, não leia se sentir-se ofendido (a)



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        Eu andava apressadamente, tropeçando em meus próprios pés, de puro nervosismo.Os punhos tão cerrados, que podia sentir as juntas de meus dedos protestarem da tamanha força, podia sentir que minhas unhas ameaçavam perfurar a palma de minha mão a qualquer momento.Não estava preocupada em quebrar um dedo, ou em me fazer sangrar.Não, isso tudo era tão superficial comparado com o que viria a acontecer se eu não chegasse na hora naquela maldita casa.

 

        “Acalme-se...Raciocine, não fique nervosa, isso só vai te atrapalhar.”

 

        Enquanto esperava pelo ônibus, imaginava a minha rota de fuga para aquela noite.Da ultima vez não havia conseguido um bom resultado tentando sair pela porta da frente...Era tão fácil puxar pelos pulsos uma garotinha de 50 kg, quando se é um homem de 40 anos bruto e indelicado.Realmente, aquela não fora a minha melhor rota.

        Entrei espremendo-me contra a multidão de trabalhadores cansados e mal-cheirosos que saiam naquele horário.Pouco me importava se estava naquele lugar, meus pensamentos estavam tão perdidos que nada mais tinha importância.

        O tempo parecia estar tão distorcido, enquanto caminhava em direção ao ônibus tudo era tão rápido, que nem percebi quando cheguei na portaria do prédio.Olhei desgostosa para a fachada horrenda e desbotada de uma versão primitiva do que hoje é chamada Coab.Não se comparava com um conjunto de prédios que o governo gentilmente cedera à população, era realmente algo nojento onde os moradores eram geralmente funcionários públicos aposentados à décadas.E em sua maioria eram todos bêbados depravados, resultado de uma vida desanimadora e uma aposentadoria mais infeliz ainda.

        Subi as escadas até o 3º andar, as infiltrações nas paredes, a fiação perigosamente exposta e o cheiro de mofo me eram tão familiar...O estado de degradação se espalhava por todo o edifício, tornando a construção mais grotesca ainda.Abri a porta, tentando não olhar para o estado no qual a sala se encontrava, ele devia ter trazido mais amigos dessa vez.Cinzas, garrafas e manchas de água se espalhavam cruelmente pelo sofá, tapete e qualquer outro objeto que estivesse presente ali.

        Corri até meu “quarto”, desabei sob meus joelhos ao ver o seu estado: a minha cômoda completamente revirada, roupas imundas e limpas jogadas pelo chão, meu colchão cruelmente atirado para longe do estrato precário de minha cama, os lençóis manchados por algo branco, o cheiro forte de urina...

        Com os olhos ardendo de fúria, peguei algumas das poucas roupas limpas e dirigi-me ao banheiro.Deixei as lágrimas pesarosas se misturarem com a água fria do chuveiro, torcendo para que os fios desencapados tornarem-se mortais.Estava lamentando, por Stephanie, por sua mãe, elas não tinham culpa elas não precisavam passar por aquilo.E até por Jess, ele não devia me conhecer, eu estava o enganando, o iludindo com algo que não sou...Balancei a cabeça tentando espantar aqueles pensamentos, eu não precisava ficar emotiva naquela hora.Terminei logo com aquilo, me vesti e pus-me a esperar na porta, ele chegaria logo.Não esperá-lo na porto não era uma boa idéia, ele ficava mais furioso.

        Os passos trôpegos e a voz balbuciante o denunciavam enquanto vinha pelo corredor, ele com certeza não estava sóbrio, nunca esteve.Para mim ele sempre fora assim, bêbado, imoral, alucinado e alienado.

        -Ah, você voltou, pensei que iria me abandonar nessa droga sozinho, filhinha.-Disse ao quase cair após abrir a porta.A voz tão embaralhada, o hálito tão forte tomado pelo álcool...

        Ele se aproximava de mim, com os braços tateando pelo meu corpo, sedentos pelo contato com minha pele.Eu me esquivava calada dos movimentos, quando finalmente ele me agarrou pelos pulsos.

        -Venha, me dê um abraço.-Disse a voz agourenta ao se enroscar em mim.

        O rosto dele estava enterrado em meus cabelos molhados, o hálito impregnando neles.A mão nojenta acariciava minha nuca, enquanto a outra mão subia e descia em minhas costas, como se estivesse me afagando.Como um pai de verdade deveria realmente fazer.Mas ele não era um pai de verdade.

        Eu sabia o que estava por vir, então só fechei meus olhos.E comecei a cantar mentalmente a última música que ouvira no rádio, havia alguns buracos em minha mente que me impediam de lembrá-la, então acabei inventando os trechos inexistentes para mim.Era um bom jeito de me acalmar, de me esquecer do que estava acontecendo.De me esquecer das palavras dele, das mãos que me tocavam, dos seus gestos...

        Era uma forma de me fechar em uma ilusão de algo melhor que eu almejava ter algum dia...

        Houve então uma brecha, abri meus olhos rapidamente, arrancando-me da doce ilusão.Ele tropeçara quando tentara me empurrar para o sofá nojento, agradeci por ele ser um alcoólatra descontrolado.Ignorei que ele havia rasgado outra camiseta minha, e saí correndo para meu quarto, enquanto arrumava minha calça e fechava minha blusa.

 

        “Descerei pelas escadas externas, esperarei no terraço até que ele finalmente se canse de quebrar as coisas e de amaldiçoar o dia em que nasci.Depois disso subirei quando ele estiver dormindo no sofá, e trocarei esses lençóis nojentos.”

 

        Estava tudo planejado, corri até a minha janela fazendo certo esforço para abri-la, tudo naquele maldito prédio estava em péssimo estado.Ela finalmente abriu, eu sorria aliviada enquanto saia para a noite escura.

 

 

 

        Mas, algo prendeu meu pé.

 

        -Onde você pensa que vai, sua vadiazinha?-A voz agourenta, tornou-se rouca de raiva

 

        Ele me puxou para dentro, com uma força brutal.Acabei batendo meu nariz no batente da janela, o liquido quente logo começou a escorrer por ele, nem sequer comovendo-o.Ele agarrou minha cintura, recomeçando com toda aquela porcaria de me possuir.

        Jogou-me no colchão fedido, então eu sabia que ele não iria demorar muito para ir embora.Eu não conseguia refazer a minha doce ilusão, eu estava chorando demais, não conseguia me concentrar na droga da música.

 

        -Vamos tornar isso um pouco mais divertido, sim?-Sussurrou em meu ouvido

 

        E então ele consumou aquilo.Nunca o fizera antes, ele apenas copulava-se de meu corpo e depois ia embora.

        Mantive meu olhar desfocado na janela aberta, criando uma nova ilusão.Uma mais açucarada ainda...

 

 

                                A de que eu conseguira fugir naquela noite.

 


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Notas finais do capítulo

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