Reveille escrita por MayaAbud


Capítulo 26
Tentando


Notas iniciais do capítulo

Meus dias sem você, são tão escuros
Tão compridos, tão cinzas
Meus dias sem você
Meus dias sem você, são tão absurdos
Tão amargos, tão duros
Meus dias sem você
"Meus dias sem você, não tem noites
Se alguma aparece
É inútil dormir
Meus dias sem você são um desperdício
As horas não tem princípio nem fim

Tanta falta de ar
Tão cheia de nada
Sucata imprestável
Lixo no solo
Moscas na casa"
—Shakira



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Ponto de vista de Renesmee

Tia Rose me encontrou a caminho do refeitório.

_Amorzinho, posso dizer uma coisa?_ fiquei tensa, ela sempre agia como minha segunda mãe, porque me pedir para falar? Assenti e ela continuou:

_Meu bem, vá viajar com seus pais. Queremos vê-la feliz.

_Desculpe-me, tia.

_Não peça desculpas por sofrer. A culpa não é sua_ raiva ferveu em sua voz penetrante_ Sabe que se quisesse logo teria a cabeça de um lobo gigante em sua parede_ ela sorriu gostando da idéia.

_Não acho que ajudaria muito_ sorri_ De qualquer forma, eu acho que vou, sim.

Sentamo-nos à mesa dos Cullen.

_Não vejo à hora da formatura_ disse Emmett após beijar Rose_ Estou ansioso por leões_ ele se referia a ida a África que faria com Rose.

_Então_ Edward, ao meu lado, pegou minha mão_ Você falava a verdade com Ive ou era uma desculpa para não voltar à escola?_ ele reprimia um sorriso.

_Você estava ouvindo_ acusei. Consegui manter o escudo por mais tempo do que já havia conseguido e mesmo assim ele ouviu a conversa... _ Falei sério.

_Você vai adorar_ disse ele exultante virando-se para Bella, que me sorriu contente.

Se Jacob insistia em não voltar, iria ajudá-lo aumentando a distância. No fundo eu não gostava da idéia, mas minha família merecia uma folga de “Nessie, A Fantasminha”. Sequer podia imaginar quão difícil era para Jasper ficar sob o mesmo teto que eu... Poderia esconder o pior de Edward, porém Jazz... Realmente devia isso a ele, a todos eles.

O padrão de meus dias continuou pelo resto do mês, até a formatura. Sustentei a história de que seria transferida para Ive, que era a única com quem eu conversava. Ninguém mais precisava saber que eu não voltaria depois do verão.

O casamento de Kate e Garrett estava marcado para o fim de agosto, então tínhamos pouco mais de dois meses para viajar, e voltaríamos para o casamento do qual Bella e Edward seriam padrinhos.

Alice me ajudava a preparar as malas, na verdade ela as preparava enquanto eu fitava a chuva fina que caía do lado de fora. Senti seus dedos finos em meus ombros quando ela me puxou para a cama.

_Ah, Nessie!_ afagou meu rosto_ As coisas vão ficar bem, você verá_ ela me deu seu sorriso de fada.

_Eu já devia ter esquecido, não é?

_Não, não quis dizer esquecer. Mas tudo vai dar certo_ ela deu uma piscadela_ Sempre dá.

_Acha que ele vai voltar?_ mesmo às cegas Alice era uma vidente, ela sentia as coisas. Ela riu.

_Se eu pudesse vê-lo, diria que não, pois ele está decidido, mas como não o vejo... Sei que ele não vai correr o mundo todo, o continente americano não é tão grande assim... E as circunstâncias mudam, mas não se pode escapar do que se tem de ser_ suas palavras soaram muito enigmáticas.

_O que quer dizer?_ indaguei.

_Tudo mudava sempre e houve muito que pudesse impedir, mas Bella tornou-se uma de nós, como previ desde o começo. Demorou, no entanto, encontrei Jazz, também, como vi desde sempre_ ela sorriu.

_Não se aplica ao Jake, você não o vê.

