Bounds escrita por Meg Chan


Capítulo 1
Capítulo 1




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                Deixei as alças das malas escorrerem pela minha mão ao enxergar as três pessoas a minha frente. Era difícil ver seus rostos novamente, depois de tudo, eu não sei nem como eu conseguia olhar em seus olhos. Eu estava de volta e eu não podia me sentir pior. Toda a lembrança que eu lutei para apagar, toda a garota que lutei para abandonar, estava tudo voltando como um turbilhão.

                Eu não era nada antes, eu não valia nada. Tudo que eu era não passava de uma mentira bem contada. Eu machuquei pessoas, decepcionei minha família, desonrei o nome que eu carregava.

                Puxei-me de volta para a realidade e peguei as malas que eu havia deixado cair. Meus passos eram lentos até aquelas pessoas, porque eu não queria chegar lá, mas eu cheguei e nenhum deles me olhou, eles viraram e foram caminhando, então eu os segui.

                Só na metade do caminho percebi que eles iam para o estacionamento. Quando chegaram ao carro eu me surpreendi por ainda ser o mesmo carro desde o dia em que eu fui embora. Outra coisa que traria mais memórias.

                Meu pai, sem me olhar direito, pegou as minhas malas e as colocou no porta malas. Entrei no carro e logo depois minha irmã entrou também, ela se espremeu no canto e deitou sua cabeça no vidro.

                Olhei para frente quando o papai entrou e ajeitou o retrovisor, ele colocou o objeto em uma posição da qual eu puder ver seus olhos e ele podia ver os meus, rapidamente ele moveu o objeto novamente e eu não estava mais a vista. Eu sabia o que ele estava fazendo, me evitando. Senti um aperto no meu coração e fiz o mesmo que minha irmã, deitei minha cabeça no vidro e fiquei olhando para fora.

                A cidade não havia mudado nada. As mesmas casas, as mesmas pessoas, as mesmas lojas, tudo estava exatamente idêntico. Parece que o mundo queria que eu me sentisse mal hoje.

                Mas o lugar que pareceu pesar mais na minha mente era a minha casa. Ela era a única coisa diferente que eu havia visto. Antes ela era azul, agora estava branca. O seu jardim era enfeitado de rosas, agora estava enfeitado de gardênias. Desci do carro para analisar melhor e me assustei quando as duas malas foram jogadas do meu lado. De novo, minha mãe, meu pai e minha irmã saíram andando sem mim, me deixando para trás, só que de novo eu os segui.

                O interior de casa estava mais diferente ainda. As paredes antes eram beges e os moveis eram marrons, mas agora as paredes estavam de uma cor quase branca e os moveis eram mais modernos, de vidro e brancos. Estava tudo tão diferente. Eu nunca me senti menos em casa na minha vida. Eu me senti uma intrusa e eu podia jurar que se não fosse a minha promessa, eu sairia correndo daqui o mais rápido que eu pudesse.

                Eu não sabia direito para onde ir ou se o meu quarto ainda era de fato meu, mas eu não me senti muito confortável parada na entrada de casa e como todos entraram e parece que decidiram que eu nem estava aqui, então não haveria nenhum mal subir as escadas e verificar se o meu quarto ainda tinha as minhas coisas.

                Agora eu estava irritada. Meu quarto não era mesmo mais o meu quarto. Ele estava todo branco e com apenas uma cama e um armário. Só! Meus pôsteres haviam sumido, minha coleção de bichinhos de pelúcia, meus CDs, meu som, minha escrivaninhas com todas as canetas e enfeites bonitinhos que eu tinha, tudo foi embora!

                Mas essa nem era a pior parte, a pior parte foi ouvir as primeiras palavras que o meus dirigiu para mim desde que eu cheguei.

-Não mude nada. Deu muito trabalho limpar esse quarto. – Com “limpar” ele queria dizer “se livrar das suas coisas” e agora eu não podia fazer nada com o quarto, como se eu só estivesse de visita e não fosse ficar tanto tempo.

                Peguei um casaco dentro da minha mala e pisei fundo até sair da casa. Aquilo era um absurdo! Tudo bem que eu havia estragado tudo, mas eles eram a minha família! Não é a família que acolhe você nos momentos difíceis?

