P.O.V Bella

Desci as escadas correndo, enquanto enxugava os olhos. Idiota, era como eu me sentia. Há algumas horas eu descobria que meu pai traia e não amava mais a minha mãe. Descobria que cresci em um casamento falso. E aprendia com meu pai que o amor é a mais nobre das sensações, mas passageira...

Passageira...

Sim, de fato era. Porque há algumas horas eu também tinha uma certeza insana que estava apaixonada por Edward Cullen. Porém agora... Agora eu nem sei mais se o conheço.

Isso é para eu aprender! É claro que eu não o conheço. Nunca conheci. Nem de fato, nem de coração. O que eu tinha por ele era uma forte atração, e isso era o que ele sentia por mim. Foi burrice minha misturar esses sentimentos.

Já chegava ao pé da escada e podia ouvir o escândalo de Alice. Ela não o perdoaria tão cedo...

– Ele é um desgraçado! – Ela berrava da cozinha. Segui sua voz e a encontrei esbravejando com um copo de água na mão.

– Homens... Sempre pensando com a cabeça de baixo... – A loira lixava as unhas. Sua frase me lembrou a do seu irmão, que dirigiu o mesmo comentário a Edward um mês atrás... No episodio em que eu também não pensei claramente...

– Mas ele não tinha esse direito! Ele não podia fazer isso comigo... – Apesar de seu estresse eu sabia que Alice estava extremamente abalada e ferida com as palavras do irmão. Assim como eu...

Eu me encostava ao batente da porta. Somente agora me dei conta que eu devia ter contado para Alice, mas só me importei com a minha dor e esqueci-me dela. Ótima amiga...

– O que aconteceu?

Jasper entrava na cozinha naquele momento. Alice logo correu para os seus braços... Já não dava mais pra ignorar as investidas óbvias desses dois. Rosalie parecia partilhar da mesma opinião que eu, pois logo fez um cara de desgosto. Alice e Jasper eram primos. Era estranho vê-los juntos, mas eu sabia que Alicia não se entregaria se não fosse verdadeiro.

– Edward. Foi isso que aconteceu. – Alice respondeu soltando-o. Alice e seu jeito espontâneo, nem pareciam seu importa nossa presença. Já Jasper e seu jeito reservado estavam de bochechas vermelhas...

– O que ele fez desta vez?

– Arrumou uma namorada ruiva e oxigenada. Victoria. – Alice tremeu ao dizer o nome da namorada de seu irmão.

– Nossa, ele já arranjou outra... – O comentário parecia ter sido feito para passar despercebido. Mas não foi. Claro que não foi.

– Como assim, outra? – Parece que Rosalie não esta mais tão desinteressada.

– Oi? – Jasper parecia não entender. É realmente o comentário era pra ter passado despercebido.

– Tudo bem? Responde a pergunta lerdão.

Jasper enfim entendeu. Seus olhos pararam nos meus por um milésimo. Foi o suficiente para eu me amaldiçoar pela minha burrice eternamente.

– Ah, bem, eu me referia á tão repentina confusão que ele criou. Outra confusão... – ele não foi muito bem sucedido na explicação. Que acabou sendo suficiente para a loira. Pra Alice...

– Explica melhor, Jasper. Eu não entendi.

– Errr...

– Alice para de coisar o garoto. – Eu disse. “Alice para de coisar o garoto”, foi o melhor né Bella? – Sem falar que esta ficando tarde, temos que ir pra minha casa.

Isso apareceu distrair Alice.

– Ah o shopping melo, né? – Rosalie perguntou fazendo bico.

– É, parece que sim. – Respondi.

Alice permanecia ao lado de Jasper. O silencio começou a ficar estranho.

– Então, vocês querem carona? - Por incrível que pareça quem quebrou o silencio foi Jasper.

– Claro. – Alice respondeu.

– Meu carro ta aqui. – Eu falei.

– Não tem problema, depois nós voltamos. Quando eu quiser voltar. – Alice respondeu prontamente.

– Temos que fazer a mala, prima. – Rosalie disse puxando Alice. Eu não me lembro de ter convidado Rosie, mas não ia fazer essa desfeita.

Em instantes estávamos só eu e Jasper. Eu não tinha coragem de encara-lo.

– Hm. Bella?

Levantei os olhos e me deparei com um Jasper desconfiado.

– Que foi, Jasper?

– Como você esta se sentindo?

A pergunta me pegou desprevenida. Como eu estava me sentindo?

– Estou bem, obrigada. – Tentei responder normalmente, mas meus olhos ardiam.

De repente o rosto de Jasper se tornou totalmente compreensivo.

– Bella, você não tem que parecer forte pra mim. Conheço Edward desde pequeno. E desde pequeno sou eu quem consola os corações quebrados por ele. Edward não sabe o efeito que causa, não totalmente. Só o perdoo porque sei disso. Mas você não sabe. Elas não souberam. Estou aqui para lhe pedir que não tenha raiva dele. Ele é um moleque.

As palavras de Jasper pareciam quase irreais. Como primos podem representar extremos tão diferentes?

– Eu- Eu não sei o que dizer. – Eu já chorava. A esse ponto não sei mais nem se tem um por que. Talvez fosse por tudo.

– Não fique assim, Bella. Não por ele. Eu me sinto quase culpado, sabe? Sempre que Edward faz uma merda dessa eu me sinto culpado por não ter evitado...