_Ele tem muito pelo que voltar para casa_ falou em tom peremptório voltando a por roupas na mala sobre a cama_ Agora, anime-se, você conhecerá lugares lindos...

_Eu queria, tia... Sentir só saudade ou pensar que ele é um idiota por agir assim... Mas não posso e não entendo_ falei ainda não partilhando de seu ânimo.

_Sei como se sente, tenho linha direta com Jazz e ele... _ ela parou com as roupas, olhando-me nos olhos.

_Está sendo ruim para ele conviver comigo, não é?_ minha voz falhou um pouco.

_No começo foi difícil, mas depois você esteve tão entorpecida que embora ele pudesse mexer em seu sistema mal a sentia. Ainda é assim às vezes então sabemos quando está difícil para você_ ela pausou, os lábios franzidos_ Sabe, você pode pensar que estamos alheios a isso... Mas você é tudo pelo que lutamos e sabemos que nada do que fizermos vai melhorar isso e, segundo Bella_ Alice revirou os olhos mostrando que discordava_ Você se sente melhor sem que fiquemos ao seu redor.

_Ela tem razão. E sei que se importam, sinto muito. Obrigado pela sinceridade_ Alice me abraçou apertado e quando me soltou já era a alegria ambulante de sempre, voltando-se para as malas na cama.

_Não acho que precise levar muita coisa_ disse ela me surpreendendo_ Assim poderá comprar mais_ Claro... _ Vou dar os nomes de umas lojas em Londres. Há uma que fica no...

_Minha filha não precisa de lingerie, Alice_ rugiu Edward no andar de baixo.

_Sua filha é uma mulher e toda mulher precisa_ disse Alice autoritariamente.

_ Ela não é, não_ rebateu ele, Emmett soltou uma gargalhada que fez as fundações da casa tremerem.

_Mas será em breve_ respondeu Alice, então seus olhos ficaram familiarmente sem foco e de repente ela gargalhou, o som delicado de sinos de cristais, um contraste com os urros de Emmett no andar de baixo. Um ruído áspero resultou um “ai!” de Emm e no riso dos outros, eu sorri.

Naquela noite fomos caçar para garantir a tranqüilidade da viagem. Senti-me estranha, pois parecia que eu estava deixando muitas coisas para trás e de alguma maneira isso se mostrava pior que ser deixada para trás. De qualquer maneira era assim: fugindo dele, esperando por ele.

Dali a dois dias nós partimos para Londres, que não tem um tempo muito aberto, portanto poderíamos sair juntos pela cidade. Estava mais cansada do que imaginei quando chagamos ao hotel. Nosso quarto parecia um pequeno apartamento: uma sala-cozinha dividia os dois quartos. Deitei no sofá e a próxima coisa que vi foi a claridade do verão londrino entrando pela janela do quarto.

Meus pais estavam abraçados no sofá e havia uma mesa com café da manhã.

_O que vamos fazer hoje?_ perguntei escolhendo o que comer.

_Podemos começar com os principais pontos turísticos_ disse Edward satisfeito com minha pergunta.

Papai nos mostrou lugares lindos e contou histórias sobre antigas visitas. Edward dirigia um carro que havia sido alugado, rodamos por todo o dia. E às cinco horas fomos assistir a troca da guarda, enquanto meus pais namoravam como recém-casados. Distrai-me olhando as pessoas tentando tirar os guardas de suas posições. Sabia que para um vampiro, não seria problema, se abstrair daquela forma do que se passa e apenas permanecer imóvel, porém para o cérebro humano devia ser muito difícil.

_ Para a maioria sim, mas força de vontade e treinamento torna tudo possível. A mente domina a matéria_ ele sorriu para Bella com algum tipo de piada pessoal.

_Imagino se continuariam tão compenetrados se um vampiro chegasse perto demais_ falou Bella, Edward gemeu.

_Ah, Emmett nos fez esse favor em 1948... Uma aposta que Jasper, ainda sem conhecê-lo bem, não imaginou que ele fosse levar a sério. Quando Alice tentou avisar que não era boa idéia já era tarde demais. Carlisle não gostou muito, graças aos céus o ocorrido foi apagado da história_ Bella e eu ríamos, imaginando o que Emmett teria feito.

