Sirius

       Chegamos cedo para o café da manhã, no nosso primeiro dia de aula. Todos do nosso grupo estavam animados, conversando. Afinal esse é o nosso último primeiro dia em Hogwarts. Não estou muito feliz com isso. Eu não tenho planos para o futuro, como começar a minha vida fora da escola, nada. E não quero ficar dependendo dos Potters – não acho certo, apesar de saber que eles não se importam.

 É claro que tem coisas que eu sei que quero fazer -  como viajar o mundo, ter meu próprio canto. Mas as formas práticas do meu futuro são um mistério total para mim. E apesar de ter ótimos NOMs para poder cursar praticamente qualquer coisa que eu queria, o ponto é que eu não sei. 

Hillian por exemplo: ela sabe desde o terceiro ano que quer ser curandeira. James sabe que quer seguir a carreira dos pais e ser um auror. Já eu, sinceramente me sinto a deriva. Embora ser um auror seja minha escolha entre essas profissões "normais" não é o que eu quero mais que tudo. 

 Balancei a cabeça para tirar essas incertezas da mente e vi que James estava pronto então, antes do nosso primeiro horário de aula, ele e eu desaparecemos por umas escadas secundárias que são pouco usadas -graças a Merlin- e colocamos uns logros... hum... interessantes nas cadeiras da aula dos calouros de feitiços. E claro, demos um jeito de parecer que foi Peeves, o poltergeist, que armou. Apenas uma iniciação aos calouros, nada muito sério. O professor talvez não goste, mas faz parte. 

Depois da aula de Transfiguração, vimos todos os Sonserinos e Corvinais calouros soltando fogo pelas ventas, e o professor de Feitiços junto com a enfermeira chefe correndo atrás deles feitos loucos. Depois um Bloondy Baron muito furioso passou pela gente procurando o Peeves. James e eu caímos de tanto rir nas escadas, Remus quase nos deu uma advertência por estamos agindo de forma desrespeitosa perante o sofrimento dos outros, mas ele mesmo estava rindo, assim como Hilly e Dorcas, porém Lils estava preocupada correndo atrás dos alunos junto, tentando acalma-los e leva-los para a Ala Hospitalar. Bem, é isso que se espera de uma monitora chefe, acho.

Primeira meta do sétimo ano: Causar logo no primeiro dia, e não levar a culpa: Comprida com êxito. Às vezes eu tenho muito orgulho de mim mesmo, como agora.

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No almoço depois de tudo se acalmar eu não pude deixar de notar como Lils encarava Prongs de um jeito um tanto estranho. Alguma coisa aconteceu naquela noite, pois ela estava o tratando bem, e ele não passou nenhum cantada nela. E se você conhece James Potter saberia que isso é um sinal de que ele está à beira da morte. Mas lá estavam os dois sentando próximos, sem gritos e barracos. É as coisas mudaram mesmo.

James fez uma imitação muito boa de um dos alunos fugindo hoje mais cedo que fez todos nós quase rolarmos de rir - até mesmo a Lily (claro que ela não desconfia que nós éramos os responsáveis, senão não estaríamos ali). E foi nessa hora que escutamos os barulhos das corujas chegando. Era hora do correio. 

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 Hillian

 Uma coruja veio e deixou a edição do semanário bruxo e uma carta, cuja a letra se mostrou da minha irmã. Eu abri o envelope, curiosa do porque Aretha já está me enviando, esperando que nada de ruim tivesse acontecido durante o fim de semana. Afinal, as ameaças estavam cada vez mais frequentes. 

Minha querida Hillian;

Quando está carta chegar até você eu Robert e Henry já estaremos longe, indo em direção aos Estados Unidos. Eu sei que havíamos prometido te esperar, mas as coisas estão ficando piores e eu estou preocupada por Henry. Sei que um dia você irá entender a minha escolha. 
       Tenha cuidado Hillian, ficar aqui é muito arriscado. Cuide-se e não tenha vergonha de ir para a América caso tudo fique difícil demais. 
      Robert transferiu parte do nosso dinheiro e a casa para o seu nome, a chave está com os Potters. 
         Adeus;

Aretha Miller

Li a carta duas vezes sem acreditar. Ela me abandonou mesmo. Não tinha nem 72 horas que ela falou que estaria me esperando no Natal, falando para eu dar uma chance ao Sirius, e agora essa carta, do nada. Meu coração se afundou em dor. 

 Minha mãe é a rainha ninfa Baucis “Hundoph” (esse sobrenome ela inventou quando se mudou para a Inglaterra há séculos). Ela é a última da nossa raça que ainda é imortal. A gente perdeu esse “dom” há alguns séculos, por decisão da deusa Nix.

 Minha mãe teve muitos filhos, muitos mesmos. E quando você tem mais de 3 mil anos, já aprendeu a lidar com o luto, claro. Na minha época, morava com a gente cinco irmãos mais velhos que eu e três mais novas. Aretha era uma das mais velhas, tinha acabado de se casar com Robert e estava esperando seu filho quando minha mãe e todos os outros fugiram para os Estados Unidos.

 Isso por conta que um Comensal da Morte aprovou um pedido no Ministério da Magia que obrigava nós ninfos a serem cadastrados e terem um rastreador – sob desculpa de proteção, claro.

 Acontece, que minha irmã se casou com um bruxo (ela o conheceu aqui em Hogwarts). Então ela não foi, ficou com a casa da família e tals. E eu já era amiga de James, e queria vir para Hogwarts. Tive que implorar muito para que minha mãe deixasse, e no fim ela cedeu. Depois disso – quase dez anos atrás - ela quase nunca falou comigo, nunca me visitou, quase não lembra do meu aniversário e nunca me convidou para visita-la. Isso sempre me machucou.

