' Muitas vezes são as chagas da alma que lhes proporciona paz..'

Era uma sexta-feira negra. Novamene Sakura encontrava-se naquele cemitério, lugar que passou a fazer parte de sua rotina nos últimos meses. Mais uma vez estava diante das lápides de seus "pais", falando biologicamente. Seu olhar vazio perdia-se em meio àquelas palavras cravadas no frio mármore negro:

'Hira Haruno                           e               Masashi Haruno'

25-03-1964+ 13-06-2009                      12-02-1957+1302-2009

Sakura sabia que deveria estar de luto por aqueles que lhe colocaram no mundo e que deveria sentir, no mínimo, tristeza. Mas, nada tinha com aqueles que se encontravam enterrados ali. Nada além de um grande remorso.

_Por que não sinto nada? _murmurou, desejando que pudesse haver uma resposta para aquela culpa que lhe atormentava.

_Porque eles nada significam para você. _respondeu uma voz rouca, grave. Sabia muito bem quem era. _ Não consigo entender, por que se tortura tanto com isso?

_Você não entende, Sasuke. Eu devo sentir alguma coisa, afinal, eles me deram a vida. _respondeu Sakura, levantando-se e sacudindo a poeira que se acumulou em sua calça jeans.

_E o que tem isso? Por acaso pediu isso a eles? _Sasuke estava cada vez mais perto dela, também encarando as lápides. _ Se não me falha a memória, eles não fizeram questão em te ter quando nasceu, livraram-se de você na primeira oportunidade que surgiu. E só soube deles quando estes crápulas precisaram de uma ajuda financeira.

_Pode até ser que eu não tenha pedido, mas sou grata a eles. São meus pais, afinal. _suspirou cansada, aquele ar gélido começava a lhe incomodar. _ Eram meus pais.

_Engraçado, acho que eles não pensaram assim quando te deixaram naquele orfanato imundo. _disse Sasuke, transtornado com o sentimento de remorso da garota.

Diante daquelas palavras, Sakura encolheu-se. Não sabia se era pela frieza do vento ou daquele ser ao seu lado.

_Por que é assim comigo? Seria muito menos doloroso se me matasse logo. Fique a vontade para sugar meu sangue. _ sugeriu Sakura.

Sakura sabia que Sasuke era um vampiro, ele mesmo havia lhe confessado tal segredo. Se conheceram no orfanato onde ela crescera, o Uchiha sempre a protegia, era seu melhor amigo. Mas, muitas vezes, a tirava do sério com sua personalidade geniosa.

_Não, obrigado. Acabei de jantar. _respondeu Sasuke, aproximando-se da garota. _ E seu sangue é extremamente enjoativo para mim. _disse o moreno, roçando seus lábios na nuca da garota.

Ela virou-se e foi embora, aquela noite já havia sido estragada pelo humor sádico do vampiro. Mas, ela voltaria ali. Nada a impedia de continuar se torturando com o passado ao qual não teve ao lado dos dois defuntos conhecidos que se encontravam enterrados ali.

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O tempo passou e a culpa se foi com ele, suas visitas ao cemitério mudaram de objetivo. Ia para se encontrar com Sasuke, era o local mais fácil de encontrá-lo.

O moreno era tão misterioso, bonito, sedutor e perigoso. Estranhamente achava deliciosa a sensação de medo que ele lhe provocava. Era... excitante.

_Você me condena por não conseguir me desfazer de laços do passado, mas, você também não consegue se desatar deles. _disse Sakura, sentada em um banco no cemitério ao lado do vampiro.

_Do que está falando? _disse ele, com o olhar vago.

_Pode até negar, mas, sabe que existem certas coisas das quais não conseguimos nos desapegar. _disse Sakura, encarando o moreno. _ No meu caso, a idéia de um dia ter uma família completa, esse é meu maior laço com o passado e sei que jamais conseguiria afastar essa idéia da minha cabeça. Agora, no seu eu não tenho certeza.

_Não é o passado que me preocupa, mas, o futuro. Digamos que com o tempo esse lance de ser vampiro acaba se tornando um castigo. _fala sombriamente, não escondendo o pesar que tinha.

_Do que mais sente falta? _pergunta Sakura, tirando algumas mechas de cabelo que atrapalhavam sua visão.

_Poder ter escolhas. _responde, segurando uma folha seca por na palma da mão.

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Ela não apareceu no outro dia, nem no próximo ou no seguinte. Aquilo deixava-o atordoado. Sempre esperava ansiosamente por ela, mas a mesma nunca aparecia. Cansou de ficar sentado vendo o tempo passar e resolver ir ao hospital aonde a Haruno trabalhava e era bom que ela tivesse uma boa desculpa pelas faltas que tivera.

