Um mar de punhos erguidos e uma gritaria organizada, foi a primeira coisa que Angelina conseguiu detectar ao cair na rede. Espere um pouco... Uma rede?

Então, depois de tanto mistério por parte de Max, uma rede parecia ser uma piada diante de tantas possibilidades apavorantes que passaram por sua cabeça.

Um par de mãos foram estendidas e Angelina se apoiou nelas para conseguir se levantar. Uma garota com aparência de 18 anos sorri amistosa. É alta, esguia. Tem cabelos escuros repicados na altura dos ombros, com mechas azuis na parte de trás. Olhos castanhos luminosos quase que soterrados pela maquiagem preta.

– Primeira a pular! - Grita para a multidão de Audaciosos que ainda tinha os punhos levantados. Um urro coletivo veio automaticamente - Qual o seu nome, iniciada?

– Angel... - Iria terminar seu nome completo, mas a primeira parte já parecia incrivelmente bom. - Só Angel.

– Angel, primeira a pular!

Mais urros e assovios.

– Sou Híria, uma das instrutoras de vocês este ano. - A garota estende a mão, em um gesto comum da Audácia. Angel a aperta e chacoalha duas vezes.

– Prazer...

– Humpf! - Um segundo corpo se choca contra das cordas. Mais gritos preenchem o local. Lince rapidamente se levanta e dispensa a ajuda de mãos para se livrar da rede. Fica com uma cara emburrada, talvez por ter vacilado ao deixar Angel pular antes dela, mas ainda parece satisfeita por seu desempenho.

Owen é o terceiro a pular. Tinha ficado sozinho o percurso inteiro do trem e conseguira cair no telhado perfeitamente. Ficara observando pelo canto do olho, ainda no vagão, a iniciada da Franqueza. Ela sim era um caso à parte, de seu interesse. Mal falava, assim como ele, mas parecia tagarelar o alfabeto inteiro só em olhar nos seus olhos.

Só nos dele.

Suas costas entraram em impacto com a rede e mãos o puxaram para o chão, seguidos por mais algazarra dos Audaciosos já iniciados. Um cara pequeno e moreno, mas de físico bem definido o parabenizou.

– Sou Zeke.

– Eu sei quem você é - Você era amigo do meu irmão, imbecil – Nasci aqui, lembra?

– Ahn... - O rapaz fez uma expressão pensativa, mas depois o choque tomou conta do mesmo. Ele devia se lembrar. Ninguém da Audácia poderia esquecer o que havia acontecido... Principalmente Zeke. Seu irmão tinha feito a iniciação juntamente com ele. - Ah, sim! Owen, certo? - Ele assente - Foi mal, cara, é que é tanto iniciado que eu acabo misturando tudo... Mas Bem-Vindo novamente, de qualquer maneira.

– Valeu.

Já estava se afastando quando Zeke pigarreou. O mesmo tinha um semblante levemente triste.

– E sinto muito pelo que aconteceu. Principalmente com seu irmão... - Ele engole em seco. Os dois eram amigos. Devia ser igualmente ruim para ele também - Ele era uma boa pessoa. Sei que... O que quer que tenha acontecido, não foi culpa dele.

– E não foi mesmo.

O rapaz se afasta, sendo engolido pela escuridão da gruta. Zeke permanece o olhar no local onde o mesmo estava, vazio. Igualmente como a expressão que havia em seus olhos distantes. Um garoto, mais novo, mas quase que da mesma altura que Zeke saltou em suas costas, fazendo o mesmo soltar um urro de raiva e interromper o que quer que estivesse pensando.

– Vai embora, seu pirralho - Berrou, tentando se livrar do peso do garoto em suas costas.

– Eu tenho quinze - O garoto fingiu uma careta ofendida - Não sou pirralho.

– Por isso mesmo, Uriah. Garotos de quinze anos não saem pulando nas costas dos irmãos - Ele finalmente conseguira se livrar do peso do irmão em suas costas. Zeke o prendeu em uma gravata e assanhou seu cabelo, enquanto o mesmo se debatia, mesmo que estivesse rindo - Muito menos quando os irmãos estão em trabalho. Você vai entender ano que vem, quando tiver sua iniciação.

– Está bem, está bem - Uriah estava ofegando, talvez por causa da gravata apertada demais de Zeke. Seu tom de voz era entediado - Pode me largar agora, senhor-sério-demais-para-o-trabalho-mas-que-fica-dando-gravata-no-irmão-mesmo-assim?

– E não volte mais.

Uriah saiu correndo, risonho, e sumiu no mar de audaciosos. Zeke também tinha um sorriso fraco, que evaporou em um rápido olhar no lugar onde Owen estava, minutos atrás. Depois, pelo caminho que Uriah percorreu antes de sumir no meio de toda aquela gente.

Recordou-se de Hawk, lhe socando bem no nariz na primeira fase da iniciação. Depois da luta em que saiu derrotado, o irmão de Owen estendeu a mão para ajuda-lo a se levantar. Se fosse outro, teria era lhe dado um último chute, e deixar ele inconsciente por mais glória. Mas Hawk não era assim. Lembrou-se também de seus sorrisos involuntários, no refeitório.

Meu irmão me deu uma chave, uma vez– Ele dizia, com um sorriso satisfeito - E olhe que eu resisti. E que ele só tinha 10 anos.

Uriah lhe dava chaves o tempo inteiro, mesmo pequenininho. E ele poderia parecer irritado, mas na verdade, não suportaria não conviver com aquilo. Imaginou a dor de Owen.

Essa coisa entre irmãos, que só irmãos compreendem.

O olhar triste retornou e ele recuou para receber o restante dos iniciados.