Psico escrita por hwon keith


Capítulo 10
Procurando


Notas iniciais do capítulo

Shit is going on



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Sem esmero arrumou-se. O paletó preto estava ficando levemente gasto, assim como a camisa que vestia por baixo. Deu um giro completo enquanto observava no espelho. Ainda não estavam tão velhos.

Tsunemori arrumou a bolsa com seus utensílios básicos e despediu-se apenas com um aceno do holograma que cuidava de sua casa.

Partindo pelas ruas limpas e repletas de transeuntes, a inspetora brevemente avaliava sua expressão nos reflexos das lojas. Inexpressiva. Impassível. Imaginou por um instante como seria sua face com raiva, medo ou outras emoções fortes. A lembrança de como estaria aos beijos com Kougami interrompeu num rompante. Com imenso esforço afastou-a.

Distraída pelo caminho, chamou-lhe a atenção um pedestre que aproximava-se. Parecia familiar. A curva do nariz ou das maçãs do rosto empurravam para sua mente algum dejá vu. Quando este homem chegou perto o suficiente para ela descobrir que seus olhos eram reluzentes de alegria, ele sorriu em reconhecimento e ela lembrou-se de quem era.

A graça nas feições pertenciam ao garçom que ela ajudara certa noite, ou melhor, naquela fádica madrugada. A imagem do alívio nos olhos e sorriso hesitante porém agradecido eram de tal modo reconfortantes para Tsunemori, porque caso não houvessem-as talvez aquele dia seria o pior de sua vida, sem exageros. Surpresa pelo encontro, ela sorriu de volta e o homem parou de frente para ela.

– Quem imaginaria que encontraria você - a voz do garçom era leve e juvenil, aparentando junto com seu corpo estar provavelmente nos 20 anos - Queria agradecer novamente. Eu sou ainda inexperiente nessa área, derrubo muitas coisas, mas ninguém nunca me ajudou, apenas ignoravam.

Sua voz não detonava irritação nem nada, como se não culpasse as pessoas por aquele gesto. A mensura daquilo fez Tsunemori sentir um misto de pena e afeição pelo garoto, fazendo-a sorrir afetuosamente e responder uma réplica suave.

Com ele aumentando o sorriso, a mulher viu-se levemente pega por algo naquele homem. Chegava a ser uma fina atração. Indiscutivelmente ele era muito bonito e de modos elegantes, mas algo nas linhas do pescoço e o repuxo dos lábios dele formigaram algo no seu colo e ela quase ruborizou.

Com metade de seu ser satisfeito por ser capaz de esquecer a tristeza e mágoa da noite passada, ela aceitou o convite que ele propusera inesperadamente de um café e marcou-o para o dia seguinte.

Despedindo-se com um aceno que foi retribuído, ela expirou e a resolução séria do que viria a seguir apagaram o bom humor.

Teria que aguentar no osso o que faria. Não seria bom.

Foi só quando estava quase na porta do escritório da chefe que percebeu que sua atitude era patética e infantil. Como uma detetive, inspetora, que protegia o bem estar e segurança da população desistiria do cargo apenas por emoções conturbadas? Como ela pudera ser tão egoísta e mesquinha de deixar Ginoza sozinho, com tudo o ele passara?

Era ridículo. Nojento.

O espanto na percepção de suas atitudes deixou-a congelada. Quando viu-se em si novamente, caminhava em direção à Divisão 1 e quase quis correr para fora quando percebeu-se de frente com Kagari.

Kagari ensaiou um sorriso fraco, porém parecia um pouquinho verdadeiro. Impulsionada pela tristeza dele, ela pôs as duas mãos em cada ombro dele e sorriu-lhe.

– Sei que está mal - disse, cada sílaba carregada de afeto, num timbre doce e suave - Mas eu sei que já já vai estar melhor. Você é forte e eu confio que vai se sentir novamente feliz.

Recebida por um brilho instantâneo nos olhos dele, ele abriu levemente a boca e depois abriu um sorriso pequeno.

Um segundo depois, ele abraçava-a num aperto forte e respirava ruidosamente no seu ouvido, como se controlasse algo. Ele murmurou seu nome.

Retribuindo o abraço, porque ele merecia, ficaram ali por alguns minutos sem qualquer interrupção, já que a sala estava vazia e ainda era cedo.

Não perceberam que Ginoza que os olhava, de outro ponto do corredor.

Fugindo de algum modo parecido com uma expressão popular "como o Diabo da cruz", Tsunemori subiu pelas escadas de pedra e desejosa observou a saída da linha de trem.

Não era errado. Ela não estava cometendo um erro. Ora, ora, ela era solteira, livre, solta. Não devia nada para ninguém no lado sentimental. Tivera algumas paixonites ao longo da vida, mas essas passaram. Abafou os gritos raivosos de uma parte de si que uivavam que ela ainda tinha uma, que ela devia algo para certo alguém. Ignorou-a mentalmente, assim como fisicamente fechou com força os olhos.

Já decidira.

Enquanto uma brisa agitara os fios finos e descoloridos, essa dissipou-se no momento que uma expiração quente saía dos lábios tão frios quanto ela. O som morno da caixa de música velha enchia o cômodo com notas clássicas de violoncelo e piano, agradabilíssimas. O conjunto, com um pouco de esforço, lembraria até os bailes de tanto tempo atrás, com as roupas de veludo roçando na pele dos dançarinos e as máscaras brilhantes. Não de tantos séculos assim, mas a reconstituição destas festividades, porque de modo algum o tecido era tão rico e macio quanto da era original.

Envolvido nas lembranças daquilo que nunca vivenciara, Makishima absteu-se dos pensamentos recorridos há pouco.

Aqueles do quais seu novo humano de observação cheirava os rastros do novo coelho.

Ou coelha.

Fôlego perdido e uma sensação de pressão insuportável na garganta, o mal estar gigantesco misturado a um pavor descomunal cresceu e derramou no interior do homem de cabelos pretos picotados.

Perdendo a sensibilidade das pernas, quase indo de encontro ao chão, o sentimento de que algo enormemente horrível aconteceria inundou-o em ondas negras.

Tranquila, alguém alto e de cabelos da mesma cor que os seus colocou-se sorrateiramente atrás de suas costas.


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