Filha Da Noite escrita por Liza T


Capítulo 11
Capítulo Onze


Notas iniciais do capítulo

Aaaah, finalmente eu estou de férias!! Agora vou poder postar mais seguido, e quero chegar ao ápice da minha história nessas férias. Espero que gostem, fiz com carinho. :3



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Mia passou a tarde toda no quarto, obviamente sem Melodie, já que a diretora a deixara livre das aulas da tarde. Disse que ela precisava dormir um pouco, descansar do que acontecera.

Mia não queria dormir. Mesmo com o calmante, ela lutava contra o remédio para evitar que perambulasse por aí como lobo quando achava estar dormindo. E talvez a impedisse de atacar alguém.

Ela tinha sorte de não ter matado a garota. Se deixasse aquilo acontecer e dormisse novamente, poderia não ter o acaso de não cometer o crime. Ela decidira, finalmente, não ligar para a avó. Pelo menos não até ter certeza de que fora ela ou alguma outra coisa que atacara Paige.

Ela arrastou-se até a janela, ocupada com a vista das folhas tornando-se douradas. Isso a deixou levemente feliz.

E, novamente, a felicidade se esvaiu.

Lá estavam eles, os lobos daquela mesma manhã, agrupados abaixo da janela. Todos a olhavam com expectativa.

– Mas o que…

Sua voz desencadeou uma saraiva de uivos. Eles latiam em sua direção, formando um meio-círculo exato que contornava sua janela.

E então vieram os gritos.

Mia sabia que os gritos vinham dos lobos, e alguns estavam transformados pela metade, com olhos lupino-humanos queimando dourados. Alguns tinham um braço e uma pata, ou cabelo e focinho. Era assustador.

Ela ouvia apenas um emaranhado de berros, mas uma voz – que ela não sabia dizer se seria masculina ou feminina – sobrepunha-se sobre as outras:

– Você pertence a nós! O destino não pode ser desviado! Você é nossa filha, E A FILHA DA NOITE NÃO PODE FUGIR DA LUA VERMELHA!

A última frase foi tão ensurdecedora que ela caiu de joelhos, tapando os ouvidos. Mas eles não se calavam.

– Parem! Me deixem em paz! VÃO EMBORA!

E então estava tudo em silêncio. O eco de sua voz ainda perambulava pelo gramado, chamando a atenção de alguns alunos que por lá passavam. Ela trincou os dentes. Louca, adicionou aos adjetivos aos quais ela seria chamada.

Ela fechou a janela com um tapa, esperando ansiosamente que a noite chegasse.

* * *

Ela arrastou-se até o segundo andar das salas de aula por volta das dez horas. William não dissera nenhum horário, mas ela sentia que seria o horário que quebrava as regras.

E, afinal, lá estava ele, no final do corredor. O corpo encostado, no escuro, sedutoramente apoiado em um dos pés, os olhos brilhando. Parecia realmente empolgado.

– Então, Hawkes, o que quer me mostrar?

Aquilo não pareceu assustá-lo. Pelo contrário, ele sorriu meio torto, mostrando os dentes brancos.

– Me siga.

William deslizou para a porta da salinha do zelador, um cubículo entre duas paredes entulhadas de materiais. Mia ficou receosa em entrar lá. Com ele. Só os dois.

Ele a olhou um pouco, e começou a falar:

– Se lembra quando eu disse que no meu primeiro dia, quando me perdi, fui encontrado com início de hipotermia?

Mia assentiu devagar, um pé de cada vez sendo arrastado até dentro.

– Não foi exatamente culpa do outono. É que eu achei um lugar legal.

Ele apertou-se entre uma prateleira e uma cômoda aos pedaços, erguendo os braços até que tocassem o teto de leve. Seus dedos procuraram um trinco, que se soltou com um clique.

Uma portinhola quadrada, pequena vista de onde Mia estava, deslizou para baixo, solta. De lá de dentro, uma escada dobrável estendeu-se graciosa, tocando o chão em poucos segundos.

O queixo de Mia caiu. William sorriu para ela, empolgado.

