- Legado - escrita por Matheus Gonçalves


Capítulo 1
Garotas más preferem limonada á suco de grapefruit




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– Grapefruit? - Perguntou Sasha Albuquerque á filha de dezessete anos, Michelle. Erguera a jarra de vidro á ela e balançava o seu conteúdo de cor laranja.



Michelle Albuquerque balançou a cabeça. Apertou melhor o cardigã Juicy verde de listras rosas ao seu corpo magro. Estava sentada perto á bancada, de braços cruzados, brincando com os talhares da gaveta enquanto assistia a mãe arrumar a nova cozinha. Michelle parecia bastante tranquila, mas na verdade tentava não começar a se descabelar e ficar jogada no piso de mármore da cozinha, em posição fetal, até que uma boa alma (ou um dos vizinhos) a levasse de volta á sua casa em Novo Hamburgo.


Mas isso seria impossível.

Tudo o que ela sabia sobre Nova Hatzel estava no guia bobo que o pai pegara mais cedo na loja de ferramentas e materiais de construção. Ela nem sabia que o pai sabia manejar um martelo!

No bairro em que ela morava - que tudo indicava ser o melhor - não se ouvia nenhum barulho que indicasse sinal de que pessoas vivas morassem ali. Vez ou outra passavam crianças tocando a sineta de suas bicicletas, mas era só isso. Tudo em Nova Hatzel parecia perfeito de mais, certo de mais, bonitinho de mais. E ela já começava a sentir falta da fumaça preta dos ônibus, colorindo toda a paisagem em um breu sinistro e fedorento.

Michelle foi desperta de seu devaneio quando o irmão, com toda a sua "delicadeza" de um jogador de futebol, descia as escadas fazendo o máximo de barulho possível.

– O café está pronto? - Perguntou Vinicius Albuquerque, o irmão. Passava a mão no cabelo louro bagunçado de tanto dormir. Vestia (como sempre) seu short Adidas verde de treino e estava de pés descalços.

Michelle não deixou de sentir inveja do sono que o irmão conseguira dormir. Na ultima noite, depois que ela ajudou a mãe a abrir as ultimas caixas do seu quarto, ela se atirara na cama macia e ficara acordada até as 03:00 da madrugada, rolando de um lado para o outro na cama enquanto o sono parecia não querer lhe visitar. Ou como se não soubesse que ela havia mudado de endereço.

Assim como o Sedex, que havia enviado os sapatos Alice + Olivia, que ela havia comprado pela internet, para a sua antiga casa.

– Temos suco de grapefruit - Fez a Sra. Albuquerque enquanto agrupava alguns litros de iogurte natural na geladeira sub-zero da cozinha.

– Pelo menos em Novo Hamburgo nós tínhamos uma empregada - piou Michelle, de seu canto.

– Em Novo Hamburgo o seu pai tinha um emprego melhor e sua avó não havia falecido — Rebateu a mãe enquanto servia o copo de Vinicius com o bendito suco de grapefruit.

Ela imaginava se eles iriam beber aquilo o mês inteiro...

Michelle se levantou da banqueta.

Ficou na janela até aparecer um possível sinal de vida.

Até que ela viu uma menina de mais ou menos 15 anos, vendendo alguma coisa no outro lado da rua, estava com um garoto mais velho. (que de longe parecia ser bem bonitinho) Talvez eles fossem irmãos e morassem naquela casa branca de telhado azul onde no gramado montavam uma mesa e colocavam uma daquelas caixas térmicas no chão.

Ela viu o garoto bonitinho pegando alguns red cups e os deixando em cima da mesa. Agora ela estava entendendo tudo. Talvez eles vendessem limonada ou alguma dessas coisas que as garotas roceiras fazem para ganhar um dinheiro extra.

Mas uma limonada ainda era melhor que o suco de grapefruit.

Ah, sim, com toda certeza!





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