Capítulo 9 – Todo o chocolate do mundo.

 

Jake POV

 

“Adivinhem só.” soltou Leah pela quarta vez em quatro dias, descendo as escadas com pantufas e roupão de banho.

 

“Que?” perguntei ausente, enquanto cortava meus waffles com a faca, enquanto Seth banhava os seus com mel. Ele grunhiu em resposta.

 

“De novo não, Leah.” rogou Seth. “Supera!”

 

“Adivinhem só.” Leah disse de novo, tirando um waffle do meu prato sem sua grosseria habitual.

 

“Você não está grávida?” adivinhou Seth com a voz cheia de tédio, tomando um copo cheio de suco de laranja enquanto Leah brigava para abrir a porta do congelador.

 

“Yep!” disse em uma voz complacente e sarcástica.

 

“Isso é mais velho que minha vó!” lhe disse enquanto ela pegava um prato. Leah não respondeu.

 

“Eu também.” a ouvi sussurrar.

 

“Isso é estúpido! Você terá dezenove para sempre, Leah!” Seth a lembrou.

 

“Deixa de se lamentar e continue com sua vida.” sugeri, não foi surpresa o olhar assassino que recebi.

 

“É desgastante ser grossa com vocês o tempo todo! Acho que vou fazer uma gravação.” ela anunciou se sentando à mesa.

 

“Bom, você não matou ninguém na noite passada, isso é um bom sinal.” apontou Seth enquanto comíamos.

 

“Estava muito cansada. Tira todas as minhas energias abusar verbalmente de Sam, Emily e Bella Swan ao mesmo tempo.” disse com uma voz preguiçosa fazendo gestos para reforçar suas palavras e colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

 

“Sabe? Se você quer ser amiga de alguém, é melhor não fazer a sua noiva chorar continuamente. Bella é maravilhosa.” disse Seth.

 

“Ew! A cachorra da Bella não é maravilhosa, Seth!” Leah se virou para mim. “Ele também achava Garibaldo* maravilhoso.”

 

“Será que eu vou ter que mencionar sua obsessão pela Kim Possible?” Seth perguntou para a irmã sorrindo. “Como você implorou pra mamãe te comprar calças largas e como você ficou de castigo quando cortou sua melhor blusa preta acima do umbigo?”

 

“Lembro daquele seu pijama do super-homem. Você ainda o tem, não é?” Leah insistiu, com o primeiro sorriso real que eu via há dias.

 

“É? Você ainda dorme com aquele coelhinho, não é?”

 

“É um urso, não um coelho!” replicou Leah.

 

“Awwwwwwwwwwwww” Seth e eu fizemos coro.

 

“Jacob, não era para você estar calado?” soltou ela. “Você chorou vendo Titanic!”

 

“Claro que não!”

 

“Claro que sim!”

 

“Não!”

 

“Sim!”

 

“Não!”

 

“Sim!”

 

“Não!”

 

“Sim!”

 

“Não!”

 

“Sim!”

 

“Tá! Cala a boca, os dois!” Seth gritou.

 

“Seth leu Harry Potter quando tinha 10 e ficou o ano todinho esperando a carta de Hogpoggs!” Leah disse na lata.

 

“Hogwarts!” nós a corrigimos.

 

“Eu disse que tinha chegado, e que a queimei.” ela explicou para mim, sorrindo malevolamente.

 

“Fiquei arrasado!” Seth gemeu, provavelmente se lembrando do dia que Leah mentiu para ele.

 

“Tava crente que encontraria uma das garotas fictícias!” Leah riu enrolando uma mecha negra, mostrando seus perfeitos dentes brancos.

 

“Pensei que Luna Lovegood seria minha namorada.” murmurou o garoto.

 

“Luna? Luna é uma doida! Tonks que arrebenta!” argumentei.

 

“Tonks é uma velha!” gritou Seth.

 

“Tua irmã também! Desculpa, Lee, tava brincando! Imagino que também era caidinho pela Gina?”

 

“Nah... ela é uma desesperada! Gosto da Hermione!”

 

“Hermione?” me engasguei. “Hermione é difícilmente… ela era muito... ew.”

 

“Jacob leu um livro?” Leah perguntou com aquela voz cheia de incredulidade. A fizemos se calar.

 

“Que que você acha da Vitória e o Teddy?” perguntou Seth.

 

“Tudo bem, eu acho. Mas sério, o Harry nomeou seus filhos como seus pais mortos. E Alvo Severo? Pobre garoto...”

 

“Vocês estão parecendo duas garotas discutindo novela! Na verdade é muito gay! Vou ver a reprise de Grey’s Anatomy.” disse Leah entediada. Levantou-se e foi para a sala.