Entrou sorrateiramente no hospital, buscando não chamar atenção ali. O cheiro de sangue ali chegava a ser nauseante até mesmo para ele que era m vampiro. Caminhava pelos corredores em busca de um ponto rosa em questão. Por sorte, aquele não era um ambiente muito grande e com seus sentidos aguçados seria fácil encontrá-la. Logo encontrou o cheiro que procurava, cerejas. Porém, a encontrou no último lugar que gostaria de vê-la.

Lá estava Sakura, deitada em uma daquelas camas de hospital, fraca, com a vida por um fio. Haviam curativos em todas as partes do corpo frágil da Haruno. O cheiro doce e metálico do sangue da garota impregnavam aquele cubículo, estava muito forte, forte demais.

_O que foi que fizeram com você? _perguntava Sasuke, afagando os cabelos róseos da menina.

_Sasuke-kun? _a voz da garota saía fina e quase sem força. Tivera que forçar bastante a vista para conseguir enxergar o rosto pálido do Uchiha.

_O que aconteceu? _perguntou Sasuke, sentando-se na beirada da cama.

_Eu não tenho certeza. Estava voltando para casa e não olhei para atravessar a rua. Como sou distraída. _criticou-se, acariciando a mão do moreno. _Pelo menos, iss serviu para te tirar daquele maldito cemitério.

_Não diga tolices, sabe que não gosto disso. _disse o moreno, com olhar reprovador.

Uma forte dor dominou a pobre garota, era uma pontada aguda no coração, algo que vinha lhe incomodando há dias, mas, não comentara com ninguém. Sentiu algo quente lhe invadir a garganta, porém, não permitiria que aquilo lhe atrapalhasse a falar, sabia que morreria.

_Sasuke... Você tinha razão... Não devemos manter laços ruins, elessó servem para nos provocar tristeza e mágoa. Meus pais foram um tipo de laço ao qual eu me mantinha, pois preferia culpá-los da minha maré de azar do que ter que admitir que sou uma incapaz. E, eu não via que com isso só me tornava imponente e fraca. _ uma gota de sangue deslizou pelo canto da boca da rosada. Segurou firmemente as mãos frias do vampiro e olhando em seus olhos continuou. _ Você só se enganou com uma coisa, nem todos os laços são para o mal. Sasuke, você é o único laço que faço questão de manter. Quantas vezes você foi o meu porto, meu herói particular e aquele a quem pertence o meu coração. Não importa o que aconteça, eu te amo.

Sasuke ficou sem palavras com o que a garota dissera. Ela o amava? Aos poucos sentiu as mãos que seguravam as suas se afrouxarem e levemente deslizarem, liberando-as de vez. Encarou a mulher ao seu lado. Perdia sua vida lentamente, mal conseguia ouvir os batimentos cardíacos dela.

_Hei! Nem pense que vai morrer. Acha que é assim? Fala que me ama, morre e fica tudo bem?! Lamento Sakura, mas dessa vez eu não vou respeitar o seu direito de escolha.

O Uchiha sem mais esperar, pegou o corpo da garota em seu colo, tirou o cabelo que cobria seu pálido pescoço, roçou os lábios naquela tão desejada regiou, aspirando todo o perfume da garota. Por fim cravou suas afiadas presas na pele da garota.

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A lua estava esplêndida naquela noite, parecia ter descido dos céus somente para assistir ao espetáculo da vida humana. Um par de orbes verdes lhe encaravam com a mesma devoção que tinha um crente a seu santo. Estava fascinada. Seus longos cabelos róseos dançavam na mesma medida em que o vento noturno lhe aconchegava.

_Por que me salvou? _perguntou a mulher, desviando sua atenção da lua para o homem ao seu lado.

_Não poderia deixar que morresse, também tinha algumas coisas para dizer. _respondeu o moreno, com o olhar distante, enquanto acendia um cigarro.

_E o que seriam essas coisas? _perguntou a mulher, virando-se para ele.

_No momento não importa, não seja tão ansiosa. Afinal, temos uma eternidade pela frente. _respondeu jogando fora o cigarro e a puzando para si.

_E não pode me adiantar nada? _perguntou a garota com olhar pidão.

_O que posso fazer? Seria bem entediante sem você para me chatear. _respondeu, com um sorriso provocante nos lábios.

A Haruno já preparava-se para responder a altura, mas foi impedida pelos lábios do vampiro. Sasuke adorava sentir a maiez dos lábios da garota contra os seus, sorveu todo o calor dela e a liberou daquele momento só para olhar mais uma vez aqueles olhos que tanto lhe traziam eperança.

_Eu te amo. Agora eu terei toda a eternidade para te experimentar. _murmurou Sasuke, tomando os lábios dela novamente para si.

Owari.~