POV Peeta.

A primeira coisa que sinto ao levantar são os cabelos de Katniss em meu rosto, enquanto ainda estamos deitados em nosso colchão, comigo a abraçando por trás. A sensação é boa, pois pela primeira vez em realmente muito tempo vejo Katniss com o cabelo solto, e apesar de ser diferente, é bom.

O corpo dela treme levemente pelo frio da noite, não possuímos casacos, muito menos cobertores.

–Você está acordado? –ela sussurra para mim.

–Estou. –digo beijando sua têmpora, bochecha e em seguida o pescoço, ela arrepia e eu sorrio. –não consegue dormir?

–Dormi um pouco, mas perdi o sono. –ela confessa. –acho que vou pegar o turno de Finnick mais cedo, ele parece cansado.

Johanna havia desistido alguma horas atrás, Finnick a havia substituído a pouco, mas ele parecia se esforçar para se manter acordado. Pela silhueta eu podia vê-lo com a cabeça balançando, como se se esforçasse a manter-se acordado.

–Fico acordado com você. –ofereço, ainda em sussurro, assim como ela.

–Não precisa, Peeta, é melhor você descansar.

–Também não tenho sono, e já me sinto melhor. –ela se vira de frente para mim agora, por estar escuro não posso ver seu rosto, mas posso imaginar a cara de descrença de Katniss.

Eu tateio o colchão até alcançar em mecha de cabelo de Katniss, eu a enrolo no dedo enquanto permanecemos em silencio por um tempo.

–Acho bonito quando você deixa o cabelo solto.

–Voce nem se quer consegue me enxergar. –ela contradiz.

–Não preciso ver para saber que é bonita. –foi ela quem começou o beijo que seguiu a frase, e continuamos nos beijando até lembrarmos onde estávamos.

–Eu vou trocar de turno com o Finnick. –ela anunciou, com o rosto ainda a centímetros do meu. –e você trate de dormir, Mellark! –ela me cortou antes mesmo que pudesse me opor.

Ela se levantou e foi falar com Finnick, que estava sentado próximo a janela de fuga, devem ter trocado duas ou três palavras e então ouço Finnick ir se jogar no sofá, exausto.

Vejo apenas a silhueta de Katniss sentada próxima a janela onde antes estava Finnick, posso notar pelos movimentos das mãos que ela refaz a traça e não posso deixar de sorrir. Apesar de tudo, Katniss é sempre Katniss.

Penso como ontem foi um dia cheio. Em pensar que a dois dias atrás nos estávamos tão bem no distrito um, e no momento, eu até já tinha sido dado como morto por alguns minutos. A expressão de pânico e choro de Katniss me assustou seriamente, eu não a via naquele estado de pânico, tristeza e desespero desde... Desde que descobriu que estava gravida e prestes a ir para arena. Uma época terrível que eu odeio me lembrar.

Mas mesmo assim, nada foi mais revigorante para mim do que ouvir Katniss dizer que me ama pela primeira vez desde que ela voltou da Capital. Era como se tivesse sido a primeira vez. Uma segunda primeira vez. Isso é possível?

Admito que temi muito que, mesmo que estejamos bem e juntos agora, ela jamais fosse sentir o mesmo que sentia antes por mim. Por um momento, pensei que pudesse ter perdido essa parte de Katniss. Mas como sempre foi, ela tende a me surpreender e fascinar a cada momento.

E com um sorriso nos cantos dos labios, eu finalmente volto a pegar no sono.

–Peeta. –Katniss me acorda com um sussurro no pé do ouvido, mas não um sussurro normal, mas sim, cheio de urgência e desespero.

Quando abro os olhos, Katniss não está mais lá, e sim despertando da mesma maneira Johanna, tendo Finnick já levantado. Eu ia perguntar o que estava acontecendo, quando o barulho de uma porta sendo arrombada a uma certa distância ecoa pela sala.

Olho para a janela, o nosso plano de fuga, e em seguida para Katniss, ela balança a cabeça em negativa e entendo suas palavras silenciosas: não dá tempo.

Então eu alcanço a minha arma ao lado da cama e tento me levantar, mas o faço rápido demais, quase caindo para o lado com uma tontura repentina, mas Katniss me segura, se colocando ao meu lado e com o arco em mãos.

