Reveille escrita por MayaAbud


Capítulo 46
Alvorada


Notas iniciais do capítulo

"Você pode nunca ter visto a luz do sol. Mas você sente o calor, e há luz mesmo que ele esteja encoberto pelas nuvens. E pode realmente gostar disso. Mas se as nuvens se dissipam você se queima e fica cego de tanto brilho. Não um cego na escuridão... Só há brilho, cores vivas, beleza e você fica... Inebriado com tantas luzes... E então você ama isso."
—Jacob, Reveille.



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Ponto de vista de Renesmee

O jorro de imagens foi em primeiro lugar assustador, uma miríade de rostos e olhos de cores diversas, dourados, vermelhos, castanhos. E foi assustada que eu abri os olhos, tendo a vaga sensação de que isso era errado, de certa forma uma decepção, pois em algum momento distante eu me convencera de que nunca mais os abriria novamente, eu estive certa de que nunca mais faria isso, porém, não era como se eu não estivesse feliz. E mais assustador ainda, foi não conseguir ter certeza do que meus olhos viam. Meu corpo desacostumado à vulnerabilidade de sentidos se tencionou, e tudo o que houve foi dor, uma dor ardente de desgaste e cansaço, e vi formas familiares se aproximarem, sabia que elas falavam comigo, mas eu ouvia tão longe que parecia onírico. Estava atordoada.

Minha garganta arranhou e me senti enjoada... No tempo exato havia uma bacia de ferro próxima ao meu rosto, onde meu único instinto foi despejar todo o ácido em meu estômago, quando fui atingida por dolorosos espasmos. Enquanto isso os sons a minha volta se tornaram mais nítidos, não que houvesse muitos.

Mãos frias, muito frias, me fizeram tremer quando tocaram levemente minha testa ao me recostarem aos travesseiros.

_Nessie, meu amor_ abri os olhos em direção a voz forçando-os a ver, surpreendendo-me vagamente com a beleza dos brilhantes olhos de minha mãe. Senti-me sorrir.

Outra mão me fez recuar, quase dolorosamente fria. Carlisle lançou um olhar interrogativo para meu pai, ao lado de Bella.

_Como se sente, querida?_ Indagou meu avô. Eu não sabia o que dizer. Meu corpo, onde eu me movia ardia, como, imagino, arderia se eu tivesse nadado uma longíssima distância, ou corrido mais do que poderia. Sentia-me cansada e com frio, Edward desapareceu e voltou com um cobertor mais grosso, colocando-o a minha volta. Sentia-me também vazia, fraca... E esse espaço fez-me procurar alguém que não estava ali, dentre os rostos pálidos de meus pais e avós.

_Jake foi à reserva mais cedo. Ele não tem saído do seu lado todo esse tempo, então com sua melhora, Bella o convenceu a ir até a comemoração que os lobos estão fazendo. Ele disse que viria para dormir com você, como tem feito_ explicou-me Edward docemente, os olhos dourados cheios de alívio latente.

_Dias?_ minha voz soou muito fraca, pigarreei, mas foi uma péssima idéia, minha garganta ardeu, meus olhos se encheram de lágrimas.

_ Dezenove longos dias_ disse Bella sentando-se na beira de minha cama. Edward de repente surgindo com um copo de água, que me vi então ansiosa para beber. Minha boca seca e porosa, desconfortável.

Bella me apoiou para que eu pudesse beber. A água desceu deliciosa por minha garganta, mas me fez curvar-me em dor no colo de Bella quando atingiu meu estomago sensível demais.

*

_Você não sabe como é bom ver seus olhinhos abertos_ Disse Bella emocionada quando o remédio para dor de estômago começava a fazer efeito. _ Não sei o que seria de mim se... _ e então suspirou e sorriu.

Eu ainda estava atordoada, então me lembraram do que havia acontecido, de que eu fora mordida... E aí a atadura em meu pulso me chamou atenção, meu corpo todo doía então eu não percebera os ferimentos antes. Edward me contou enquanto eu tomava a sopa que Esme preparara que eles chegaram a perder as esperanças de que eu acordasse, Carlisle me explicando a ação do veneno em meu sistema. Meus tios haviam ido caçar ontem, me disseram, mas estavam voltando, Esme ligara para avisá-los de que eu acordara; eu bem que estranhei não haver a multidão habitual em meu quarto.

