Contos De Gaveta escrita por Mamy Fortes


Capítulo 16
Ruiva Aquarela.


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é continuação do anterior, porque eu recebi um comentário com uma sugestão, da Yoo17, e resolvi acatar. Escrevi, e postarei.



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–Mãe, a bolsa... rompeu... não dá... pra buscar isso... depois? - A grávida dizia, entre uma contração e outra.

– Ah, querida, mas é tão importante...

– Mãe,... vai ter que... esperaar!

O avó do nenê até tentava interagir, mas as mulheres faziam-no calar com um aceno de mão, e mandavam-no dirigir, imersas num respira-inspira-respira infinitamente acelerado.

Em pouco tempo - por sorte - estavam no hospital. Parto normal, ela pediu. E seu corpo ajudou para que fosse possível, numa dilatação ideal. Depois de seis longas horas o bebê dormia em seus braços.

A mais velha não esperou pelo parto, na pressa de ir buscar o que seus instintos exigiam, mas o homem ficou até que o pai da mais nova criança pudesse chegar. E aquela pequenina ali, adormecida, sob todos os olhares carinhosos.

A estadia no hospital foi breve e indolor. A bebê, Manuela, era saudável e não nascera prematura, nem coisa alguma que tornasse necessário maior tempo de internação. E a mãe também não tivera complicações no parto...

E tão saudável quanto nasceu, cresceu a pequena Manuela. A ruiva que jamais gostou de correr adorava brincar de casinha, e pintava quase todo dia (desenhos infantis que ela jamais sabia explicar) usando as tintas que a avó lhe dava. Exceto por uma aquarela, que a mãe nunca lhe deixava usar.

E a mãe não lhe deixava usar por ocasião de ter ganhado no dia do nascimento de Manu, embora a mais nova não soubesse. Era o presente que passaria de mãe pra filha por gerações, para lembrar que a vida devia ser sutil como aquarela.

Manuela não tinha parentesco sanguíneo com a avó. Mas as duas eram, em tudo, parecidas, numa coincidência gigantesca que assombrava a todos. No dia do aniversário de seis anos da pequena, a mais velha apareceu com uma enorme e estreita caixa retangular, que foi recebida com avidez.

Aberta, todos os olhos encheram-se d'água. Os da avó, na lembrança de pingos molhando-lhe a camiseta e um sorriso como resposta. Os do avô, na felicidade de ter sugerido o que mudou toda uma vida. Os da mãe, por terem sido tão gentilmente acolhidos por aquele casal. Os do pai, porque sentia que a filha era amada. E os de Manuela, espantados por tão bela gravura.

Ao campo, longos cabelos ruivos pertencentes à sardenta pequenina que deitava-se na grama. Diriam ser a pequena Manu, mas a data, no canto da tela, denunciava. Tinha sido pintado há mais de 25 anos.

Talvez não faça sentido, mas minha teoria é de que a mais velha saudara-se do futuro que não sabia poder chegar, e que agora concretizava-se diante dos seus chorosos olhos, que tudo tornavam aquarelado.


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Notas finais do capítulo

É isso ai. Comentem, se quiserem. Se não merecer, não comentem. Mas, se o fizerem, serão bem recebidos.



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