Crepúsculo (adaptado) escrita por Oliver King


Capítulo 2
Livro Aberto


Notas iniciais do capítulo

Eaew povo
Cap novo pra vcs
t+
bjs



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    O dia seguinte foi melhor… e pior.

    Foi melhor porque ainda não estava chovendo, mas as nuvens eram densas e opacas. Era mais fácil porque eu sabia o que esperar do meu dia. Mike veio se sentar comigo na aula de inglês e me acompanhou até a aula seguinte, com o Eric Clube de Xadrez encarando-o o tempo todo; isso foi lisonjeiro. As pessoas não costumavam olhar tanto para mim como eles fizeram ontem. No almoço, fiquei com um grande grupo que incluía Mike, Jessica e várias outras pessoas cujos nomes e rostos agora eu me lembrava. Comecei a sentir que estava boiando na água, e não me afogando nela.

    Foi pior porque eu estava cansado; ainda não conseguia dormir com o vento ecoando pela casa. Foi pior porque o Sr. Varner chamou meu nome na aula de trigonometria quando não levantei minha mão, e acabei dando a resposta errada. E foi pior porque Edward Cullen não foi à escola.

    Durante toda a manhã tive medo do almoço, temendo os olhares estranhos dele. Parte de mim queria confrontá-lo e exigir que me dissesse qual era o problema. Enquanto estava deitado insone na cama, cheguei a imaginar o que diria. Mas eu me conhecia bem demais para pensar que realmente teria coragem de fazer isso. Eu fazia o Leão Covarde de O Mágico de Oz parecer um exterminador do futuro. Porém minha covardia não se estendia a todas as áreas, eu só era covarde quando se tratava de enfrentar pessoas cara a cara.

    Mas quando entrei no refeitório com Jessica – tentando evitar que meus olhos vasculhassem o lugar à procura dele e fracassando completamente – vi que seus quatro irmãos estavam sentados juntos à mesma mesa, e ele não estava ali.

    Mike nos interceptou e nos conduziu à mesa dele. Jessica parecia inflada pela atenção e as amigas dela rapidamente se juntaram a nós. Mas ao tentar ouvir sua conversa tranqüila, fiquei terrivelmente aflito, esperando nervoso pelo momento em que ele chegaria. Esperava que ele simplesmente me ignorasse, e provasse que minhas suspeitas eram falsas.

    Ele não apareceu e, à medida que o tempo passava, eu ficava cada vez mais tenso. Não era como se eu estivesse com saudades dele, ou coisa do tipo, eu apenas queria vê-lo.

    Fui para a aula de biologia mais confiante quando, lá pelo final do almoço, ele ainda não tinha aparecido. Mike, que estava falando das qualidades de um golden retriever, andou fielmente ao meu lado até a sala. Prendi a respiração na porta, mas Edward Cullen também não estava lá. Soltei o ar e fui para o meu lugar. Mike me seguiu, falando da futura viagem que faria à praia. Ele se demorou na minha carteira até que o sinal tocou. Depois sorriu para mim de um jeito tristonho e foi se sentar ao lado de uma menina cheia de pulseiras com um permanente malfeito. Eu teria que fazer alguma coisa a respeito de Mike, e não seria fácil, embora ele não parecesse o tipo de garoto que gosta de outros garotos, ele parecia estar bem atraído por mim. Em uma cidade dessas, onde todo mundo morava perto de todo mundo, era fundamental ter diplomacia. Nunca tive muito tato; não tinha prática em lidar com meninos abertamente amistosos.

    Fiquei aliviado por ter a carteira só para mim, por Edward estar ausente. Disse isso a mim mesmo repetidamente. Mas não conseguia me livrar da suspeita irritante de que eu era o motivo para ele não estar ali. Era ridículo e egoísta pensar que eu podia afetar tanto uma pessoa. Era impossível. E, no entanto, eu não conseguia deixar de me preocupar com a idéia de que isso fosse verdade. Eu não conseguia imaginar o que faria se isto fosse mesmo verdade.

    Quando o dia de aula enfim terminou e o rubor pelo incidente no vôlei desaparecia do meu rosto, vesti rapidamente meus jeans e o suéter azul-marinho. Corri do vestiário dos meninos, satisfeito por descobrir que tinha conseguido escapar de meu amigo cachorrinho por algum tempo. Andei rapidamente para o estacionamento. Agora estava abarrotado de alunos indo embora. Fui para minha picape e vasculhei minha mochila para ter certeza de que tinha o que precisava.

    Na noite passada, descobri que Charlie não sabe cozinhar grande coisa além de ovos fritos e bacon. Então pedi para cuidar da cozinha enquanto estivesse ali. Ele estava bastante interessado em passar adiante as chaves do salão de banquete. Também descobri que ele não tinha comida em casa. Então fiz minha lista de compras, peguei o dinheiro no pote do armário rotulado de DINHEIRO DA COMIDA e estava a caminho do Thriftway.