_Deve a vida a Billy, o Velho Quil e Jake_ disse Carlisle trocando meu soro.

_Quero vê-lo, ao Jake_ falei sem me ater ao que meu avô dissera sentindo-me ansiosa, imagens incoerentes rondando minha mente e me deixando agitada.

_Logo estará aqui_ disse Bella afagando minha cabeça. Eu não queria ter que esperar para vê-lo, embora eu tão pouco entendesse ou achasse saudável a necessidade. No entanto, era como se algo imprescindível me faltasse, eu necessitava tanto vê-lo que era como se ele fosse parte do coquetel de remédios que meu avô depositava no soro.

_Eu vou ligar, dizer que acordou_ falou Esme.

_Deixe que ele tenha uma noite com a família_ falei, sentindo que não era justo chamá-lo se ele esteve aqui todos esses dias... Eu é que devia ir lá.

Resistindo a dor ardente que todo e qualquer simples movimento causava afastei os cobertores e me sentei na cama.

_Nem pense nisso, mocinha_ meu pai disse, enquanto eu era detida por uma súbita tontura, que me fez apertar o colchão e fechar os olhos. Mãos geladas me tocaram na fronte e devagar abri os olhos.

_Seu corpo tem que se acostumar com a vertical_ murmurou Edward, agachado, as mãos em minha cabeça. _Além disso o veneno... queimou seus músculos.

_Eu vou até a reserva.

_Não vai, não_ disse-me ele.

_Eu preciso ir_ falei sem me importar que ele visse qualquer coisa em minha mente, duvidando que ele entendesse muito, uma vez que eu mesma não entendia.

_Você não está bem, tem de descansar, sequer consegue ficar de pé_ eu queria rebater, mas ele tinha razão, embora eu soubesse que a tontura era pelo descostume e que eu podia suportar a dor e a fraqueza de meu corpo.

_Mãe_ chamei. Ela avançou me dando apoiou quando eu levantei, fechei os olhos apoiando a cabeça em seu ombro até sentir a oscilação cessar_ Me ajude a ir até o banheiro. Não, quero andar_ acrescentei quando ela fez menção de me pegar no colo.

Edward me deu um olhar de aviso e suspirou resignado, sabendo de minha obstinação. Vi Carlisle sorrir de relance.

No banheiro, pedi que Bella desembaraçasse meus cabelos e lavei o rosto, a sensação foi tão boa em minha pele, que decidi tomar banho, descobrindo que o alívio para meus músculos era ficar imóvel, embora até a respiração fosse incômoda ao expandir meu tórax. Fiquei chocada ao ver as feridas depois que tirei as faixas... E achei estranho e até um pouco engraçado os pontos acima de um dos olhos, nunca imaginei que receberia suturas na pele.

*

“Leve-me até a reserva”, toquei o braço de Bella enquanto ela me ajudava a vestir o vestido de botões, que seria prático por causa dos curativos, no closet.

_Porque não espera que Jake venha, ele disse que virá, não tem saído do seu lado_ respondeu ela.

_Você não esperaria_ rebati sentindo faltar o ar de ansiedade, talvez fosse uma reação puramente psicológica, pois eu sentia o ar entrando e saindo normalmente, bem, normalmente da forma em que despertei.

_Sente-se bem o bastante?_ ela me encarou buscando sinais em meu rosto. Suspirei profundamente, me arrependendo um pouco, meus pulmões arderam...

_Sim, eu agüento_ falei buscando meu escudo em minha mente e me surpreendendo com quão fácil fora acioná-lo e revestir minha mente.

_Sabemos que não é bem assim_ disse Edward do quarto.

_Eu agüento, pai_ falei decidida. A verdade é que eu não me sentia muito bem, mas eles não tinham que saber disso.

_Não seja teimosa_ disse ele no momento em que passamos do closet para o quarto.

