O Último Verão escrita por niciusbellemo


Capítulo 1
Sarah - Eu e os meus pensamentos de adolescente.


Notas iniciais do capítulo

Neste primeiro capítulo as duas personagens principais, Sarah e Rachel são apresentadas, enquanto navegamos por algumas memórias passadas de Sarah, incluindo algumas perturbadoras como por exemplo a menção do nome Lucas.



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Era exatamente uma da manhã e estávamos eu e Rachel deitadas sob a areia gelada e aconchegante da praia, olhando para o céu e admirando as estrelas. A praia estava vazia e silenciosa, o que era estranho, pois era verão e morávamos em uma ilha cujo a principal atividade financeira era o turismo. Talvez fosse porque estivesse quase fazendo nove graus ou simplesmente porque as pessoas não estavam a fim de sair. Éramos apenas nós duas, como sempre.

Chamo-me Sarah. Tenho dezesseis anos e alguns meses (eu não conto os meses, diferente dos meus pais) e sou o tipo de garota tranquila. Sou uma pessoa muito eclética, gosto de todos os tipos de música. Acho que cada uma tem o momento certo para ser ouvida. Tenho cabelos castanhos, olhos verdes e um belo corpo o que acaba me tornando alvo de muitas brincadeirinhas sem gosto dos caras da minha turma. Eu me lembro de uns anos atrás, numa época em que eu era inocente, dos meninos da minha classe correndo para cima de mim e apertando o meu peito. Eu ficava vermelha e gritava para a professora em protesto. Lembro-me também que a professora era uma velha chata e solteirona... Chamava-se Margareth Alguma Coisa. Sempre quando algum menino fazia isto comigo ela dizia uma coisa que não entendia na época, mas que agora entendo perfeitamente: “Se não estudar muito, os garotos irão continuar a fazer isso o resto da sua vida!”. Quando em um dia, contei a minha mãe o que os idiotas andavam aprontando comigo na sala, ela me perguntou se eu tinha dito a minha professora o que estava acontecendo. Eu confirmei e disse que ela havia dito aquilo para mim. Minha mãe ficou pasma, falou com meu pai e juntos foram até a direção reclamar. A Margareth Alguma Coisa foi demitida quase que imediatamente e depois de dois anos se escondendo socialmente, mudou-se para os Estados Unidos.

Lembro-me do garoto que mais fazia aquela brincadeira sem graça comigo: ele se chamava Luke Neeson. Ele era uma criança metida, pois os pais eram donos de uma grande concessionária, o que o tornava um garoto rico. Ele até hoje estuda na mesma classe que eu e continua o mesmo idiota. Se acha o bonitão e gostosão, pois metade das meninas do colégio correm atrás dele. Elas dizem que é porque ele “é muito gato”. Eu digo que é porque ele é rico e tem uma BMW.

É incrível como as garotas correm atrás dos garotos. No meu colégio isto é o que mais se vê acontecendo. Acho todas elas umas babacas por correrem atrás de Luke Neeson. O que ele tinha demais além de um corpo atlético e dinheiro no bolso? O que fazia dele um cara bom para se namorar, segundo elas? Eu nunca daria à mínima pra aquele idiota, nem se ele fixasse aqueles lindos olhos azuis em mim, abrisse aquele sorriso perfeito e dissesse: “E aí, gata?! Nesta sexta à noite, eu e meu grupo vamos organizar uma festa na minha casa. Cada um vai levar uma garota... você aceita ir comigo?!”.

Você provavelmente deve estar pensando: “Ah, Sarah, você só está dizendo isso porque provavelmente ele nunca te chamou pra sair, sua hipócrita!”. Ah, surpresa: ele já me chamou pra sair sim. Tudo isto que falei realmente aconteceu, mas eu não aceitei e deixei-o lá plantado como uma bananeira, escutando os amigos debochando da cara dele. Mas ele não desistiu fácil: foi atrás de mim durante o resto da semana toda e juro que nunca entendi ao certo porque ele fez isso. Com tanta garota chovendo para cima dele, ele insistia em fazia o papel de um completo idiota na frente de todo mundo, até mesmo deixou flores e chocolates em cima da minha carteira na sala de Matemática, fazendo todas as meninas falarem “Ownn!”, enquanto eu pensava “Esse cara não cansa não, é?!”.

Rachel quase que me matou quando soube que eu estava dando um fora em Luke Neeson. “Como você pode dar um fora nele?! Você tem ideia do que tá fazendo?!”, eu a ouvi dizer e aquilo me fez descobrir que de certo modo ela tinha metade do cérebro evoluído como o meu e a outra metade, bem... Igual aos daquelas meninas que viviam correndo atrás de Luke.

