Meio Fio escrita por Hana chan


Capítulo 1
De pé.


Notas iniciais do capítulo

Primeira vez que em atrevo a escrever algo original. *Suando frio* Mas é bom sair de sua área de conforto de vez em quando...além disso, essa história estava martelando me mi faz alguns meses, e tudo o que eu podia fazer era extravasá-la...
Espero que gostem.



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-Lidy, não vem comer na cantina com a gente?

-Não valeu, tô sem fome, vou aproveitar que ainda faltam 15 minutos até  a próxima aula e dar uma passada na biblioteca.

 As duas colegas assentiram e seguiram o outro caminho, deixando  que a morena caminhasse sozinha. As costas ardiam por causa do peso da mochila, fazendo-na temer uma possível escoliose. "Mas nem é culpa minha, preciso trazer todo esse material todos os dias! Que saco..."

 Suspirou distraidamente, vencendo passo a passo as poucas dezenas de metros que a separavam do prédio. Olhou de esgueira para o meio-fio formado por pequenos tijolos, uma mini muralha vinte centímetros acima do chão. Sentiu crescer em si a vontade infantil de tornar a se equilibrar ali, caminhando desajeitada como há muito não fazia., sem a vergonha de ser vista por seus amigos Quando colocou o pé direito ali, mordeu o lábio e se deteve; será que ela conseguiria?

 A última vez que ela brincara desse jeito fora há meses atrás; caminhava sobre o meio-fio quase que diariamente, como uma criança se imaginando sobre uma altíssima corda bamba. A diferença é que, naquela época, uma mão quente e forte a ajudara a manter o equilíbrio. Um sorriso travesso estava sempre ao seu lado, dando-lhe a certeza de que seria amparada caso caísse.

(Engraçado como ela nunca caíra, mas ainda assim ele continuava a segurar a sua mão como se quisesse ter a certeza de que nada lhe aconteceria.)

 Mas isso for há muito tempo atrás, e aquele calor aconchegante deixara as suas mãos para nunca mais voltar. As lembranças ainda doíam, por mais que ela negasse, e talvez por isso seus pés nunca mais tocaram aquele caminho proibido outra vez.

 Sacudiu a cabeça em uma negativa, mordendo o lábio. estava agindo como uma criança boba e teimosa. Não podia ser assim tão difícil, poderia? Ela não podia ser assim tão depende de outra pessoa, podia?

 Equilibrou o outro pé e deu um passo. Escorregou de leve, mas conseguiu se manter em posição. Outro passo, e um sorriso. Andou com cautela os últimos vinte metros que a separavam do seu tão necessário livro para a prova da semana seguinte; ela conseguira! Sim, era algo tão idiota e pequeno, mas para ela era um símbolo tão importante como ninguém jamais entenderia.

Nos últimos oito metros, vacilou. Sentiu a sola do tênis escorregar de leve, e um de seus pés tocou o chão em busca de equilíbrio. A frustração foi automática, mas menos intensa do que pensara. Pensava se voltaria para completar o percurso ou se já lhe bastava por um dia, mas teve seus pensamentos interrompidos por uma familiar voz sarcástica:

-Não achava que mesmo alguém tão lesada quanto você fosse estar brincando assim tão perto de uma prova! Que foi, está tão segura assim?

 Ela bufou, revirando os olhos. Como alguém podia ser tão chato?

-Claro que não seu idiota! Ao contrário do senhor que está sempre desocupado, eu estou indo pegar um livro pra passar o fim de semana inteiro estudando. Essa é uma boa dica pra você, não acha?

-O que acha que eu vim fazer aqui, te seguir? - Consultou o relógio. - Só faltam sete minutos pra próxima aula, vamos logo.

-Nem ligo, o professor sempre se atrasa mesmo... - Inconscientemente, voltou a subir no meio-fio.

-Ahhh se for brincar de novo vai levar uma semana! Ande! - E lhe estendeu a mão.

Lidy pensou em agarrá-la, mas acabou se detendo. Como uma garotinha orgulhosa, estufou o peito e disse:

-Posso andar sozinha, mas valeu.

-Como quiser...

Ele foi ao seu lado pacientemente, as mãos enfiadas nos bolsos; rapidamente chegaram à biblioteca, e ela saltou ao chão com graça.

-Cansou? Ande.

-Estou bem atrás de você, seu chato!

Não foi preciso mais do que dois minutos para encontrarem o que estavam procurando e ela sorrir vitoriosa por conseguir o último exemplar nas prateleiras.

-Trapaceira... - ele resmungou, assim que deixaram o lugar.

-Mas é essa trapaceira quem vai tirar a maior nota na prova, hihihi!

-Então, vou ser forçado a estudar com você, pelo visto!

-Aham, sei, pra me atrapalhar no mínimo!

Guardou o livro na mochila ignorando a língua que ele mostrada, para logo em seguida voltar a firmar os pés vinte centímetros acima do resto do mundo.

-De novo com isso? Ande logo ou ao menos se segure em mim, vai ser mais rápido!

 Estendeu-lhe a mão mais uma vez, que ela recusou elegantemente.

-Posso me virar, já disse isso.

-Desde que não me atrase...

Voltaram, com um pouco mais de pressa do que antes. A pressa da lista de presença que fazia os dois amigos ignorarem completamente o dia perfeito que se estendia à sua frente. A morena caminhava com os braços abertos, perfeitamente equilibrada. Não precisava de ninguém para apoiá-la; como demorara tanto tempo pra perceber isso?

Não precisava de ninguém, só que...

-Mudei de ideia.

-Hmn?

Ela parara de caminhar, e estendia a mão a ele em um gesto despretensioso.

-Vai ser mais rápido assim, e nenhum de nós dois leva falta. Segure.

-Seria melhor você descer e a gente correr um pouco, não acha?

-Ahh, anda logo!

-Certo, certo...estressadinha.

Ele segurou firme a mão dela, com um pouco mais de firmeza do que era realmente necessário. E tinha razão; com aquele ponto de apoio, ela conseguia ser mais rápida e cada passo era mais leve. Nem a pesada mochila atrapalhava o caminhar.

-Eu disse que era melhor, não disse?

-Cala a boca.

O riso dele preencheu seus ouvidos, enquanto atravessavam o campus juntos, na direção de uma aula em comum. Os dedos dele nunca a deixando vacilar. E, com ela, a certeza de que dali em diante seria completamente capaz de manter o próprio equilíbrio sozinha, mas que não haveria problema nenhum em ter um outro ponto de apoio consigo.

-Sexta à tarde, na parte superior da biblioteca.

-O quê?

-Vamos estudar sexta à tarde. Eu levo o livro. - Sorriu maliciosa.

-E eu levo a melhor parte: eu mesmo.

-Engraçadinho... - Respondeu, tentando não fazer transparecer que sabia que, no fundo, ele estava mais do que certo.

-Combinado, vamos juntos.

E ele lhe sorriu.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por terem lido, e espero que tenham gostado. Aguardo seus comentários, beijos e até a próxima!