Eu e Katniss estamos de um lado do quarto, Finnick e Johanna do outro, qualquer um que entrar pela porta da sala será pego de surpresa por quatro vitoriosos rebeldes. Ainda estamos em vantagem, isso se ignorássemos o fato de que não sabíamos quantos eram, ou o quanto estavam armados.

Eu usava a parede atrás de mim para apoiar as costas, me mantendo firme para não tremer a arma em minhas mão. Com o incidente de ontem, eu temia não ter coordenação e reflexo o suficientes para disparar ou desviar, já que nem se quer conseguia me manter em pé sem tremer.

Katniss estava com o arco pronto, posicionada na minha frente de forma protetora, provavelmente para que conseguisse reagir melhor que eu caso alguém apontasse qualquer arma para esse lado.

O sol já nascia e levemente da sala, então conseguia ver o rosto preocupado de Finnick, Johanna cerrando os dentes raivosamente, enquanto Katniss ainda estava de costas para mim, com os ombros rígidos e determinados pelo arco preparado.

Desde que ouvimos o primeiro barulho, passou-se aproximadamente quatro segundos antes que invadissem o quarto com um estrondo. Já preparados para encontrar a casa habitada, os invasores apontaram suas armas, primeiramente para o vazio, logo depois suas armas nos alcançaram, e as nossas a eles. Estávamos ambos os lado prontos para atirar, quando notei quem era a pessoa para quem apontava a arma, e a qual por sua vez tinha a dele apontada para mim. Era ninguém menos que meu irmão.

–Peeta? –ele foi o primeiro a proferir uma palavra, o único barulho depois disso foi de uma flecha de Katniss se alojando no teto, e uma Delly se abaixando por puro instinto, já que a flecha lhe passou pelo menos um metro a cima da cabeça, provavelmente Katniss tinha a garota na mira e notou quem era a tempo de desviar o arco.

A única coisa que consegui proferir foi um suspiro de alivio em ver Simila me encarar confuso, Delly se levantar do chão onde tinha se jogado, Gale abaixar a arma aliviado e confuso trocando um olhar com Max. E alguns estranhos abaixarem as armas que antes apontavam para Johanna e Finnick, os dois fizeram o mesmo.

–Graças a Deus...–eu disse em meio a um suspiro de alivio.

–...Voce está vivo! –Simila completou minha frase, e veio até mim, dando me um abraço um pouco forte demais, o que fez com que meus pulmões doessem.

Então, de uma vez só, todos começaram suas comemorações, cada um deslumbrado com a vida do outro. Gale foi até Katniss, seguido por Delly que também se virou para Finnick e em seguida foi levemente esnobada por Johanna, que apesar de ter olhos arregalados e felizes não aceitou o abraço de ninguém.

As caras novos ficaram paradas em um canto junto a Max, que assim como eles e Johanna apenas acenaram com a cabeça e um meio sorriso satisfeito.

–Como vocês escaparam do prédio? –Katniss foi a primeira a pronunciar.

–Como vocês escaparam? –Delly tornou a questionar.

–Max nos mandou fugir. –Finnick fala o obvio.

–Cá entre nós, mandar fugir e conseguir fugir de uma situação daquelas são coisas bem distintas. –Gale explica.

–Nós, ou melhor, Katniss achou uma escada de incêndio fora de uso, nós conseguimos pular de uma janela para outra e em seguida pegamos a escada de incêndios. –Johanna fala. -vez de vocês.

–Nós íamos ficar e lutar, mas já era tarde demais. –Simila quem fala. –já tinham tido tempo de chamar reforços, principalmente quando descobriram que, coincidentemente, aquele era o prédio dos vitoriosos. A invasão ficou ainda maior e quando vimos que não daríamos mais conta reunimos o maior número que conseguimos e evacuarmos o que sobrou do prédio. –ele faz uma pausa para tomar folego e para apontar para as pessoas do canto da sala. –o prédio ruiu em chamas quase um minuto depois de o deixarmos.

–Como nos encontram? Como sabiam que estávamos aqui? –Katniss pergunta.

–Não sabíamos. –Delly quem fala. –imaginamos que estivesse abandonada no começo, mas então vimos o sangue espalhado e alguns corpos de pacificadores. Supusemos que estava habitada pelo vencedor do ataque. Rebeldes sobreviventes ou pacificadores armados. –ela explica. –nos arriscamos e aqui estamos nos.

–Mas que diabos aconteceu lá fora? –Simila pergunta. –havia mais alguém com vocês? Alguém morreu, alguém se feriu?