 

“E o final vamos-matar-todo-mundo?” perguntei levantando a voz. “Não sei em que Rowling estava pensando.”

 

“Harry Potter é definitivamente melhor que esse romance de quinta que a Kim estava lendo. Como era mesmo o nome?! Meia-noite?”

 

“Alguma merda sobre vampiros.” gritou a Leah do sofá. “Li algumas páginas e quase vomitei.”

 

“Isso mesmo.” exclamei batendo na minha testa. “A personagem principal é Lily Goose, Beck estava me contando. Ela se apaixona por um vampiro... Pobre garota!” Seth riu, Leah deu uma risada zombeteira.

 

“Ah sim, na metade do livro é tipo: ‘ele é tão perfeito’ ou ‘te amo tanto!’ Coisas assim não acontecem na vida real.” Adicionou Leah sussurrando a última parte.

 

“Rachel chorou lendo o segundo livro, soluçando sobre algo que aconteceu com o vampiro Anthony ou algo. Se chama Sol Novo, eu acho.”

 

“Emily me ligou durante o quarto livro. Estava tão zangada! Seu personagem favorito, Justin, se apaixonou a primeira vista por um bebê. Muita pedofilia?” bufou Leah.

 

“Tipo imprinting?”

 

“Bom, ele é um lobisomem, tipo Remo Lupin. Se apaixona pela Lily no começo, mas ela fica com o vampiro. É muito fofo.” olhei Seth, e Leah colocou a tv no mudo.

 

“Que. Demônios?” perguntamos.

 

“Eu li, tá!?” Seth se queixou. “Todas as garotas estavam doidas por aqueles vampiros, era demente! Uma delas gritou na minha cara: ‘Team Anthony ou Team Justin’? E eu fiquei tipo: ‘Que demônios?’ E foi assim que li os livros. E são muito, muito bons!”

 

“Sethy, isso é meio gay, mano.” disse Leah devolvendo o som à tv. “Sabe o que... Vou voltar a dormir.” subiu as escadas e bateu a porta tão forte que a escutei trincar.

 

“Merda. Todo esse assunto da Emily a está matando.” murmurei enquanto Seth lavava os pratos.

 

“Leah é a rainha do drama. Você se acostuma.” ele me assegurou. “E isso é o que você ganha por escolher uma megera como namorada.”

 

“Seth?”

 

“Hum?”

 

“Isso foi muito ‘não-você’!”

 

“Sério?”

 

“Totalmente.”

 

“Uh. Suponho que sim. Tanto faz, todos sabemos que Leah é uma amarga muito além do reversível. Simplesmente estou feliz que ela possa não passar toda a eternidade sozinha.” os lábios de Seth se curvaram para baixo.

 

Então era isso que estava tirando o sono do garoto. Seth estava preocupado que Leah nunca fosse feliz novamente.

 

“Seth, isso não vai acontecer.” prometi, mas não estava seguro. E se... E se eu tivesse meu imprinting? Algum dia? Esqueceria tudo que passei com a Leah? Ela tentaria se matar de novo? Estremeci.

 

“Não é o mesmo que amor” Leah tratou de me explica algumas noites atrás, nas raras ocasiões em que ela era agradável. “Eu sei. É só uma outra opção, mas... mas olha o Quil e Claire. Isso seria como... a ruína, se eles se casarem. Verdade. Não se casa com a sua babá!”

 

 “Acho… Acho que algumas pessoas são estúpidas o suficiente para acharem que sua imprinting é a única opção. Quero dizer, sei que estão destinados a não encher nenhuma outra garota, mas e o que acontece com a garota? É obrigada a ficar com o garoto que mal conhece? E o carinha se torna um tipo estúpido de burro obsessivo. Não é justo!”

 

“Porque isso acontece? Não, não responde. Mas… é tão... estúpido!”

 

Muitas horas de jogos Wii depois, Leah desceu. Tínhamos chamado Quil e o Embry e nós tínhamos comido praticamente tudo o que tinha na casa.

 

“Adivinhem só!” ela nos disse sem sequer nos olhar.

 

Seth e eu nem sequer a olhamos, mas Quil e Embry caíram na armadilha. Seth lhes olhou como se dissesse não perguntem, por favor não perguntem. Mas eles o ignoraram ou não se importaram.

 

“O que?” Embry perguntou.

 

“Não estou grávida.” disse simplesmente colocando suas mãos nos quadris, ainda com o roupão de banho. “Porque comeram toda a minha comida?”

 

Quil me olhou e eu apenas fechei os olhos como se dissesse é uma longa história.

