Fatinha entrou batendo a porta do banheiro e sorrindo, sem nem olhar Lia nos olhos, que lavava as mãos. Conferiu se seu batom estava borrado, como desculpa pra parar do lado de Lia. - E aí roqueira.

- Oi. - Disse Lia, irritadíssima.

- Nossa, que mau humor. Tudo isso é porque eu tô pegando o seu amigo com benefícios? - Lia fuzilou Fatinha com os olhos. As duas se encaravam, porém Fatinha só sorria e mantinha o ar de superioridade. - É difícil saber que ele é também meu amigo com benefícios, né?

- Cala a boca, Fatinha. 

- Mas me diz, você já testou ele na cama? É ótimo, né? - Lia a olhava incrédula. Ela realmente estava falando aquilo?

- Meu Deus, vocês realmente fazem um ótimo casal. Nenhum dos dois presta. - Respondeu Lia.

- Ai, Lia. A gente junto só presta. - Provocou ela.

Lia não respondeu, apenas foi pra sala, irritada. Chegou lá e Vitor a cumprimentou normalmente, sem ela dar resposta. Pelo meio da aula, Vitor fez a clássica tentativa de jogar o lápis no chão, para parecer que caiu, porém Lia fingiu que não viu. Vitor cutucou ela, que se virou mais irritada ainda.

- Pode me alcançar, princesa? - Provocou Vitor. Lia pegou o lápis e o botou com raiva na mesa de Vitor. 

- O que houve? - Cochichou ele.

- Nada. - Disse Lia, ríspida, virando pra frente.

 Vitor olhou pra Fatinha, que piscou pra ele. Não pode evitar o riso, achava lindo quando Lia ficava brabinha. No intervalo, Lia saiu primeiro que todos, apressada. Ju a encontrou no pátio e ela escondeu o motivo de estar tão irritada. Vitor achou as duas e foi falar com Lia.

- E aí, tudo bem garotas? Difícil essa matéria de hoje ein.

- É verdade, quero ver só! - Disse Ju. Lia só olhava pro lado, fingindo estar entediada.

- Lia, eu posso falar com você em particular?

- Não. - Disse Lia.

- Ok, então eu falo aqui mesmo. Você tá naqueles dias em que as mulheres ficam chatas?

- Vai se catar, garoto.

- Nossa! O que eu te fiz? - Se fez de desentendido.

- Opa, gato. Não posso nem te soltar, né. - Chegou Fatinha, Vitor a abraçou pela cintura e deu um beijo nela. Ju estranhou a cena, enquanto Lia revirava os olhos e saia dali.

- Nossa, não sei. - Disse Ju. - Vou ir atrás dela, gente. Até mais. - Ju saiu, deixando os dois sozinhos.

- Vitor, ela tá virada no ciúme. - Disse Fatinha.

- Você acha? 

- Eu tenho certeza. É bom que você saiba tirar vantagem dessa nossa brincadeirinha, viu.

- Pode deixar.

Durante o trabalho na clínica, Vitor tentou evitar Luana. Não estava querendo ter mais nada com ela além de amizade. Tirou os pontos do machucado na sobrancelha e estava melhor das marcas que Bruno deixou. Hoje ele precisava pensar, então se programou de ir até o Jardim Secreto. Lia estava olhando pela janela, pensativa. Não entendia como , de um dia pra outro, parecia que o ciúmes dela em relação com Vitor havia aumentado. Ou o problema era a Fatinha. Conseguiu ver Vitor passar e suspirou aliviada ao ver que ele não parou no hostel. Não aguentaria ver ele com Fatinha tantas vezes em um dia só. Viu que ele se dirigia em direção ao Jardim Secreto e decidiu passar lá, sem nada planejado pra dizer. Viu Vitor ao longe, sentado em uma cadeira escrevendo coisas em algum caderno e chegou batendo na porta inexistente da casa de vidro.

- Posso entrar? 

- Oi, Lia! - Disse Vitor, a recepcionando com um sorriso. Ele levantou e a abraçou. 

- O que te traz aqui? Tá tudo bem?

- Sim, sim. Queria pedir desculpas por hoje.

- Tudo bem. É só isso.

- Não.

