POV Peeta.

-Ei, Peeta! –dou um pulo da cama ao ouvir a gritar meu nome. -  Acorda!

-Nossa que susto, Simila. -eu digo.

-Foi mal.- ele fala. -faz tempo desde a última vez que eu precisei te acordar. Geralmente você acorda muito antes de mim, isso quando chega a dormir.

-Eu se eu sei. - eu digo. -mas me diz, pra que gritar assim, hein?

-Estamos atrasados. –ele diz. - para o treino.

-Ah, já tinha me esquecido do treino. -falo me levantando e indo para o banheiro.

Tomo um banho rápido e escovo os dentes, estou acabando de me trocar quando ouvimos a porta bater.

-Deve ser a Delly. -Simila avisa e eu coloco a camisa. A porta volta a bater. –Já vou!

-Oi Simila! – eu saio do banheiro, Delly sorri. -Peeta, como vai?

-Bem, e você? - eu repondo.

-Ótima. –ela diz. –então vamos? Tenho melhorado a mira, sou melhor que o Simila.

-Como é humilde, hein Delly? - Simila ironiza.

-Sou apenas realista. –ela fala.

-Vocês amam brigar, não é mesmo? -eu brinco. -um dia acabam se matando.

-Ela que adora implicar comigo! -Simila insiste.

-E você comigo!

-São duas crianças. -eu digo. - Vamos treinar, crianças, já estamos atrasados.

-Muito engraçado, Peeta. –Delly brinca.

-Eu achei. – retruco, saindo pela porta com os dois.

Nós andamos até o salão de treinamento, enquanto Delly e Simila brincavam de irritarem um ao outro.

Ao chegarmos, o salão já estava cheio de gente treinando, assim como de costume. Nós vamos para um canto distante, onde praticamente ninguém treinava com os revolveres.

Peguei um para mim assim como Delly e Simila.

Miro em um alvo e não o acerto por pouco. Delly e Simila fazem o mesmo, eles acertam em cheio.

-Estão bem melhores. -eu digo.

-É a pratica. -Delly fala.

-Então preciso praticar mais. -falo

Atiramos mais um tempo, então Simila e Delly começam disputar uma competição de quem acerta mais em menos tempo. Eu fico de fora do jogo, apenas treinando e concentrado em minhas próprias balas.

-Eu ganhei! –Simila canta vitória para cima de Delly.

-Mas é claro que não. -Delly fala. – Não acertou a última.

-Acertei sim. – ele diz. – Foi bem no centro, marquei ponto.

-É logico que não, você saio da zona vermelha, veja você... – Delly para no meio da frase, ela olha por cima do ombro de Simila. – O que ele faz aqui?

Eu, que nem se quer prestava atenção na briga dos dois, me virei junto com Simila, para saber do que Delly falava.

-Mas o que...- eu digo. - Aquele é o Gale? Quando ele voltou?

-Deve ter chego com um dos aerodeslizadores, como os que trouxeram a Annie. – Simila sugere.

-Mas por que está no treino? – Delly diz. –ele já é soldado, já foi treinado.

-Eu nem faço ideia. –admito.

Gale observa o salão atentamente, e então vai em direção de um grupo de pessoas que treinavam com as espingardas. Ele pega uma para si, mas para minha surpresa, ele não atira no alvo, Gale apenas ajeita a arma nas mãos e fala com um treinado, que repete seu movimento.

-Gente, eu acho que temos um novo treinador. – eu digo.

-Gale agora é treinador? – Delly fala.

-Na verdade, ele acabou de sair de uma guerra. – Simila fala. –Nada o qualificaria mais para ser treinador.

-Tem razão. – Delly fala.

-Deixem isso quieto, melhor voltarmos a treinar. – eu sugiro. – Afinal Gale está a trabalho, e nos também.

Eu me viro, voltando minha atenção para meu revolver, colocando mais munição.

Acabo de recarrega-la e me volto para um novo alvo, dessa vez um pouco mais longe do que estou acostumado, dou um tiro.

-Então você voltou para o treinamento? – me viro e vejo Gale posto atrás de mim, observando meus tiros, o que me incomoda um pouco.

-Pois é, voltei. – é a primeira vez que falo com Gale desde a arena. Realmente não sei qual deveria ser minha reação a isso, mas a dele não parece ser a mais amigável pelo que posso notar em seu tom de deboche.

