But... I Love You escrita por Gisa


Capítulo 9
Capítulo 9 - Bolacha ou Biscoito?




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Eu não me lembro exatamente quando adormeci. Acordei com Théo, à poucos centímetros do meu rosto, me olhando curiosamente.

– Ah, que bom. Você acordou. Você costuma apagar assim, do nada? Achei que tinha desmaiado. – Seus cabelos negros praticamente caiam em meu rosto, de tão próximo que ele estava de mim. Seus olhos castanhos me encaravam de uma maneira preocupada, e ele parecia não ter notado que estava quase me beijando.

– Ahn... É... Hum... – Eu me senti no primeiro dia de aula, quando desmaiei e fui parar na enfermaria. Eu estava meio tonta, talvez pelo fato de ter acabado de acordar, ou por efeito dos remédios. Ou talvez por não saber o que fazer quanto ao Théo, que se aproximava cada vez mais de mim, se é que tinha como.

– Théo, já disse pra deixá-la quieta. Ela levou uma pancada feia... – Mesmo meio tonta, reconheci a doçura na voz da senhorita Manson. Doce como sempre, mas frustrada quanto ao Théo. Parecia uma mãe repreendendo o filho, dizendo para ele não mexer onde não deve ou algo do tipo.

– Ah, me desculpe. – Théo pareceu notar que estava muito em cima de mim, e se afastou. Eu ainda estava um pouco tonta, mas pareci vê-lo corar.

– Gente, eu estou bem. Acalmem-se, sim? – Enquanto falava, senti dores fortes na cabeça, que não havia sentido antes. Eu bati tão forte a cabeça a ponto de doer tanto? – Ai... Senhorita Manson, eu não estava tão zonza antes de adormecer...

– Está me acusando de algo, mocinha? – Ela se aproximou com um olhar intimidador. Não quis acusá-la de nada... Droga, eu já disse que não consigo me expressar como quero!

Ela pareceu notar a minha expressão, e um sorriso surgiu em seu rosto:

– Estou brincando, Melody. Acalme-se você também... Eu te dei alguns remédios, sim. Essa sua tontura já vai passar.

– Tudo bem... Ei, Théo. O que você faz aqui, ainda? Não deveria estar jogando?

– Bom... O Tio Alex pediu pra eu te acompanhar... E é o que eu estou fazendo! – Ele sorriu, sapeca.

– Mas você já me acompanhou... Deveria ter voltado, para ser avaliado...

– Shhh. Vou ficar aqui com você, e não se fala mais nisso.

Théo parecia determinado a ficar. Conversamos mais um pouco – ele, Lise e eu – e minha tontura foi passando. Depois de um tempo, Lise fez Théo voltar para a avaliação, que já estava no final. Conversamos mais um pouco, até chegarmos no assunto da queda.

– Théo me disse que foi um queda feia... Você foi atingida por outro garoto, foi isso?

– S-Sim... – Gaguejei involuntariamente. – Ele... Caiu em cima de mim... A bola o acertou e nós estávamos muito próximos...

– O que foi, Melody? – Ela levantou uma sobrancelha. – Você ficou nervosa de repente...

– Eu? Não, impressão sua. – Dei uma risadinha pra tentar disfarçar, mas só reforcei o nervosismo.

– Foi embaraçoso? Ou... Tem algo a ver com esse garoto em particular? – Seus olhos verdes brilhavam em tom de dedução. Ela me olhava como se tivesse entendido tudo.

– Não! – Gritei sem querer. Coloquei a mão na boca quando percebi o que fiz. - ... Acho que já estou melhor, posso ir?

– Melody... Não tente esconder. Sou a conselheira da escola, formada em psicologia, pedagogia e outros "gias". Mas tudo bem, não vou forçar. Só saiba que estou aqui para o que precisar.

Conselheira da escola? Disso eu não sabia. Ainda assim, não contei nada. Eu sabia que podia confiar nela, mas aquele não era o momento. Levantei, agradeci, me despedi e voltei para a quadra.

Cheguei na quadra quando faltava por volta de cinco minutos para a aula acabar. Todos já estavam arrumando os seus pertences para voltarem para a sala, inclusive o professor. Falei com ele, que disse que o tempo em que eu havia jogado antes do acidente foi suficiente para ele me avaliar. E sabe de uma coisa? Eu adoro o Tio Alex.

O sinal tocou. Eu estava terminando de arrumar as minhas coisas quando Taty veio falar comigo:

– Está tudo bem? - Ela me olhou com um olhar preocupado, só que visivelmente forçado. Eu sabia que o que ela queria perguntar não era aquilo.

– Sim, estou bem. - Respondi, indiferente.