_Nem queiram saber... _ respondeu a nossos pensamentos.

No fim do dia voltamos para o hotel, eu estava ficando angustiada, por ter de ir dormir, temerosa pelos pesadelos, sentindo que era errado eu passar um dia tão gostoso com meus pais quando não sabia onde meu irmão estava. Tranquei minha mente e rolei na cama por tempo o bastante para parar de contar, até que a cena familiar me fez perceber que havia adormecido... Eu queria, tentei acordar antes que o uivo de dor me magoasse, mas meus olhos procuravam por ele. Não demorou para que eu acordasse como sempre... Meus pais já estavam ali.

_Nunca vou me livrar disso?_indaguei indignada, o relógio marcando cinco da manhã e eu não quis voltar a dormir.

Levantei e comi qualquer coisa fingindo ver TV, mais tarde Alice fez uma chamada de vídeo comigo, reclamando por que não fizemos compras, alegando de que eu precisava, fazia quase um ano que eu não comprava nada, e me vestia com roupas que ela comprava, foi seu argumento. Não adiantava discutir com ela, portanto não tentei.

Passamos o dia fora e foi até divertido, foi assim por três semanas. Tentar me livrar dos pesadelos e da dor era como despertar sua fúria. O pesadelo recorrente tornou-se ainda mais freqüente, o que preocupava meus pais apesar de eu passar bem durante o dia, meu problema eram as noites. Uma manhã acordei esbaforida e estava só, lembrei que meus pais haviam ido em busca de um lugar onde pudéssemos caçar. Vesti um jeans e fiquei zanzando pelas lojas do hotel sem ver nada.

Na véspera de nossa partida para Madrid houve um baile beneficente que o Hotel realizava todos os anos... Foi divertido, mas quando chegou a hora de ir para a cama eu me deitei e... Nada. Abri novamente os olhos e era manhã, eu estava mais descansada do que me sentira em meses. Era estranho, entretanto, sentia como se qualquer movimento brusco fosse trazer de volta a angústia. Passei o dia cautelosa comigo mesma tentando não ser pega de surpresa. Era sombrio de minha parte ter me acostumado à angústia constante que tingia meus pensamentos e a dor nivelada que preenchia as horas de meus dias. Parecia-me terrivelmente errado voltar a ser eu mesma. Como se de repente eu não soubesse quem devia ser.

Estávamos no avião, prestes a decolar, meus pais estavam satisfeitos com meu estado de espírito. Eu havia desistido de entender, afinal, de alguma maneira aquilo tinha mesmo de passar.

O céu se desmanchava em tons quentes de laranja e púrpura com o anoitecer quando pousamos, tendo estado poucas vezes em lugares quentes, aquilo me fascinou. Edward falou que passaríamos menos tempo juntos, uma vez que eles só sairiam à noite e que alguém dirigiria para mim, mas no momento nada me importava, eu precisava caçar.

O quarto era como o outro, e depois de nos alojarmos papai dirigiu para fora da cidade para que eu me alimentasse.

Estava de braços abertos na borda de um penhasco, meus cabelos chicoteavam com o vento e o céu cinza agourento era opressor. Eu não estava só, Jacob estava diante de mim, esperei, mas não houve alívio ao vê-lo.

_Não sinto mais você, tenho medo por isso_ ouvi-me dizer.

_Melhor que tenha, eu também tenho_ disse com uma voz monótona que não combinava com ele.

_De quê?_eu quis saber, ele não respondeu, e avancei em sua direção só para tarde demais lembrar que não havia nada além do abismo. Acordei com a sensação de cair.

_Está tudo bem?_ indagou meu pai a porta do quarto. Assenti, me encolhendo em uma bola.

_Amamos você_ ouvi minha mãe sussurrar enquanto a madrugada se fechava sobre mim. Pela manhã nós ficamos na sacada, pegando sol, o hotel era o prédio mais alto que se podia ver então estávamos seguros, mesmo com meus pais brilhando como dois diamantes gigantes. A cidade se estendia quente e movimentada...