_Bom, então me amarrem, pois do contrário eu vou andando nem que leve a noite inteira_ demandei, Bella me sentando na cama.

_Nessie, sabe que isso é bobagem, certo? Jake estará em casa logo_ argumentou meu pai. _ Além disso, acha que ele vai gostar de saber que você mal despertou e já está andando assim?

_Não é como se ele não fizesse o mesmo no meu lugar. Além disso, alguém precisa fazer algum sacrifício por ele também_ falei sentindo que era inteiramente verdade, embora eu não soubesse de onde tirara tanta certeza.

_Eu vou levá-la de carro, sei onde estão_ disse-me Bella_ Não se preocupe_ acrescentou referindo-se a Edward, que revirou os olhos, vencido.

Emmett não havia levado o jipe, haviam ido com o carro de Alice, então Bella o pegou, já que segundo elas os quileutes estavam reunidos nos penhascos.

***


_Acho melhor ir com você_ falou Bella ao parar o carro no fim da trilha_ Como vai mancando e pulando num pé só?_ disse se referindo ao meu tornozelo e joelho enfaixados.

_Não se preocupe. _ sorri, grata_ Não me espere, estou em casa.

_Ainda não sei se estou fazendo o certo, eu não devia deixá-la, por favor, se sentir-se mal...

_Mãe, acho que agora eu só posso melhorar_ interrompi. Não achava que poderia me sentir pior do que estava... Ou do que estivera, e eu podia suportar.

_Amo você_ disse-me ela, “Mais que minha própria vida”, deixei que irradiasse por minha mão ao tocar seu rosto, ela estalou um beijo em minha palma.

Eu e minhas ataduras saímos do carro, cambaleando apoiada na perna direita, o tornozelo incomodava menos que o joelho esquerdo ao transferir o peso, uma vez que o tornozelo estava imóvel pela atadura e dentro da bota de trilha que eu calçava.

Eu já devia esperar que Bella viesse me dar apoio, foi o que ela fez em menos de um segundo, me levando até onde a terra e as árvores começavam a se inclinar.

_É uma subida_ tentou ela novamente.

_Não se preocupe_ beijei-a no rosto e saí, certa de que ela me vigiava.

Subi, tateando pelas árvores, buscando apoio entre as pedras. Estava impaciente, nunca me senti tão humana, fraca e vulnerável, estava frio, não... Eu estava com frio, era estranho e desconfortável. Levei muito mais tempo do que deveria ter levado para fazer o caminho familiar, além de andar devagar, pois meus músculos não pareciam agüentar exigências, parei algumas vezes, para atenuar a ardência de cansaço nos membros.

Demorei até conseguir ouvir o estalar do fogo, as risadas e vozes conhecidas no coral numa língua familiar, mas que eu não entendia... Estava cansada quando finalmente saí da proteção das árvores para a chapada de pedra a beira do penhasco, o vento soprou gélido e eu tremi.

A primeira pessoa a me ver não era quem eu buscava, mas me encheu de alegria e alívio, o alívio inconsciente me trazendo a lembrança de que ela estivera comigo quando me levaram. Claire me apontou para Jade e correu na minha direção afoita, no último momento ela hesitou, talvez lembrando que eu não devia estar muito bem, e desacelerou me abraçando levemente. Jade a seguiu, caminhando sorridente até mim e também me abraçou.

_Finalmente, a homenageada da festa!_ a voz risonha era de Quil, que se aproximava. Eu sorri, ainda sem fôlego pela longa subida, ele me abraçou e me deu apoio para caminhar, quase me carregando, seu braços sob os meus, Embry vinha em nossa direção.

Antes que eu pudesse perguntar por quem eu mais queria saber, o vento frio soprou mais forte trazendo o cheiro que mais gostava no mundo inteiro.

_Ele está lá na beirada, sozinho_ disse-me Embry, Quil deixando que ele me levasse mais adiante_ Bom ver você acordada_ ele sorriu enquanto nos aproximávamos da fogueira onde todos estavam em volta, ganhei e retribuí vários sorrisos.

