Convite escrita por dark_scarlet


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá! Olha só, quem diria, mais uma fic! E dessa vez, sem lemon! o.O
Agradecimento especial pra minha beta (dark_chaos), que leu aqui do meu lado só pra me deixar contente!



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 Se eu tirasse os cabelos do rosto ou mudasse o peso de uma perna para outra mais uma vez, as pessoas na rua pensariam que eu tenho algum tipo de tique. Mas era impossível controlar meu nervosismo. Porque só o mero pensamento de chegar e convidá-lo para sair, simples assim, me gelava o estômago. E não era o medo de rejeição, era o simples nervosismo de abordá-lo da maneira certa, sem parecer um idiota. Oh, Deus, aquilo não iria dar certo.

  Olhei mais uma vez através do vidro da cafeteria, deixando que somente minha cabeça ficasse visível, o resto do corpo colado na parede da loja ao lado. E eu deveria estar parecendo  que ia assaltar a cafeteria ou coisa do tipo, porque as pessoas estavam realmente começando a olhar torto pra mim. Mas eu não podia me deixar ver. Assim que adentrasse por aquelas portas, ou eu o encararia de frente ou sairia correndo, pra nunca mais voltar. A segunda opção estava começando a parecer a atitude que eu de fato iria tomar.

  Fechei os olhos e respirei fundo algumas vezes, amaldiçoando minha maldita ansiedade. Eu ainda teria um enfarte enfrentando certas situações sociais como essa. Convidar alguém para sair sempre fora um problema pra mim, mas convidar ele estava se saindo mais difícil do que eu imaginava. Certo, talvez eu estivesse sim com medo de ser rejeitado. Se isso acontecesse, eu não iria mais vê-lo. Não teria coragem de encará-lo todas as manhãs, com um falso sorriso no rosto e a certeza de que ele estava revivendo a situação constrangedora em sua mente de novo e de novo.

  “Comece a agir como um homem, pelo amor de Deus!” – repeti isso mentalmente algumas vezes, antes de tragar o ar profundamente e entrar na tão conhecida e frequentada cafeteria.

 


   E eu podia jurar que tinha feito a maior cara de bobo quando o vi pela primeira vez. Estava tão sonolento aquela manhã que contrariei meu paladar muito seletivo e decidir tomar um café antes de ir para o trabalho, na esperança de que a bebida me impedisse de acordar babando em cima da ata da reunião, com meu chefe me cutucando com os papéis da demissão em mãos. Esperei impaciente minha vez na fila do caixa, e aproveitei para observar os diferentes tipos de bebida expostos em um letreiro acima das máquinas que soltavam vapor por todos os cantos. Eu nunca iria diferenciar um do outro.  Quando chegou minha vez, ouvi uma agradável voz masculina me desejar um bom dia. Respondi distraidamente e, ainda olhando para as opções, me decidi por um café preto simples. Não poderia ser tão ruim.

  — Só um café pequeno, por favor – disse, finalmente olhando para o atendente sorridente à minha frente.

  — Com açúcar? – e sim, aquela voz agradável vinha realmente dele. E eu não respondi. Não conseguiria. Meus olhos percorreram rapidamente os outros atendentes do local, esperando encontrar todos com aquela faixa branca sobre o nariz, como parte de um bizarro uniforme da franquia. Não. Pelo visto era só ele.

  — Quer seu café com açúcar? – ele repetiu, o sorriso ainda nos lábios. E eu só assenti com a cabeça, a língua parecendo colada ao céu da boca. Atendentes de estabelecimentos clichês de café nunca eram tão bonitos. Isso só acontecia em filmes de comédia romântica, em que o pobre rapaz bonitão lutava para conquistar a garota que via todos os dias.

  — O senhor está se sentindo bem? – o sorriso havia sumido de seu rosto, e ele tirou a franja comprida dos olhos, me olhando melhor. E eu senti meu rosto esquentar imediatamente. Estava fazendo um grande papel de idiota na frente de um total desconhecido.

  — Sim – pigarreei – quanto é?

  — São quatro reais, senhor – bem, eu finalmente esbocei alguma reação. Surpresa. Tudo isso em um copo pequeno de café? Eu não costumava comprar cafés, mas não esperava algo tão caro. Mas paguei sem reclamar, recebendo o troco e pegando um copo térmico com o líquido fumegante.

  — Obrigado, e volte sempre – e novamente o sorriso estava lá. Só que era um sorriso diferente. Não era o sorriso automático e falso de pessoas que lidavam com o publico diariamente e eram obrigadas a sorrir para o cliente. Esse parecia mais verdadeiro, mais dele.