– Ah, ok então. - O silêncio predominou durante alguns minutos. - Caramba, Mel! Eu sei que machucou, mas eu admito que queria estar na sua pele naquele momento! Poxa, tinha que ser justamente com ele? - Brincou, mas parecia estar escondendo a raiva.

Aquilo me deixou irritada. Ela parecia estar me acusando de algo, como se eu tivesse feito alguma coisa errada e fosse culpada por isso.

– Ah, querida. Me desculpe. Da próxima vez eu escolho quem vai me derrubar, não se preocupe com isso. - O sarcasmo tomou conta de mim, o que a fez me olhar assustada. Fingi não ter falado nada de errado, mas admito que me arrependi um pouco por ter dito aquilo. Peguei minhas coisas e começamos a andar de volta para a sala de aula.

Antes que Taty dissesse qualquer coisa, Ronald surgiu na nossa frente:

– Melody! Está melhor? Olha, me desculpe mesmo, você sabe que foi sem querer...

– Ei, ei, ei! Calma! Está tudo bem... Eu estou bem. Mas e você? Você também se machucou, não foi?

– Estou ótimo.

Olhei para Taty. Ela estava quieta, me olhando friamente. Ronald sequer havia olhado pra ela, isso porque eu "estava tentando juntar os dois". Ela estava desconfiando de algo. E essa suspeita era certeira.

– Que bom. Você não viu a Taty, aqui do meu lado? - Olhei pra ele como se disse "Tenha modos!" e ri, disfarçando.

– Ah, sim. Oi. - Ele a olhou rapidamente e voltou a se dirigir a mim. - Escuta, Melody...

Fazer ele cumprimentá-la só piorou tudo. Eu não sabia o que fazer.

– Olha, estamos atrasadas... E você também, por sinal. Conversamos depois, ok? Até logo. - Puxei Taty e fomos para a sala de aula, sem ao menos esperar pela resposta dele.

Taty não disse nada. Mas isso não foi bom. Ela ficou me encarando, como se me cobrasse uma explicação.

– Olha, eu ainda não falei com ele, tá? Quer dizer, não de maneira direta... O fato é que eu não posso sair falando isso de qualquer jeito, preciso me enturmar primeiro, entende? Se eu falar agora, do nada, posso pôr tudo a perder.

– Ah, sim... Tudo bem, então. - Taty sorriu, calma. Ela caiu mais uma vez nesse papo, mas eu sabia que isso não duraria muito. Eu tinha que começar a agir... Mas antes tinha que me decidir como. E logo.

Théo me chamou do outro lado da sala. O que foi ótimo, já que assim eu não precisava continuar conversando com Taty sobre o Ronald. Fiz com que ele entendesse que eu estava indo, e arrumei meu material para mudar de lugar.

– A senhorita popular vai me deixar sozinha aqui? - Taty riu.

– Ah, é um amigo que eu fiz há um tempinho. Vem, vamos lá. Vou te apresentar à ele.

Taty também arrumou suas coisas e fomos para onde o Théo estava. Thommy estava com ele também. Convivi pouco com eles até agora, mas deu pra ver que eles raramente se separam. Apresentei Taty para os garotos e vice-versa enquanto colocávamos nossas coisas no lugar. Talvez tenha sido só impressão minha, mas acho que Thomas olhou para Taty de um jeito diferente. Aliás, o fato dele ter levantado o olhar, que está sempre fixado nos livros, só para vê-la, já me surpreendeu.

Conversamos por um longo tempo. Só paramos para fazer as atividades que a professora passou, e ainda tivemos a ajuda do Thomas. Quando voltamos a conversar, Théo tirou um pacote de bolachas da mochila e disse:

– Quem quer bolacha?

– Eu quero! – Respondi, a vontade.

– Você quis dizer biscoito, não é Théo? – Taty levantou uma sobrancelha.

– Não, o certo é bolacha, loira. – Théo respondeu, com ar descontraído.

– Loira? Melody! Vai deixar ele falar assim comigo?

– Ele – Parei para rir. – não disse nada demais, ou será que você não é loira?

– Ah, Melody! Diga logo pra esse... Esse sardentinho que o certo é biscoito!

– Sardentinho? Por favor, você é horrível com apelidos! – Théo caiu na risada.

Eu não estava me aguentando de tanto rir, mas Taty esperava uma resposta.

– Olha Taty, sinto muito em te desapontar, mas o certo é bolacha.

– O que? – Taty estava frustrada. – Como pôde, Mel? Me trair assim, com esse sardentinho?!

– Cara, admita que você pira nas minha sardinhas, loira. – Théo sorriu, ainda brincando com ela.