–Temos um meio morto, eu acho. –Johanna diz sem o menor tato, inclinando a cabeça para o lado como se tentasse me classificar como morto-vivo, zumbi ou seja lá o que se passe na cabeça da garota.

Uma hora dessas eu já me apoiava no ombro de Katniss, Johanna tinha o olhar fixo em mim assim como o restante dos vitoriosos. Não demorou muito para que todos os olhares pousassem desconfortavelmente sobre mim, me fazendo ter que engolir a vontade de me encolher como uma criança pequena por trás de Katniss.

–Como é que é? –Simila perguntou em uma mistura de confusão e preocupação.

–A versão resumida é que você virou filho único por quase três minutos hoje, Similar. –Johanna, diz sem cerimônia antes que eu tivesse tempo de abrir a boca.

Simila não desviou os olhos preocupados e azulados de mim nem mesmo para corrigir o próprio nome para Johanna.

–Fomos atacados por arqueiros com flechas elétricas, uma delas me acertou e eu sofri... Uma parada cardíaca, é isso? –eu pergunto um pouco em dúvida, Katniss quem balança a cabeça em concordância.

–Ficou alguns minutos com o coração parado, então Finnick fez a ressuscitação e voltou a bater. –ela me completa. –mas estamos todos bem agora. –ela informa, colocando a própria mão por cima da minha que ainda apoiava levemente em seu ombro, apenas para tentar manter o equilíbrio e não apoiando meu peso da mesma forma que precisei fazer com Finnick mais cedo. –E quanto a esses, quem são?

Ela aponta com a cabeça para os demais, e eu fico grato por ter desviado o assunto de mim. Os olhos de todos saem de mim, embora o de Simila permaneça por mais alguns segundos.

–Ah sim. –Gale quem pronuncia. –esses são...

–Leonardo, -o cara de pelo menos 19 anos com o cabelo moreno emaranhado e um sorriso simpático pronuncia em quanto girava o rifle nas mãos com agilidade, ele parecia ter um tipo de sotaque estranho. Não consegui reconhecer que onde. –me chamem de Leo.

–Ruby. –a garota que aparentava ter mais ou menos 22 diz, seus olhos são tão negros que se tornava quase impossível de se ver as pupilas, os cabelos castanhos escuros lisos e com a franja longa quase na altura dos cabelos era dividida ao meio. Os cabelos soltos estavam assustadoramente desarrumados com uma expressão fria no rosto, ela parecia ainda mais intimidadora com a arma gigante que carrega nos braços com facilidade.

–Tally. –a garota também seria que parecia ter a mesma idade de Leo, tinha cabelos loiros curtos na altura do queixo e olhos azuis fracos. Assim como Ruby, era dotada de uma beleza perigosa e assustadora.

–James. –esse já era mais velho, com aparentemente na casa dos trinta e pouco, mas parecia em muita boa forma e conseguia manejar a arma que carregava em mãos. Ele era alto com olhos verdes e cabelos negros.

–Alec -ele parecia ter aproximadamente 18 anos, tinha um cabelo negro que contrastava os olhos azuis claros feito vidro, que continham um olhar frio e indiferente como tal, eram mais claros ate dos que os meus. Era forte e apenas acenou com a cabeça, o sujeito me lembrava um pouco o jeito de Max, apenas um pouco.

–Sou Zoe. –disse a garota que parecia ser mais nova, com seus 16 anos, olhos cinzas frios feito pedras e o cabelo negro dividido perfeitamente em duas tranças mal feitas. A garota me lembrava uma pessoa típica da costura, mas se fosse Katniss certamente a reconheceria, porém, não havia sinal de reconhecimento na expressão de nenhuma delas. Então resolvo deixar de lado. Ela carregava seu próprio revolver, mas esse já estava guardado no cinto, apesar de sua mão direita repousar levemente sobre ele, distraidamente, estrategicamente. Garota esperta.

Noto também que ela tem uma parte do cabelo ensanguentada.

–O que fez ai? –pergunto, Zoe toca com cuidado a cabeça antes de pronunciar.

–Coronhada. –ela fala simplesmente, dando de ombros.

–Finnick, você disse que tinha achado um kit de primeiros socorros, certo? –Katniss pergunta, ele acena com a cabeça. –pode pegar pra mim?

–Claro. –ele acena com a cabeça e eu me desapoio de Katniss, agora ficando com a parede gélida nas costas enquanto ela caminha até Zoe.

