Winter Night

“O amor só é realmente belo quando é correspondido, quando não correspondido ele se torna a maior das torturas.”

Suspirou baixando o olhar a fim de encarar as próprias mãos. Estava decepcionado com ela, mas ele sabia com todas as suas forças que ela não estava fazendo nada de errado.

A verdade é que o único errado ali era ele. Pois fora ele quem criara esperanças onde não havia. Fora ele quem cogitou a idéia de aproximar-se mais dela. Fora ele quem quisera mais do que uma bela e longa amizade.

E agora ele apenas se encontrava sozinho naquela noite fria, enquanto o restante dos colegas – e alguns mais do que simples amigos - de equipe divertiam-se a luz de uma lareira acesa.

Encolheu-se em seu lugar sobre um galho de uma arvore qualquer. Estava com frio, e para piorar havia começado a nevar.

Já não bastava o frio que o cercava, tinha mesmo de começar a nevar novamente?

Um gemido baixo – quase inaudível – proveio de si, indicando que o frio já estava desregulando sua temperatura corporal. Talvez se permanecesse ali por mais tempo pegaria uma hipotermia... ou quem sabe algo pior.

Mas ele não ligava para isso. Não ligava para mais nada.

Durante toda sua vida tudo o que ele desejara fora ser feliz, fora conhecer a beleza da vida. Ser tratado com carinho. Amar e ser amado.

Muito jovem fora repudiado pelo irmão, e não lembrava-se de nada sobre os próprios pais, sabia apenas de seu parentesco com alguém Asmodiano de Elyos. Mas era apenas isso.

Ainda criança fora abandonado em um circo dos horrores onde era torturado e submetido a traumas – estes que até hoje ainda o assombram.

E quando pensou que havia sido salvo... quando viu aqueles olhos vermelho-sangue em meio ao fogo azulado que consumiu o circo... ele pensou que estava livre, que havia ganhado um salvador... ou salvadora. Mas hei de que aquela bela mulher era seu pior castigo.

Ainda hoje é atormentado nos sonhos pelos gritos, suplicas e pelas torturas que submeteu quando Cazeaje o possuíra.

Há um ano tudo pelo que ele buscava eram suas lembranças. Um ano atrás ele pouco ligava para felicidade, pena ou amor.

E assim o jovem ergueu o olhar para o céu escuro. A lua havia se escondido por detrás das nuvens negras. Não havia estrelas. Nem mesmo animais pareciam rondar a floresta quando o rapaz encontrava-se presente.

Agora tudo que ele queria era esquecer. Desejava esquecer tudo sobre si. Sobre ela. Sobre a Grande Caçada.

Ele ansiava por um recomeço. Sua alma ansiava por uma nova vida.

E então voltou seu olhar para a janela do prédio próximo onde se podia ver certa algazarra.

Pulou do galho em que se encontrava e pousou suavemente no chão. Em passos lentos e silenciosos seguiu em direção a janela envidraçada a fim de contemplar – talvez uma última vez – a visão de sua amada.

Parou assim que viu-se próximo o suficiente. Seus olhos cor de safira fixaram-se unicamente na garota de cabelos scarlets. E nela mantiveram-se.

Ela era bonita a sua maneira. Era forte e determinada. Uma guerreira nata. E um exemplo de líder. E também, ela era sua salvadora. Pois fora ela a primeira pessoa que ele viu após despertar da escuridão da bruxa das trevas.

Ele a admirava mais que tudo – mesmo não admitindo isso. E com o tempo essa admiração tornou-se aquilo que há muito tempo ele ansiou.

Ele pegou-se amando, mas havia um problema naquilo... não nele, nem na garota, ou no que sentia para com a mesma. Havia seu irmão. Seu rival. Aquele quem conquistara o coração da ruiva primeiro.

Baixando o olhar para os flocos albinos – assim como seu cabelo – que fixavam-se no chão formando um manto frio... assim como ele... assim como seu coração devera ser. Frio.

Voltou a olhar para o interior da residência. Havia um par de olhos vermelhos fixos em si.

Eles transmitiam pena... mas isso era tudo o que ele não queriam que sentissem por ele.

Ele não queria isso. Ele amava-a, mas não queria que Elesis sentisse pena dele por vê-lo sofrer. Ele aceitaria qualquer coisa... menos pena.

Respirou fundo assim decidindo que recomeçaria a vida. Decidindo que já estava mais do que na hora de deixar tudo àquilo para trás. Afinal, seu proposto nunca fora a paz mundial, tampouco evitar guerras.

Ele só entrara para a caçada por causa dela, e só permanecera por que ela não sentia medo – ou repulsa – por ele.

Mas agora que a perdera para o próprio irmão, não via nada que o impedisse de partir. Era certo que sofreria, era certo que não possuiria rumo e que ficaria sozinho. Mas ele sabia – no fundo da sua alma – que aquela era a melhor escolha a se fazer.

E assim uma lágrima solitária escorreu pela face gelada do ninja.

Murmurando um singelo “adeus” o rapaz deu as costas e partiu, desaparecendo entre as arvores cobertas pela neve daquela noite de inverno.

~Fim~