– Vamos?

Ele subiu devagar, alçando-se para cima. Mia tentou ignorar o fato de que suas costas largas permitiam que ela visse suas escápulas e músculos trabalhando para o erguerem. Quando desapareceu lá em cima, estendeu a mão. Mia a agarrou, subindo os degraus metálicos.

A escuridão acabou sendo algo incômodo para a garota, tentando se segurar na escada, em Will e tateando no escuro sob o forro do telhado, engatinhando acima do teto do andar.

Até que William parou. Aquilo a pegou de surpresa, e ela bateu contra ele. Ouviu-se uma risada. Um braço passou pelos ombros de Mia, escorregando para suas costas. Ele deu-lhe um leve empurrão.

– Preste atenção.

Outro trinco foi aberto. Uma tira de luz iluminou-se, então um quadrado…

Mia foi engatinhando para fora. Não pôde evitar um suspiro. Eles estavam em cima do telhado.

Ela nunca se acostumara com a sensação de que o céu era bem mais bonito aqui do que em sua casa. Obviamente, a poluição não deixava muito espaço para a vista das estrelas. Mas aqui, e especialmente onde estavam agora, elas estavam tão grandes e iluminadas que Mia achou que poderia tocá-las.

– William, é… É incrível!

Ele sorriu, orgulhoso.

– Esse é meu lugar especial. Acho que ninguém sabe que dá para chegar aqui em cima.

Ela assentiu, maravilhada. Percorreu o espaço plano de telhado, algo parecido com concreto, que depois se inclinava e era coberto com telhas cinza. Dois alçapões inclinados projetavam-se no meio da superfície, criando um esconderijo protegido do vento. William foi até lá e deitou-se mais para um dos lados, deixando um espaço para Mia.

– Venha aqui. – ele convidou.

Ela ajeitou-se ao seu lado, ignorando o choque elétrico que sentia em todo o seu lado direito, que tocava em Will.

– Então, você costuma mostrar esse lugar para as garotas ficarem impressionadas?

Surpreendentemente, ele riu.

– Você é a primeira para a qual eu mostro esse lugar, Mia.

Ela deve ter parecido surpresa. Ele virou-se para o lado dela, ficando com o rosto de frente para o de Mia. Seus olhos estavam com aquele brilho novamente.

– Acredita em destino, Mia?

– O quê?

– Pedi se acredita em destino.

A jovem ficou um pouco em silêncio. Era uma pergunta difícil. Era óbvio que não acreditava, porque com a rota que sua vida seguia, não parecia poder melhorar de uma hora para outra já que tudo de ruim já passara. Mia tinha a idéia de que sua vida tinha a tendência de tornar-se mais difícil a cada lua cheia.

Mas… Lobos também não deveriam existir, certo? Então por que destino não poderia?

– Não sei bem o que responder. Acho… Acho que acredito.

Foi quando ele respirou mais fundo que Mia entendeu porque ele estava pensando nisso. Como se o destino tivesse os unido.

Ele demorou mais uns instantes até os cantos de seus lábios se erguerem e quase formarem um sorriso mostrando os dentes.

– Eu também.

Mia não teve tempo de reagir àquela resposta. Will curvou-se sobre ela e suas mãos puxaram sua cintura para perto. Seus lábios se encontraram, Mia derretendo devagar abaixo do corpo quente e esguio de William. Ela nem teve como pensar que aquele era seu primeiro beijo.

Sua mente estava acelerada e ao mesmo tempo embargada, processando apenas que Will estava sobre ela e que seus lábios se tocavam suavemente, que suas mãos estavam em sua cintura e que as de Mia estavam em suas costas, contornando o pescoço e os ombros fortes e definidos.

Ele se separou dela, relutante. Ambas as respirações estavam aceleradas, os corações palpitando o sangue até a ponta dos dedos.

– Por que fez isso? – a pergunta soou idiota assim que Mia a disse.

William suspirou.

– Isso soa brega, mas você é diferente. Evangeline? Você é o contrário dela. Ela se atirava em mim porque eu era seu status. Não quer ser usado como a imagem de alguém.