À tarde resolvi sair, no saguão fui procurar quem seria meu motorista.

_Olá, busco por Carlos Ruíz, soy Renesmee Cullen_ falei para a moça do balcão, que fez sinal para um rapaz.

_Él va llevarte al señor Ruíz_ Agradeci e segui o rapaz que me apontou um senhor de cabelos grisalhos, embora de aparência jovial, alto, forte, devia ter uns 45 anos. O homem estava na frente do hotel e lustrava um discreto, mas luxuoso, carro preto.

_Ola, señor Ruíz, soy Renesmee_ estendi a mão.

_Ah, sim, não se incomode, eu falo sua língua e me chame apenas de Carlos_ retribuiu meu aperto de mão.

_Como preferir.

_Então, aonde quer ir?_ perguntou gentilmente abrindo a porta do carro.

_O que me sugere?_ perguntei entrando.

_Temos La Plaza de Colon, La Plaza Mayor, museus, restaurantes... Lojas_ disse ele animado enquanto entrava e afivelava o cinto.

_Gostaria de ir ao museu da rainha Sofia, eles têm uma coleção de Pablo Picasso_ decidi.

_Você gosta de artes_ Carlos conversou. Era mais fácil conversar com ele do que eu teria imaginado. Falei de minha família grande e das diferentes influências artísticas que sofri, ele disse que adoraria me ver tocar e ia falando sobre os prédios históricos ao passarmos. No museu, pedi que me acompanhasse, eu ficava muito pensativa entre coisas como livros, esculturas e quadros... Não queria dar margens desnecessárias, além disso, ele era agradável e muito culto para quem trabalhava como motorista.

_Obrigado, Carlos, foi uma tarde agradável_ despedi-me dele no fim do dia.

Sentia-me bem.

_Como foi? Gostou do passeio?_ indagou Bella assim que passei pela porta. Projetei tudo que vi como slides rápidos.

_Picasso?_conjeturou Edward vendo em sua mente. Assenti beijando seu rosto e indo para o banho.

Aquela noite eu fiquei só. Edward quis mostrar a cidade para Bella e fiz questão que os dois fossem sós. E os dias passaram assim.

Conheci o Museu do Prado e o Arqueológico, saí para jantar com meus pais (que fingiram comer) e até gostei da comida...

_Você é uma niña adorável, tem tudo o que alguém poderia querer, mas tem olhos tão tristes quanto lindos!_ Disse-me Carlos de forma carinhosa, uma tarde quando tomávamos um suco ao sairmos de um museu. Sorri um pouco.

_Não importa que se tenha tudo se o que mais se quer é inalcançável_ respondi.

_Parece-me coisa de amor_ disse de forma divertida.

_Não... _ hesitei_ É meu irmão, melhor amigo e a melhor pessoa do mundo.

_Perdão, seu irmão faleceu?_ consternado o homem se inclinou para mim.

_Não_ estremeci com a idéia_ Ele foi embora. Por minha causa, é complicado.

_Bom... _ ele franziu os lábios, pensativo_ Quem vai sempre volta, se ele é tão importante para você, você certamente também é para ele. Sabe, pedir desculpas ajuda, e perdoar a si também.

_Não sei onde ele está... Eu gostaria de pedir perdão_ admiti sem saber por que subitamente sentia-me bem de falar sobre aquilo com um estranho, talvez porque ele não entendesse a dimensão daquilo nem sofresse por mim...

_A dor nos faz amadurecer, criança_ disse ele ternamente. Assenti levemente.

_Eu gostaria de voltar para o hotel_ falei.

_Não queria entristecê-la_ Falou ele enquanto levava algumas sacolas (encomendas de Alice) para o carro.

_Foi um alívio falar, na verdade_ afirmei.

Eu não tinha certeza se a dor me faria mais madura, mas sabia que já não era a mesma menina que saíra de Forks. Apesar da calmaria momentânea eu era como uma represa cheia de tormenta disfarçada numa indiferença mecânica, mas descobri que esse era o preço por escolhas erradas.