—Hilly, você está bem? Parece um tanto roxa! - Disse James, preocupado.

—Aretha acabou de me abandonar, James! -Falei exaltada.

—Como assim?!- Falaram todos a minha volta, confusos.

— Ela vai pra América, não aguenta mais receber as ameaças e está com medo. Escreveu que a casa passa para mim, ou seja ela não tem planos de voltar - Falei pasma. Ela tinha prometido esperar até o ano que vem. Sem falar que o Henry, coitado, estava esperando tanto para vir pra Hogwarts.

A carta passou para mão de James, depois da Lily e na do Sirius. Todos leram e pareciam incrédulos como eu.                  

—Nossa, eu lamento muito Hi- Disse James solidário. Ele es os pais eram muito próximos de nós, e eu sei que Charlus protegia a minha família, mexendo os pauzinhos no Ministério. James me olhou meio culpado. Ele sempre se sentia culpado quando acontecia algo entre minha família e eu.

— Você sabe que é sempre bem-vinda na minha casa, né? Pode passar os feriados lá, e qualquer coisa meus pais estão sempre por perto- Ele continuou.

— Brigada Jay, eu sei disso. Eu to mais chateada por ela ter feito isso agora, indo embora assim, sem eu poder me despedir. Como se estivesse fugindo de mim sabe? A sensação que eu tenho é de estar sendo abandonada de novo. – Falei chateada, com um nó na garganta.

— Eu nunca vou de abandonar, Hilly- Sirius falou, olhando nos meu olhos. Eu sorri.

—Nem eu! - Falaram James, Lily, Dorcas e Remus juntos.

— Obrigada, pessoal, do fundo do meu coração – respondi. Sério, minha família pode até me abandonar por eu preferir ser bruxa do que ninfa, mas sei que meus amigos e Sirius (que agora não é mais apenas meu amigo - Graças aos Deuses) estarão sempre comigo. Um sorriso genuíno se formou no meu rosto com esse pensamento. Mas no meu coração ainda havia um aviso: algo não está certo. 

— Você não é a única que recebeu bombas hoje Hi - Lily falou chocada, após ler a carta que recebeu de casa.

—O QUE FOI? – Falei alto, sendo um pouco dramática.

— Petúnia acabou de ficar noiva do Vernon- Disse ela estupefata.

 Pelos Deuses, Petúnia é a irmã mais velha da Lils, é uma chata e odeia a Lils e nós, seus amigos. Eu acho que ela morre de inveja da Lily na verdade. Mas fico com pena dela, ela deve ter muita pouca autoestima pra se casar com um boboca como o Vernon. Eu o conheci nesse verão, quando passei um fim de semana na casa dos pais da Lily, sério, o cara é desprezível.

— Meus pêsames Lily- Disse pra ela.

—Qual é o problema? - Os outros perguntaram sem entender

—Túnia namora esse cara há um tempo, mas ele é um idiota total- Lily disse, num tom desgostoso.

—Ahhh- Falaram, e olharam solidários para Lily.

Então seguimos todos pra aula. Mas eu continuava chateada. Não tenho mais família nesse país. Todos se foram. Assim como a maior parte do meu povo. Se existe algum outro ninfo aqui, esconde a sua real identidade – o que não é de se espantar, eu só não pude mentir por ser princesa (odeio lembrar desse título). Enfim, a última ninfa da Grã Bretanha.

Sirius Black

 Foi só de noite que eu e Hilly conseguimos ficar a sós, em uma sala vazia no quarto andar. Eu queria ter falado com ela antes, mas não consegui. Eu vi durante o verão o quanto os Millers foram ameaçados e sei também o quanto a Hilly se sente sozinha, e o quanto ela ama sua irmã e sobrinho.

—Tá muito braba com tua irmã, né? - Perguntei. Sabia direitinho o que era ser jogado de um pro outro dentro da família.

—Não, eu até entendo o lado dela, mas eu me sinto tão descartável! - Ela disse com um tom de desespero na sua voz, que me deixou mal.

— Primeiro meu pai é Zeus, então nunca está presente, ok, compreensível, né? Ai a minha mãe me abandona só porque eu escolhi estudar aqui. E eu sei que eu pedi, mas ela poderia ter mantido o contato, ensinado á distância e me convidado pra passar um verão ou outro lá. Mas ela nunca fez nada disso. - disse chorosa. Eu vi que ela realmente estava chateada. Cheguei mais perto dela, e coloquei minhas mãos em seus ombros.

—Escuta, não sei o que o futuro reserva pra nós Hilly, não sei se vamos ser um casal ou apenas amigos, mas tenho certeza de que eu nunca vou te abandonar e nunca vou te esquecer- Falei, abraçando-a e beijei sua testa.

Nunca tinha feito isso. Consolar uma garota, de verdade sabe? Sem segundas intenções, nunca, nem com a Cris...

—Eu sei, eu também nunca vou abandonar você, Sirius- Ela disse, então nos beijamos. Foi um beijo carinhoso, delicado. E meu coração disparou – como fazia todas as vezes que nos beijávamos.

Ficamos um bom tempo assim, abraçados, só aproveitando a presença um do outro. É tão bom está ali com ela, podendo toca-la, beija-la e ser verdadeiro. Que idiotice a minha não ter tido coragem de fazer isso antes, durante o verão.