– Jasper você não tem responsabilidade por nada do que Edward faz! Isso é um absurdo, você não é pai dele! – Minhas lágrimas se misturaram a minha revolta.

– Eu sei, mas não gosto que as pessoas sofram. Realmente não gosto. Então não sofra. - Seus olhos eram tão piedosos. Jasper era de longe uma das melhores pessoas que eu já havia conhecido. Jasper tinha herdado o coração de sua tia. Alice tinha sorte de tê-lo.

– Eu não estou sofrendo por Edward. Tudo bem, eu estou. Mas nessa historia toda eu sofro mais pela minha burrice. E por eu ser tão confusa sobre o que eu sinto. Porém, tem muita coisa acontecendo na minha vida, no momento.

– Eu entendo. Não quero invadir sua privacidade. Mas... Sempre que precisar conversa, pode me chamar. Sou um ótimo ouvinte. – Jasper disse sorrindo.

– Pode deixar. E obrigada novamente, Jasper. – Disse sorrindo. Jasper devia ter o dom de acalmar as pessoas...

– Estamos prontas!! – Alice gritou da escada. – Jasper!! Ajuda-me aqui com a mala.

– Ah, e sempre que você precisar de uma ajudinha, também pode contar comigo. – Eu disse piscando.

Jasper corou e sorriu envergonhado. Meu novo objetivo de vida e ocupação, ia ser ajudar esses dois...

–x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-

Jasper nos levou até minha casa. Ao parar o carro, percebi uma estranha movimentação na minha casa, além de um carro desconhecido parado na porta. Desci correndo do carro em direção a porta. Do lado de fora já se ouvia a discussão.

– Você não vai fazer isso! – A voz da minha mãe gritava.

– Renée, você não pode me prender aqui. Não mais. A Bella já sabe de tudo, nem temos mais motivos para estarmos juntos. – A voz sempre calma do meu pai soava nervosa.

– Parem com isso! – Falei assim que entrei.

Os dois me olharam. Minha mãe tinha a face marcada por rímel escorrido e meu pai estava vermelho e suado.

– Ainda bem que você chegou, Bella. – Minha mãe veio ate mim cambaleando de forma anormal. Ela estava obviamente perturbada. – Impeça seu pai de fazer uma loucura.

Os olhos do meu pai estavam cansados. Eu também estava.

– O que esta havendo? – perguntei coma voz derrotada.

– Diga a ela. Diga a ela. DIGA A ELA, CHALIE. – minha mãe estava descontrolada. As mãos de meu pai cobriam seu rosto contorcido.

– Mãe pare com isso. Vem comigo. Vamos para o quarto. – A puxei como uma criança. A puz na cama.

– O impeça. O impeça. Por favor. Bella, o impeça. – Sua voz beirava a loucura. Meus olhos romperam-se em lágrimas.

– Shiii... Durma mamãe. – Passei a mão por seus olhos os fechando.

Nunca tinha visto minha mãe neste estado. E esperava que nem meu pior inimigo tivesse que ver a sua ,um dia, desse jeito. Fechei a porta me recompondo. Eu tinha que ser forte, ainda tinha um pai me esperando no andar de baixo.

Desci as escadas. Lembrei-me que tinha amigos me esperando também. Alice devia ter sido prudente e tomado à decisão de permanecer no carro.

Meu pai andava de um lado pro outro. Assim que me viu, correu e tomou-me nos braços.

– Bella, me desculpe. Desculpe por fazer você passar por isso. Você não devia ter visto sua mãe assim...

– O que a levou a ficar assim? – perguntei.

– Bella, eu não queria te contar desta forma. Mas eu estou indo embora.

Pela segunda vez senti o chão deixar meus pês. Era o fim. Era definitivamente o fim. E não tinha nada que eu pudesse dizer que mudaria isso.

– Eu... – As palavras não saiam.

– Me desculpe meu amor. Por favor, me perdoe. Eu ficaria hoje, mas não tem condições. Sua mãe não me da escolha. Também não queria deixa-la desta forma. – A voz do meu pai não estava firme como sempre. – Não quero deixa-las sozinha.

– Não estamos. Nunca estaremos. Sempre teremos uma a outra no final das contas... E Alice e sua prima passaram a noite aqui hoje.

– Alice? – perguntou confuso.

– Sim, ela também precisa de apoio hoje.

– Tudo bem. Claro eu entendo. Sinto-me melhor de saber que não estará sozinha.

– Obrigada. E pra onde você vai?

Meu pai pareceu desconfortável com a pergunta. De repente me veio o por que.

– Ah claro. Com ela. – Falei com amargura. – Seja lá quem ela for.

– Acho melhor eu ir.

– É. Tchau, pai.

– Tchau não, meu amor. Eu não vou te abandonar. Na verdade estarei mais próximo que você imagina... – Ele sorriu fracamente. Ainda me abraçando me conduziu até a porta.

Lá pegou uma pequena mala, ao qual eu nem havia notado.

– Eu venho visita-la. E nunca se esqueça de que estou me divorciando da sua mãe e não de você. – Falou me olhando nos olhos. – Ate mais, meu anjo.

– Até, pai.

Abri a porta e vi ele se dirigir para o banco passageiro do carro desconhecido. E no motorista estava uma mulher loira. O vidro do carro era escuro e a noite atrapalhava minha visão.

Mas entre o volante e a cadeira estava uma conhecida minha.

Reconheceria seu coque em qualquer lugar.

Tania Foster. Minha odiada professora de biologia.