Nosso próximo destino foi Atenas, na Grécia. Era um lugar lindo, o oceano de um verde incrível, da cobertura onde estávamos era como se todos os prédios pudessem mergulhar naquela imensidão verde, e o calor era diferente do calor espanhol.

Edward também me arranjou um guia, mas preferi sair com os grupos turísticos que saíam do hotel. Visitei o templo de Zeus, o museu histórico nacional e a academia de Artes. Durante o crepúsculo, quando o brilho fraco do sol causava um brilho mais discreto e imperceptível a olhos humanos nas peles marmóreas de meus pais, nós fomos caminhar na praia, foram ótimos momentos. Entretanto, era de certa forma triste, me fazia lembrar como eu podia ser cruel e estúpida, mesmo o amor e compreensão de meus pais não podia me proteger desse conhecimento.

Apesar de meu reflexo no espelho possuir pontos febris devido ao calor, minha imagem não condizia muito com a forma como me sentia. O sol em minha pele de granito não tinha efeito além de minha pele, ao contrário dos raros e pálidos dias solares em La Push, que apesar de vencer ferozmente as nuvens aquecia minha alma.

Faltando alguns dias para o casamento de Kate fomos à África, passamos quatro dias acampando. Foi divertido caçar leões, mas não nos excedemos para não causar nenhum desequilíbrio ambiental. Os búfalos são mais difíceis do que imaginei, porém sendo herbívoros não são muito saborosos, e as zebras, bom, elas são fáceis.

Então fomos para o Alaska, onde nossa família esperava. Cessada a comoção da chegada vieram os olhares cautelosos de meus familiares.

Assim que pôde Alice me arrastou para experimentar o vestido de dama de honra, Rosalie veio junto conversando sobre a viagem e mostrei tudo. Ninguém falou de Jake.

A certa altura vovô me chamou e fui até a pequena sala onde ele estava me esperando com fita métrica e outros apetrechos. Senti meu ânimo vulnerável diminuir em meu rosto, ele sorriu complacente e se aproximando, falou:

_Acho que é a última vez, você está para fazer sete anos. Passamos do prazo de seis anos e meio.

_1,66. Parece que parou. Mas seu sistema tegumentar parece normal_ murmurou Carlisle.

_As unhas e os cabelos continuam crescendo?_ minha mãe, imóvel como uma estátua atrás de mim perguntou.

_Faz sentido, se pensarmos que seu sistema digestor trabalha_ comentou Edward ao lado de Bella.

_Seu ciclo menstrual?_ perguntou Carlisle, nem me dei ao trabalho de ficar constrangida.

_Não muito regular_ dei de ombros.

_Como havia dito isso é normal. E como tecnicamente você tem quase sete anos, seu útero pode não ser completamente maduro ainda.

Maturidade uterina não me interessava. Quem quer sangrar todos os meses? E fisicamente eu não havia mudado tanto no último ano, sim, eu parecia mais adulta que adolescente. As curvas do corpo tornaram-se mais proeminentes e arredondadas, fazendo a cintura parecer mais fina, outras mais delineadas e angulosas. Foram mudanças sutis para quem me vê sempre, mas notáveis para quem está longe... De qualquer forma eu podia me passar por uma jovem adulta, principalmente se há quem acredite que Edward, tão jovial, tem mais de vinte.

_Preciso que me avise de seu próximo ciclo_ disse Carlisle me tirando dos devaneios, assenti.

Depois fomos para a sala onde Cullens e Denalis estavam. Tentei participar das conversas. Emmett e Garrett ficaram saudosos com as possibilidades de caça africanas. Kate e Alice só falavam do casamento, dali a dois dias. Rosalie e Bella falavam sobre algo de Londres. Carmem e Esme falavam sobre estilos de decorações. Os rapazes jogavam bilhar. Notei Tanya um tanto taciturna, mantinha-se cordialmente distante. Como no momento ninguém parecia especialmente atento a mim me retirei da sala, indo para a varanda dos fundos. Sentei-me mo peitoral e fitei o céu estrelado sentindo o cheiro da neve. Pouco depois Tanya surgiu, como uma aparição, o rosto prateado sob o luar, sorriu-me de leve.

