Deathwish escrita por Nero00


Capítulo 10
Capítulo 10




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ATO 10: pecados
Aproximei-me do caixão, e só então pude perceber os detalhes da sua beleza sinistra. Helena jazia ali e, de uma forma assustadora, parecia ter mais vida do que todos os presentes em seu funeral.
- O sofrimento extrai a vida. - disse para mim mesma, como se fosse uma outra pessoa respondendo.
Então, parecendo uma peça de teatro com os seus atos e atores entrando no momento certo de suas deixas, a porta da igreja se abriu com violência deixando o barulho da chuva forte entrar. Algumas cabeças curiosas voltaram-se para ver quem chegava.

Detendo-se alguns instantes no rapaz de cabelos loiros perto da porta, que lhe segurava o braço esquerdo com o máximo de delicadeza e o mínimo de força, Gerard disse algo e voltou à cabeça para o altar, onde ele me enxergou, paralisada pelo olhar terrível que ele me lançou.
Gerard avançou pelo tapete vermelho que atravessava a igreja de ponta a ponta. E meu coração não pode evitar em bater mais rápido ao vê-lo se aproximando, vestindo um terno preto cujo luto era quebrado por uma gravata de seda vermelha. Os cabelos emoldurando perfeitamente o rosto pálido e com olheiras escuras.
O terno aberto levantava vôo mediante aos passos rápidos e furiosos que ele dava em direção ao altar. E que visão terrivelmente linda que ele era.
Algumas pessoas, incluindo Mikey e o rapaz sentado ao seu lado puseram-se de pé quase que simultaneamente. Mas Gerard sequer olhou para eles.
Ele parou a alguns passos a minha frente, respirando forte, como se sua caminhada lhe tivesse sido muito dura, abrindo e fechando os punhos com força.
Notei o quanto ele estava transtornado, e ele tinha todo esse direito.
A intervenção dele foi tão brusca que até mesmo o padre esqueceu-se de que estava no meio de uma celebração.
- Eu quero dizer algumas palavras. – ele finalmente disse, olhando fixo para o chão e falando alto o suficiente para que todos ouvissem.
- É claro, meu filho... – disse o padre sem muita certeza, mas respeitando a dor de perder um ente querido.
Gerard me olhou de relance antes de se dirigir ao púlpito, foi rápido, mas fez meu coração doer diante de algo que reconheci como sendo puro desprezo.
- Gerard... Espere. – o rapaz ao lado de Mikey lhe segurou o braço quando eles se cruzaram, Gerard reagiu com tanta violência que cheguei a me assustar.
- O quê, Frank? – ele disse frio.
Frank não respondeu, baixou os olhos pro chão e tornou a sentar-se. Ele não poderia criticar a dor que o amigo sentia. Mikey e Gerard se encararam sem dizer uma só palavra e ao mesmo tempo dizendo todas.
- Fiquei todos de pé! – ele quase gritou. Fazendo um gesto amplo com os dois braços.
As pessoas assustadas obedeceram. E ergueram-se mecanicamente, executando um espetáculo perfeito de sincronia.
Eu ia deixar ele descontar tudo em mim. Sim, eu iria. De peito aberto.
Silêncio. A chuva batendo contra os vitrais reforçava a expectativa de todos.
- Qual é a pior coisa que você leva de cada coração que você parte? – ele disse finalmente me olhando nos olhos (para as outras pessoas ele olhava para o vazio, para combinar com a estranheza daquelas primeiras palavras) – O que você levou do meu coração esses anos todos?
Baixei a cabeça. Ia ser um desabafo...
- Você poderia me pedir absolutamente tudo! Eu arrancaria meu próprio coração para lhe dar... Mas foi justamente a coisa mais valiosa que eu possuía, a única pessoa que me entendia sem que eu precisasse dizer qualquer palavra. Por que você fez isso?
O meu corpo doía. Minhas mãos suavam, e sentia algo querendo explodir na minha cabeça.
Gerard continuou:
- OLHE PARA MIM! – ele gritou.
As pessoas se assustaram, achando uma total falta de respeito tudo o que aquele rapaz dizia. Todas aquelas palavras que não faziam sentido por que pareciam ser dirigidas a alguém que aparentemente não estava ali.
O pai de Gerard se levantou muito constrangido e foi até ele. Era difícil suportar tudo aquilo, inclusive para mim.
- Já chega, filho... – ele passou o braço pela cintura de Gerard e o puxou.
- Você pode me ouvir?Você está perto de mim?Nós podemos fingir que partimos e então nós nos encontraremos de novo, quando nossos carros colidirem? – ele dizia para mim aos berros e cheio de ironia, e essas frases fazia o maior sentido.
- CHEGA GERARD!
Era a coisa mais triste que eu já havia visto.
O barulho certeiro de um tapa acertado na face esquerda de Gerard e os exatos cinco dedos tatuados em vermelho na carne.
A cabeça de Gerard havia se deslocado, submetida a força da mão que lhe atingiu. Algumas mechas de cabelo lhe cobriram o rosto, sem se envergonharem de serem lindas.
Alguns minutos em silêncio. Eu com as mãos na boca para evitar emitir qualquer ruído e com o peito arfando de aflição.
Todos estavam chocados, inclusive o pai de Gerard ao se dar conta do tinha acabado de fazer.
- M... Me perdoe... Filho... – ele disse aterrorizado se largando banco de madeira.
Gerard mexeu a cabeça, jogando os cabelos para o lado. Suspirou e baixou a cabeça.
Ele desceu do altar, com todos os olhares acompanhando ele, e veio em direção ao caixão. Deslizou a mão sobre a madeira escura, olhou para aquela pessoa querida dormindo serenamente e chorou baixinho, debruçando-se ali e escondendo o rosto.
O meio coração doeu tanto ao ver aquele homem, o homem que eu amava, completamente abatido por aquela perda...
Acariciei suas costas com a ponta de meus dedos. Subi pelo seu pescoço até encontrar os cabelos que eu tanto amava.
- Gerard... – disse baixinho.
- Traga ela de volta.... – ele murmurou. – Por favor...
- Não posso, meu amor... – respondi triste.
Ele não respondeu.
Ninguém nos ouvia, ele apenas murmurava umas palavras abafadas por soluços o suficiente alto apenas para que eu escutasse.
Ele ergueu a cabeça e olhou para mim, do jeito que fazia eu me apaixonar mais pela fragilidade mortal dele, pelo encanto que possuía e como me hipnotizava toda vez:
- Vamos lá para fora...

 


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