A 15 metros de onde estavam todos, escorado num tronco, de costas para nós, sentado no chão, estava Jake... Eu não saberia explicar a onda de emoções que me tomou. O amor tão profundo, a paixão tão quente e o medo e desesperança tão frios que me cortaram... A única coisa que eu soube naquele momento é que eu não suportaria muito mais sem ceder para tudo que vinha represando há tanto.

_Jacob_ chamou Seth. Ele se moveu com irritação e se virou de má vontade. Reconhecimento tomou seu rosto ao me olhar surpreso e chocado, num salto ágil ele se levantou, e em longos passos estava comigo. Envolveu-me delicadamente, como se temesse que eu evaporasse, me fazendo ter ainda mais certeza de que o amava, a emoção umedeceu meus olhos.

Jake me soltou_ um enorme sorriso nos lábios grossos e lágrimas nos olhos escuros_ e eu oscilei fraca, de emoção, de cansaço. Rapidamente ele me tinha nos braços.

_Não acredito que deixaram você sair, porque veio sozinha? Sente-se mal, está com dor, porque está chorando?_ perguntou ele afoito, me levando para onde estava antes, sentando no tronco comigo no colo, na beira do penhasco, desta vez de frente para o fogo. O vento não me incomodava nos braços tão calorosos dele.

_Minha mãe me trouxe, eu tinha de vir_ expliquei, a voz voltando a arranhar.

_Como é bom ouvir sua voz! Ver seus olhos!_ Ele beijou meus olhos, colocando minha mão em seu rosto e inspirando ali_ Não chore, está tudo bem.

Balancei a cabeça discordando. Não estaria bem enquanto eu não deixasse fluir o que estava represando há tanto tempo. Como se eu estivesse no limite, como se fosse o mínimo que eu poderia fazer por ele, por nós, eu falei.

_É muito injusto_ balbuciei deixando que tudo se convertesse em lágrimas, que jorravam convulsivamente. Jacob me fitava de rosto franzido, desesperado e confuso_ Eu o amo. Amo você! Mas não quero... Eu... Quando sua escolhida aparecer... Ah, Jake!

Deixei meu corpo recostar-se no dele, desistindo e ao mesmo tempo apreciando. Senti-o balançar a cabeça em negativa

_Nessie... Minha escolhida?!_ falou por baixo da respiração.

_Seu imprinting_ murmurei, de má vontade ao admitir que aquela era uma luta perdida, só porque não tinha forças ou fôlego para gritar_ Quem tem de ser sua_ solucei, e doeu em meu peito; o solução e admitir.

_É você. É você! Sempre foi!_ Ele me aninhou como um bebê, fazendo-me olhá-lo através das lágrimas. _ Nessie, é você minha escolhida. Metade do meu espírito, minha alma gêmea, meu amor, minha sina, minha esposa espiritual, minha maldição... Como quiser chamar, como entender melhor.

_Sabe que não é assim, não tenho sangue quileute, eu queria poder... _ Ele pôs os dedos grandes em minha boca.

_O monstro do lago Ness foi a última gota, mas Bella tentou me matar por sofrer imprinting com sua filha recém-nascida_ Jake estalou um beijo na minha palma, na mão que ainda segurava em seu rosto.

_Não faz sentido_ falei, pois eu não queria acreditar, porque queria acreditar.

_Em que mundo não faz sentido, no nosso?! E o que faz, então? Um lobo gigante explodir de dentro de mim? Seu pai ter mais de 100 anos? Você beber sangue?_ ele riu, o humor dúbio.

_Mas eu era um bebê! Como é possível?

_Não era como é agora. Quero dizer, não era esse tipo de amor. Achávamos que ao menos isso era só lenda, até Quil ter por Claire, eu por você, recém nascida e meio vampira, e agora... Seth pela híbrida que Rose trouxe da Itália.

Lembrei vagamente de Rose interessada em algo em meio aos Volturi... Ela havia trazido a criança?!

_Quil e Claire?!_ Muita coisa fazia mais sentido agora, na verdade.

_Mas você amou minha mãe_ minha voz falhou nesse segundo.