  E eu me xinguei mentalmente por não sorrir de volta. Meu olhar era fixo sobre ele, e eu me afastei do balcão de atendimento apático, me apoiando em uma daquelas mesas altas e sem cadeiras para quem está sempre com pressa.

  Sorvia meu café em pequenos goles, o gosto forte preenchendo minha boca e me fazendo torcer o rosto em pequenas caretas de desagrado. Para quem gostava de café, aquele deveria ser bom, mas para mim o gosto forte só confirmava uma coisa: se eu estava atrás de cafeína, deveria ter comprado uma Coca. Mas eu estava satisfeito com minha ida até aquela cafeteria.

  O tempo todo que fiquei ali deixei que meus olhos observassem a peculiar figura com a faixa sobre o rosto. O cabelo em vários tons de loiro penteado de uma forma comum a jovens japoneses, mas que eu nunca havia visto em um caixa ou balconista, justamente por causa de sua extravagância. Usava uma camiseta preta por baixo do avental laranja berrante com o logotipo da franquia, e era só isso que eu conseguia ver dele. E lá estava aquele sorriso gentil e aparentemente sincero com todos que chegavam à boca do caixa. Várias pessoas não lhe dispensaram um segundo olhar, mas ele parecia não se importar.

  Um rapaz jovem e com uma garotinha pequena no colo conversaram com ele por alguns minutos, já que não havia ninguém atrás dos dois na fila. O rapaz lhe disse alguma coisa e seu sorriso aumentou, passando para uma risada. O som me causou arrepios. Ele apontou para a própria faixa e a garota a puxou com sua mãozinha pequena, revelando um pedacinho de seu nariz. Ele logo a puxou novamente para cima, tirando um sorriso da garota. Eu não ouvia uma palavra do que eles estavam falando por causa do burburinho de conversas, mas pelo sorriso constante em seu rosto o assunto parecia bem agradável. O rapaz logo se despediu dos dois, assim que outras pessoas apareceram e começaram a formar uma fila atrás dele.

  O toque estridente de meu celular me tirou dos meus devaneios.

  — Ruki? Onde você está? – a voz alarmada de Kai me chegou aos ouvidos através do caro aparelho. Olhei para o relógio. Merda, dez minutos atrasado.

  — Parei para tomar um café, já estou indo – desliguei o aparelho e rumei para o trabalho, não sem lançar um último olhar ao rapaz de faixa no balcão.

  E os eventos seguintes surpreenderam até a mim. Naquela mesma semana voltei lá duas vezes. E me surpreendi agradavelmente quando ele se lembrou de mim.

  — Desistiu do café puro? – perguntou, sorrindo enviesado quando pedi um capuccino. E dessa vez eu estava um pouco mais consciente e dono de minhas reações para responder educadamente que sim, a experiência não havia sido a das melhores, fazendo-o rir.

  — Não conte pra ninguém, mas eu odeio café – ele me disse baixo, em tom conspirador. Eu sorri, e minha vontade era de dizer “ei, eu também não”, mas aí não haveria mais desculpas para ir até ali e tomar a bebida que me desagradava só para vê-lo.

  Na terceira vez em que fui lá descobri seu nome. Não Reita, o nome em seu crachá, mas o seu nome. Suzuki Akira.

  — Matsumoto Takanori, mas pode me chamar de Ruki, se quiser – eu disse envergonhado, apertando a mão que me era estendida. E eu sentia minhas pernas tremerem a cada toque dele. Seja quando me passava o copo ou o troco e meus dedos roçavam nos seus, ou em pequenos cumprimentos como esse. E eu já não podia mais perder tempo observando-o depois que comprava meu absurdamente caro café porque me atrasava para o trabalho.

  Na segunda semana, fui até lá todos os dias. Nos cumprimentávamos pelos nossos nomes, e conversas casuais se seguiam enquanto eu esperava meu pedido ficar pronto. Eu havia descoberto que quanto mais coisas pedisse, mais o café demorava a ficar pronto e eu ganhava alguns segundos de uma agradável e descontraída conversa. Falávamos do tempo, do movimento da loja, e esses poucos minutos em que trocávamos palavras banais davam outro humor ao meu dia. Eu já não chegava tão estressado no trabalho.

