Más Intenções - Litor escrita por Mari W


Capítulo 34
Capítulo 34 - Antes de Você Acordar


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, o capítulo anterior foi só mudado de nome pra não ficar tanto 'acordar' em caps seguidos. Espero que gostem desse, até mais!



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No dia seguinte, Lia não se contentou com notícias pelo celular e foi novamente ao hospital, matando aula. Raquel nem se incomodou de passar sermão na filha, apenas falou que não tinha mais com o que se preocupar. Decidiu dar um pulo no quarto dele quando foi informada de que o sono dele estava pesado. 

Se aproximou da cama. Percebeu que os lábios dele já estavam menos inchados e a palidez em sua pele parecia ter ido embora quase que completamente. Quando Vitor se mexeu e ameaçou acordar, Lia saiu às pressas, esbarrando no pai, pelo corredor. Ele, por sua vez, estava dando informações à um rapaz.

- Desculpa, pai. - Disse Lia.

- Tudo bem. Você devia estar na aula. - Lorenzo disse, olhando feio para a filha.

- Eu sei, pai. Não me diga. - Disse Lia, fazendo o rapaz que pedia informações rir, fazendo Lorenzo lembrar do que estava fazendo anteriormente.

- Desculpe. Então, segue o corredor até o fim e dobra à esquerda. Quarto 601.

- Quem é você? - Disse Lia, se dirigindo ao rapaz. - Veio ver o Vitor?

- Sim, sim... Sou o Sal, irmão dele. E você é...?

Aquele era o famoso Sal. Fazia jus à imagem de certinho que Vitor tinha o dado. Era bonito, mas não como o irmão. Parecia certinho, bem sucedido, bom moço, usava roupas aparentemente caras e novas. Lia estava certa de que Sal comentaria com Vitor sobre sua visita, mas não havia muito para onde ir.

- Lia. Uma colega dele. - Disse ela.

- Tá certo, prazer. - Disse Sal, sorrindo para Lia e cumprimentando Lorenzo, em agradecimento.

- Ó, esse daí até parece decente.

- Para, pai. - Disse Lia, revirando os olhos para Lorenzo.

- Filha, vai pra casa. Qualquer coisa a gente avisa. Vai ocupar sua cabeça.

Lia seguiu o último conselho do pai. Ocupar a cabeça. Mas nem a guitarra foi capaz de ajudar ela nisso. Não era nem no fundo que ela se culpava pelo acidente, era bem na superfície. Começou a remoer as últimas palavras que dirigiu à ele. Mas se Vitor ligava tão pouco para os sentimentos dela, ele ligaria pro que ela pensava dele?

Vitor abria os olhos lentamente mais uma vez, acompanhado de uma dor de cabeça forte. Demorou para acreditar que seu irmão estava sentado do lado de sua cama, com um sorriso no rosto.

- Ei, cara. - Disse Vitor, sendo o mais animado na medida do possível.

- Como você tá, mano? 

- Tô melhorando.

- A senhora nossa mãe só se aquietou quando eu prometi que iria vir te ver, ela anda meio mal de saúde e era o único jeito de manter ela parada.

- Mas ela já sabe que eu tô fora de risco?

- Sabe, mas você conhece ela... Tranquei a faculdade pra vir.

- Você tá maluco! Não pode fazer isso. É fim de semestre ainda.

- Calma, calma. Tá  tudo ganho. Vou perder umas provas mas não ligo, não. Queria dar um tempinho mesmo, tá muito puxado. 

- Só tá falando isso pra eu me sentir melhor. - Disse Vitor.

- Tá louco, moleque. Vim aqui porque sempre quis ser o solteiro no Rio de Janeiro.

- Tá bom, agora tá parecendo mais verídico. - Os dois riram.

- Mas uma coisa que eu não entendi. Porque você tá na casa da tia Rosa? Se podia descolar um apartamento maneiro, ficar sozinho, do jeito que você curte.

- Você sabe muito bem que eu não gosto de depender da nossa mãe pra essas coisas.

- E você me julga por depender? - Questionou Sal.

- Claro que não, né. É só meu jeito. Só quero ver como vou arranjar uma moto nova, aquela virou latão.

- Nem pensar em andar de moto tão cedo, rapaz. - Vitor lançou um olhar repressor pro irmão. - Sério mesmo. - Continuou Sal. - Podemos dividir um carro enquanto eu tô por aqui ou arranjar o seu mesmo, facinho.

- Você não tá me ouvindo mesmo, né?

- Para de ser orgulhoso, rapá. - Disse Sal, rindo. - Desse jeito, estudante de ensino médio independente, vai conseguir no máximo uma bicicleta.

Fatinha entrou no quarto fazendo um básico escândalo, chorando e passando a mão no rosto de Vitor, que reclamava de dor.