_Eu amei você_ franzi o cenho para ele_ Não amo você porque a amava. Você era improvável, impossível... Quem poderia imaginar...? Amei Bella por que quem tinha de ser minha ainda fazia parte dela.

_Isso é loucura.

_Duvida do que sente?_ neguei em silêncio_ Você pode nunca ter visto a luz do sol. Mas você sente o calor, e há luz mesmo que ele esteja encoberto pelas nuvens. E você pode realmente gostar disso: da luz e do calor ameno. Mas se as nuvens se dissipam você se queima, conhece o verdadeiro calor e fica cego de tanto brilho. Não um cego na escuridão, só há brilho, cores vivas, beleza e você fica... Inebriado com tantas luzes... E então você ama isso.

Eu não sabia o que dizer. Ah, eu ainda não devia ter desperto, eu estava sonhando... Eu não queria acreditar, era bom demais, fazia sentido demais... Ao menos saindo da boca dele.

_Você é o sol. O dia realmente nasceu para mim quando eu a vi pela primeira vez_ seus olhos eram emocionados ao falar.

Devagar e muito docemente Jake trouxe seus lábios aos meus, eram mais quentes do que eu me lembrava, num beijo muito diferente do nosso primeiro. Não havia raiva ou medo. Só existia amor, cuidado, saudade... Tudo em minha mente se desfez enquanto seus lábios estavam, carinhosos, nos meus. Ao fundo, parecendo distante de nós soou um coro de “Finalmente!”, risadas e assovios, que nos fez separarmos... Eu repousei o rosto em seu ombro, Jake afundando o rosto em meu pescoço, desnudo pelo coque em que estavam meus cabelos.

_Porque ninguém me contou? Quer dizer, é óbvio que todos sabem... Como eu fui idiota por não perceber... Como você pôde me deixar, então?_ as perguntas saíam pela boca no momento em que surgiam em minha mente, enquanto eu me afastava para olhar seu rosto.

_Não cabia a ninguém te contar. E bom, seus pais pensaram em fazer isso, mas temiam que você se prendesse a isso e de alguma forma eu conseguisse ficar longe, ou algo me acontecesse e eu não voltasse, temeram que você não melhorasse_ seus lábios tocaram os meus nova e rapidamente _ E... As coisas meio que funcionam assim... Você me pediu para sair da sua vida. Eu levei muito tempo para pensar em conciliar uma distância menor e sua vontade. Naquele dia, eu precisava de um médico para Dulce, Edward levou você, provavelmente tendo em mente o que você faria, e você me libertou... Como com palavras mágicas_ Jake riu um pouco_ Dizendo que queria que eu ficasse. _ Jake encostou sua testa na minha, enquanto eu absorvia sua explicação.

_E agora: depois que voltou, quando resolveu dizer que me amava. Quase me enlouqueceu! Por que não contou?

_Tive medo. Como ia deixar claro que tínhamos uma ligação sobrenatural quando a havia deixado? Além do mais, quero que me ame independente disso, não quero que me queira porque acha deve querer.

_Como se houvesse uma maneira de não amar alguém como você_ murmurei. _Sabe quanto teria sido evitado se tivesse me contado antes?_ murmurei chorosa.

_Você era um bebê, isso não importava. E depois... Mais grandinha, você não teria reagido bem.

_Como não? Eu tinha direito de saber!

_É uma droga que todos me digam o que fazer, não poder decidir por mim_ disse ele numa ótima imitação do meu tom ao proferir aquelas palavras, anos antes.

_Tem razão_ admiti.

_Você está tão fria_ ele afagou meu joelho sem atadura. Eu não estava com frio, ali aninhada no colo dele.

_Estou bem_ sorri, tentando assimilar que ele era o Jake, o mesmo de sempre e que não era errado amá-lo, ou querê-lo, beijá-lo... Inclinei-me para ele sentindo sua boca na minha, a textura macia dos lábios castanhos e quentes. Era surreal!