A garota deixa que Kat examine o ferimento, e diferente de como fez com Simila certa vez, Katniss não precisou ficar nas pontas dos pés e nem a garota abaixar, já que Zoe já era baixa, mais até que Katniss. Eu sufoco um sorriso.

–Vai precisar de pontos. –ela fala.

–Não acho que...

–Precisa sim. –ela continua antes que a garota proteste. Nesse momento Finnick já tinha voltado com a caixa de primeiros socorros de onde Katniss tirou o necessário para limpar a ferida e dar os pontos.

Em quanto Katniss fazia o curativo, Zoe não reclamou de dor nenhuma vez, apensar do rosto serio se contorcer em uma careta de dor.

Depois disso, Finnick ofereceu aos demais a comida que tínhamos, que comeram como primeira fonte de comida a mais de um dia inteiro, e nos, tomamos nosso café da manhã.

Estávamos todos comendo e bebendo da agua, mas tomando cuidado para economizar, já que não sabíamos por quanto tempo permaneceríamos por aqui. Zoe arrumava de cinco em cinco minutos a faixa de gaze que lhe enrolava a cabeça em volta dos pontos. Estávamos todos já decidindo onde cada um iria dormir pela sala, quando o barulho de uma voz nos chamou a atenção.

Todos nós nos colocamos em pé em um pulo, todos com armas em mãos e prontos para atacar. Ao olhar para nossa grande equipe e pequeno exército penso que pareceria bem intimidados, na verdade.

–Esperem! –foi Finnick quem disse. –isso ai não é uma TV?

–É sim. –Gale fala, abaixando a arma. –as TVs da capital se ligam sozinhas sempre que há um comunicado importante.

A TV, que a pouco havia sido arrastada para fora da sala afim de abrir mais espaço, já estava rodeada por todos nós, atentos a ela, e ao que quer que fosse importante aponto de uma mensagem urgente. Para a minha surpresa e acho que para a de todos também, não vimos Caesar Flickerman, Snow, nem ninguém da Capital se pronunciando. Tudo que vimos foi o corte de cabelo reto e perfeitamente alinhado de Coin reluzir junto aos olhos frios e os labios formação uma linha tão reta e angulosa quanto o cabelo em uma expressão séria e respeitável.

–Cidadãos da Capital e dos distritos -ela começa falando, deixando claro que essa é mais uma das invasões de rede de Beetee e que está sendo passada tanto na Capital quanto nos distritos. –os rebeldes podem ser tudo, mas não serão chamados injustos, e por isso estou aqui para um comunicado que poderá poupar muitas vidas. Cidadãos da Capital, os rebeldes invadirão o seu território sim, os rebeldes destruíram o que vierem a seu caminho, sim, e já estamos fazendo isso. –ela continua, para a minha surpresa. –a ditadura de Snow está caindo, mas ele ainda não desistiu, até sucumbir de vez, muito menos os rebeldes, mas saibam que é apenas uma questão de tempo antes que ele caia. Portanto, entreguem suas armas e se rendam ao nosso exército o quanto antes, e suas vidas serão poupadas. Porem, -com o porém, já pude sentir o calafrio de quem pressente que por ai vem merda. –os que enfrentaram os rebeldes serão acusados de traição contra Panem assim que assumirmos o poder. E eu acho que a Capital e os distritos sabem o que acontecem com os traidores. Sim, um novo, ultimo e melhorado jogos vorazes acontecerão com as crianças toda Capital.

Ela deu um sorriso tão maléfico e frio que um calafrio percorreu toda a minha espinha.

–Estaremos realizando esses jogos também em homenagem aos nossos vitoriosos rebeldes mortos de hoje. –meu sangue gela, espero ver aparecer na tela Annie, para o desespero de Finnick, Beetee ou até mesmo Haymitch, para o pânico meu e de Katniss, mas o que vejo na tela é o meu rosto, e o de todos nos. –O casal, Katniss Everdeen Mellark e Peeta Mellark, Finnick Odair, Johanna Mason, os vitoriosos que morreram lutando pela causa que defendiam e que terão a vingança que queriam contra a Capital. –ela termina. –e aos traidores, eu digo, a sorte não estará ao seu favor dessa vez, agora está ao nosso.

A televisão se apaga e Coin sai de cena com um sorriso frio e maldoso estampados nos cantos dos lábios.