Você deve estar se perguntando quem é Rachel. Bem, Rachel é minha melhor amiga desde sempre. Somos irmãs, praticamente. Nossas mães se conheceram na faculdade de medicina e até hoje eram melhores amigas, o que acabou se transferido geneticamente para eu e ela. Ela é surfista, vive praticamente o dia todo na praia, enquanto eu faço o papel de menina estudiosa. Tem a mesma idade que eu, alguns meses mais velha, um belo corpo também e cabelos loiros e bonitos, mas que ela insiste em não cuidar bem. Eu reclamo com ela, porque ela quase sempre quando volta da praia, ela não lavava os cabelos, o que estava os deixando meio ressecados e quebradiços, mas sempre bonitos, isto que é o incrível. Ela se chateia toda vez que eu a cobro para lavar os cabelos e uma vez a gente até brigou por conta disto. Na realidade, eu reclamei que ela não lavava os cabelos e que eles iriam ficar feios e estragados e ela revidou dizendo que isso não era da minha conta. Aí eu disse que era e ela me perguntou se quando eu tinha esnobado Luke ela tinha dado palpite. Eu ri e a lembrei de que sim, ela tinha dado palpite. Aí uma conversa puxou a outra e fomos brigando. No final de tudo, eu fui para casa frustrada e chateada com umas verdades que ela havia me dito e umas horas depois de ficar pensando deitada na minha cama enquanto escutava o barulho do mar (a minha casa fica em frente à praia), eu peguei meu celular e mandei uma mensagem pra ela, dizendo que sentia muito. Era daquele tipo de brigas que acontecem entre os melhores amigos, que quase sempre se iniciam por assuntos bestas... Era o que nos tornava, de certo modo, irmãs.

— Está pensando em que?! – ela disse, jogando a fumaça da maconha para o ar frio noturno. Ela começara a fumar maconha desde cedo e diferente das outras pessoas aquilo não me incomodava.

— Em nós duas. – eu disse, com um sorriso no rosto, olhando para as estrelas. – Nos motivos bestas das nossas brigas.

— Por exemplo?

Eu não consegui esconder o sorriso ao dizer:

— Por exemplo naquela vez que brigamos por causa que eu te critiquei por não lavar o cabelo depois de ir na praia. Ano retrasado, se lembra?

— Ah, não me lembro disto não. A gente já brigou por causa do meu cabelo?

— Aham. – eu disse, rindo.

Ela deu muxoxo.

— Que idiotas nós somos!

— É verdade.

Ela riu junto comigo. Eu gostava de sua risada: ela me confortava.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Enquanto isto, um grupo de jovens que eu logo percebi através das silhuetas (já que a praia estava deserta e pouco iluminada) se dirigiam da rua deserta até a ponta da praia, uns duzentos metros de distância da gente. Eram uns dez, entre eles consegui distinguir o idiota do Luke e sua namorada, que era uma garota muito bonita, mas que não era da minha classe, pois eu não a conhecia. Rachel permaneceu o tempo todo com o rosto apontado para o céu, admirando as estrelas, sem ser curiosa a ponto de virar para o som das gritarias que vinham daquele grupinho. Tinha uns amigos de Luke que eram tremendos idiotas: um deles se chamava Tyler, e tinha uma mania irritante de ficar pegando nas bundas das garotas e ficar dizendo “delícia”. Aquilo me enojava.

Voltei o meu rosto para o céu e continuei a admirar as estrelas.

— Para, Tyler! Luke, manda o seu amigo parar de pegar na minha bunda!

— Não adianta. O cara é tarado por bundas, amor. – escutei a voz de Luke, quase gritando.

— Principalmente a sua, meu amor! Deixa eu provar um pouquinho dela, deixa, vai...

— Se você vier pra cima de mim de novo, seu merda, vou quebrar este violão na sua cabeça!

— Se for na de baixo por mim tudo bem!

— LUKE!

Ri da piada. O cara era um idiota, mas ao mesmo tempo era hilário como ele conseguia fazer piadas com coisas que eram tão sem graças. E então me lembrei de Lucas e aquilo me fez enjoar. Me fez enjoar tanto que tive que levantar e me debruçar sob um balde de lixo que tinha por perto para vomitar.

Não demorou muito para Rachel perceber. Ela jogou a maconha no chão e correu atrás de mim.

— Sarah? – ela perguntou, preocupada, me vendo debruçada no balde de lixo. – Que merda é essa?

Eu respirei profundamente, enquanto limpava a minha boca. Não queria que ela soubesse que eu tinha pensado em Lucas. Prometemos que não íamos mais pensar nele. Prometemos a nós duas que não ficaríamos mais tristes por conta dele. Além de tudo não queria me lembrar mais dele, eu própria tinha feito uma promessa a mim mesma. Decidi não dizer nada. Decidi não contá-la.

— Ah, eu não sei. – eu inventei. - Fiquei enjoada. Acho que foi esta porcaria que você não para de fumar!

— Não vem não, que você já está acostumada. Desembucha logo.

— Já disse que não sei, mas que droga! – me levantei, dei meia volta e voltei para o aconchego da areia.

Rachel não insistiu. Acho que ela já sabia o que tinha acontecido, porque não perguntou mais nada durante o resto da noite. Voltamos para as nossas casas em silêncio, sem tocar no assunto, cada uma em seus pensamentos.

E eu pensava em Lucas e mais ninguém. Apenas Lucas e o quanto que eu sentia falta dele.


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Notas finais do capítulo

É isso galera. Se vocês gostaram, divulguem para os seus amigos. Queria que esta estória se tornasse bastante popular porque já estou cheio de ideias na cabeça, até mesmo o final, que é surpreendentemente dramático e super original! Não percam o segundo capítulo!



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