    Disparei meu motor ensurdecedor, ignorando as cabeças que se viravam na minha direção, e dei a ré cuidadosamente para um lugar na fila de carros que esperavam para sair do estacionamento. Enquanto aguardava, tentando fingir que o estrondo de furar os tímpanos vinha de outro carro, vi os dois Cullen e os gêmeos Hale entrando no carro deles. Era o Volvo novinho. É claro. Eu ainda não tinha percebido as roupas que usavam – fiquei hipnotizado demais com o rosto deles. Agora que eu olhava, ficou óbvio que todos se vestiam excepcionalmente bem; com simplicidade, mas com roupas que sugeriam sutilmente boas marcas. Com sua beleza extraordinária, o estilo com que se portavam, eles podiam vestir uns trapos rasgados e ainda assim se dar bem. Parecia um exagero que fossem bonitos e também tivessem dinheiro. Mas, pelo que eu sabia, na maior parte do tempo a vida era assim. E não parecia que isso lhes trouxesse aceitação por aqui.

    Não, eu não acreditava plenamente nisso. Eles devem querer se isolar; não conseguia imaginar nenhuma porta que não se abrisse para aquele grau de beleza.

    Eles olharam para minha picape barulhenta quando passei, como todo mundo fez. Continuei olhando para a frente e fiquei aliviado quando finalmente saí da área da escola.

    O Thriftway não ficava longe da escola, só a algumas ruas ao sul, junto à rodovia. Era bom estar dentro do supermercado. Parecia normal. Sempre fiz as compras da casa, e me entreguei com prazer à rotina do mercado. A loja era bem grande por dentro, e não consegui ouvir o bater da chuva no telhado para me lembrar de onde estava.

    Quando cheguei em casa, guardei todos os mantimentos, colocando-os onde houvesse espaço. Esperava que Charlie não se importasse. Embrulhei as batatas em papel de alumínio e pus no forno para assar, coloquei uns bifes para marinar e os equilibrei em cima de uma caixa de ovos na geladeira.

    Quando terminei com isso, levei minha mochila de livros para cima. Antes de começar o dever de casa, vesti um moletom seco e verifiquei meu e-mail pela primeira vez. Tinha três mensagens.

    "Andy", escreveu minha mãe…

    

    “Escreva-me assim que puder. Conte como foi sua noite. Está chovendo? Já estou com saudade. Estou quase terminando as malas para a Flórida, mas não consigo encontrar minha blusa rosa. Sabe onde eu a coloquei? Phil manda lembranças. Mamãe.”

    

    Eu suspirei e passei à mensagem seguinte. Foi enviada oito horas depois da primeira.

    "Andy", escreveu ela…

    

    “Por que não me respondeu ainda? O que está esperando? Mamãe.”

    

    A última era desta manhã.

    

    “Andrew Swan,

    Se eu não tiver notícias suas até as cinco e meia da tarde de hoje, vou ligar para o Charlie.”

    

    Olhei o relógio. Ainda tinha uma hora, mas minha mãe era famosa pela precipitação.

    

    “Mãe,

    Calma. Estou escrevendo agora. Não faça nenhuma bobagem. Andy.”

    

    Mandei essa e recomecei.

    

    “Mãe,

    Está tudo ótimo. É claro que está chovendo. Eu estava esperando ter alguma coisa para escrever. A escola não é ruim, só meio repetitiva. Conheci umas pessoas legais que almoçam comigo.

    Sua blusa está na lavanderia – você devia ter pego na sexta-feira.

    Charlie comprou uma picape para mim, dá para acreditar? Eu adorei. É velha, mas bem forte, o que é bom, sabe como é, para mim.

    Também estou com saudades. Vou escrever novamente logo, mas não fico verificando meus e-mails a cada cinco minutos. Relaxe, respire fundo. Eu te amo.

    Andy.”

    

Eu tinha decidido reler O morro dos ventos uivantes – o romance que estávamos estudando no curso de inglês – só por prazer, e era o que eu estava fazendo quando Charlie chegou em casa. Eu tinha perdido a hora, e corri para baixo para tirar as batatas e colocar os bifes para grelhar.

    – Andy? – chamou meu pai quando me ouviu na escada. Quem mais seria?, pensei comigo mesmo. Meu pai era o rei de dizer coisas óbvias.

    – Oi, pai, bem-vindo.