_Você não está bem, estou sentindo você tremer, ainda que não seja de frio_ De novo, ele tinha razão, os músculos estavam desgastados pelo esforço, e eu tremia de fraqueza, mas isso não era grande coisa... _ Devia estar descansando, eu quase perdi você_ ele me pareceu estranhamente pálido com a lembrança.

_Disseram que devo minha vida a seu pai, o Velho Quil e você, o que aconteceu?

_Lendas! Mas agora vou levar você para casa. Ainda não acredito que deixaram você sair, o que esses vampiros têm na cabeça?_ reclamou indignado.

_Eu viria de qualquer forma se eles não me amarrassem. Dirigindo ou mancando_ falei em defesa de minha família.

_Que lindo! Você cheia de ataduras pulando num pé só pela floresta. Chegaria aqui pela manhã_ ele me olhou debochando e eu ri recostando meu rosto no seu para que ele não visse a expressão de dor causada pelo riso. _Claire sabe sobre isso...?_ perguntei, depois do fôlego recuperado.

_ Agora sabe. Quil viu que isso pode não dar muito certo, sabe, essa coisa de esconder. _ murmurou, o rosto grave, e sorriu_ Ela reagiu bem, ele não explicou tudo a fundo, e Claire quando se trata de Quil pode ser ainda mais possessiva que todos nós juntos.

_Garotos_ a voz trovejosa de Billy chamou a atenção de todos, desde os meninos que conversavam mais distantes da fogueira até nós. Jake levantou-se comigo nos braços e caminhou para mais próximo dos amigos.

_Vou levar Nessie_ falou ele a quem nos olhou.

_Espere, Jake, esta reunião também é por Renesmee_ falou Billy, Jacob argumentaria e então:

_Quero ficar, só mais um pouco_ pedi e vi toda sua resolução se dissolver. Com um suspiro, ele nos juntou aos outros no círculo, sentando-se no chão e me ajeitando em seu colo. Estávamos entre Jared e Kim, que tinham seu bebê, um garotinho, dormindo em um baby confort, e Paul com Rachel aninhada em seu peito, me fazendo lembrar que eles também deviam ter uma criança com eles se não fosse pelo estúpido acidente de Rachel, há dois anos atrás.

Jake me colocou cuidadosamente contra seu peito, de forma que eu ficasse confortável e aquecida. Olhei para ele tocando sua mão, perguntando sobre as palavras de Billy e a expressão atenta e curiosa de Claire, sentada ao lado de Quil, os dois próximos a cabeceira do círculo: Billy.

_Isso é novidade. Nunca houve tantos imprintings, então também não havia a necessidade de se explicar o outro lado, o lado em que nunca se pensara antes. Bom, também é uma forma interessante de se fazer uma criança de quase doze anos entender_ Jacob sussurrou em meu ouvido, cingindo-me com os braços expostos pela camisa que vestia. “Ou de oito anos”, projetei em sua mente, fazendo-o rir.

Então a voz majestosa de Billy soou:

_Todos aqui sabem das histórias de nossos ancestrais. De como usamos nossa magia para proteger a tribo e viver em paz desde o início. Sabemos também como o amor por nosso povo e o ódio por nossos inimigos nos mudaram para sempre, fazendo chegar a nós, os lobos-espíritos, nossos protetores de hoje_ Minhas mãos se estreitaram nas de Jake e eu podia sentir a adulação em meus olhos por estar rodeada de guerreiros cheios de magia no sangue. Jacob se moveu, os lábios roçando em meu cabelo.

_Hoje vamos falar sobre alguém que não era forte como os espíritos guerreiros, alguém que infelizmente não possui nome em nossas memórias_ os olhos de Billy pousaram em mim, por um mínimo segundo, e então para Sue do seu lado direito, sendo que do esquerdo estava o Velho Quil seguido por Sam e Emily. Eu senti a direção mudar, era para as mulheres da roda que eles falariam, fosse o que fosse.

_ Não se sabe o porquê_ começou a voz suave e calorosa de Sue_ Mas nossos ancestrais explicavam que quando o lobo-espírito vê sua prometida, reconhece a fissura que ambas as almas possuem e só pode ser sanada com a presença da outra. Cada ser na terra possui seu quinhão de capacidades, e dentre os pares que dividem um mesmo espírito essas capacidades se completam.

