Ainda não existiam os mares ou as estrelas que vemos no céu noturno. Pelo menos não como as vemos. O planeta estava apenas se formando em um sistema solar recém-nascido, mas Deus tinha grandes planos para ele. Aquilo prometia ser grandioso. Deus então começou a criar um rascunho do que queria que ocupasse o planeta. As ideias iniciais resultaram em sua primeira criação, os primeiros seres que caminharam sobre a Terra logo nos primeiros anos de sua existência. E quer saber?

Leviatãs eram um porre.

Criaturas sem capacidade de evolução. O Criador logo se deu conta que eles acabariam por destruir a Terra quando ela enfim estivesse pronta. Então ele criou um lugar paralelo ao planeta e esse lugar mais tarde seria conhecido como Purgatório. Lá, ele trancou todos os Leviatãs. Talvez essa não tenha sido a melhor decisão a se tomar. Os Leviatãs acabaram se tornando criaturas famintas e vingativas. Ao criar essas criaturas Deus colocou nelas uma essência fixa e indestrutível, erro que não voltou a cometer em suas criações seguintes, tornando-as inferiores aos terríveis monstros do Purgatório em matéria de vida e morte.

Talvez esse tenha sido o verdadeiro erro, pois uma vez que os Leviatãs escapassem do Purgatório todo o resto estaria em risco.

O Criador já tinha pensado nisso quando criou a sua seguinte obra. Da mais profunda pureza e esplendor divino, nasceu o primeiro dos arcanjos, aquele que estava destinado a ser o líder do exercito do céu contra qualquer força que ameaçasse os planos divinos. Seu nome era Miguel.

Entretanto foi o segundo dos arcanjos que aparentemente ganhava mais atenção do Criador. No começo de tudo, era inegavelmente o mais querido entre os arcanjos. Se Miguel era determinação, coragem e obediência, Samael era gentileza, inteligência e ideais. O mais admirado e também o mais belo dos céus.

O terceiro arcanjo foi Raphael. Tão inteligente quanto Samael, a diferença era que Raphael tinha um pensamento mais racional e lógico, enquanto o irmão mais velho era dado a detalhes emocionais. Raphael era quieto e centrado. Estudioso. Acabou se tornando conhecedor profundo de todas as ervas que um dia existiria na Terra e criando a cura de todos os tipos de doenças possíveis. Essa seria a missão que ele abraçaria durante longos anos.

Gabriel era a eterna criança do céu. O quarto e ultimo dos arcanjos. Totalmente alheio aos assuntos sérios, Gabriel vivia pregando peças nos irmãos e posteriormente nos anjos, serafins e querubins que iam sendo criados por Deus.

Mas nenhum deles, nem mesmo os arcanjos, chegaram a ocupar a Terra. Ao final da criação dos anjos, Deus já tinha uma nova ideia que demoraria algum tempo para ser aperfeiçoada, mas se tornaria sua criação mais amada. Deus deu aos anjos o reino dos céus. Claro que nenhum dos arcanjos soube a principio dos novos planos de seu pai. Houve um longo e tranquilo tempo até a revelação.

Na verdade... Não foi bem uma revelação.

O céu era um imenso e infinito lugar onde os anjos, serafins e querubins viviam circulando. Havia um grande Castelo de Pedras, lugar onde os quatro príncipes moravam e onde ficava o trono de Deus. Era tão grande que pelo menos uma parte dele era visível de todos os cantos do céu. E um pouco distante do Castelo ficava o "Jardim do Céu" ou o "Jardim da Criação". Era um lugar cercado pelo que havia de mais belo. Tudo havia sido criado ali, tudo desde os primeiros rascunhos de Deus para o universo, até os leviatãs e os anjos. Foi ali que o novo plano Deus simplesmente começou.

Do barro, que continha todos os elementos necessários para a vida, surgiu um homem e uma mulher. Era uma ideia tão perfeita que Deus estava finalmente satisfeito. Chamou o homem de Adam, ele era belo e forte. Tinha olhos incrivelmente transparentes, de um tom castanho. Cabelos escuros. Alto e imponente. Queria que todos os humanos futuros tivessem aquela beleza. Já ela tinha uma pele clara e perolada, tão macia quanto a seda. Ela tinha brilhantes olhos verdes e cabelos prateados suavemente caindo sobre os ombros. Seu nome teria que ser tão belo quanto ela, então a chamou de Lilith.

Deus cuidou deles pessoalmente á principio. Observando-os de perto enquanto as centenas de anos se passava na Terra, claro que no tempo do céu estamos falando de dias. O processo de evolução era lento. Na Terra, os humanos não nasceriam do barro como Adam e Lilith, e sim depois de um demorado processo de evolução.

Para a surpresa imediata dos arcanjos.

Nenhum anjo, arcanjo ou serafim se aproximou do Jardim por muito tempo. Apenas querubins iam lá. Cada um dos Príncipes apresentava uma reação. Raphael estava ansioso para pôr enfim em prática todos os seus estudos. Cada vez que Deus lhes contava sobre os humanos, Raphael preparava novos projetos com suas plantas para que com o tempo, o organismo do ser humano fosse forte o bastante para enfrentar infecções ou vírus. Ele estava pronto para combater qualquer doença do corpo, enquanto Miguel, qualquer 'doença' que chegasse a ferir a alma e a fé da nova criação. O mais velho dos arcanjos estava pronto para espalhar a palavra do seu pai nos corações humanos e guardar a vida de todos, como seu pai queria. Gabriel estava curioso, faminto por detalhes. Paciência não era uma qualidade que Gabriel possuía. Já Samael apenas dava seu silencio.

Então Deus deu inicio ao processo de evolução na Terra. Por seis dias moldou e fez com que tudo caminhasse para a luz, para o futuro tão prometido naquele planeta. Ao final dos seis dias, o Criador mandou Miguel organizar e enviar guarnições que começariam a proteger aquele mundo que começava. Assim foi feito. No sétimo dia Deus merecidamente descansou em seu trono, deixando os Príncipes no comando do céu.

O que Deus não sabia, porém, era que as coisas não iam nada bem no Jardim do Céu, agora chamado de 'Jardim do Éden' por alguns anjos. Lilith e Adam não estavam se entendendo. Lilith era fascinantemente bela. Adam sentia certas sensações que ele desconhecia e o deixavam desconcertado. A medida que começava a desejar Lilith e conhecer sua natureza, Adam tinha certeza de seus instintos e uma bela noite, procurou por sua companheira enquanto ela desfrutava da luz do luar. Lilith no final das contas era perfeita. Adam não pensou duas vezes antes de tentar dominá-la e fazê-la sua. Embora os impulsos de Lilith fossem também muito fortes, ela logo sentiu a necessidade que Adam tinha de fazê-la ceder aos caprichos de seu corpo.

Lilith negou seus beijos e seu toque.

Nunca aceitaria a submissão. Desde ai passou a enfrentar Adam, sem baixar a cabeça para obedecer suas ordens. Qualquer uma que fosse. Adam ficou furioso e pediu a um querubim que fosse chamar o Criador.

Aquele era o começo do fim.