    – Obrigado. – Ele pendurou o cinturão da arma e tirou as botas enquanto eu estava atarefado na cozinha. Pelo que eu sabia, ele nunca disparou a arma no trabalho. Mas a mantinha preparada. Quando eu era criança e vinha aqui, ele sempre retirava as balas assim que passava pela porta. Acho que agora me considerava velho o bastante para não atirar em mim mesmo por acidente, nem deprimido o bastante para atirar em mim mesmo de propósito.

    – O que temos para o jantar? – perguntou ele cheio de cautela. Minha mãe era uma cozinheira com muita imaginação e as experiências dela nem sempre eram comestíveis. Fiquei surpreso, e triste, que ele parecesse se lembrar de um fato tão remoto.

    – Bife com batata – respondi, e ele pareceu aliviado.

    Ele deu a impressão de que se sentia estranho, parado ali na cozinha sem fazer nada; arrastou-se para ver TV na sala enquanto eu trabalhava. Nós dois ficávamos mais à vontade desse jeito. Fiz uma salada enquanto os bifes grelhavam e pus a mesa.

    Eu o chamei quando o jantar estava pronto e ele gostou do cheiro ao passar pela porta.

    – Que cheiro bom, Andy. Se a comida estiver tão boa quanto o cheiro tenho certeza que nunca mais comerei fora novamente.

    – Obrigado.

Soltei um risinho abafado sem que Charlie percebesse.

    Comemos sem dizer nada por alguns minutos. Não foi desagradável. Nenhum de nós se incomodava com o silêncio. De certa forma, éramos bem adequados para morar juntos.

    – E então, como foi na escola? Fez algum amigo? – perguntou ele ao se servir pela segunda vez.

    – Bom, tive algumas aulas com uma menina chamada Jessica. Sentei para almoçar com os amigos dela. E tem um garoto, Mike, que é muito simpático. Todo mundo parece bem legal. – Com uma notável exceção.

    – Deve ser Mike Newton. Garoto bom… uma boa família. O pai é dono da loja de produtos esportivos perto do centro. Ele ganha um bom dinheiro com todos os mochileiros que vêm aqui. Espera... Você não está interessado nele, está?

- É claro que não pai. De onde você tirou isso?

Um minuto de silêncio se passou sem que nenhum de nós dissesse alguma coisa. Embora meu pai soubesse sobre minha sexualidade eu não tinha total certeza sobre o nível de aceitação dele quanto a isso.

    – Conhece a família Cullen? – perguntei, hesitante.

    – A família do Dr. Cullen? Claro. O Dr. Cullen é um grande homem.

    – Eles… os filhos… são meio diferentes. Não parecem se adaptar muito bem na escola.

    Charlie me surpreendeu ao aparentar raiva.

    – As pessoas desta cidade – murmurou ele. – O Dr. Cullen é um cirurgião brilhante que provavelmente podia trabalhar em qualquer hospital do mundo, ganhando dez vezes o salário que ganha aqui – continuou ele, falando mais alto. – Temos sorte por tê-lo aqui… Sorte pela esposa dele aceitar morar numa cidade pequena. Ele é um trunfo para a comunidade, e todos os filhos são bem-comportados e educados. Tive minhas dúvidas quando se mudaram para cá, com todos aqueles adolescentes adotivos. Pensei que podíamos ter alguns problemas com eles. Mas todos são muito maduros… Não tive um pingo de problema com nenhum deles. Não posso dizer o mesmo dos filhos de algumas pessoas que moram nesta cidade há gerações. E eles são unidos, como deve ser uma família… Viagens de camping em fins de semana alternados… Só porque são novos aqui, as pessoas ficam falando.

    Foi o discurso mais longo que já ouvi de Charlie. Ele devia se aborrecer muito com o que as pessoas diziam.

    Recuei um pouco.

    – Eles parecem legais para mim. Só percebi que são muito reservados. Todos são muito bonitos – acrescentei, tentando ser mais elogioso.

    – Devia ver o médico – disse Charlie, rindo. – Ainda bem que é bem casado. Muitas enfermeiras do hospital têm dificuldade para se concentrar no trabalho quando ele está por perto.

Deixei sair outro risinho abafado com o que meu pai disse.

    Terminamos de comer em silêncio. Ele tirou a mesa enquanto eu começava a lavar os pratos. Ele voltou à TV, e eu, depois de terminar com os pratos – lavados à mão, e não na máquina –, subi sem nenhuma vontade de fazer o dever de matemática. Podia sentir um costume se formando.

    Enfim aquela noite foi silenciosa. Dormi rapidamente, exausto.

    O resto da semana foi calmo. Eu me acostumei com a rotina de minhas aulas. Na sexta-feira, conseguia reconhecer, se não pelo nome, pelo rosto quase todos os alunos da escola. Edward Cullen não voltou à escola.