  E eu estava cada vez mais obstinado a falar com ele. Durante o mês que se seguiu, pude observar os horários em que menos gente freqüentava o lugar. Se eu chegasse apenas dez minutos mais cedo, o local estava cheio. Se chegasse vinte, o local estava vazio. E eu me vi acordando 45 minutos antes do meu horário habitual, só para ganhar dez minutos de conversa com ele sem ser interrompido por pessoas atrás de mim na fila. E aquilo estava começando a me assustar. Eu nunca havia me esforçado tanto para simplesmente conversar com alguém, amaldiçoando o trânsito que me atrasava um ou dois minutos e me tirava esse tempo perto dele. Perto. Aquele maldito balcão idiota era quase uma barreira instransponível, mesmo que minha mente, em seus momentos de extrema lucidez, insistia em me bombardear com cenas minhas pulando aquele balcão e o prensando contra as máquinas de café em um beijo que faria todos pararem o que estavam fazendo para olhar. E chamarem a polícia depois, claro.

  Quando ele me indagou, descontraído, o porquê de eu chegar lá tão cedo, para depois ficar esperando até dar o horário de serviço, eu simplesmente disse que seguia o horário do trem. Se eu pegasse o que passava depois, chegava atrasado, então pegava o anterior e ficava esperando. O que era uma mentira deslavada. Eu tinha dois carros no estacionamento do meu apartamento de luxo no centro da cidade, e sempre vinha com um deles até ali. Mesmo que o estacionasse a uns três quarteirões de distância.

  E foi ao longo desse mês que eu descobri detalhes de sua vida, apoiado no balcão, tomando meu café. As mesas foram substituídas muito facilmente, e ele parecia sinceramente não se importar quando eu ficava lá. E eu gostava de pensar que seus sorrisos eram ligeiramente mais sinceros e doces quando eram direcionados a mim.

  Acabei descobrindo que ele tocava baixo e que era formado em direito por uma das melhores faculdades do país.

  — Posso te mostrar meu diploma, se não acredita em mim – ele havia dito, rindo, quando eu me espantei com sua revelação. E meu espanto só aumentou quando ele me disse que trabalhou por três anos em uma famosa firma de advocacia da cidade.

  — E como você acabou trabalhando aqui? – eu perguntei. Não queria desmerecer o trabalho, mas uma pessoa com tantas qualificações poderia arranjar emprego melhor. Eu mesmo não era tão qualificado como ele e mantinha um emprego que me garantia um ótimo apartamento, carros, e mais alguns luxos a que eu estivesse disposto.

  — Aquela vida não era pra mim. Reuniões, pessoas corruptas e desonestas, ficar em um terno o dia todo – ele disse enquanto passava um pano no balcão – me sinto muito mais satisfeito aqui.

  E por um lado, eu o entendia. Ás vezes ficar no escritório, preso em um terno, também me incomodava. E eu conseguia facilmente me imaginar fazendo um serviço mais simples. Mas eu nunca abriria mão de meu salário, e o indaguei sobre isso.

  — Ah, sim. Isso foi minha maior preocupação. Mas nesses três anos eu ganhei dinheiro suficiente para comprar meu próprio apartamento e investi bem meu capital. Eu não dependo só desse salário para sobreviver, graças a Deus. Eu gosto daqui. O pessoal com quem trabalho é legal, e conheço muitas pessoas interessantes. Você foi uma delas – e eu segurei mais firme no balcão quando ele disse isso, um sorriso perfeito nos lábios.

  E conhecer esse lado simples e afetuoso dele só aumentou ainda mais aquele sentimento que começava a nutrir por ele, fosse ele qual fosse. Não era amor, paixão, nem nada do tipo, disso eu tinha certeza, apesar de não saber defini-lo muito bem. Eu sabia que me sentia atraído por ele e que gostava da sua companhia. E isso já estava sendo o suficiente para me deixar fora de meu juízo perfeito.

  Nos meses seguintes eu me sentia quase como seu amigo, e isso me deixava muito contente. Minha satisfação só aumentou ao descobrir sua opção sexual, quando ele casualmente comentou sobre um antigo namorado. Seria muito mais difícil convencê-lo a ir para a cama comigo se ele fosse hétero.

  

  — Vamos sair e relaxar um pouco, Ruki? – Aoi parou na porta da minha sala e me convidou. Olhei no relógio, e faltavam apenas dez minutos para dar o horário de irmos embora. Concordei.

  — Vamos naquele café que você tanto fala, então.

  Bem, minhas visitas não ficaram somente naqueles dez minutos de manhã. Eu passei a ir nos dias em que sabia que ele trabalhava durante a tarde ou no horário do almoço. Á essa altura eu já estava muito mais acostumado com café, e também muito mais pobre.

  — Hoje é...quinta? – ele assentiu – Ah, vamos deixar pra amanha então – ele não trabalhava nas quintas à tarde. Mas nas sextas sim.