- Calma Fatinha, calma! - Disse Vitor. - Só não encosta muito. - Disse ele, tentando fazer a amiga parar.

- Ai, desculpa! Como você tá, porque sua perna tá assim?? - Disse ela, olhando pra perna suspensa e chorando mais ainda. Sal estava assustado com ela, não sabia se ria ou se levava a sério. - Ai, meu Deus, vou desmaiar. - Fatinha botou a mão na testa, como se medisse a febre.

- Pra ver se vai desmaiar, tem que checar a pressão. - Disse Sal, fazendo Fatinha enfim perceber a presença dele. Ele sorria pela obviedade do que tinha dito.

- Vem cá, quem é você? - Disse Fatinha, tirando ele e esquecendo do choro.

- Sou o Sal. - Disse Sal, pegando a mão de Fatinha e beijando. - Prazer.

- Prazer. - Disse Fatinha. - Mas vamos parar por aqui, né, sabe-tudo. - Fatinha voltou-se para Vitor. - Tá melhor??

- Sim, Fatinha, tô bem. Mas vou ficar melhor ainda logo. Ainda sinto dores, mas é só quando respiro. - Ele deu um riso fraco. - Que bom que veio me visitar.

- É claro, né. E olha, hoje eu até copiei as coisas do quadro porque sei que você é nerd e quer ter tudo no caderno. - Ele riu enquanto ela botava os livros na cabeceira do quarto.

- Obrigada, linda. - Respondeu Vitor. 

- Bom, já que tá acompanhado eu vou indo nessa...

- Pode ficar, eu vou dar uma volta. - Disse Sal, pegando o casaco e sorrindo pros dois. Logo que Sal estava a uma distância razoável, Fatinha voltou a atenção à Vitor.

- Gato, ein. Mas bem metido. 

- Nada a ver, Fatinha... Ele faz medicina, ele só te corrigiu, normal.

- Ah, faz Medicina, é? Deve se achar!

- Fatinha, você tá falando do meu irmão... 

- Ai, eu sei, desculpa, anjo. Se é seu irmão deve ser gente boa. - Disse Fatinha, pegando na mão de Vitor, que recebia soro. - Eu odeio te ver assim, sabia? Tão frágil. Cade aquele motoqueiro grosso e pegador? - Brincou ela.

- Tombou num carro enquanto esqueceu de frear. 

Fatinha ficou algum tempo com Vitor até que Sal voltou e ela se retirou. Os dois se atualizaram sobre as novidades, Sal reclamava que Vitor não dava sinais de vida e ele justificava apenas dizendo que era o jeito dele. Sal fez questão de passar a noite no hospital com o irmão, mesmo Vitor insistindo para ele voltar para o hotel em que estava hospedado.

- Ah, esqueci de dizer uma coisa. - Lembrou Sal.

- O que?

- Outra garota veio te visitar hoje, de manhã. 

- Quem? - Disse Vitor, com o coração acelerando a cada segundo que esperava pela resposta.

- Não lembro bem o nome, você sabe que eu sou esquecido. Mas era uma roqueirinha, beeem gata.

- Lia. - Disse Vitor, entre os dentes, respirando lentamente.

- Isso! Lia, isso. Mas não entendi, ela veio quando você tava dormindo, nem esperou. 

- É, eu sei exatamente o porque.

Vitor mal dormiu novamente, devido à suas dores e à esperança de que Lia viria em algum momento em que ela achava que ele estaria dormindo, e acertou no palpite. Lia analisou a melhor hora para dar uma escapada de casa pela madrugada para poder ver Vitor em algum momento de descanso. Pegou um táxi pelas 3h da manhã e foi. Pela manhã seria complicado demais, teria aula e só se liberaria em um provável horário que Vitor estaria acordado. Só queria dar uma olhada nele. Peso na consciência? Nem ela sabia.

Entrou no quarto abrindo a porta devagar, num tentativa que fazer o menor ruído possível. A porta silenciosa a ajudou e mal se ouvia algo. Sal ainda dormia de boca aberta na cama improvisada em um sofá no canto do quarto e Vitor parecia estar dopado. Começou a reparar com mais calma nos seus hematomas e na perna danificada. No fundo agradecia por algo pior não ter acontecido. Era horrível o pensamento de que ele pudesse ter ficado tão irritado com o que ela disse, que acabou ficando maluco na estrada. Logo ele, que tomava tanto cuidado e odiava andar de moto em dias chuvosos. Ficou o observando por longos 10 minutos, quando virou-se para a porta e ouviu uma voz rouca sussurrar seu nome.

- Lia. - Ela sabia que ao se virar, daria de cara com Vitor acordado. O plano deu errado.


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