    Todo dia eu observava ansioso até os demais Cullen entrarem no refeitório sem ele. Depois eu podia relaxar e participar da conversa do almoço. Centrava-se principalmente numa viagem ao La Push Ocean Park dali a duas semanas, que Mike estava organizando. Fui convidado e tive que concordar em ir, mais por educação do que por desejo. As praias devem ser quentes e secas.

    Na sexta-feira eu estava perfeitamente à vontade entrando na minha aula de biologia; sem me preocupar mais se Edward estava ali ou não. Pelo que sabia, ele tinha saído da escola. Tentei não pensar nele, mas não conseguia reprimir completamente a preocupação de que eu fosse responsável por sua ausência contínua, embora isso fosse ridículo.

    Meu primeiro fim de semana em Forks foi tranquilo. Charlie, desabituado a ficar na casa normalmente vazia, trabalhou na maior parte do fim de semana. Eu limpei a casa, adiantei o dever e escrevi à minha mãe um e-mail mais falsamente animado. Fui à biblioteca no sábado, mas era tão mal abastecida que não me dei ao trabalho de fazer um cartão de inscrição; eu teria que marcar logo uma data para ir a Olympia ou Seattle e encontrar uma boa livraria. Imaginei inutilmente qual seria o consumo de combustível da picape… e estremeci ao pensar nisso.

    A chuva continuou branda pelo fim de semana, tranqüila, então eu pude dormir bem.

    As pessoas me cumprimentaram no estacionamento na segunda-feira de manhã. Eu não sabia o nome de todos, mas retribuí os acenos e sorri para todos. Estava mais frio nesta manhã, mas felizmente não chovia. Na aula de inglês, Mike assumiu seu lugar de costume ao meu lado. Teve um teste-relâmpago sobre O morro dos ventos uivantes.. Era simples, muito fácil.

    No todo, eu estava me sentindo muito mais à vontade do que pensava que estaria a essa altura. Mais à vontade do que esperava me sentir aqui um dia.

    Quando saímos da sala de aula, o ar estava cheio de pontinhos brancos rodopiando. Eu podia ouvir as pessoas gritando animadas umas com as outras. O vento mordia meu rosto, meu nariz.

    – Puxa – disse Mike. – Está nevando.

    Olhei para os pequenos tufos de algodão que se acumulavam pelas calçadas e giravam erraticamente por meu rosto.

    – Eca! – Neve. Lá se foi meu dia bom. Ele pareceu surpreso.

    – Não gosta da neve?

    – Não. Significa que está frio demais para chover. – E óbvio. – Além disso, pensei que devia cair em flocos… Sabe como é, cada um é único e essas coisas. Isso aqui só parece ponta de cotonete.

    – Nunca viu a neve cair? – perguntou ele, incrédulo.

    – Claro que vi. – Eu parei. – Na TV.

    Mike riu. E aí uma bola grande e macia de neve gotejante bateu na cabeça dele. Nós dois nos viramos para ver de onde veio. Eu tinha minhas desconfianças de Eric, que estava se afastando, de costas para nós – na direção errada para a primeira aula dele. Ao que parecia, Mike teve a mesma idéia. Ele se curvou e começou a formar um morro de papa branca.

    – A gente se vê no almoço, está bem? – continuei andando enquanto falava. – Quando as pessoas começam a atirar coisas molhadas nas outras, eu entro.

    Ele só assentiu, os olhos em Eric, que se distanciava.

    Por toda a manhã, todos bateram papo animadamente sobre a neve; ao que parecia, era a primeira vez que nevava no ano novo. Fiquei de boca fechada. E claro que era mais seco do que quando chovia – até a neve derreter nas meias da gente.

    Segui em estado de alerta para o refeitório com Jessica depois da aula de espanhol. Voavam bolas empapadas por todo lado. Mantive uma pasta na mão, pronto para usá-la como escudo, se necessário. Jessica me achou hilário, mas alguma coisa na minha expressão impediu que ela me lançasse uma bola de neve.

    Mike nos encontrou quando passávamos pela porta, rindo, com gelo desmanchando seu cabelo espetado. Ele e Jessica conversaram animadamente sobre a guerra de neve enquanto entrávamos na fila para comprar comida. Olhei a mesa do canto, mais por hábito. E depois gelei. Havia cinco pessoas à mesa.

    Jessica puxou meu braço.

    – Ei! Andy? O que você quer?

    Baixei a cabeça; minhas orelhas estavam quentes. Eu não tinha motivo para me sentir constrangido, lembrei a mim mesmo. Não tinha feito nada de errado.

    – O que há com o Andy? – Mike perguntou a Jessica.

    – Nada – respondi. – Só vou querer refrigerante hoje. – Emparelhei com o último da fila.

    – Não está com fome? – perguntou Jessica.

    – Na verdade, meu estômago não está muito bem – eu disse, meus olhos ainda no chão. Esperei que eles pegassem a comida e os segui até a mesa, meus olhos

    nos pés.