Lia tentou beijar Vitor, que retirou forças de onde nem ele sabia, pra impedir.

- O que você tá fazendo? - Lia não respondeu. Estava surpresa pela reação de Vitor. - Lia, eu tô tentando ficar sério com alguém.

- Com a Fatinha?? 

- Sim. Você mesma disse que eu não tomo jeito. Quem sabe não é hora.

- Você me pediu em namoro, eu neguei e você vai pra segunda opção?

- Lia, não é isso, tá? Eu tô tentando. Como ia tentar com você. Vocês duas são as únicas garotas que eu teria algo sério.

- Você falou que eu era a única! - Gritou Lia.

- Porque isso te importa tanto? Você me disse "não". - Continuou Vitor, calmamente. - Olha, eu quero ter algo sério com alguém, porque eu mudei. Você não quis. Eu vou tentar com ela. Se não der certo, não deu. 

- Você vai dizer que tá gostando dela também? - Vitor não respondeu. - Tá ótimo, Vitor. Faz o que você quiser! - Disse Lia, saindo do Jardim Secreto. Era cedo ainda, então ela foi no Misturama sozinha, tocar com Gil e Nando. Enquanto tocava, viu Vitor parando sua moto entre o Hostel e o apartamento dela. Seu coração acelerou, na esperança de que ele estivesse indo procurá-la, mas Vitor acabou entrando no Hostel.

- E aí, linda. - Disse Vitor, dando um beijo no rosto de Fatinha, que virou bem na hora, dando um selinho no motoqueiro, que de primeira ficou surpreso novamente.

- Não olha pro lado, mas a Lia tá no Misturama. Vamos continuar o joguinho.

- Ah, ok... Certo. O mané tá por aí?

- Não, o Dinho saiu.

- A Lia realmente caiu no nosso lance.

- Sério?? Conta tudo!

- Ela foi me procurar agora, tentou me beijar e eu falei que estava tentando ter algo sério com você, que precisava parar de ficar com outras.

- Ai, Meu Deus, isso é genial! Parando de ser trouxa, ein.

- Obrigada, Fatinha. - Ironizou ele. - Ela ficou com muita raiva disso.

- Que amor, ela tá com ciuminho. E vai ficar com mais.

- Qual o plano?

- Nenhum por enquanto. Amanhã só vem me buscar aqui pra ir pra aula, vou na sua garupa.

- Tudo bem. Vou ir nessa. - Despediu-se ele, dando um selinho em Fatinha. - Você é a melhor das melhores. 

Lia observava tudo que acontecia dentro do Hostel com tanta raiva que achava que poderia sair daquele palco e ir socar os dois. Subiu no seu prédio e decidiu tocar no apartamento de Ju, precisava desabafar tudo que estava preso. Deu de cara com Bruno.

- Oi, Lia. - Disse Bruno, sem encarar ela nos olhos, envergonhado pelo seu ato na semana.

- Oi. - Disse Lia, sem dar muita bola pra ele, indo direto pro quarto de Ju. 

- E aí, Lia! Que houve? Você tá com uma cara...

- Ai, Ju.Ferrou.

- Ih... Fala tudo.

- Então. Como eu te falei, o Vitor me pediu em namoro e eu recusei mas... Agora ver ele com a Fatinha... Cara, isso tá me matando.

- Lia, você gosta dele, né?

- Sei lá!

- Como assim?

- Eu sempre, sei lá, ficava nervosa perto dele, disfarçava bem até... Mas esse ciúme tá me fazendo ver que... Sério. Eu imagino o tempo todo, ele com ela, é horrível, é tortura. - Lia soltou uma lágrima e Ju estava surpresa por ver a amiga se abrir assim. - Eu não quero sentir isso, eu não quero.

- Lia! Fala isso pra ele.

- Não, não dá! Ele tá querendo coisa séria com ela, como quis comigo. Acho que nenhuma das duas significa algo pra ele, sabe? Eu não sei o que pensar. Eu tenho que ficar na minha.

- Olha, Lia. Do jeito que você tá, você vai acabar falando quando menos esperar. Você vai explodir ainda. Não faz bem guardar isso.

- Nada disso, Ju. Eu não vou falar nada, vou me aguentar. Isso deve ser só ego ferido, não pode ser nada demais.