Uchiha, uma família amaldiçoada.

Um clã maldito, com uma benção e também uma maldição.

Um poder que estava além dos limites de um ser humano, ou aqueles que se julgavam humanos.

Era isso que Uchiha Itachi pensava sobre a sua família, um bando de hipócritas que brincavam com os olhos de Deus.

Olhos amaldiçoados, vermelhos como sangue, mostravam a pura verdade, mesmo que a mentira humana fosse mais doce.

Seu pai sempre colocara suas perspectivas no garoto, forçando-o a retirar os poucos sentimentos que tinha como humano, ele deveria ser um shinobi completo, uma arma perfeita.

“Eu odiei minha mãe por deixar ele fazer de mim um monstro, sem interferir em nada.”

Mas depois de algum tempo viu que nem mesmo a odiava, apenas sentia uma indiferença para com a sua progenitora.

Ele não sentia “amor” pela sua família, nada verdade não sentia nada, e isso o incomodava, porque ele apenas existia, sem nenhuma ambição ou desejo, sem nenhuma vontade ou até sofrimento, sentia apenas algo como se fosse uma saudade de um tempo ele que podia ver o mundo com outros olhos, não os olhos de demônio que tinha agora.

Ele amaldiçoou cada ser humano vivente por sentirem o que ele nunca sentiu, ele olhava as pessoas nas ruas e perguntava a que fim levava isso?

Por que as pessoas se debatiam tanto?

Por que se enroscavam nesse arame fardado chamado moral que elas mesmas colocaravam?

Por que riem e choram?

Porque existem?

Ele queria sentir o âmago humano, queria viver desesperadoramente como as outras pessoas que lutam, sofrem, choram para no final sorrirem e dizer que estava tudo bem.

Queria essa ânsia de viver, esse desespero bom que embriagava.

E foi isso que fez.

E começou tentando sentir o desejo que um ser humano tem de viver ao máximo: no momento da morte.

Primeiro pensou em se matar, mas viu que não valeria a pena gastar sua vida apática para conseguir algo que nem mesmo ele entendia.

Deveria matar alguém próximo e ver nos olhos dessa pessoa a chama da vida brotando desesperadoramente,desejando continuar, acesa e livre para sentir.

Começou pela pessoa mais próxima a ele, seria mais fácil pega-lo e também não causaria tanta suspeita, ele escolhera seu primo Shisui.

Foi fácil pega-lo, apenas disse que queria conversar perto de uma ponte na periferia de Konoha, e o primo muito ingênuo ficou feliz pelo fato de Itachi nunca iniciar um diálogo que não fosse além de missões ou algo do gênero, o chamar para algo, mas foi isso que ele pensou.

Esperou o momento mais oportuno para atacar, não deveria sair nada errado, levou apenas uma kunai como precaução e uma carta para forjar um suicídio, com o sharingan conseguiria escrever uma carta como se fosse o próprio primo e a largaria sobre o cadáver na encosta do rio.

Mas Shisui não era idiota, não recebera o apelido de Shisui da Miragem a toa, ele já havia percebido a muito tempo o que o primo queria fazer...mas não pôde impedi-lo, o amava demais para lhe negar sentimentos, amava como parente, amigo e até como amante, mas sabia que Itachi não compartilhava desse tipo de sentimento, ele nada verdade não sentia nada, e o primo queria lhe mostrar como era sentir, mesmo que isso fosse arrependimento, mágoa ou dor.

Ele precisava de sede se viver, mesmo que essa fosse uma vida amaldiçoada, e foi o que fez, simplesmente deixou o primo penetrar a kunai nas suas entranhas, sem reagir, e enquanto o sangue quente lhe descia sobre os lábio ele abraçou o primo forçando a kunai a entrar mais fundo no seu corpo já coberto de sangue e disse em um misto de alucinação e carinho “espero que você possa encontrar o que está procurando” e assim beijou o rosto de Itachi escorregando os braços que estava entrelaçados no pescoço do outro, olhou o rosto do seu amado com os olhos já anuviados pela perda de sangue e foi escorregando lentamente até cair no chão com um baque surdo.

Itachi não fez nada para impedir o primo de cair, apenas ficou observando suas mãos cheias de sangue do primo, e ficou se perguntando do porque dele ter feito isso, por que havia sacrificado a sua vida, o seu sentir, a sua alma, por alguém como ele, e então ele pode perceber que não era preciso viver para sentir.

O sentimento era algo mais complexo do que viver ou morrer, era querer alguém bem, mesmo que isso cause dor ou sofrimento, mesmo que isso lhe custe caro, mesmo que não possa estar do lado dessa pessoa, o sentimento aparece espontaneamente e também se vai do mesmo jeito.

Foi quando sentir algo quente escorrer pelo seu rosto, não poderia ser uma lágrima, porque ele nunca havia chorado antes, era uma gota vermelha como sangue que saia dos seus olhos involuntariamente, tocou a sua face e percebeu algo diferente,seus olhos ardiam e o mundo ao seu redor começou a girar, fechou os olhos e colocou as mãos na cabeça tentado fazer a vertigem para mas ele aumentava mais e mais.

Quando abriu os olhos de novo viu que se encontrava em um mundo diferente, tingido de vermelho, branco e preto, e nada se movia como se o tempo tivesse parado.

Seria esse o inferno?

Seria esse o lugar que ele deveria passar a eternidade por cometer tal crime?

“Mas se esse é o meu inferno então serei o seu demônio”.

Abaixou se até o corpo do primo, que descansava como os olhos vermelhos semi-cerrados e com um pequeno sorriso nos lábios misturado ao sangue que agora era branco, passou a mão no rosto do primo tirando algumas mechas negras que lhe caiam sobre os olhos.

“Desculpe Shisui, você sempre será  aquilo que foi mais próximo que eu cheguei a conhecer sobre um sentimento...e Obrigado.”

Apenas viu os lábios frios do outros se contraírem formando uma quase inaudível palavra:

“Aishiteru”

fim