Eu, Você E Nossos Quatro Anos. escrita por Denis Cardoso


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Bem, aqui está.
Sim, é só um parágrafo, afinal, a ideia se mantem por todo o texto.



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Ele estava aqui, eu ainda podia sentí-lo. Podia sentir seu cheiro emanando de cada mínimo espaço daquela casa. Eu podia sentir a sua ansiedade esperando-me voltar para casa, e a sua pressa em me ter em seus braços. Eu podia sentir tudo isso. Agora eu estava aqui, jogado, em meio a lembranças dele, deitado em nossa cama. E como se queimasse, uma esperança - ou melhor, uma doce ilusão, doce aconchego. - dizia que a qualquer momento ele ia atravessar a porta daquele quarto. Ele estaria de terno, se desculpando que chegara atrasado e logo depois faria uma brincadeira: "Desta vez foi você quem me esperou". Meu coração se apertou. Ele me deixou. Suas fotos estavam espalhadas pela cama, pela parede do quarto. Seu perfume foi impregnado pela casa toda. E o mais importante: Suas últimas palavras estavam agarradas à minha sanidade. Lágrimas ressurgiram em meus olhos. Onde ele estaria agora? Estaria ele feliz lá, me esperando? Apertei o travesseiro e inspirei seu cheiro. Fechei com força os olhos e os soluços cortaram com força a minha garganta. Estava escuro e eu me sentia próximo a ele, como se ele não tivesse me deixado, como se seu espírito ainda estivesse aqui, me abraçando, me consolando por sua morte. E a única coisa que eu tinha certeza era a dor. A única coisa que gritava dizendo que eu estava vivo era a dor. Tudo o que me restara, depois que ele foi embora, foi a dor. Ele havia me dado as melhores lembranças, ele havia me dado os melhores quatro anos da minha vida. E agora tudo se partia na minha frente, tudo desmoronava, e eu me sentia perdido. Abandonado em um mundo em que ele tinha me exilado. Agora eu estava sozinho. Estava por mim mesmo. E a única que coisa que me faria companhia nesses anos que se seguiriam, seriam as lembranças que ele havia deixado para trás, que ele havia perdido em meu coração. A lembrança de seus sorrisos, de seus carinhos, das nossas brigas, das nossas reconcializações. E, oh, do nosso tempo perdido. Acredite, se eu soubesse que ele morreria tão cedo, eu não teria desperdiçado tanto tempo. Teria me tornado lúcido, teria me tornado complacente com seus erros - com meus erros - muito antes. Teria perdoado tanta coisa mais cedo, teria feito tanta coisa mais cedo, adiaria as futilidades, adiaria tudo para estar com ele. Mas, o irônico e real, é que agora é tarde, mas eu sempre soube que ele morreria, mas nunca pensei nisso, como eu sempre soube que eu morreria. Mas, bem, como a nossa própria morte é algo que a gente pensa em longo prazo. Só que somente agora que eu entendia: Não existe longo prazo para a morte. E agora eu estava aqui, com dor, com o seu aconchego insano e as últimas palavras rondando em minha mente.

"Até a próxima, amor"


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Notas finais do capítulo

Bem, foi isso. Espero, do fundo do meu coração, que tenham gostado. Obrigado.