Mia aceitou aquilo como um elogio, apesar de ter uma parte de sua mente gritando que aquilo tudo era muito rápido. Estranhamente acelerado. Exageradamente precipitado. Ela nunca beijara ninguém, então um garoto o fizera com base em seus julgamentos formados em quatro dias.

Mas Mia não estava reclamando. Na verdade, ela estava nas nuvens.

Mais precisamente, Mia estava nas estrelas.

* * *

Mia voltou para o quarto depois de mais vinte minutos no telhado. William apresentara diversas combinações das constelações, dizendo os nomes das maiores e mais brilhantes. Falou da mudança das posições, da mitologia de cada uma e falou também das fases da lua. Foi o único momento que a garota ficou calada.

Ela desabou na sua cama, enrolando as mãos nos lençóis. Esperava que o dia pudesse passar mais rápido. Queria saber logo o que James planejava para ela.

É claro que antes passaria por uma sessão de alucinações antes.

Mia remexeu o lençol e percebeu uma mancha nele. Então não era mais uma mancha. Era o lençol. Todo ele coberto de sangue.

Mia tentou soltar-se dele, enrolando-se no líquido pegajoso e quente. O tecido não queria se soltar dela.

Ela desabou no chão, subitamente com dor, obrigando-a a se dobrar e soltar exclamações baixas. O cabelo também se enrolava em cachos molhados de sangue. Mia não queria saber a quem ele pertencia.

Então, ela estava do lado de fora. Encolhida na mesma posição do quarto, nas folhas caídas da floresta. Uma névoa leve pairava intacta. As árvores tinham alguns galhos nus lançando tiras de sombra na luz da lua.

Aquela era a Lua. A lua cheia, tão temida por Mia. Mas esta estava diferente. Estava vermelha.

A lua está vermelha, pensou Mia. Aqueles lobos disseram que estaria.

Outro pensamento lhe ocorreu. E então outro, cada vez pior.

Eu sou filha deles, ocorreu-lhe. A lua está vermelha.

Aquelas palavras não pareciam estar saindo dela. Parecia uma voz longínqua, distante e fraca. Mas ainda absoluta e coerente.

Uma porta estalou, abrindo-se. Mia abriu os olhos, ciente de que aquilo não acontecera de verdade. Ela estava no chão, abaixada. Não havia sangue. Não havia floresta e não havia lua. Talvez por enquanto.

Porque Mia tinha a impressão de que aquilo não servia para assustá-la, mas sim para avisá-la. E parecia um aviso sério.

Melodie entrou no quarto, surpresa por ver que Mia estava ali.

– Mia, eu procurei por você. Estava falando com Nicholas, mas ele também não sabia onde você estava.

– Eu estava com William. É uma longa história, Mel, e eu não posso contá-la agora. Preciso ir.

Mia já levantava. Melodie tentou pará-la, mas sem sucesso.

– Aonde você vai?

– Resolver algo antes que crie mais problemas.

Ela saiu corredor adentro sem se importar em passear pela escola há essa hora.

Dez minutos depois, Mia vagava pela ala dos dormitórios dos professores, que ficava no mesmo prédio da recepção, lugar que ela não fora desde o primeiro dia.

O lado esquerdo era onde ficavam as mulheres, o direito os homens. Mia teria que achar o quarto de James sem acabar batendo em alguma das outras portas. Certamente seria entregue para a diretora caso batesse em uma porta que não fosse a certa. E, considerando os poucos dias de aula, seria estranho caso entrasse, por exemplo, no quarto do Sr. Cloundwood – seu professor de biologia - e o encontrasse sonolento e zangado.

Ela examinou as portas, infelizmente todas iguais, tentando identificar qual era a de James. Mia sentiu-se como Alice, na sala das portas, tentando achar qual delas dava para o jardim da Rainha Vermelha.

Na última do corredor encontrou um sinal. Nos veios escuros da madeira, no centro de sua extensão, as marcas faziam o sinal de uma lua crescente negra.