_Você parece triste_ falei.

_Você também, Nessie_ falou carinhosamente afagando meus cabelos. Ok, eu mereci, dei de ombros.

_Isso não combina muito com a Tanya que conheço_ falei muito baixo.

_Você ainda é jovem para entender, mas um dia vai lembrar de minhas palavras: a eternidade é tempo demais para se estar só.

Ponderei aquilo um instante.

_Está assim porque sua irmã vai casar?_ perguntei hesitante, afinal, não era da minha conta se ela sentia inveja.

_Estou imensamente feliz por ela_ disse-me honestamente_ Apenas me pergunto quantas eras mais estarei sozinha.

_Tempo demais ou de menos, nunca controlamos, não é mesmo?_ murmurei. Ela me olhou sorrindo e tocou meu rosto.

_Fico feliz que Edward tenha sua Bella, só ela poderia dar-lhe um presente como você_ falou e delicadamente saltou a grade, caminhou pelo quintal de chão branco e desapareceu entre os pinheiros.

Seus sussurros pairaram no ar. Dei-me conta de que a eternidade poderia facilmente tornar-se uma maldição (ou talvez fosse desde o início).

Uma parte de mim achava estranho que seres imortais se prendessem a coisas humanas como o casamento, embora o intuito do matrimônio fosse a união eterna. Sabia que todos em minha família eram legal e oficialmente casados.

Além de minha família, alguns amigos feitos na época da possível batalha com os Volturi estavam presentes: Mary e Randall, nômades e amigos, que não se encontravam desde o encontro na clareira. Os egípcios foram contatados, mas apenas Benjamim e Tia vieram. O clã irlandês também estava lá, Siobham, Liam e Maggie.

Mesmo tendo conhecido meu padrão de crescimento, os nômades e o clã Irlandês ficaram impressionados quando me viram. Benjamim e Tia haviam nos visitado três anos antes, quando eu tinha cerca de doze anos físicos, portanto a surpresa não foi tão grande.

A cerimônia foi realizada pelo próprio Eleazar. Foi muito bonito. Como éramos poucos Alice montou uma pista de dança relativamente pequena no quintal, e como todos eram vampiros, não houve o banquete de praxe.

Meus avós e eu estávamos à margem da pista com o clã irlandês, Carmen e Eleazar, Emm e Rose, meus pais, e os recém casados que dançavam. Os egípcios, os nômades, e Alice e Jazz, estavam do outro lado conversando.

_Mas que belíssima jovem tornou-se a pequena Nessie_ disse Siobham _ Edward deve ser um pai extremamente cuidadoso, não é, Renesmee?

_Todos são incrivelmente protetores_ respondi sorrindo.

_Porque a amamos_ disse Esme abraçando meus ombros. Vi Maggie sorrir imensamente, provavelmente sentindo a verdade naquelas palavras.

_Aquele dom para conquistar a afeição alheia parece crescer com ela_ Carlisle sorriu.

_Sim, posso sentir_ disse Eleazar_ Dons instigantes esses, e ainda nem se desenvolveram plenamente.

Eu já não prestava atenção, perdida em pensamentos... Ninguém jamais soube dizer se este apelo a que me implicam era um dom ou oriundo aos híbridos. Percebi agora que se não fosse essa ‘atração’ nunca haveria Willian e de alguma forma ainda teria meu irmão. Dom ou não, fazia parte de quem eu era, e percebi também que talvez eu preferisse ser outra pessoa que tê-lo ausente. Nunca, nem por um segundo houve pelo que eu trocasse ser quem eu era... Balancei a cabeça, dispersando as ideias.

_Você está bem?_ perguntou Maggie, inclinando a cabeça para o lado, os cachos vermelhos balançando como molas.

_Estou, sim, estou_ respondi mecanicamente. Maggie estreitou os olhos, um sorriso leve nos lábios, formando uma expressão desconfiada e incomodada ao mesmo tempo.