                Eu estava tão feliz onde eu estava. Eu era uma nova pessoa, conheci novos amigos, aprendi novas coisas, era um novo começo. E agora eu pergunto se o destino me odeia. Eu nem vestia as mesmas roupas! Pelo amor de Deus! Porque tudo teria que mudar agora?!

                Puxei meu capuz para esconder o meu rosto. Eu não tinha certeza se as pessoas me reconheceriam com a nova cor do meu cabelo. Antes eu tinha um cabelo que chegava até o final da minha costa e era rosa – natural – agora ele era curto e castanho claro. Mas eu não arriscaria.

                Andei até a loja mais próxima em que eu pudesse comprar algo para beber e comer. Entrei em uma loja de conveniências grande que tinha próximo de casa, lá tinha tudo. Fui direto para aquelas geladeiras com a bebida e peguei um Red Bull e depois fui pegar um saco de batatinhas.

                Levei minha comprar até o caixa, que por acaso estava vazio. Olhei para todos os lados, mas não tinha ninguém por perto. Depositei minhas compras sobre o balcão e me virei me apoiando nele, eu teria que esperar. Apesar de ser um absurdo esperar por alguém ter vontade de aparecer, eu agora era a nova Sakura, e a nova Sakura era calma.

-Desculpa senhora. – Uma voz baixa e arrastada falou atrás de mim, quase pulei de susto. Virei-me e logo reconheci aquele rosto, era Shikamaru Nara. Eu costumava freqüentar a mesma escola com ele. Puxei o capuz mais ainda para que ele não me reconhecess,e sorte a minha que o Shikamaru sempre foi um dorminhoco, ele provavelmente deveria estar com tanto sono que nem iria prestar atenção em mim.

                Ele pegou minhas coisas e passou elas, a telinha do computador dele me mostrou o preço e eu revirei os meus bolsos procurando o dinheiro.

-Ei...um momento. – Ele levantou o rosto um pouco mais e me analisou. Senti a minha nuca gelar de ansiedade. Merda, ele havia me reconhecido. – Você não tinha cabelos rosa, Sakura?

-O-o que? – Ele sabia quem eu era desde o começo?! Mas porque diabos ele nunca havia mencionado isso?!

-Havia um boato correndo aqui que você iria voltar, então quando você se virou eu pude te reconhecer facilmente. Você está bem diferente. – Minha boca se abriu um pouco e eu fiquei um tempo sem fala. Ele empurrou as minhas coisas pra mim e eu lhe entreguei o dinheiro, quando ele deu o troco, eu ainda estava um pouco surpresa e sem fala.

-O-obrigada – Murmurei envergonhada. Peguei minha sacola e sai correndo dali.

                Então quer dizer que a cidade toda sabia que eu viria? Eu não esperava que meus pais espalhassem isso por ai... Pensando neles, eu me perguntei se eles haviam percebido que eu não estava em casa, se eles foram me ver no “meu” quarto ou se eles estavam preocupados por eu sumir tão de repente.  Talvez não

Peguei o saco de batatinhas da sacola e o abri enquanto caminhava. Onde eu poderia ir agora? Comecei a pensar nos lugares dessa cidade e nada veio em mente. Hoje é domingo e eu não poderia ir a lugares em que eu soubesse que meus antigos amigos estariam, não, esse são os lugares que eu tenho que passar longe.

Deixei meus pés irem me levando para qualquer lugar e acabei parando na área afastada da praia daqui. Sentei-me sobre a areia e fiquei olhando para o mar. Ainda estava de tarde e seu ficasse aqui por mais duas horas, eu poderia ver o pôr-do-sol, mas não acho que eu ficaria tanto. Abri a minha bebida e tomei um gole. Acho que o Red Bull me deixaria ligada o dia todo. É difícil ficar parada aqui sem fazer nada e não pensar em tudo que está acontecendo agora.

Tudo começa com eu decidindo mudar a minha vida e então o destino decide mudar ela novamente. Há um ano e meio, eu fiz coisas das quais me arrependo e me assombram até hoje. Não tenho orgulho de nada do que fiz, eu era a escoria dessa cidade. Um dia passei dos limites, não consegui mais me olhar no espelho, todos estavam me odiando. Meus amigos, meus pais, minha irmã, provavelmente a cidade inteira me odiava. Então eu fugi daqui o mais rápido que eu pude, fui buscar abrigo com a minha avó.