No mundo de Mia, coincidências não existiam.

Ela forçou a porta, tentando não ousar bater e quebrar o silêncio. O som de um clique forçou o silêncio embora. James usava calças de um pijama cinza, e botara um suéter verde por cima da blusa.

– Amelia, o que está fazendo aqui?

– Eu preciso de ajuda com algo. – sussurrou.

Ele abriu mais a porta, o suficiente para ela deslizar para dentro.

O quarto dele era igual ao dos alunos, mas com uma só cama e uma estante e mesa, ocupada com papéis e mais papéis, anotações e trabalhos para corrigir. Uma luminária estava acesa.

– Tenho motivos para crer que tem algo a ver com o ataque.

Ela assentiu, relutante.

– Tenho medo de que algo aconteça. Pelo menos até você começar a me treinar.

James passou as mãos nos olhos, claramente pensando. A viagem da mão esquerda terminou atrás da cabeça, passando pelos cabelos que estranhamente estavam bagunçados. Assim, ele parecia quase um irmão gêmeo de Nicholas, como se tivessem a mesma idade.

– Tem duas soluções, Amelia. A primeira é levemente perturbadora; meu quarto é magicamente protegido, então você poderia dormir aqui. Isso não pegaria bem para meu currículo, vejo. Nem para o seu.

Aquilo a deixou constrangida. Talvez claramente. James assentiu, concordando com sua reação.

– A outra solução...

Ele foi até uma gaveta. Afastou algumas roupas, erguendo um fundo falso onde havia um compartimento raso. De lá, ele ergueu algemas.

Mia conteve uma arfada.

– Ela só deve ser usada em casos graves, o revestimento interno é coberto com prata, o que seria extremamente perigoso para um Lobo.

– Prata não... Mata?

James abaixou a cabeça, ponderando.

– Mata apenas quando é lâmina. Perfurando a pele, entrando na corrente sanguínea, chegando ao coração e, literalmente, corroendo-o. – ele fez uma careta. – O contato com a pele causaria apenas queimaduras, que se curam rápido. Usando por uma noite. Não precisei dela por mais que isso.

Mia ficou parada ali, impressionada. Aquele cara sabia muito.

Vendo sua expressão, ele sorriu.

– Teremos isso como sua primeira lição. Prata é perigosa, Amelia. – ele foi até ela, virando sua palma para cima e então a fechando sobre o metal gelado. – Use-a com cuidado. Só por essa noite, certo?

Ela assentiu. Virou-se e penetrou novamente na escuridão.

No caminho de volta a seu quarto, Mia pensou no que estava acontecendo.

Em tudo. De seu pai, que estava envolvido de algum modo com sua proteção, (e que era, na verdade, um Lobo que chefiava o que quer que fosse), a sua avó, que não fazia idéia do acontecimento do ataque, que parecia ter acontecido décadas atrás. De sua mãe, que queria que ela fosse humana, a Nicholas e Melodie, dois que a instigavam a ser Lobo. De William - seu rosto ardeu na escuridão -, uma pessoa adorável e sinônimo de problema, a James, um professor que nunca imaginou ter de procurar a noite.

E, principalmente, Mia pensou nos lobos que a encontraram naquela tarde, e sobre a mensagem que lhe entregaram.

Claramente ela já ouvira algo com “lua vermelha”. Só não sabia o que era. Uma sensação gelada lhe percorria a espinha, e parecia que não iria embora tão cedo. Mia iria dormir agora, mas sabia que, no próximo minuto livre que teria, ela iria pesquisar.

E ela iria descobrir.


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Notas finais do capítulo

Só duas coisinhas pra dizer:
Um: As lendas que eu pus (a do padre e tals) e a que eu vou botar no próximo cap. são inventadas, ok? Saíram da minha cabeça, então não dá pra contar como mitologia, tipo em Percy Jackson.
Dois: Vocês acharam que foi meio rápido que o William beijou a Mia? Tipo, conhecendo ela em quatro dias?
Digam poor favor a opinião de vocês,
Beijos ;*



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