Sussurro escrita por Jamie Hermeling


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá!
~finalmente postando alguma coisa aqui no Nyah~
Haha, primeira fic de One Piece, primeira fic yaoi/shonen-ai, primeira tudo! Mas ~não~ peguem leve comigo, se alguém achar defeitos, me informe.Enfim, espero que gostem!



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Nami-swan! Robin-chwan!

Fechei meus olhos. Com muito mais força do que a necessária para tirar apenas um cochilo.

Nami-san! Nami-san! Seu almoço está pronto!

Eu não conseguia explicar.

Mellorine!

O quanto eu odiava isso.

.

Eu já deveria ter me acostumado. Não, não há como se acostumar a tamanha desestrutura mental. Quando você para pra pensar... Mister Prince. Qual é a desse cara?

– Ei, você - a voz debochada veio junto à sombra, e foi isso que de fato me fez abrir os olhos. - Almoço.

– Eu já ouvi - informei, fingindo estar mais sonolento do que realmente estava.

– Se não quiser, melhor ainda - resmungou, afastando-se. - Quem sabe com um prato extra, o Luffy deixa a geladeira a salvo mais tarde.

.

Tsc. Agora, ele fica por aí, a mesma pose de sempre, falta de educação de sempre e essa... Coisa irritante de sempre. Fiquei me perguntando se ele realmente havia esquecido ou se sua dissimulação era suficiente para me olhar hoje com essa cara de nada.

Bem... É melhor assim, também. Não é da minha conta, e eu, primeiramente, é que tenho que fingir que não ouvi nada. Que não tive que aguentar esses choramingos e muito menos a merda qualquer que deu na cabeça dele pra me... Chega. Essa comida também não vai me fazer bem. Se eu apenas voltar a dormir, tudo isso naturalmente vai desaparecer.

Sim, se eu só me apagar... As vozes vão sumir, as luzes vão sumir. É, tudo escuro.

.

Estava quase tudo escuro. A caverna na qual nós encontrávamos só não sucumbia ao negror total por obra de uma fenda alta, no topo de seu teto, que nos dava alguma luz solar. Tínhamos acabado de chegar a uma ilha desconhecida e estranha. Perigosa, segundo Nami, e nem preciso dizer que a animação de Luffy nos arremessou direto pra cá.

Logo - quando, como, e por que diabos eu não sei -, nos encontramos divididos. Eu - que piada - fiquei com o cozinheiro sangrento e Nico Robin.

De imediato, nada aconteceu. Não sentia nenhuma presença, e nós três tentamos descobrir o formato e as medidas daquilo. Não era uma área muito grande, creio que, no máximo, uns quarenta pés, e formava um círculo quase perfeito, por conta da brutalidade das pedras que a compunham.

– Que estranho - Robin disse, e pude sentir sua posição do lado oposto ao que eu estava. - Existem buracos nas paredes dessa caverna. Buracos perfeitamente alinhados.

– Intencionais, então? O que poderia ser? - este é o outro que falta, citar nomes é desnecessário.

Robin não passou da primeira sílaba de sua resposta. Vislumbrei uma sombra grotesca saindo de um dos tais buracos que eu agora também percebia, e antes que eu ou o cozinheiro pudéssemos evitar o golpe, a coisa - que agora se parecia com um galho de árvore - atingiu o braço de Robin, que conseguiu desviar de maiores danos.

– Árvore indecente! Como ousa macular a pele divina da Robin-chan?

Soltei um resmungo automaticamente. Ele não era comumente um idiota nesse sentido, tenho de admitir. Mas ficava inútil quando se desconcentrava por algo tão trivial.

Como o esperado, chutou a caverna, que se desfez de um lado até metade de sua altura, nos revelando nada mais que outra porção de puro breu. O cozinheiro não pestanejou, adentrou com tudo.

Não ouvimos mais som algum. Robin me encarou, como se confirmasse, ela e eu entramos pelo mesmo buraco.

Nem dez segundos foram necessário para que entendéssmos por que o cozinheiro não voltava. Minha visão embaçou, minha cabeça pesou e minha pele toda parecia se desfazer no ar. Ouvi o barulho de Robin caindo antes de mim. Sentia as partículas espaçadas e sem odor do gás corromperem meu corpo, até que ele sucumbisse - meus joelhos dando o sinal de derrota.

Não havia mais fio de luz na caverna. Não havia mais raio de consciência em minha mente.

.

.

Acordei ainda com umas dores leves, nada demais. O céu já estava escuro, haviam nos deixado ao relento, do lado de fora do convés. O cozinheiro estava ao lado, deitado, os olhos abertos mirando em alguma estrela, provavelmente ainda muito infectado para se levantar.

Investiguei. Aparentemente, estávamos sozinhos ali. Achei um recado de Chopper perto do mastro.

"Pessoal, fiquem de repouso até voltarmos! Vocês foram os mais envenenados. Eu já tratei vocês, mas vai demorar um pouco até se recuperarem totalmente. Fomos à Vila procurar mais ervas para terminar o tratamento da Robin. Ela está lá dentro, não deixem que ninguém mexa com ela."

E em baixo, um desenho mal feito do médico sorrindo.

Encarei mais uma vez o cozinheiro, depois o céu, depois o navio. Não estava com sono, muito menos com vontade e explorar aquela ilha de novo.

– Ei, você, quer uma bebida? - falei, antes que o pouco de solidariedade ficasse engasgado na razão.

Ele passou a me encarar, entretanto, sem mudar um centímetro sua postura.

– Quer saber? À merda o repouso.