– Argh! – Taty fez careta.

– Taty, eu não te traí. Você fala como se eu tivesse feito algo horrível e imperdoável. – Revirei os olhos. – E... O que tem de errado nas sardinhas do Théo?

– É, o que tem de errado em ter sardinhas? – Thomas franziu a testa. Ele também tinha sardinhas, afinal, os dois são gêmeos, embora eu não tenha certeza de que isso está relacionado.

– Nada, assim como também não tem nada de errado em ser loira!

Todos rimos.

– Thomas, você é esperto. Então concorda comigo, não é? O certo é biscoito, não é? Não é? – Taty estava exaltada.

– Hum... Na verdade, não tem um termo errado. O uso desses dois termos varia de região pra região... Ou seja, em alguns lugares utiliza-se bolacha com mais frequência, enquanto em outros utiliza-se biscoito. Simples. – Thomas ajeitou os óculos.

– Ah, Thommy! Não seja tão específico, eu estou perdendo essa discussão!

– Porque está errada! – Théo sorriu, vitorioso.

– Não! Estou certa, não é Thommy? – Taty segurou seu braço enquanto ele escrevia, o que o fez parar de escrever.

– Vish. – Théo cochichou. – Agora fedeu.

– O que? – Cochichei de volta. – Por quê?

– Lembra quando eu disse que o Thomas não é muito simpático quando o interrompem enquanto ele está estudando? Pois é. Ele não é lá muito tolerável quando o interrompem de maneira... Física também.

Thomas ficou imóvel por alguns segundos. Estávamos esperando a pior das reações, quando Taty continuou:

– Por favor, Thommy... Concorde comigo. – Implorou, melancólica.

Ele ajeitou os óculos. Quando achávamos que Thomas ia explodir, espernear e gritar... Ele disse:

– Na verdade, ela está certa. Na região onde estamos, o “certo” – ele fez aspas com os dedos –, ou seja, o mais utilizado, é biscoito.

Silêncio. Thomas voltou a escrever. Olhei para Théo, que nem se movia.

– É isso aí, empatamos! Obrigada, Thommy! – Taty o beijou na bochecha.

– Ah, ahmmm, wrah... – Théo estava sibilando algo, mas estava chocado. Quando olhei de volta para o Thomas, percebi que ele estava vermelho.

– Não foi nada - ele pigarreou - Eu só expus os fatos.

Taty ficou comemorando enquanto nós três permanecemos calados. Para quebrar aquele gelo, eu disse:

– Não cante vitória, Taty. Só empatamos, você não venceu nem perdeu nada. – Sorri com o canto da boca.

Théo pareceu voltar para si:

– É isso aí, garota. Não fique se gabando só porque o senhor Inteligência concordou com você, não. - Ele sorriu, mais uma vez.

– Quieto, sardento. – Ela riu, e nós a acompanhamos.

– Théo. – Thomas, que permaneceu sério, interrompeu nossa crise de risos.

– Que foi? – Ele parou de rir.

– Senhor Inteligência? Por favor! – Era incrível, mas ele estava sorrindo. Théo riu, e todos voltamos a rir.

Continuamos conversando até que o sinal tocou. As aulas tinham chegado ao fim. Taty e eu nos despedimos dos garotos e fomos andando em direção à saída. No caminho, avistei um cartaz colado na parede, que dizia: “A Era Medieval não chegou ao fim. Aguardem.”. Apontei para o mesmo e disse:

– Pelo visto, temos algum evento se aproximando... – Apontei para o cartaz.

– Puxa, verdade. – Taty concordou. – O que será?

– Não faço ideia.

Quando estávamos próximas da saída, avistamos Ronald. Eu não sabia o que fazer ainda, mas pensava assim: Eu prometi pra Taty que a ajudaria. Ela também é vítima do acaso, no fim das contas. Se eu não a ajudasse, jamais me perdoaria. O que ela sente por ele é tão verdadeiro quanto o que eu sinto. Não suportaria vê-la infeliz, ainda mais por minha culpa. Mas sabe o que eu acho mais importante ainda? Os laços que criei com ela. Não quero que isso acabe. Não quero olhar pra ela e saber que ela me odeia por causa de uma escolha minha. Por causa de uma escolha egoísta minha.

E por pensar assim, resolvi ajudá-la.

Me despedi dela e, quando ela virou as costas, fui falar com Ronald.


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Notas finais do capítulo

Minhas sinceras desculpas pela demora (novamente). Não tenho tido tempo, disposição e criatividade para postar. E quando tenho, raramente estou inspirada. Mas em janeiro (ou antes!) tem mais! Boas festas e obrigada pela paciência, pessoal (:



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