  — Ah, Ruki, deixa de ser preguiçoso! Vamos, vai – ele já desligava meu computador, e eu suspirei, derrotado.

  — Chama o Kai também – eu disse, vestindo o paletó do meu costumeiro terno.

  — Já passei na sala dele. Miyavi está na cidade, então você já sabe – é, eu sabia. Era um sacrifício para nosso amigo ficar semanas sem ver o namorado, e quando ele vinha para nossa cidade clamava Kai exclusivamente para ele. Não que meu amigo tivesse algum problema com isso, é claro.

  Seguimos no meu carro até lá, discutindo o generoso aumento de salário programado para o próximo mês. E sempre que eu tinha vontade de fazer como Reita e arrumar um emprego que me desse mais satisfação, a lembrança do salário sempre me fazia mudar de idéia.

  Chegando nos ajeitamos em uma mesa próxima à entrada e lá eu fiquei esperando enquanto Aoi pegava nossas bebidas. O lugar era realmente aconchegante, e o movimento estava bem fraco para uma quinta feira, um dos dias mais lotados.

  — Ruki? – a voz que me chamou parecia muito a de Reita. Me virei na cadeira, olhei para trás e lá estava ele, um copo nas mãos e sorrindo. E era simplesmente impossível não sorrir de volta quando ele sorria daquela maneira. Meus olhos se desviaram para seu corpo muito discretamente. Uma costumeira calça jeans, mas a ausência do avental deixava à mostra os acessórios prateados pendurados pelos cantos. Usava uma blusa preta de mangas longas, um pouco mais compridas do que o normal, os dedos adornados por anéis e o pescoço por uma longa e fina corrente. Eu nunca o havia visto tão lindo. A ausência do uniforme fazia maravilhas com sua aparência, e de repente ele parecia tão mais acessível. Ele não era mais o caixa da cafeteria, ali ele era Reita, um rapaz comprando seu café que por acaso encontrava um conhecido.

  E eu só saí de meu transe quando ele disse:

  — Esse daqui é o Uruha, o Kouyou– o rapaz ao seu lado, que até então eu não havia notado, me estendeu a mão, sorrindo também, e eu a apertei, pigarreando e me apresentando. Eu estava realmente muito envolvido com o Reita para não notar um cara como aquele. Alto, loiro e uma das pessoas mais bonitas que já tinha visto. Senti uma pequena pontada de ciúme ao descobrir que o amigo desde a infância e de quem ele tanto falava era bonito daquele jeito.

  — É um prazer conhecer você, Ruki – ele disse, educado – o Reita me fala tanto de você que estava quase vindo espionar vocês dois para saber quem era o famoso baixinho -  e eu sorri internamente,apesar do apelido. O que ouvi me deixou extremamente satisfeito. O olhar de ódio que Reita lançou ao seu amigo também.

  — Baixinho, Reita? – eu perguntei, divertido.

  — Falei só uma vez, e não foi por mal – ele disse, evitando me encarar.

  — O que faz aqui? Está trabalhando?

  — Não, hoje eu não trabalho – como se eu não soubesse – mas o gerente sempre me pede umas dicas quando vai renovar algum contrato, então venho pra cá.

  — Bem, já que estão aqui, sentem-se – eu disse apontando para as cadeiras. Os dois se entreolharam e concordaram, se acomodando comigo à mesa.

  — Ruki? – Aoi disse quando se aproximou da mesa, uma expressão divertida e ao mesmo tempo constrangida em seu rosto, a expressão que fazemos ao nos depararmos com amigos de amigos e queremos ser educados. Fiz um gesto para que se sentasse e disse:

  — Esse daqui é o Reita, ele trabalha aqui. Esse é seu amigo, Takashima Kouyou – Aoi apertou suas mãos, e eu agradeci mentalmente não falar muito de Reita para ele, senão seus comentários também poderiam ser embaraçosos.

  E, ao contrário da maioria de nossas conversas, aquela demorou a engrenar. O fato de duas pessoas na mesa não conhecerem umas às outras fez as primeiras tentativas de conversa fracassarem. Mas, aos poucos, a conversa achou seu rumo, e passamos agradáveis minutos conversando, antes de minha atenção se voltar quase que exclusivamente para Reita sentado ao meu lado.

  — Pensei que não gostasse de café – comentei apontando para seu copo.

  — É chá verde. Quer um pouco? – neguei imediatamente com a cabeça. Não sabia como as pessoas podiam gostar daquela coisa amarga. Ele sorriu ante minha expressão de quase nojo. Meus olhos se desviaram para Aoi e Uruha conversando ao meu lado, e eles pareciam não nos notar em momento algum. Sorri com o pensamento, e pude notar Reita me observando.

