OS nós de meus dedos bateram em uma porta de madeira. Pensei que dificilmente Owen me escutaria em meio as marteladas que ele dava a uma lâmina, tentando a dar formado. Esperei um tempo e mesmo assim, nada além das marteladas insistentes, até que resolvi entrar por mim mesma. Abri a porta e dei de cara com um garoto, segurando um imenso martelo, com o qual eu francamente não conseguiria erguer, e em sua mão uma espada com uma lâmina prateada. Owen era o ferreiro da cidade e, como eu acabava passando horas com aquele garoto, terminei aprendendo a vida mágica e perigosa de ser um ferreiro.

–Bom dia, As.

Eu sorri para ele e me aproximei. Ele usava calças marrons e uma camiseta suja de qualquer poeira que resolvesse se fixar no tecido. A frente de Owen estava coberta por um grosso avental de couro e seu rosto era escondido por uma máscara de ferro que abafava suas palavras. Ele me encarou por mais um tempo esperando que eu me afastasse para ele continuar trabalhando, mas eu não o fiz.

Não demorou muito até que ele conseguisse ler meu olhar e descobrisse que algo estava fora de ordem. Ele retirou a máscara de ferro e deixou que seu rosto aparecesse. Eu conhecia cada detalhe de sua feição. Gotas de suor caíam por sua testa e seus olhos azuis estavam vermelhos pelo calor,ao contrário de minhas pupilas dilatadas envoltas em minha íris marrom. Dei um passo para trás enquanto um peso em meu peito se agravava. Foi só um beijo. Deixei que meus dedos relaxassem antes que minhas unhas rasgassem a pele da palma de minhas mãos.  

Me concentrei nas palavras que eu queria que saíssem de minha boca. 

-Um lobo da rainha fora das fronteiras, na floresta. 

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Escutava os barulhos de Owen correndo atrás de mim. Ele nunca foi silencioso ou um caçador, então era muito provável que se me perdesse de vista, apodreceria de alma e corpo nas sombras da floresta, da qual nunca acharia saída. 

-Ainda está aí? 

Minha voz caminhou pelo vento até seus ouvidos.

-Aham. Ainda não tropecei em nada.

Sorri e continuei até achar a árvore em que eu caçava a uma hora atrás. Parei abruptamente fazendo com que Owen esbarasse em mim. Estiquei meu braço e apontei para o exato ponto aonde o lobo revirou os olhos para me encarar. O garoto caminhou até o lugar e mirou o chão. Batas imensas marcavam a terra, maior do que qualquer lobo selvagem. 

-Eram com certeza Lobos da Rainha. 

-Obrigada por deixar claro o óbvio, gênio. 

Dei as costas e comecei a caminhar em direção a vila. Owen apertou o passo para que conseguisse me acompanhar, até chegar ao meu lado, deixando que seu ombro rosasse no meu. 

-E agora? -falou ele, mas eu não tinha ideia do que fazer. Era um Lobo da Rainha, fora dos dias rotineiros e fora das fronteiras. Nada bom poderia acontecer. - O que você acha que vai acontecer? 

-Acho que vamos receber uma visita dos guardas da rainha.