Tento mais um tiro, novamente, não vou muito bem.

-Precisa treinar mais, não chegou nem perto do centro. –critica arrogantemente.

-Estou acostumado com alvos mais próximos. –digo começando a me irritar. - eu estou tentando, tudo bem? Por que não faz o mesmo ao em vez de discutir comigo?

-Eu não estou aqui para treinar, e nem preciso, por isso eu sou o treinador e você precisa ser treinado. - eu tento ignora-lo e tento mais um tiro, erro. -deveria levar isso mais a sério. – ele diz. - ou não vai sair vivo de uma batalha.

-Eu estou levando isso a sério. –digo. -e pode ficar tranquilo, sei muito bem como me comportar em batalhas, já sai vivo de muitas.

-A guerra não são os jogos vorazes, não é um jogo. –ele fala. –não é por que saio de uma arena vivo que vai sair de uma guerra vivo.

-Você nunca esteve nos jogos, não pode dizer o que não sabe. –eu digo. – não sabe como é estar lá.

-Fala como se tivesse feito muita coisa. –ele abre um sorriso sarcástico e maldoso. –afinal, todos sabem que só saio de lá graças a Katniss que lhe carregou nas costas o tempo todo.

-Isso não é verdade. –eu digo irritado. – e não coloque a Katniss no meio disso.

Ele continua a falar, ignorando o meu comentário.

-É verdade sim. Tanto que a única vez que ela realmente precisou da sua ajuda, você não estava lá.

-Gente... – Simila faz menção de nos interromper, mas eu mal o deixo terminar a frase.

-Eu estava inconsciente! Johanna me acertou com um machado na cabeça, ou você não viu?

-Eu vi, vi muito bem você tê-la deixado sozinha em uma caverna! –Gale diz, despejando em cima de mim o máximo de fatos que ele sabe ser dolorosos para mim, com raiva nos olhos.

Mas dois podem jogar esse jogo.

-Eu fiz o máximo que pude pela Katniss! – eu jogo. – Estive com ela até o fim, e o que foi que você fez por ela? Tudo que você fez foi trai-la como amigo quando a beijou, duas vezes!

A raiva parece aumentar aos olhos de Gale.

-Escute aqui, eu sei muito bem que foi errado o que fiz, e depois fiz tudo que pude para me compensar. - ele diz com os dentes cerrados. –eu tentei ajuda-los a treinar para a arena.

-Coisa que qualquer um poderia ter feito. – eu digo. –acha que foi de grande ajuda? Pois não mudou nada!

-Era tudo que eu podia fazer por ela no momento. –gale diz. –ao contraio de você, que poderia ter salvo a vida dela, e não o fez!

-Eu estava inconsciente!

-Você estava lá e devia ter cuidado dela! - ele diz já gritando, assim como eu no momento.

-Eu cuidei! Eu fiz tudo que eu pude por ela! Pensa que eu não gostaria de mudar o que aconteceu? Acha que se eu pudesse trocar de lugar com ela e ficar preso na Capital se ela pudesse estar aqui em segurança? Pensa que eu não faria isso? Eu não hesitaria um segundo em dar a minha vida pela dela!

-Não foi o suficiente, você não pode mudar, não pode trocar!

–Ela era a minha esposa e esperava um filho meu, eu só queria o melhor para ela! Eu queria tê-los aqui! Os dois, e bem!

-Vocês dois nem são casados de verdade! –ele fala. – aposto que ela só se casou com você por que soube que estava gravida.

-Nos casamos por que nós amamos, acredite, eu não precisei convencê-la ou obriga-la a nada. Foi tudo por livre e espontânea vontade. - eu digo mantendo a voz firme, sustentada pela raiva. - ao contrário de você, que a única coisa que consegui dela em anos foi um beijo a força. 

-Nunca pensou que ela poderia saber a muito mais tempo do que disse? Pois eu aposto que sabia quando se casou com você.

-Ela se casou comigo por que me ama, assim como eu a amo. Nada que você diga vai mudar isso. – eu falo. – Quer saber? Você apenas tem inveja por que sabe que mesmo depois de anos caçando com ela e sendo seu melhor amigo, bastou pouco tempo para que nós nos apaixonássemos e casássemos, eu fiz tudo que você não conseguiu! E você deveria calar a sua boca, e ficar na sua ao em vez de ficar atrás da mulher dos outros, canalha.

