Uma menininha acorda cedo, entusiasmada. Levanta sem que ninguém a chame, apesar do horário, e antes mesmo de qualquer necessidade matinal, revira as gavetas em busca de algo. Retira uma roupa cor de rosa de dentro da mesma, e a sua alegria é quase palpável. Desenrolando o pequenino bolo rosado, percebe, decepcionada, que falta algo: As sapatilhas! E ela não poderia nunca ser uma grande bailarina sem sua sapatilha.

Apressada, a menina busca o quarto dos pais no corredor escuro e sacode a mãe para ajudá-la na busca. A mãe então diz à pequena que a sapatilha não mais servia, e por isso tinha se desfeito do calçado. A criança então inicia um choro compulsivo e só o para quando a mais velha, desesperada, pede um minuto para se vestir antes de sair na procura de uma nova.

Ao chegar à loja, a vendedora logo percebe a pressa da pequena bailarina, e o brilho no olhar da menina faz com que ela não se demore a trazer o par de sapatilhas. Rosas, de preferência. E sem ponta, por enquanto. Sem nem mesmo checar o tamanho, a mãe agradece a eficiência, paga e vai embora.

Antes que a chave chegue dar uma volta completa na fechadura para abrir a porta, a menininha sobe as escadas voando, corre pelo corredor em direção ao quarto, e veste a roupa cor de rosa que deixara, na pressa, jogada sobre a cama. Calça então as novíssimas sapatilhas e desce rapidamente para ser levada à aula. Não poderia se atrasar.

E na sala espelhada, somente uma bailarina dança sem pausas, numa euforia fora do comum. E como vocês já devem ter percebido, e todos nós já sabemos, as sapatilhas logo estarão gastas por terem dançado incansavelmente nos pés da futura grande bailarina.