    Bebi o refrigerante lentamente, o estômago agitado. Por duas vezes Mike perguntou, com uma preocupação desnecessária, como eu estava me sentindo. Disse a ele que não era nada, mas fiquei me perguntando se eu devia fingir e escapulir para a enfermaria pela próxima hora.

    Ridículo. Eu não precisava fugir.

    Decidi me permitir dar uma olhada na mesa da família Cullen. Se ele estivesse olhando para mim, eu mataria a aula de biologia, como o covarde que era.

    Mantive a cabeça baixa e espiei de rabo de olho. Nenhum deles olhava na minha direção. Ergui um pouco a cabeça.

    Eles estavam rindo. Edward, Jasper e Emmett estavam com os cabelos totalmente encharcados de neve derretendo. Alice e Rosalie se curvavam, tentando se afastar, enquanto Emmett sacudia o cabelo molhado para elas. Estavam curtindo o dia de neve, como todos os outros – só que pareciam estar numa cena de filme, mais do que o resto de nós.

    Além dos risos e das brincadeiras, havia algo diferente e eu não conseguia perceber o que era. Examinei Edward com mais cuidado. A pele estava menos pálida, concluí – corada da guerra de neve, talvez –, os círculos em torno dos olhos, bem menos perceptíveis. Mas havia mais alguma coisa. Eu refleti, encarando, tentando isolar a mudança.

    – Andy, o que você está olhando? – intrometeu-se Jessica, os olhos seguindo meu olhar.

    Naquele exato momento, os olhos dele lampejaram e encontraram os meus.

    Virei a cabeça, mas eu tinha certeza de que, no instante em que nossos olhos se encontraram, ele não parecia rude nem antipático como na última vez que o vi. Só parecia curioso novamente, e de certa forma insatisfeito.

    – Edward Cullen está olhando para você – Jessica riu na minha orelha.

    – Ele não parece estar com raiva, parece? – Não pude deixar de perguntar.

    – Não – disse ela, meio confusa com a minha pergunta. – Deveria estar?

    – Acho que ele não gosta de mim – confidenciei. Ainda me sentia nauseado. Baixei a cabeça no braço.

    – Os Cullen não gostam de ninguém… Bom, eles não percebem a presença de ninguém para gostar. Mas ele ainda está olhando para você.

    – Pare de olhar para ele – sibilei.

    Ela deu uma risadinha, mas desviou os olhos. Levantei a cabeça o bastante para ter certeza de que ela fizera isso, pensando em usar de violência se ela resistisse.

    Mike nos interrompeu – estava planejando uma épica batalha de neve no estacionamento depois da aula e queria que fôssemos também. Jessica concordou com entusiasmo. Pelo modo como Jessica olhou para Mike, havia poucas dúvidas de que ela não concordaria com qualquer coisa que ele sugerisse. Eu me mantive calado. Teria que me esconder no ginásio até que o estacionamento estivesse vazio.

    Pelo resto da hora de almoço, mantive muito cuidadosamente os olhos em minha própria mesa. Decidi cumprir o trato que fizera comigo mesmo. Como ele não parecia ter raiva, eu iria para a aula de biologia. Meu estômago deu pulos de medo com a idéia de sentar ao lado dele de novo.

    Eu na verdade não queria ir para a aula com Mike, como sempre fazia – ele parecia ser um alvo popular dos atiradores de bola de neve –, mas quando chegamos à porta, todo mundo do meu lado gemeu em uníssono. Estava chovendo, e a água lavava todos os vestígios de neve em faixas claras e geladas pelo canto do meio-fio. Puxei o capuz para cima, secretamente satisfeito. Eu estava livre para ir direto para casa depois da educação física.

    Mike desfiou um rosário de queixas no caminho para o prédio quatro.

    Depois de entrar na sala de aula, vi com alívio que minha carteira ainda estava vazia. O Sr. Banner andava pela sala, distribuindo um microscópio e uma caixa de lâminas para cada carteira. A aula só começaria alguns minutos depois e a sala zumbia com as conversas. Mantive os olhos afastados da porta, rabiscando preguiçosamente na capa de meu caderno.

    Ouvi com muita clareza quando a cadeira ao lado da minha se mexeu, mas meus olhos continuaram cuidadosamente focalizados no que eu desenhava.

    – Oi – disse uma voz baixa e musical.

    Olhei para cima, atordoado por ele estar falando comigo. Estava sentado a maior distância de mim que a carteira permitia, mas sua cadeira voltava-se para mim. O cabelo gotejava, despenteado – mesmo assim, ele parecia ter acabado de gravar um comercial de gel. Seu rosto deslumbrante era simpático, franco, um leve sorriso nos lábios impecáveis. Mas os olhos eram cautelosos.

