Damen se lembrava daquele lugar. As memórias voltavam para ele como um naufrago volta para casa. Tudo tinha mudado desde a última vez que ele estivera ali, mas tudo parecia o mesmo. A cidade ainda era do tamanho de uma viela e as casas continuavam a se manter em pé com suas estruturas de pedra lascada. Ele e Jude estavam andando há horas, porque o aeroporto ficava na cidade vizinha e o taxi se recusara a ir tão longe. Eles estavam exaustos, mas no momento em que Damen olhou para aquela fonte de mármore no meio da praça, tudo fez sentido.

Ele olhou em volta e soube que ela deveria estar perto. Somente uma pessoa mantinha a residência perto da fonte da água mais pura da Irlanda. Damon apressou os passos e Jude o seguiu hesitante, mas alerta. A casa parecia estar em uma espécie de feitiço, porque quanto mais eles andavam, mais distante a cabana de madeira vermelha parecia. Jude se irritou e pegou uma pedra no chão. Ele girou algumas vezes na mão e falou algo baixinho, como se estivesse rezando. Levantou o braço e jogou a pedra na casa com a maior força possível.

Os dois olharam enquanto a pedra atravessava a barreira e caia no chão ao lado da casa. No segundo seguinte, algo quebrou, fazendo um barulho alto de vidro caindo no chão e Damendeu um olhar questionador para Jude. Ele sabia que Jude tinha colocado algo de magia negra naquela pedra, mas não disse nada. O tempo estava curto e eles precisavam do antídoto.

Damen andou devagar até a porta e dessa vez, o feitiço estava definitivamente quebrado. Jude olhou em volta, mas ninguém pareceu perceber o que estava acontecendo ali. Damen bateu a porta e esperou. Um minuto se passou e ele bateu de novo. Naquarta vez que ele levantou a mão para bater, Jude correu em volta da casa para ver se alguém estava presente. Estava tudo escuro e vazio.

– Não tem ninguém – Jude sussurrou irritado.

– Eu percebi. – Damen retrucou. – Os dois começaram a voltar para a estrada, quando Damen avistou um par de olhos um tanto estranhos. Olhos de cor âmbar que olhavam para ele com curiosidade e certo receio. Ele piscou com reconhecimento e no segundo seguinte, ela não estava mais lá.

Ele bateu no braço de Jude e ambos correram pela pequena multidão, procurando pela fugitiva.

Damen avistou seu cabelo ruivo entrando na floresta e ele apressou o passo. Quando se viu cercado por árvores e musgo verde, não ouviu mais seus passos. Ele pensou que a tinha perdido de novo, quando avistou seu cabelo de fogo na margem do lago.

– Maggie – Damen sussurrou, com medo de assusta-la de novo.

– Quanto tempo, meu caro. Posso dizer que não está aqui para apenas dizer olá – Maggie sorriu e se virou para encara-los. Ela parecia mais jovem. Suas feições condiziam com as de uma garota de 20 anos e não de 40, como da última vez. Ela encarava Jude e seu olhar mortal.

– Você está mudada, Maggie. Quase não te reconheci.

– Você sabe como é, a vida não está sendo fácil para ninguém. Eu tento me renovar sempre, para manter longe os olhares curiosos.

– Maggie, nós estamos com problemas.

– Que tipo de problemas, meu caro? – Maggie se aproximou do leito do rio e se sentou em uma pedra alta.

– Uma humana envenenada – Jude respondeu rápido. Maggie lhe lançou um olhar de curiosidade e pediu para Damen continuar.

– A humana em questão está envenenada e ela está morrendo. Nós temos poucos dias. – Damen rezou para que sua voz não soasse desesperada.

– Como que vocês sabem que não é apenas uma doença comum?

– Porque ela está definhando muito rápido e nem mesmo ambrosia a curou.

– Bom, eu posso já ter ouvido falar de uma doença com sintomas parecidos, mas isso dependerá de quanto vocês estão dispostos a investir.

– Quanto? – Damen rosnou.

– Bom, veja bem...

– Quanto, Margareth?

– O dobro do que eu tinha cobrado na última vez. – Ela disse por fim.

– Mas isso é muito.

– Da última vez você queria tornar alguém imortal – Jude olhou para Damen – Dessa vez, você quer curar alguém de uma doença incurável.

– Então não tem cura? – Damen ignorou os olhares de Jude e perguntou.

– Vou ver o que eu posso fazer, mas você está disposto a pagar, ou não?

– Ele está – Jude finalmente respondeu.

– Tudo bem. – a expressão sarcástica de Maggie tinha ido embora e sua postura ficou séria. – Me parece que sua humana está sofrendo de um envenenamento na alma, se nem mesmo ambrosia pode salva-la. Existe uma cura, mas pode deixar sequelas.

– Que tipo de sequelas? – Jude e Damen perguntaram ao mesmo tempo.

– Se o tratamento der certo, isso pode deixa-la mais forte do que nunca, ou, dependendo da profundidade da doença, deixa-la fraca. Mas ela sobreviverá. Existem outras sequelas, como perda de memória, alucinações, ausência temporária...

– O QUE? – Os dois gritaram juntos novamente.

– Eles podem ou não acontecer. Isso é incerto.

– Tudo bem. Agora diz como funciona esse tratamento.

– A humana terá que tomar a poção que eu lhe der por uma semana e depois a cada quinze dias. E tomar uma gota do sangue de um guardião durante um mês.

– Qual é a do sangue. –

– O sangue de um guardião é a coisa mais pura que tem, limpará a alma e o corpo. Ela se sentirá pior durante uns dias, mas depois tudo melhorará.

– Como saberemos que melhorará? – Jude não parecia convencido.

– Tem que piorar antes de melhorar. – Maggie respondeu com um agitar de ombros.

Os três voltaram até a cabana em silêncio, e tomando cuidado para não atraírem olhares curiosos. Maggie foi para um aposento que lembrava uma cozinha e os dois ficaram no meio da sala e olharam para o sofá pulguento.

– Vocês dois parecem péssimos. Vocês podem ir ao banheiro, ou tirar um cochilo enquanto eu preparo a poção.

–Damen foi ao banheiro e se olhou no espelho. Ele estava realmente péssimo. Suas olheiras estavam arroxeadas e sua pele estava horrivelmente pálida. Cansaço exalava de seu corpo, mas ele fechou os olhos e se prometeu que tudo ficaria bem assim que voltasse para Ever, para a humana que amava.