_Ainda que não fosse por mim, haveria uma pessoa muito importante de quem não se pode esconder a verdade_ disse-me ela. De imediato meus olhos voaram para meu pai, do outro lado da pista, e ela continuou: _ Essa pessoa é você mesma, Renesmee. A verdade não se sufoca, ela grita.

As palavras soaram para mim estranhamente agourentas. Maggie tocou meu ombro e se afastou.

No dia seguinte Rose e Emmett partiram em outra viagem, o restante de nós voltando a Forks. Tudo estava como sempre estivera e isso me trouxe uma melancolia reconfortante. Sentira falta da floresta, do cheiro de musgo, do meu quarto no chalé, do borbulhar do rio...

Era a última semana de agosto e mais que antes queria roubar os segundos do tempo, suspendê-lo no ar. Resignada, eu passava horas ao piano, por duas vezes fui pescar com Charlie, Billy e Seth. Billy parecia tranqüilo, fazia piada, não parecia pensar naquilo tanto quanto eu, ou talvez só parecesse. Às vezes andava na praia, sem rumo, chorava na chuva. Ou apenas corria pela floresta, agora que me permitiam estar a caçar sozinha. Em geral eu fazia isso quando Alice tentava argumentar sobre minha festa de aniversário.

_Mas fazemos todos os anos, vai ser divertido_ rogava ela.

_Não, nada para comemorar_ eu rebatia.

_Renesmee...

_Alice... _ dizia Bella ou Edward.

_Nada de festa_ eu encerrava a conversa.

Aquele dia eu estava especialmente angustiada, passara a manhã ao piano tocando principalmente a música que fizera para meu amigo. Minha família me deixara a vontade ao perceber meu estado, mas eles ficavam tensos e então resolvi sair, apenas um “leve o celular e tenha cuidado” soou atrás de mim.

Corri a toda velocidade e acabei na praia. O céu de outono estava opressoramente carregado, as nuvens pareciam ao alcance das mãos e as ondas pareciam acariciá-las. Caminhei evitando as pessoas, mais perto dos penhascos, me embrenhei na mata, subindo, e então estava ali: na beira do céu, da terra e do mar. O vento soprava forte, vinha uma tempestade. Abri os braços no precipício, era a mesma sensação do sonho... Eu sabia que viria, já sentia as garras de meus fantasmas arranhando a superfície frágil de minhas feridas, fantasmas não deviam ter garras, e mesmo assim foi chocante quando a dor me atingiu inexorável, me fazendo desequilibrar e dar alguns passos atrás. Sentei na terra úmida, escorando-me numa rocha, abraçando as costelas, sentindo que ia explodir. Perguntei-me o que levaria um ser humano a loucura e em seguida o que levaria um meio-humano a loucura, nada fazia sentido. As nuvens ameaçavam me esmagar e o vento cortante abafava meus soluços. Eu esperava fervorosamente me manter consciente, já que ao que parecia meu cérebro entrava em curto circuito quando minha parte humana não suportava a intensidade de minha parte vampira.

Estava sem fôlego devido a dor que fustigava meu peito, parecia algo físico. Jacob girava em minha mente de forma irritante, bati a cabeça contra a rocha, meus instintos humanos dizendo que aquilo devia ter machucado. Lascas de rocha caíram em meu colo, eu estava zonza... e senti-me curvando para o chão, não sei se por falta de ar, ou se a pancada machucara mesmo.



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Notas finais do capítulo

Meus dias sem você, são como o céu
Sem luas prateadas
Nem rastros de sol
Meus dias sem você, são só um eco
Que sempre repete
A mesma canção

Tanta falta de ar
Tão cheia de nada
Sucata imprestável
Lixo no solo
Moscas na casa

Pisando nas pedras
Ainda sigo esperando que volte para mim
Ainda sigo buscando na cara dos anciões
Pedaços de crianças
Caçando motivos que me façam crer
Que ainda tenho vida
Roendo minhas unhas
Me afogando em pranto
Sentindo tanto sua falta...

Essa música rende um bolero e tanto... *Suspiro*

Aqui Nessie começa a mudar, reagir um pouco mais...
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