    – Meu nome é Edward Cullen – continuou ele. – Não tive a oportunidade de me apresentar na semana passada. Você deve ser Andy Swan.

    Minha mente girava de tanta confusão. Será que eu tinha inventado tudo aquilo? Ele agora estava sendo perfeitamente educado. Eu precisava falar; ele estava esperando. Mas não conseguia pensar em nada de convencional para dizer.

    – Co-como você sabe meu nome? – gaguejei. Ele deu um sorriso suave e encantador.

    – Ah, acho que todo mundo sabe seu nome. A cidade toda estava esperando você chegar.

    Dei um sorriso duro. Eu sabia que era algo desse tipo.

    – Não – insisti, feito um idiota. – Quero dizer, por que me chamou de Andy?

    Ele pareceu confuso.

    – Prefere Andrew?

    – Não, gosto de Andy – eu disse. – Mas acho que Charlie… quer dizer, meu pai… deve me chamar de Andrew nas minhas costas… é como todo mundo aqui parece me conhecer – tentei explicar, sentindo-me um completo idiota.

    – Ah. – Ele deixou passar essa. Eu desviei os olhos, sem graça. Felizmente, o Sr. Banner começou a aula naquele momento. Tentei me concentrar enquanto ele explicava a prática de laboratório que íamos fazer hoje. As lâminas na caixa estavam fora de ordem. Trabalhando como parceiros, teríamos que separar as lâminas de células de ponta de raiz de cebola nas fases de mitose que representavam e rotulá-las corretamente. Não devíamos usar os livros. Em vinte minutos, ele voltaria para ver o que tínhamos conseguido.

    – Podem começar – ordenou ele.

    – Primeiro os novatos, parceiro? – perguntou Edward. Olhei para ele e o vi dando um sorriso torto tão bonito que só pude ficar olhando como um idiota. – Ou eu posso começar, se preferir. – O sorriso sumiu; ele obviamente se perguntava se eu era mentalmente competente.

    – Não – eu disse, corando. – Eu começo.

    Eu estava me exibindo, só um pouco. Já tinha feito essa experiência e sabia o que procurar. Deveria ser fácil. Coloquei a primeira lâmina no lugar sob o microscópio e ajustei-o rapidamente para a objetiva de 40X. Estudei a lâmina por alguns instantes.

    Minha avaliação foi confiante.

    – Prófase.

    – Importa-se se eu olhar? – perguntou ele enquanto eu começava a retirar a lâmina. Sua mão pegou a minha, para me deter, quando fez a pergunta.

    Seus dedos eram frios como gelo, como se ele os tivesse enfiado numa bola de neve antes da aula. Mas não foi por isso que puxei a mão rapidamente. Quando ele me tocou, minha mão foi atingida como se uma corrente elétrica tivesse passado entre nós.

    – Desculpe – murmurou ele, recuando a mão de imediato. Mas continuou a pegar o microscópio. Eu o observei, ainda meio tonto, enquanto ele examinava a lâmina por um tempo ainda mais curto do que eu fizera.

    – Prófase – concordou, escrevendo numa letra elegante no primeiro espaço de nossa folha de respostas. Ele trocou rapidamente a primeira lâmina pela segunda, depois a observou com curiosidade. – Anáfase – murmurou, escrevendo enquanto falava.

    Meu tom de voz foi indiferente.

    – Posso?

    Ele deu um sorriso malicioso e empurrou o microscópio para mim. Olhei ansiosamente pela ocular, só para ficar decepcionado. Mas que droga, ele tinha razão.

    – Lâmina três? – Estendi a mão sem olhar para ele.

    Ele me passou a lâmina; parecia que estava tendo o cuidado de não tocar a minha pele de novo.

    Dei a olhada mais fugaz que pude.

    – Intérfase. – Passei-lhe o microscópio antes que ele pudesse pedir. Ele deu uma espiada rápida e depois escreveu. Eu teria escrito enquanto ele olhava, mas a letra clara e elegante dele me intimidava. Não queria estragar a página com meu garrancho malfeito.

    Nós terminamos antes que qualquer um chegasse perto disso. Eu podia ver Mike e o parceiro dele comparando sem parar duas lâminas, e outro grupo tinha o livro aberto sob a carteira.

    Assim, não me restava nada a fazer a não ser tentar não olhar para ele… Sem sucesso. Olhei para cima. E ele estava me encarando, com aquela mesma expressão inexplicável de frustração nos olhos. De repente identifiquei aquela diferença sutil em seu rosto.

    – Você usa lentes de contato? – soltei sem pensar. Ele pareceu confuso com minha pergunta inesperada.

    – Não.