“A terceira esposa era apenas humana, no entanto foi capaz de dar a si própria em ajuda a seu companheiro em prol da tribo, para não vê-lo morrer. Essa esposa era diferente, embora Taha Aki tenha amado e respeitado as anteriores, ela era sua esposa em espírito, fez o que as duas anteriores talvez não fossem capazes_ houve uma pequena pausa_ Nenhuma regra é válida quando duas metades se reconhecem, as leis do tempo deixam de significar e então é fácil compreender uma das condições de ser um guerreiro: não envelhecer_ ela sorriu para mim e para Claire_ Quando um lobo-espírito reconhece sua escolhida é como se a alma dela fosse impressa na dele como fogo que marca a carne, ou como a pele que se regenera deixando uma cicatriz”.

_Nem uma das escolhidas dos lobos deixa de ter a capacidade de escolha sobre seu próprio destino, isso é algo condicionado a quem carrega no sangue os genes lupinos. No entanto é a força da vida que os mantêm juntos desde antes do nascimento_ eu sorri e Jake me apertou delicadamente em seus braços. Senti alguns olhares para nós e minhas bochechas aquecerem levemente_ Pois é a mais profunda consideração da provisão de todas as suas necessidades, num paradoxo de atender, então, as dela, que por sua vez percebe no homem que traz o lobo em si, todo compromisso e segurança de que precisarão em suas vidas. Não importa como este laço se realize, o objetivo talvez seja que o fardo de ser um protetor não condene nossos jovens a uma vida solitária. Afinal, todos precisam de um amigo com quem pensar em voz alta e nem todos podem ser amigos e confidentes leais o bastante para um lendário protetor tribal_ brincou Sue, fazendo risinhos e sorrisos brotarem ali. Escorada no peito de Jake eu ri da familiaridade da cena: Quil desarrumou levemente o cabelo de Claire, que lhe deu um soco leve, sorrindo.

_Os objetos de possessão dos lobos são de qualquer forma a fraqueza que lhes pode condenar ou a força que lhes pode salvar.

Era incrível saber que as pessoas que inspiraram aquele discurso e todas as histórias que ouvi na infância existiram, que era tudo real e que de alguma forma eu agora fazia parte disso. E eu me perguntava se algum dia contariam numa fogueira como aquela, rodeada de amigos e irmãos sobre o descendente direto de Ephraim Black, que se uniu aos inimigos por amar uma híbrida bebedora de sangue... Onde estaríamos nós? Quem sabe nós mesmos contaríamos... Ou nossos filhos? Eu duvidava disso, e isso me fez sentir falta de algo, um temor indistinto, longínquo, vazio...

**

Suspirei com o calor da respiração em meu rosto, a pele macia roçando em meu nariz, o balançar suave. Estava escuro e silencioso, diferente da fogueira luminosa e da proximidade dos amigos sorridentes. Levei alguns poucos segundos para perceber as formas tortuosas das árvores sobre nós.

_Estamos em casa_ murmurou ele, a nossa frente emergindo da escuridão estava a casa branca de meus avós, as luzes das janelas acesas.

_Não me despedi de ninguém_ murmurei voltando a recostar a cabeça no ombro de Jake.

_Se despediram de você_ falou ele saindo da proteção das árvores e alcançando o gramado da casa, a voz risonha.

_Até que enfim_ disse Edward abrindo a porta. Todos pararam para nos olhar e sorrir, estavam todos em casa, não deixei de notar Rose dando de mamar para a linda criança loira, o cheiro de sangue pairando no ar.

_Para a cama, você ainda está de observação_ disse Bella. Meu pai beijou meu rosto e deu um tapinha no ombro de Jake, tudo parecia em paz.

Jacob subiu para o antigo quarto de meu pai, e me colocou delicadamente na enorme cama de casal, que agora possuía lençóis limpos. Ela me acolheu e meu corpo relaxou, cansado, meus olhos se fechando automaticamente.