 

“Estávamos com fome.”

 

“Vocês sempre estão com fome. Me expliquem de novo porque estou cozinhando pra vocês?!”

 

“Porque você é a melhor.” respondeu Embry agitando o controle do Wii, Leah tornou a subir. “Viu Jake? Chuto seu traseiro no tênis.”

 

“Aham.” retruquei devolvendo a bola de tênis através do campo. “Então, porque eu acabei de ganhar?”

 

“Seu Wii tá quebrado.” declarou Embry.

 

“Posso chutar o traseiro de vocês dois com os olhos fechados!” Leah gritou do alto das escadas. “Desço em um segundo.”

 

“Okay. O que é tudo isso de ‘adivinha só’?” Quil perguntou enquanto eu continuava humilhando Embry no tênis. Ele era um lixo, na verdade era até patético, mas não tanto quanto Seth lendo um romance.

 

“É o lance com a Emily.” Seth explicou comendo uma colherada de massa de brownies.

 

“Ainda não entendo porque você continua saindo com a garota mais desgraçada de La Push.” murmurou Embry.

 

“Escutei isso!” ela gritou descendo as escadas correndo com uma minissaia (uma saia?) jeans caqui e um top solto turquesa. Quil assoviou. “Fecha tua boca grande, eu sei onde você mora.”

 

“Wow, Jacob, se ela não fosse uma megera total eu sairia com ela.” Embry riu.

 

“Também escutei isso!” acrescentou e bateu na cabeça do Embry com uma colher de pau. “Sabem, caso não tenham notado, eu sempre fui uma garota.”

 

“Eu notei.” respondi com um meio sorriso ganhando outra rodada. “Mais alguém quer jogar?” Seth pulou e tomou o controle da minha mão.

 

“Isso é porque você me espiava quando eu me trocava! E isso supostamente é para ser assado!” tomou a vasilha de massa de brownie do Quil e foi para a cozinha.

 

“Wow, que incrível, Jake.” exclamou Embry. “Você já tinha bom gosto aos doze!”

 

“Todos vocês são uns porcos! Posso escutá-los!” ela gritou.

 

“Merda Leah! Arranja uns amigos da tua idade!” devolveu Embry.

 

Leah entrou na sala de avental e acertou a cabeça de Embry.

 

“Imbecil!”

 

“Ouch! Merda Leah, olha a minha cabeça!” ele se queixou e em toda sua estupidez ganhou outro golpe (twack). “Deus. Desculpa mamãe!” bufou.

 

Leah arregalou os olhos cheia de fúria enquanto golpeava a cabeça do Embry com a escumadeira.

 

“Se (twack) alguma (twack) vez (twack) voltar a (twack) me chamar (twack) de mamãe (twack) eu (twack) te (twack) mato!” gritou. Quil mordia a boca prendendo o riso. “Entenderam? Todos?” perguntou enquanto batia a escumadeira na mão como uma professora com uma régua.

 

Assentimos enquanto Embry escorregava pelo sofá esfregando a cabeça.

 

“Delicada...” murmurou. Leah não escutou, estava ocupada demais se desmanchando em lágrimas.

 

“Como ela pode estar tão hormonal se...?” Quil começou a falar em voz baixa, mas Seth tapou sua boca a tempo. Leah secou os olhos.

 

“Com certeza queimei os malditos brownies!” murmurou voltando à cozinha, em passos cansados e incômodos.

 

“Desculpa Embry.” sussurrei.

 

“É? Diz isso para minha cabeça.” retrucou. “Tem alguma coisa errada com essa garota. Estou convencido.”

 

“Quem é você? Paul disfarçado?”

 

“Desculpa Jake. Mas Leah está um desastre. Você viu só? Surta com tudo. Está insuportável e temperamental. Quase rachou minha cabeça ao meio só porque a chamei de mamãe.”

 

 “Ela só está deprimida.” Seth explicou fazendo outro ponto no jogo.

 

“Isso não é depressão. Bella há alguns meses, isso é depressão. Ela tem alguma coisa errada.”

 

Esperamos pela tempestade de Leah. Nada.

 

Depois que Quil e Embry foram embora, me lembrei dela. Seth e eu fomos para a cozinha e soltamos um suspiro.

 

Leah estava chorando. Sentada no chão, as pernas semi-abertas e comendo brownies.

 

“Não era para o chocolate curar coração quebrado?” ela perguntou assim que notou nossa presença.

 

“Como eu queria.” murmurei, levantando-a do chão e subindo as escadas com ela em meus braços. Ela voltou a chorar. “Porque se fosse assim, eu te compraria cada barra de chocolate do mundo.”

 

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