    – Ah – murmurei. – Pensei ver alguma coisa diferente nos seus olhos.

    Ele deu de ombros e desviou o rosto.

    Na verdade, eu tinha certeza de que havia algo diferente. Lembrava-me nitidamente da cor preta dos olhos dele na última vez em que ele olhou para mim – a cor se destacava contra o fundo de sua pele clara e o cabelo castanho-avermelhado. Hoje, os olhos dele eram de uma cor completamente diferente: um ocre estranho, mais escuro do que caramelo, mas com o mesmo tom dourado. Eu não entendia como podia ser assim, a não ser que, por algum motivo, ele estivesse mentindo sobre as lentes de contato. Ou talvez Forks estivesse me deixando louco, no sentido literal do termo.

    Olhei para baixo. As mãos dele estavam fechadas com força de novo.

    O Sr. Banner veio à nossa mesa, para ver por que não estávamos trabalhando. Olhou por sobre nossos ombros e viu o trabalho concluído, e depois olhou mais intensamente para verificar as respostas.

    – Então, Edward, não acha que Andrew devia ter a chance de usar o microscópio? – perguntou o Sr. Banner.

    – Andy – corrigiu Edward automaticamente. – Na verdade, ele identificou três das cinco lâminas.

    O Sr. Banner agora olhava para mim; sua expressão era cética.

    – Já fez essa experiência de laboratório antes? – perguntou ele. Eu sorri, timidamente.

    – Não com raiz de cebola.

    – Blástula de linguado?

    – Foi.

    O Sr. Banner assentiu.

    – Você estava em algum curso avançado em Phoenix?

    – Estava.

    – Bem – disse ele depois de um momento. – Acho que é bom que os dois sejam parceiros de laboratório. – Ele murmurou mais alguma coisa ao se afastar. Depois que saiu, comecei a rabiscar de novo no meu caderno.

    – Que chato aquela neve, não é? – perguntou Edward. Tive a sensação de que ele estava se obrigando a bater um papinho comigo. A paranóia me dominou de novo. Era como se ele tivesse ouvido minha conversa com Jessica no almoço e tentasse provar que eu estava errado.

    – Na verdade não – respondi com sinceridade, em vez de fingir ser normal como todos os outros. Eu ainda tentava me livrar da sensação idiota de desconfiança e não conseguia me concentrar.

    – Você não gosta do frio. – Não era uma pergunta.

    – Nem da umidade.

    – Forks deve ser um lugar difícil para você morar – refletiu ele.

    – Nem faz idéia – murmurei melancolicamente.

    Ele pareceu fascinado com o que eu disse, por algum motivo que eu não conseguia entender. Seu rosto era uma distração tal que tentei não olhar para ele mais do que a cortesia me exigia.

    – Então por que veio para cá?

    Ninguém tinha me perguntado isso – não da forma direta como ele fez, exigente.

    – É… complicado.

    – Acho que posso agüentar – pressionou ele.

    Fiquei mudo por um longo momento, e depois cometi o erro de encontrar o olhar dele. Seus olhos dourado-escuros me confundiam e respondi sem pensar.

    – Minha mãe se casou de novo – eu disse.

    – Isso não parece tão complexo – discordou ele, mas de repente ficou simpático. – Quando foi que aconteceu?

    – Em setembro. – Minha voz parecia triste, até para mim.

    – E você não gosta dele – supôs Edward, o tom de voz ainda gentil.

    – Não, o Phil é legal. Novo demais, talvez, mas é bem legal.

    – Por que não ficou com eles?

    Eu não conseguia entender o interesse dele, mas Edward continuava a me fitar com os olhos penetrantes, como se a história insípida de minha vida fosse algo de importância crucial.

    – Phil viaja muito. Ganha a vida jogando bola. – Dei um meio sorriso.

    – Eu conheço? – perguntou ele, sorrindo em resposta.

    – Provavelmente não. Ele não joga bem. É da segunda divisão. Ele se muda muito.

    – E sua mãe mandou você para cá para poder viajar com ele. – Ele disse isso como uma suposição de novo, e não como uma pergunta.

    Meu queixo se elevou um pouquinho.

    – Não, ela não me mandou para cá. Eu quis vir. As sobrancelhas dele se uniram.

    – Não entendo – admitiu ele, e parecia desnecessariamente frustrado com este fato.

    Suspirei. Por que estava explicando isso? Ele continuava a me encarar com uma curiosidade evidente.

    – Ela ficou comigo no começo, mas sentia falta dele. Isso a deixava infeliz… Então cheguei à conclusão de que estava na hora de passar algum tempo de verdade com Charlie. – Minha voz estava mal-humorada quando terminei.

    – Mas agora é você que está infeliz – assinalou ele.

    – E? – eu o desafiei.