_Como se sente?_ perguntou Jake, a voz rouca e preocupada_ Precisa de algo?

_Que você venha para cá_ reclamei abrindo os olhos a tempo de vê-lo se inclinar para tirar minhas botas sujas de terra e dar a volta na cama, para subir, o que ele fez sem movimentar muito o colchão, tentando não me incomodar, imaginei.

_Você é mesmo meu?_ murmurei, temerosa, fitando seus olhos escuros, enquanto ele se aninhava a lateral de meu corpo. Ele sorriu, meu coração acelerando dolorosamente, eu não tinha certeza se era psicológico.

_Para sempre, desde sempre_ sussurrou ele contra meus lábios, para então aprofundar o beijo_ Ah!_ interrompeu ele. As mãos tateando os bolsos, de onde ele tirou um cordão preto e fino, de couro como o que ele tem amarrado ao tornozelo, com uma pedra irregular, transparente, porém cor ferrugem, castanha. O pingente não era totalmente redondo, do tamanho da íris de um olho. A cor combinava com sua pele, ou com meu cabelo. Jake tirou um cordão idêntico de dentro da blusa, preso ao seu pescoço.

_É só um cristal, não tem muito valor, mas é único_ falou ele, enquanto eu pegava, olhando mais de perto.

_É claro que tem valor! É lindo!_ passei o cordão pelo pescoço, segurando o cristal entre os dedos: podia-se ver onde os dois cristais uniam-se perfeitamente, seus formatos irregulares se encaixavam mostrando que foram um só. Fiquei emocionada, lembrando as palavras de Sue. _ Obrigada... Como conseguiu? Essa cor...

_Diz a lenda... _ Jake riu, divertido_ O velho Quil disse que dentro dele, agora deles, há nossos espíritos unos, misturados.

Então ele me contou sobre a viagem ao mundo dos espíritos, como Billy convenceu o Velho Quil a usar o segredo quileute para não perder o filho, que não viveria se algo me acontecesse. Não gostei dessa parte, mas não quis discutir.

_Eu não lembro de nada_ falei, referindo-me ao estado de coma.

_Eu também não.

_Como vai ser agora?_ falei referindo-me a tudo. Eu ainda estava fora de meu corpo, parecia muita informação, não estava acostumada a lentidão de meu cérebro, isso seria permanente? Eu duvidava... Aconteceu muita coisa desde o momento em que eu acordara, era muito que assimilar... E eu estava cansada e doente, ainda, acho.

_Agora, você vai dormir e ficar boa logo_ disse ele afagando meu rosto.

_Fique aqui_ pedi sem conseguir suportar a idéia de tê-lo longe, temendo acordar e perceber que nada daquilo era verdade.

_Preciso muito de você para conseguir ir embora. Nem Edward me tira daqui hoje_ Ouvi alguns risos no andar de baixo e um rosnado um tanto brincalhão. Eu sorri, satisfeita.

Fechei os olhos inspirando sua respiração e junto dela, a certeza em suas palavras. Deixei a inconsciência me dominar, apreensiva de perder a sensação de que estava nos braços dele. No entanto, o sono não foi suficiente para me tirar a ciência de que ele estava ali e seria minha alvorada ainda que eu despertasse na noite mais escura.



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Notas finais do capítulo

Eu amo esse capítulo e toda a explicação sobre o outro lado do imprinting...
Esse é o último capítulo e eu quero agradecer as meninas que comentaram desde o ínicio e dizer que foi um prazer dividir essa história com vc's.
Aos fantasmas eu digo que é muito desrespeitoso apreciar, ou não, uma história e de qualquer forma acompanhá-la sem dizer nada a respeito. Desrespeitoso comigo que me esforço muito para escrever algo digno de ser lido e com vc's também, visto que alguns também escrevem.
Logo eu posto o epílogo e eu adoraria saber quem acompanharia e, é claro, comentaria, numa continuação... Digam nos comentários ou se doer muito deixem mensagens =D
A continuação já até tem nome: Second Sun... Alguém arrisca dizer porque? Aqui o crescimento da Nessie e o Jake eram Reveille: alvorada.