- Oi Naty – ele sorria.

            - Joaquim? É você mesmo? – ela falou olhando surpresa para a figura a sua frente.

            – Sim, sou eu.

            Ela saltou do banco em que estava sentada e jogou-se nos braços dele para um abraço.

            - Meu Deus, o que você está fazendo aqui? – ela perguntou soltando-se do abraço e olhando para ele.

            - Olhando para você – ele disse rindo.

            - Em Buenos Aires, né – ela riu.

            - Vim para cá estudar.

            - Sério? Onde você vai estudar?

            - No Studio 21, conhece?

            - Jura? Eu estudo lá! – ela exclamou.

            - Sério? – ela assentiu – Você nunca tinha me falado sobre isso.

            - Sobre estudar aqui?

            - Também, mas sobre cantar, dançar e tudo o mais – Joaquim comentou.

            - É que eu tinha vergonha...

            - Do quê? De ter esse dom? Porque saber fazer isso é um dom né.

            - Não, de cantar para você, como você fazia para mim – ela falou tímida. – Agora já passou... Como você sabia que era eu aqui? – ela perguntou mudando de assunto.

            - Ah Naty, te reconheceria em qualquer lugar – riu. – Eu estava voltando do Studio, fui lá conversar com Pablo e Antônio, rever minha papelada e conhecer o ambiente, vi você chegando à aula à tarde, e depois saindo chateada, então, quando estava saindo, reconheci você aqui sentada e resolvi me aproximar. Aliás, aconteceu alguma coisa?

            - Ah desculpa Joaquim, não quero falar sobre isso, não agora.

            - Tudo bem, me desculpe, faz 10 minutos que nos vimos e eu já quero me meter na sua vida – falou por fim.

            - Tudo bem. Onde você está morando?

            - Aqui pertinho da praça – ele sorriu.

            - Com quem?

            - Com um tio meu.

            - Ah, que legal – ela sorriu. – Eu preciso ir, mas amanhã nos vemos no Studio né?

            - Sim, já estou regularizado e não vejo a hora de amanhã chegar para eu poder começar ali – sorriu.

            - Você vai adorar o Studio, as pessoas, os professores, o clima é ótimo!

            - Já gostei, só por saber que você está ali – comentou.

            - Seu engraçadinho – ela falou rindo. – Agora preciso ir. Até amanhã!

            - Até! – ele falou depositando um beijo na bochecha dela.

            Naty pegou sua bolsa que ainda estava no banco, e saiu em direção a sua casa. Olhou rapidamente para trás, e Joaquim também já havia tomado seu caminho. Ela saíra dali completamente sem reação, não sabia se estava surpresa, assustada ou feliz com a chegada de Joaquim a Buenos Aires. Na realidade, nunca pensou na possibilidade disso acontecer, de todas as pessoas do mundo, ele era quem ela menos imaginava que um dia veria nessa cidade, para onde ela se mudou há alguns anos com sua família.

            Mas afinal, quem é Joaquim? Joaquim foi o primeiro menino por quem Naty se apaixonou, e esse sentimento foi recíproco. Eles eram vizinhos, brincavam juntos, estudavam juntos e passavam todo tempo juntos, só se separavam na hora de ir para casa dormir. Seus pais se conheciam e tudo entre eles era favorável. Ouviam desde sempre todos a sua volta dizerem que quando crescessem iam namorar. Eles cresceram, e no início da adolescência, enquanto Naty ainda vivia na Espanha, notaram mais uma paixão em comum, a música. Joaquim começou a praticar todos os instrumentos, e cantava como um anjo. Naty começou a estudar canto, mas tinha vergonha de cantar para os outros. Seus pais os colocaram para estudarem juntos em uma escola de música, Joaquim conquistou todos desde o primeiro dia, cantava na hora de intervalo e as meninas babavam, mas isso não interessava para ele, queria que só uma prestasse atenção nele, por isso, sempre que podia, cantava somente para ela, para Naty. Ela que por sua vez, não chamava atenção nenhuma na escola, sempre fora envergonhada, cantava somente quando solicitado, mas desde o primeiro dia desejava não estar ali. Ah, mas tinha algo em Naty que despertava atenção de todos, a sua proximidade de Joaquim, porque desde que muitas das meninas apaixonadas por ele notaram que o mesmo só tinha olhos para Naty, a inveja despertou de dentro delas, e todo dia elas também desejavam que Naty não estivesse ali. E foi em um dia normal de aula, enquanto Naty e Joaquim estavam sentados no refeitório que ela contou sobre sua mudança para Buenos Aires. Primeiro ele ficou surpreso, depois chateado, e por fim concordou, não havia mais o que ser feito. Do dia da notícia até o dia da mudança passaram-se apenas quatro dias, e no momento em que Naty e sua família estavam na frente de casa despedindo-se dos vizinhos e amigos queridos da Espanha, ela e Joaquim se despediram entre lágrimas, e prometeram manter contato, se visitarem sempre que possível, e quem sabe, confirmarem as esperanças dos vizinhos em um futuro romance. Todas essas promessas perduraram por uns dois anos, até o dia em que Joaquim resolvera começar a namorar uma das meninas que mais odiava Naty nos tempos de escola, Naty resolvera que iria esquecer Joaquim, e os dois aos poucos foram perdendo o contato e não se viram mais, até hoje.

            Foi lembrando tudo isso que Naty chegou em casa, adentrou-a e foi direto para seu quarto, entrou no banho, e enquanto a água caia sobre seu corpo pensou que esse não era um bom momento para Joaquim aparecer, por mais que ela não sentisse mais nada por ele há anos, sua chegada poderia trazer muitos problemas, e ela já tinha problemas demais. Após o banho colocou um pijama, comeu qualquer coisa e voltou para seu quarto, nesse momento só do que precisava era dormir, e deixar que todos esses problemas fossem embora por algumas horas.

            Na manhã de quinta-feira, Naty acordou preocupada, pensativa. Vestiu-se e foi para a cozinha, a mesa do café estava posta, e sua mãe estava na pia, Naty sentou-se.

            - Bom dia, filha – sua mãe sorriu. – Nossa, há quanto tempo você não se senta para tomar café.

            - Bom dia! Pois é, estou sempre atrasada, mas hoje acordei mais cedo. Ah mamãe, sabe quem eu vi ontem? – perguntou dando de ombros.

            - Quem?

            - Joaquim.

            - Que Joaquim, filha?

            - O Joaquim Vasquez, nosso vizinho da Espanha.

            - O que ele está fazendo aqui? – sua mãe olhou de repente.

            - Vai estudar lá no Studio também – comentou.

            - Ah que legal, ele é um bom menino, convide-o para vir aqui um dia desses.

            - Ok. Vou indo, mãe – ela deu um beijo em sua mãe. – Tchau.

            - Tchau.

            Então Naty saiu e seguiu seu caminho diário em direção ao Studio, o dia de hoje prometia ser bem agitado.