Era um domingo qualquer. Andy tinha me ligado, me chamando para ir à casa dela para assistirmos a primeira temporada de Teen Wolf, um seriado que tanto eu quanto ela adoramos. Marcamos 2:00pm e eu já estava dez minutos atrasada quando saí de casa. Não tinha carro ainda, até porque nunca aprendi a dirigir, então esperei por um táxi. Dez minutos depois e nenhum apareceu. Resolvi ir andando, já que os táxis da cidade haviam desaparecido. Felizmente, a casa dela ficava a mais ou menos 20 minutos dali. Estava a três quarteirões de distância do local quando ela me ligou.

– Cadê você, menina? - ela perguntou.

– Não consegui nenhum táxi, vim andando. Eu chego em cinco minutos, no máximo - respondi.

– Tudo bem, então. To te esperando.

– Quer que eu compre alguma coisa pra levar?

– Seria bom se você trouxesse alguns doces. Não tenho nenhum em casa.

– Então você me chama pra ir ver Teen Wolf sem ter comprado chocolate? - perguntei, apoiando o celular entre o ombro e a orelha para procurar minha carteira em meio à bagunça que é minha bolsa. - Que tipo de amiga é você?

– Uma que sabe que você vai comprar pra ela. Agora anda logo, eu to te esperando.

A loja de doces ficava do outro lado da rua, então atravessei. Porém, me esqueci de verificar se havia algum carro vindo em minha direção. Se fosse com uma pessoa comum, ela sairia ilesa. Mas aconteceu comigo e digamos que a minha sorte não é das melhores. Ouvi o barulho do carro freando um segundo antes de ser atingida por ele. O impacto me derrubou no chão, fazendo com que eu batesse a cabeça. felizmente, não tive tempo para sentir dor alguma antes de desmaiar.

*****

Quando acordei, estava em um quarto de hospital. Meus braços estavam cheios de arranhões e minha cabeça latejava. Senti um peso em minha perna esquerda e, quando olhei, percebi que estava engessada. Uma enfermeira entrou no quarto e sorriu ao me ver.

– Ótimo, você acordou.

– O que houve? - perguntei, confusa.

– Você foi atropelada. Felizmente, só quebrou a perna.

– Que horas são?

– 6:00pm.

– Meu Deus. Eu deveria estar na casa da minha melhor amiga há quatro horas - a enfermeira riu.

– Você teve sorte. O rapaz que te atropelou te trouxe direto para o hospital.

– Sorte? Eu fui atropelada. Cadê meu telefone? Eu preciso ligar pra minha amiga.

– Seu telefone está na recepção, junto com sua bolsa.

– Tem como você buscá-lo pra mim?

– Claro. Eu volto em um minuto.

E saiu do quarto, me deixando sozinha outra vez. Alguns segundos depois, um homem entrou. Não era enfermeiro, tampouco médico. Seus cabelos eram castanhos e seus olhos azuis. Era bem mais alto que eu, provavelmente mais de dez centímetros. Parecia preocupado.

– Tudo bem com você? - ele perguntou.

– Eu quebrei a perna, bati a cabeça, arranhei meu braço todo, perdi uma tarde inteira com a minha melhor amiga e estou em um hospital. Deveria estar tudo bem?

– Me desculpe, eu não queria... sabe, você entrou na minha frente de repente...

– Ah, então foi você que me atropelou. Muito obrigada.

– Olha só, a culpa não foi minha. Você que não olhou antes de atravessar.

– Ah, sim, a culpa é toda minha. Você poderia, por favor, sair daqui?

– Eu só queria pedir desculpas.

– Já pediu.

– Eu sei, mas... bem, eu to me sentindo muito culpado.

– Coisa que você é.

– Colabora, OK? Eu coloquei meu número nos seus contatos. Se precisar de alguma coisa, pode me ligar.

– Tenho certeza de que não vou precisar de absolutamente nada.

– Desculpa mais uma vez.

– Ta bem, ta bem, agora vai embora.

– To indo... se precisar, é só ligar.

– Eu ouvi quando você disse da primeira vez.

– Desculpa - ele disse outra vez, saindo do quarto em seguida.

Pouco tempo depois, a enfermeira trouxe meu celular e minha bolsa e disse que eu já podia sair. Mas sair como? Eu não conseguia andar! Resultado: além do gesso que ia até o meu joelho, eu ainda tive que sair de muletas. E, pior, esse hospital ficava a 10km da minha casa. Como os táxis de Liverpool tinham sido abduzidos por alienígenas hoje, eu liguei pra Andy pra ver se ela poderia vir me buscar. Felizmente, ela pôde. Depois de explicar a ela o que aconteceu e convencê-la de que eu estava bem, ela foi embora, me deixando sozinha no apartamento. Felizmente, não demorei muito a dormir.