Ela também tinha ido embora da nossa pequena cidade chamada Konoha. Minha avó nunca gostou daqui, quando ela se separou do meu avô, se mudou para o centro para fazer o que amava. Ela era feliz lá, mas do que qualquer pessoa.

Eu mudei completamente. Mudei o cabelo,  as minhas roupas, minha atitude, tudo. Qualquer coisa da antiga Sakura foi jogada fora. Eu até fiz novos amigos. Eu havia mudado e gostei da minha mudança. Mas a minha avó faleceu, ela foi embora  e me deixou sozinha. Só que antes de ir, ela me fez prometer que eu voltaria e consertaria tudo o que eu fiz, que eu tentaria enfrentar todos os meus medos de voltar.

E aqui estou eu. De volta. E a pior parte é que eu nunca me senti tão mal em toda a minha vida.

Fui despertada desse meu estado de transe pelo meu celular, que vibrou no meu bolso. Puxei-o e vi que era uma mensagem de uma das minhas amigas.

“E ai? Já chegou? Mande um sinal de vida Haruno! Você mal foi embora e já perdeu tanta coisa, estou esperando uma ligação. A galera ta mandando um beijo.

Com amor, Tenten”

Sorri com a mensagem e senti um pouco de inveja. Eu não queria estar perdendo nada, eu queria estar lá, curtindo e aproveitando. Suspirei ao responder. Ela havia mandado a mensagem pelo celular do nosso amigo. Perguntei-me se ela havia quebrado o celular dela de novo, eu queria ter visto isso.

“Cheguei sã e salva. Sentindo saudades de vocês. Quero saber de todas as coisas e você já quebrou o seu celular? Sua mãe deveria parar de comprar novos pra você. Você que tem que me mandar notícias, panda. Diga para todos que eu estou mandando um beijo.”

Coloquei o celular no bolso do casaco. Já havia terminado o saco de batatas e só faltavam alguns goles na minha bebida. Levantei, peguei o saco da compra e o de batatas e fui jogar em um lixo ali perto. Virei o Red Bull, terminando-o, e o joguei no lixo junto com o resto.

Então aqui estou eu, caminhando por ai novamente, sem vontade nenhuma de voltar para casa. Talvez agora eu pudesse ir para uma pracinha que fica no centro da cidade, mas talvez lá esteja cheio de gente, afinal é um domingo.

Abaixei o capuz, essa área estava vazia, nem me preocupei mais em ser reconhecida. Prendi o meu cabelo em um rabo de cavalo mal feito e continuei andando.

Fui atravessar a rua, que parecia estar vazia, apenas um carro vinha de longe, mas daria tempo de atravessar. Pelo menos foi o que eu achei. Ouvi o carro acelerar e quando olhei para o lado, quase fui atropelada, faltava pouco, se ele não tivesse freado bruscamente, eu já teria sido lançada longe.

-Você é louco?! – Gritei para a pessoa no volante. Ele levantou a cabeça e tirou os óculos escuros. Meu corpo se gelou todinho e foi então que eu percebi que eu havia merecido isso.

-Eu ouvi por ai que você estaria de volta. Demorei um pouco para reconhecer com esse cabelo, mas vadias são sempre as mesmas, mesmo que resolvam se camuflar. – Eu tentei ao maximo não me irritar com e que ele disse. Eu merecia tudo isso. Respirei fundo e atravessei o resto da rua. Ele era a ultima pessoa que eu queria olhar nesse momento. Mas não me livrei dele tão fácil. Quando cheguei à calçada, ele se aproximou e começou a me acompanhar com o carro.

-Eu não esperava que você tivesse coragem de voltar aqui. – Comentou. Evitei o seu olhar e fiquei encarando o caminho na minha frente.  – Mas fique longe de mim e da minha família, Haruno. Se você quiser saber, minha irmã está bem.

Levantei o capuz novamente para ele não poder ver as lágrimas que caiam dos meus olhos. Ele acelerou com o automóvel e foi embora. Eu me senti péssima, senti tudo que eu havia sentido no dia em que fui embora. Sasuke Uchiha tinha razão em me odiar. Eu estava me odiando agora.


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Notas finais do capítulo

E ai? Foi boa a historia?
Mandem seus comentários, mesmo que sejam criticas, eu aceito qualquer coisa!



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