  — Eles parecem estar se dando bem, não é? – Reita comentou.

  — Bem até demais. Eu tomaria cuidado, se fosse seu amigo – disse entre o divertimento e a seriedade. A fama de conquistador de Aoi era muito verdadeira. Reita riu.

  — Eu iria dizer a mesma coisa sobre o Uruha. Pelo visto vão se dar bem, então – dito e feito. Nem dez minutos depois Aoi dispensou minha carona para ir embora com o Uruha, que parecia mais do que contente em fazer esse favor.

  — Eu também vou indo – lamentei profundamente ter que cortar o clima gostoso que pairava entre a gente – quer carona? – Reita negou com a cabeça.

  — Moro logo ali. Até amanhã?

  — Até amanhã

 


  E o amanhã havia chegado e lá estava eu, esperando impaciente atrás de somente um senhor na fila, criando coragem para convidá-lo para sair e sentindo minhas mãos um pouco trêmulas. Porque era impossível continuar naquela situação por mais tempo. Vendo-o apenas quando fosse comprar uma bebida ou em encontros casuais como no dia anterior. Meu estômago afundou quando chegou minha vez no caixa. Graças ao horário, a cafeteria estava vazia, sem ninguém atrás de mim na fila.

  — Oi, Taka! – ele me cumprimentou animado. E eu sentia meu coração se aquecer um pouquinho quando ele me chamava daquele jeito, sorrindo daquele jeito único.

  — Oi – respondi, temendo que minha voz soasse tremida.

  — O que vai ser hoje?

  — Café puro

  — Reunião importante hoje? – ele me perguntou enquanto me entregava o troco.

  — Não. Por que pergunta?

  — Você só bebe café puro quando está nervoso com alguma coisa, uma reunião, geralmente - Bem, eu realmente havia a aprendido a apreciar a bebida em momentos de estresse. Só não imaginava que ele tivesse notado. E a consciência disso fez meu estômago gelar mais ainda. Mas eu precisava tomar alguma atitude, e esperava não parecer tão idiota.

  — Reita?

  — Hum?

  — Que horas você sai daqui hoje? – as batidas de meu coração ressoavam em meus ouvidos.

  — Hoje? As 16:00, por que?

  — Bem, eu só estava pensando...é que hoje é sexta, e eu saio um pouco mais cedo do trabalho...então eu estava pensando se...bem, se você não tiver nada pra fazer, a gente podia ir, sei lá...ir pra algum lugar, tomar um café ou algo do tipo – minha boca estava tão seca que não sabia como tinha conseguido pronunciar todas aquelas palavras. Mesmo que eu estivesse soando como um adolescente tímido.

  — Ir pra algum lugar...tomar um café? – seu tom era divertido e um sorriso travesso brincava em seus lábios. Só então eu me dei conta da besteira que havia falado. Se estivesse sozinho, com certeza daria um tapa na minha própria testa. Eu devia ter ensaiado antes.

  — Bem, eu... – droga, péssimo momento para ficar sem palavras.

  — Na verdade, Ruki, eu estava pensando em passar numa loja aqui perto quando saísse do serviço. Preciso de uma alça nova para o meu baixo.

  — Ah, tudo bem, sem problemas. Deixa pra outra vez, então – eu disse, olhando para meus próprios pés e corando horrivelmente. Droga, droga, droga!

  — Mas eu gostaria muito que você viesse comigo. Se quiser, é claro – olhei novamente para ele, e ele sorria. Aquele sorriso. Sorri também.

  — Bem, se não for atrapalhar você – eu disse, e ele negou com a cabeça.

  — De jeito nenhum.

  — Bem, eu acho que vou indo então. As 16:00 eu volto aqui – sentia meu coração diminuir o ritmo de suas batidas. Ele assentiu, ainda sorrindo, e eu me virei para sair.

  — Ruki? – ouvi sua voz assim que comecei a andar.

  — O que? – voltei ao balcão, meu coração se acelerando de novo.

  — Você esqueceu seu café - ele disse sorrindo e me estendendo o copo. Ri e peguei minha bebida, deixando a cafeteria me sentindo toneladas mais leve do que quando entrei. Caminhei tranquilamente para meu carro e rumei para o trabalho. Seria uma ótima sexta, com certeza.
  


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Notas finais do capítulo

Fic tranquila e bobinha....espero que tenham gostado!
Dica: reviews me deixam MUITO feliz! XP