Murmúrio escrita por bundadopatch


Capítulo 30
A queda




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Eu estava tentando me concentrar, encontrar minha posição, entender onde eu estava e o que estava fazendo ali. Minha cabeça latejava, eu não conseguia distinguir formas concretas, apenas uma luminosidade fora do comum.
O lugar parecia ter saído de lugar nenhum, exatamente isso. Era claro demais, limpo demais, calmo demais. Focos de luzes perfuravam o que pareciam ser um enorme amontoado de vapor, algodão talvez. Eram nuvens. 
Olhei ao redor, era tão bonito que era impossível descrever. Fios de luz violeta refletiam de todas direções e ao longe avistei o que pareciam ser pessoas.
Andei em silêncio, uma fila de corpos estava diante do ponto mais claro daquele local. A luz ofuscava, era impossível olhar diretamente.Eu estava tentando processar tudo aquilo, mas uma voz me interrompeu.
- Por favor, o próximo. - A voz era calma e severa ao mesmo tempo. Meus olhos se tornaram fendas, mas eu ainda não conseguia reconhecer ninguém.
- O que temos aqui? - Uma menina vestia um manto cor de pérola, ela era magra e muito pálida. Suas feições eram afinadas e simples. Um arcanjo. 
Andei perto o suficiente para estar ao lado da garota. Apesar da proximidade ela não podia sentir a minha presença.
- Senhor… - O próximo da fila fez uma reverencia. E o meu coração entrou em desespero, coloquei a mão sobre o peito instintivamente, com medo que alguém pudesse ouvi-lo.
Era Patch. Eu pensei que fosse impossível, mas ele estava mais bonito do que o comum. Seu cabelo negro estava brilhoso e pendia em ondas que quase cobriam suas sobrancelhas, seus olhos cor de escuridão tinham um brilho inacreditável assim como sua boca que destacava um tom de cor-de- rosa que qualquer um mataria para ter. Calças claras pendiam perigosamente de seu quadril, que completava o peito musculoso. Levantei os olhos e pude perceber suas asas, era a primeira vez que eu as via. Eram lindas e chamativas, negras e longas . Meus dedos ansiavam pelo toque naquelas penas que pareciam um veludo negro. 
- O que tem a me dizer, Jev? - O trono disse suavemente, a claridade não parecia incomodá-lo.
- Eu… - Ele começou, estava confiante, mas parecia não ter certeza das palavras. - creio que meu lugar não é este.
- E qual seria? - A voz soava um pouco menos paciente.
- A Terra. - Patch sussurrou.
- Então… está apaixonado por uma mortal? - O trono parecia realmente curioso. - Entendo, mas creio que você já tenha algo destinado a você.
- Meu destino não é esse, Senhor. - Ele falava calmamente. Seus olhos encaravam fixamente a luz, como se pudesse ver através de toda aquela claridade. - Acredito que terei mais tarefas na Terra.
- Tarefas? - A voz parecia desapontada. - É tudo o que você quer?
- Senhor… Eu quero uma chance. - O corpo de Patch parecia querer tombar a qualquer momento.
- Você terá… Mas não como humano. - A voz continuou. - Cairá como aquele que tem o que procura, está me entendendo, Jev?
Patch confirmou com a cabeça.
- Caso contrário, conhece seu destino. - O trono não parecia muito feliz.
Dois anjos maiores seguraram Patch pelos braços e o ajoelharam. 
- Obrigada, Senhor. - Ele disse pela última vez.
Os anjos procuraram pelo início das asas em suas escapulas e puxaram, sem dó alguma. Um grito ecoou de minha garganta, estavam machucando Patch, estavam arrancando os pedaços de veludo negro que meus dedos tanto ansiavam.
Seus olhos se direcionaram pra mim por uma fração de segundos e eu quase jurei que ele tinha me visto.
Os anjos empurram Patch, como se empurrassem uma pedra de um precipício. Com apenas um movimento eles o jogaram e seu corpo começou a ganhar velocidade na escuridão, assim como meus gritos.
Mas algo me puxou para a realidade, eu estava sentada no sofá na casa de Patch, ele me encarava com preocupação ,estava sem a blusa.
- Você está bem? - Aquele mesmo par de orbitas negras que alguns segundos antes pareciam ter me visto, agora me encaravam com preocupação e amor.
Eu não respondi, apenas o abracei.


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