    – Isso não parece justo. – Ele deu de ombros, mas seus olhos ainda eram intensos.

    Eu ri sem nenhum humor.

    – Ninguém te contou ainda? A vida não é justa.

    – Acho que já ouvi isso em algum lugar – concordou ele secamente.

    – E então é isso – insisti, perguntando-me por que ele ainda me encarava daquele jeito.

    Ele passou a me olhar como quem me avaliava.

    – Está fazendo um belo papel – disse ele devagar. – Mas aposto que está sofrendo mais do que deixa transparecer.

    Dei um sorriso duro para ele, resistindo ao impulso de dar a língua como um menino de 5 anos, e desviei os olhos.

    – Estou errado? Tentei ignorá-lo.

    – Acho que não – murmurou ele, presunçoso.

    – Por que isso interessa a você? – perguntei, irritado. Mantive os olhos longe dele, observando o professor fazer sua ronda.

    – Boa pergunta – murmurou ele, tão baixinho que me perguntei se estava falando consigo mesmo. Mas depois de alguns segundos de silêncio, concluí que era a única resposta que eu teria.

    Eu suspirei, fechando a cara para o quadro-negro.

    – Estou irritando você? – perguntou ele. Parecia cismado. Olhei para ele sem pensar… e disse a verdade novamente.

    – Não exatamente. Estou mais irritado é comigo mesmo. É tão fácil ler minha expressão… Minha mãe sempre me chama de livro aberto. – Franzi a testa.

    – Pelo contrário, acho você muito difícil de ler. – Apesar de tudo o que eu falei e tudo o que ele adivinhou, Edward parecia sincero ao dizer isso.

    – Então você não deve ser um bom leitor – respondi.

    – Em geral sou. – Ele deu um sorriso largo, mostrando dentes perfeitos e ultrabrancos.

    O Sr. Banner então chamou a turma e eu me virei aliviado para ouvir. Nem acreditava que tinha acabado de explicar minha triste vida a esse garoto esquisito e lindo que podia ou não me desprezar. Ele parecia absorto em nossa conversa, mas agora eu podia ver, pelo canto do olho, que ele estava se afastando de mim de novo, as mãos agarradas na beira da mesa com uma tensão evidente.

    Tentei parecer atento enquanto o Sr. Banner ilustrava, com transparências do projetor do alto, o que eu vira sem nenhuma dificuldade ao microscópio. Mas meus pensamentos eram incontroláveis.

    Quando o sinal finalmente tocou, Edward correu com a maior rapidez e elegância da sala, como fizera na segunda-feira anterior. E, como naquela segunda, fiquei olhando para ele, atônito.

    Mike pulou rapidamente para o meu lado e pegou meus livros. Eu o imaginei com um rabo abanando.

    – Foi horrível – resmungou ele. – Todas elas pareciam exatamente as mesmas. Você tem sorte por ter o Cullen como parceiro.

    – Não tive nenhum problema com elas – eu disse, magoado com o que ele supunha de mim. E me arrependi imediatamente da reprimenda.

    – Mas já fiz essa experiência de laboratório – acrescentei antes que ele pudesse se magoar.

    – O Cullen pareceu bem simpático hoje – comentou ele enquanto vestíamos as capas de chuva. Mike não parecia satisfeito com isso.

    Tentei aparentar indiferença.

    – Nem imagino o que aconteceu com ele na segunda passada.

    Eu não conseguia me concentrar na tagarelice de Mike enquanto íamos para o ginásio, e a aula de educação física também não conseguiu prender minha atenção. Mike hoje era do meu time. Ele cobriu minhas posições, além das dele mesmo, então minha desatenção só foi interrompida quando era minha vez de sacar. Meu time se abaixava cautelosamente sempre que eu dava o saque.

    A chuva era apenas uma névoa quando fui para o estacionamento, mas eu estava mais feliz ao entrar na cabine seca do carro. Coloquei o aquecedor para funcionar, pela primeira vez sem me importar com o rugido enlouquecedor do motor.

    Olhei em volta para me certificar de que podia sair. Foi aí que percebi a figura imóvel e branca. Edward Cullen estava encostado na porta da frente do Volvo, a três carros de mim, e olhava intensamente na minha direção. Desviei os olhos rapidamente e engatei a ré, quase batendo num Toyota Corolla enferrujado na minha pressa. Para sorte do Toyota, pisei no freio a tempo. Era o tipo de carro que minha picape transformaria em sucata. Respirei fundo, ainda olhando para o outro lado, e cautelosamente dei a ré de novo, com maior sucesso. Fiquei olhando para a frente ao passar pelo Volvo mas, pela visão periférica, eu podia jurar que ele estava sorrindo.

    


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Notas finais do capítulo

Espero q tenham gostado, reviews são bem-vindas.



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