Dei de ombros e fui até à cozinha buscar as bebidas. Joguei a dele para o alto, por sorte pegou.

Com um mínimo de esforço, conseguiu sentar-se, encostando-se nas madeiras do navio, numa distância decente de mim.

– Eu não queria dizer isso, mas... Ah... - resmungou. - Obrigado.

Ele cuspiu a palavra quase inaudível pelo canto da boca, e eu levantei uma sobrancelha. Seria aquele ainda um efeito do veneno?

– Você cortou a raiz da planta - continuou, agora parecendo mais uma crítica que uma parabenização. - Acho que isso meio que salvou a Robin-chan, então, dessa vez, fico te devendo uma.

De novo o cavalheirismo desmedido, achando que era responsável pela segurança de todas as tripulantes femininas.

– Não preciso cobrar dívida de gente como você - espreguicei-me.

– Ora, seu marimo de merda!

Desisti de responder à provocação. Um chute dele naquele estado não faria sequer meu cabelo se movimentar. Deslizei minimamente, de modo que me fosse mais confortável tirar um cochilo.

– Mas fora isso, você nem é um espadachim dos piores.

Olhei de esguia para ele. Não era do feitio do cozinheiro me elogiar - por aqui, podíamos considerar isso um elogio generoso. Esse tipo de fala não era necessária em nosso meio. Nós não buscávamos elogios nem saudações - nós não éramos heróis. Com certeza ele sabia disso também.

Talvez fosse a noite estrelada demais, talvez o cansaço ou a bebida, o fato é que o cozinheiro parecia exoticamente amargo.

Digo exoticamente porque ele não é do tipo de gente que esconde facetas de sua personalidade.

Apoiou um de seus braços no chão, dessa forma, aproximando-se mais de mim. Ele, no entanto, não me fitava, como eu o fitava. Os olhos fechados e testa enrugada, como se algo complicado ou minimamente doloroso se passasse naquela mente. Voltou a atenção para o brilho inquieto da bebida. Lentamente, tirou um cigarro do maço guardado em seu paletó, acendeu-o e soltou a fumaça em direção à Lua.

– Eu nasci para amar as mulheres, Zoro.

Ele praticamente sussurrava, um fio de voz cortante e poeirento. Eu senti o gelo circundar meu corpo cada vez mais de perto, senti o gelo entrar pela minha garganta e parar minhas reações. Eu só conseguia observar e me comover com a expressão dolorida e o olhar cheio de pesar do cozinheiro.

Ele, de surpresa, encostou sua cabeça em meu peito. Eu suspendi meus braços, fiquei apenas olhando pro topo de sua cabeça, o cabelo loiro se movendo suavemente. Era quente - a sensação - e rápida, se espalhava assustadoramente pelo meu corpo, como um gás conhecidamente perigoso, mas ainda assim interessante o suficiente pra te fazer querer respirar dele até o nariz doer e a cabeça ficar zonza. Movido mais por essa noção suicida e sem lógica e menos por desculpas esfarrapadas - "um pouco de solidariedade não faz mal", "apesar de tudo, ele infelizmente é meu companheiro", "bem, talvez a culpa por ele ter bebido muito seja um pouco minha" - do que eu gostaria, envolvi seu pescoço em meus braços, pressionando-o ainda mais contra o meu peito - me envenenando mais rápido, abrindo mais minhas narinas e judiando mais de meu cérebro.

E eu, que realmente não me importava - muitas vezes ficava quase lisonjeado - com as pessoas dizendo e insinuando o quão medonho, frio e distante eu era, gostei de poder sentir o sangue correr mais rápido nas minhas veias mesmo sem uma espada apontada contra mim. Eu, que não sentia necessidade de nada além do afeto adequado e respeito que tinha pelas pessoas naquele navio, gostei da sensação de querer abraçar alguém, proteger de perto - apenas ficar perto, sem nenhum grande plano, sem nenhuma grande meta.

E juro, eu só vou admitir isso pra depois ter a certeza de que descartei tudo. O frio desconfortável que percorre a espinha quando cogito investigar como, quando esses tipos de sentimentos - ainda mais pelo cozinheiro pervertido, veja só - se estabeleceram, ou até mesmo qual realmente é a natureza desta coisa tão medonha, é desnecessário. Ele é desnecessário, e pensar nisso é desnecessário.

.

Os gritos entusiasmados de Luffy, Chopper e Franky me acordaram por completo. Meus olhos doeram pelo contato brusco com a luz solar. Pelo visto, era um dia muito animado, e lá de cima, Nami já dava instruções para quando zarpássemos.

Novamente uma sombra se pôs à minha frente, dessa vez, da própria Nico Robin, aparentemente recuperada. Trazia duas canecas de saquê, das quais me entregou uma. Mantinha seu típico sorriso sádico, mesmo que eu não conhecesse o motivo.

– Sabe qual o nome da planta que nos envenenou ontem? - ela perguntou desafiadora, e eu franzi minha testa.

– Não faço ideia.

Robin riu brevemente, colocando as mãos nos joelhos para se aproximar mais de mim.

Veritas parlatharia.

A arqueóloga respondeu de forma solene e em deleite, embora pra mim fizesse o mesmo efeito que não dizer nada.

Assim que ela saiu, com certeza tirando proveito da minha ignorância, pude visualizar o cozinheiro, parado perto dali - os olhos esbugalhados para mim, boquiaberto, o cigarro prestes a alcançar o chão e segurando uma bandeja de forma miseravelmente fraca.

Pelo visto, ouvira a conversa da arqueóloga. E entendera o que eu não tinha entendido.


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