Vitor e Lia chegaram no apartamento dela fazendo Raquel imediatamente perceber que havia algo muito errado. Lia ainda estava com expressão de pânico e Vitor, abraçando ela, tentando passar um pouco de calma.

- O que foi que aconteceu? – Disse Raquel, se levantando do sofá. Tatá, que estava junto, ficou assustada.
- Ela foi assaltada, Raquel. – Vitor falou, enquanto Raquel examinava se a filha estava machucada.
- Como assim!? Você foi pelo caminho perigoso, não foi? Lia, eu te falei pra ir pelo outro!
- Raquel, eu consegui parar o cara... Eu tenho certeza que ela aprendeu a lição de vai deixar de ser cabeça dura nessas horas.
- Sim, é verdade. – Disse Lia, sendo abraçada por Tatá. – Calma, pequena... Vou ficar bem.
- Vitor, obrigada por tudo, mas eu tenho que ter uma conversa séria com a Lia. – Disse Raquel.
- Desculpa, Doutora, mas eu só saio daqui se você me prometer não dar bronca nela.

- Como é que é?
- Doutora... Esse cara... Ele poderia ter machucado sua filha pra valer... – Disse Vitor, fazendo Tatá chorar um pouco. – Desculpa, mas ela tá assustada ainda. Não é hora pra isso. – Raquel entendeu o que Vitor quis dizer, pelo olhar. – Desculpa falar assim. Mas, por favor, seja paciente. Eu tenho certeza que a Lia ficou assustada o bastante pra não fazer besteiras assim tão cedo, tô certo? – Ele perguntou à Lia.
- Eu juro, mãe. – Disse Lia, já sabendo que a estratégia de chamar Raquel de mãe poderia funcionar.
- Tudo bem... Pode ir, Vitor. Vou fazer uma janta pra ela e não toco mais no assunto, a não ser que ela queira falar.
- Sabia que você entenderia. – Disse ele, sorrindo. - Bom, eu tenho que ir.
- Vitor, eu não tenho nem como te agradecer...
- Eu queria era ter pego aquele desgraçado. Qualquer um teria feito o mesmo no meu lugar, Lia.
- Não tenho tanta certeza. – Ela disse. – Obrigada.
- Obrigada mesmo, Vitor. – Disse Raquel.

Vitor se preparou para o último dia de aula, que seria na segunda-feira daquela semana, e tratou de chegar bem cedo para ver se conseguiria falar com Lia, ver se ela estava bem depois de tudo que havia acontecido. Estranhou quando Ju e Gil chegaram sozinhos.

- Oi Vitor! – Chamou Ju. – A Lia me contou o que aconteceu. Você salvou ela. – Ju sorriu.
- É verdade, cara. Obrigado.
- Fala sério. – Disse Vitor. – Qualquer um faria o mesmo no meu lugar.
- Não tenho tanta certeza. – Disse Ju.
- Mas... Cadê a Lia? Ela não vem sempre com vocês? – Perguntou Vitor.
- Sim, ela vem... Mas você não sabe?
- Pô, dessa até eu sei! – Disse Gil, deixando Vitor sem entender nada.
- Ah, Vitor... A Lia odeia últimos dias de aula. Desde a primeira série, quando ela teve que dar tchau pra vários coleguinhas. Ela tem um certo pavor de despedidas...
- Sério? Queria ver como ela estava...
- Eu visitei ela antes da aula... Tava dormindo como uma pedra. – Disse Ju, rindo. – Acho que ela melhorou.
- Que bom. Ela vai na viagem, né?
- Claro. Ela não perderia neve por nada. – Disse Gil.

No dia da viagem, Sal fez questão de levar todos como sempre, mas antes pediu para descer até a garagem de Orelha com Vitor. No lugar das vagas do apartamento de Orelha, só constava uma moto exatamente igual a que Vitor tinha, só que parecia nova.

- Eu não quero isso, Sal. – Disse Vitor, dando meia volta e sendo parado pelo irmão.
- É um presente de formatura. Da senhora sua mãe.
- O que? Ela vai me “deixar” andar de moto de novo?
- Sim. Ela vai. Eu convenci. Pedi pra ela confiar no filho dela e foi simples assim. Vitor, eu sei que essa minha vinda pro Rio te trouxe alguns problemas mas isso não existe mais. Eu te amo, irmão. E eu quero ver você com a Lia, dando muitas voltas nessa moto por aí. Porque eu sei que vocês tem que ficar juntos, como eu tenho que ficar com a Lu.
- Você tá apaixonado, né Sal? Pra falar assim.
- Talvez... Um pouquinho. – Ele sorriu. – Essa viagem de vocês é sua oportunidade de arrumar as coisas, moleque. Não desperdiça.
- Vou tentar meu melhor.
- Acho bom. – Disse Sal, abraçando o irmão.

Sal, Orelha, Morgana e Vitor se encaminharam para o aeroporto, onde encontraram toda a turma já esperando, ansiosos. Fatinha usava um casaco enorme e protetores de ouvido rosa, nada discretos.

- Hola, amigos!!
- Fatinha, você é uma figura. – Disse Vitor. Ele ergueu a cabeça para ver se achava Lia, que estava com Ju e Gil olhando pela janela panorâmica que dava para as pistas de voo. Lia acabou olhando pra trás e vendo que Orelha já estava por ali e decidiu ir até eles, a fim de falar com Vitor.
- Oi, pessoal. – Ela disse, olhando para Vitor.
- Você tá melhor? – Ele perguntou.
- Sim, graças à você. – Ela sorriu.
- Caraca, olha o tamanho desse avião, meu Deus! – Disse Orelha, arrastando Vitor até a janela gigante.

Depois de todos fazerem check-in, Vitor, Orelha e Morgana foram entrando primeiro no avião, que era um especial apenas para excursões de turmas do Quadrante de todo o país e faria diversas escalas. O avião era dividido em duas fileiras de três poltronas cada. Orelha acabou sentando com Morgana e Fera enquanto Vitor sentou na poltrona do meio, bem em frente à dele. Kika chegou logo depois, lendo o bilhete e percebendo que seu lugar era do lado de Vitor, no corredor.

- Que sorte. – Ela disse, piscando pra ele e o deixando totalmente desconfortável. Ao longe, Fatinha e Lia iam entrando no avião, quando perceberam quem sentou do lado de Vitor.
- O que essa fofa tá fazendo ali? – Perguntou Lia, cochichando para Fatinha.
- Ahh, que abuso. Isso não vai ficar assim, pode ficar calminha. – Disse Fatinha, enquanto Lia sentava, raivosa, em sua poltrona, bem distante do fim do avião, junto de Ju.
- Com licença. – Disse Fatinha, passando por cima de Kika sem nenhum cuidado e sentando na janela, ao lado de Vitor. Vitor suspirou pra ela, em agradecimento.
- Fatinha, acho que meu lugar é aí. – Disse Guga, apontando pra onde ela sentava.
- Eu acho que não. – Disse Vitor, olhando pra ele com um sorriso ironico.
- É, lindinho, vai lá com teus amiguinhos. – Disse Fatinha.

Lia deu uma última espiada pra trás, dando um olhar de repreensão para Vitor, sem conseguir disfarçar seus ciúmes, já que Kika havia deixado suas intenções bem claras mais de uma vez. Vitor sorriu assim que Lia virou, achando graça do ciúme nada disfarçado. É... Seria uma longa viagem.