Eu mal terminei a frase e já ia me virando de costas para Gale, quando ele me atinge com um soco no rosto.

Eu rebato com outro.

Certa vez, eu prometi a Katniss que não voltaria a ser violento dessa maneira. Isso foi logo depois a minha primeira briga com Gale, onde foi Katniss que acabou por sair ferida. Mas não fui eu quem começou a briga, então eu chamo de autodefesa.

E mais uma vez, eu não pensei a respeito. Simplesmente queria socar Gale até a mão sangrar, e tenho certeza que Gale pensava da mesma forma.

-Vocês estão loucos? –ouço Delly gritar ao fundo.

-Peeta! –Simila tentava apartar a briga. –deixem de ser idiotas!

Mas nem eu ou Gale estávamos dispostos a parar a briga, nenhum de nós estava disposto a ceder.

 E provavelmente continuaríamos com aquilo se não fosse por Delly, que ergueu sua arma para cima e atirou, causando um enorme estrondo, o que fez com que todos em volta olhasse para ela, inclusive eu e Gale.

Na verdade, todas as armas possuíam um silenciador, mas Delly havia tirado o seu, e disparara a arma praticamente aos ouvidos de Gale e eu.

Aquilo sérvio mais como um susto e distração para que Simila, que com uma troca de olhares rápida entre Delly me segurou e um outro treinador a Gale, seguindo Simila.

Tanto eu como Gale gritávamos para que nos soltasse, mas ninguém o fez.

-Quietos! Calem a boca! –foi Delly quem gritou. – Parecem dois loucos! Deixem de ser idiotas ou vão acabar se matando!

-Que deja-vu, não é mesmo? Uma garota nos chamando de loucos e idiotas e dizendo que vãos nos matar, nem um pouco familiar, não é mesmo Padeiro? –Gale fala com ironia, mas ao mesmo tempo com a voz cheia de raiva.

-Cala a boca, Gale. –eu digo.

-Os dois vão calar a boca, que tal? –Simila fala. –Venha Peeta, vou te levar de volta pro quarto. E Gale, está sangrando um pouco aqui. – Simila aponta para o nariz de Gale, que sangrava um pouco.

Eu rio.

-O seu também não está muito melhor Peeta. –Simila comenta e em seguida me arrasta para fora do salão.

A luta não deu em muita coisa fora alguns roxos que provavelmente estariam doloridos para caramba no dia seguinte e narizes sangrando.

-Tudo bem, pode dizer que sou um idiota. –falo assim que entramos no quarto.

-Você é um idiota. –ele fala. – e louco também.

Eu fico em silencio e vou para o banheiro tentar estacar o sangue do nariz, que felizmente não havia quebrado.

-Você está bem?

-Vou sobreviver. –digo ainda com raiva.

-Peeta o que ele quis dizer com deja-vu? –Simila pergunta, por um momento permaneço confuso então me dou conta do que Simila está falando.

-É que não é exatamente a primeira vez que nós brigamos.

-Sério? –ele diz. – e quando foi isso?

-Uns dois ou três meses antes eu e Katniss irmos para o massacre.

-O que aconteceu?

-Eu e Katniss estávamos na floresta, nos separamos para pegar comida e quando vi Gale a estava forcando contra uma arvore beijando-a a força. –digo com a voz amarga.

-Uau sério? –ele pergunta e eu aceno com a cabeça. –Então foi por isso que você e Katniss apareceram machucados de uma hora para outra... Mas por que Katniss estava ferida também?

-Eu... Eu soquei ela por acidente, ok? –digo com raiva. – ela se colocou no meio da briga e eu acertei ela ao em vez de Gale sem querer.

-Nossa, nada romântico. –lanço para Simila um olhar mortal.

–Podemos mudar de assunto?

-Eu não acredito que você nunca me contou dessa briga. –ele me ignora.

-Nos simplesmente decidimos não tocar mais no assunto. – eu digo. –será que podemos fazer o mesmo?

-Tudo bem então. –ele diz. – foi só a mim que Delly deixou surdo?

Ele fala fingindo quem limpa o ouvido.

-Ela disparou aquela coisa quase no meu ouvido. – eu falo.

-Acho que era a intenção. – ele fala. – bem, acho que acabou o nosso treinamento por hoje. Vou tomar um banho e você trate de manter esse nariz sem sangrar.

Ele me joga um pano, já que meu nariz já estava realmente voltando a sagrar.