Chained. escrita por Porcelain


Capítulo 1
Único. I


Notas iniciais do capítulo

Nunca fui bom escrevendo drama. Espero que desta vez eu consiga pelo menos arrancar uma lágrima de cada um de vocês D:
Se lerem em silêncio, fica melhor.
Por favor, leiam com atenção.
E, Gisele, se ler com o coração, você vai enxergar mais do que você imagina.
Boa leitura.



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C H A I N E D

~

A lua iluminava as ruas, e a chuva que caía naquela madrugada silenciosa apenas tornavam as camas macias e quentes mais aconchegantes. Mas eles não estavam deitados em uma delas. Eles estavam justamente tentando se proteger da chuva, apesar de saberem que aquela água não era ruim. Aquilo tudo era muito novo para ambos, pois não eram dali. Eles não eram daquele mundo.

O garoto possuía cabelos negros como a noite, com uma longa franja que insistia em cair por cima de seu olho – por mais que o mesmo a colocasse por trás de sua orelha. Sua pele era branca e sem nenhuma imperfeição e suas bochechas tinham um tom rosado. Seus lábios eram vermelhos como uma cereja, e agora tremiam devido ao frio. Ao lado do mesmo estava uma garota idêntica à si. A única diferença eram os cabelos, que eram longos e repartidos em maria-chiquinha, presos com dois lenços brancos que pareciam orelhas de coelho. Outra coisa também era o olhar dos dois. Seus olhos possuíam um degradê de preto que se tornava vermelho gradativamente, enquanto suas pupilas brancas olhavam para o vazio no meio daquela imensidão obscura. Além disso, eram opacos, dando a impressão de que estavam mortos.

Porém, a coisa mais incomum nos dois não era a beleza exótica, e sim o fato de que o garoto possuía uma coleira com espinhos no pescoço e a garota possuía uma idêntica em sua coxa. Ambas as coleiras se ligavam por meio de uma corrente de ferro, um pouco enferrujada, devido a água da chuva.

A garota se chamava Joki, e o garoto se chamava Ika. Ambos se encolhiam no meio de algumas plantas, apoiados em um muro de tijolos vermelhos, tentando não se molhar.

— Ika-chan... — A doce e suave voz de Joki quebrara o silêncio, chamando a atenção do garoto ao seu lado. Não se sabia o que eram. Irmãos, amantes, namorados, primos, parentes... Mas que a semelhança entre os dois era indescritível, isso não tinha como negar. — Estou com frio.

— Eu também, Joki-Joki. — O moreno disse se aproximando da garota para se aquecer. A voz do mesmo era suave e calma. — Vamos ficar juntos, talvez essas camisetas que encontramos esquentem com o tempo.

Joki assentiu, colocando sua cabeça no ombro de Ika. O tempo se passou, e os dois adormeceram juntos sem se importar com o frio ou com o fato de estarem encharcados. Um homem alto, com ombros largos, olhos castanhos e cabelos da mesma cor se aproximou dos dois assim que saiu de seu carro, se ajoelhando em frente a Joki e admirando a beleza da garota. Ele tocou o ombro da mesma suavemente, fazendo-a acordar.

— Quem é... você? — A garota levantou o olhar fitando o belo rosto do homem. Ika dormia profundamente, com as pernas tremendo. Dos dois, era o que mais sentia frio, já que havia encontrado uma longa camiseta e fizera questão de que Joki usasse a mesma, assim ficando com duas.

— Meu nome é Satori. Por favor, venha para minha casa. Eu vou cuidar de você. — Ele disse, acariciando o rosto de Joki com suavidade. A garota sorriu docemente e se levantou, puxando acidentalmente a corrente que balançou a coleira no pescoço de Ika, fazendo o mesmo acordar.

— O que foi, Joki-Joki? — Ele coçou os olhos, e logo após fitou o grande homem à sua frente.

— Este homem ofereceu abrigo à nós! — A morena balançava suas marinha-chiquinhas animada. — Vamos, Ika-chan!

Um sorriso surgia nos lábios de Ika lentamente, fazendo o coração do mesmo disparar. Aquilo era como música aos seus ouvidos. E quando seus olhos cruzaram o mesmo caminho que os de Satori, Ika teve a sensação de ódio percorrer o corpo do homem.

— Vamos logo. — Satori disse, irritado. Joki entrara em seu carro, e Ika entrou logo depois. Apesar de enferrujada, a corrente se mantinha forte como sempre.

. . .

Assim que chegaram à casa de Satori, Joki não deixara de se sentir fascinada. A casa era espaçosa e aquecida por uma lareira. Era rodeada por livros, e havia uma escada que dava para o segundo andar. Além disso, havia uma cozinha bastante moderna e dois banheiros ao lado da mesma. Ika tentava controlar sua admiração, pois ainda estava desconfiado pela total antipatia que Satori sentia em relação a ele.

— Olhe, Ika-chan! Essa casa é linda! — Joki levava suas mãos geladas até suas bochechas coradas, com os olhos cintilando enquanto fitavam o fogo que ardia intensamente.

— É sim! — Ele sorriu lentamente. Satori chamou-os, querendo mostrar o segundo andar da casa onde ficariam os dormitórios. Joki e Ika dormiriam juntos, enquanto Satori dormiria em uma cama de solteiro no mesmo quarto.

Não demorou muito tempo e os dois, depois de tomarem banho, se deitaram na cama para dormir. A cama era de casal, bastante espaçosa e o colchão era macio e confortável. Joki abraçava-se com uma grande parte do cobertor felpudo enquanto Ika se aquecia com a parte que restara. Os dois dormiam virados um para o outro, em uma simetria aparentemente perfeita. Satori retirava sua camiseta para dormir (já que habitualmente dormia usando apenas um samba-canção), quando Joki acordara.

— Satori-san... — A garota chamou-o, corada ao ver o corpo escultural do moreno. Satori virou-se para Joki, sem dizer uma palavra. — Você poderia trazer um copo d'água pra mim, por favor? Eu mesma iria buscar, mas não quero acordar o Ika-chan. — Joki erguera um pouco da corrente, balançando a coleira no pescoço do garoto. Satori suspirou, se levantando e indo em direção à cozinha. Quando estava despejando água em um copo de vidro, notou a existência de um alicate acima da bancada. Pensou por alguns instantes, e lentamente colocou o alicate dentro de seu bolso.

— Aqui está. — Ele disse, aproximando-se de Joki e lhe entregando o copo d'água.

— Obrigada. — Joki sorrira docemente, fazendo Satori retribuir o sorriso. O moreno acariciou o rosto da morena novamente, desta vez fitando os olhos anormais da garota que possuíam uma beleza encantadora. Joki queria entender o que era aquilo que sentira aflorar no fundo de seu peito. Era algo que nunca sentira antes, e provavelmente iria demorar pra descobrir o que era. Por instinto, a garota debruçou-se para frente fechando os olhos lentamente. Satori entendeu o sinal, e fizera o mesmo.

Os lábios dos dois se tocaram lentamente, fazendo Satori sentir toda a suavidade e doçura que existia na boca de Joki.

— Satori-kun, eu não quero me separar de você. Eu não sei o que é isso, mas sei que é a decisão certa. — A garota disse, fitando os olhos castanhos do maior. — Sei que Ika-chan irá me apoiar no que eu fizer, então nós três viveremos felizes para sempre! Fico muito grata por ter cuidado de mim e do Ika-chan!

"Ika". Toda a calma e tranquilidade que pairavam sobre a cabeça de Satori sumiram assim que escutara tal nome. O maior apenas assentiu e beijou a testa da garota, deitando-se em sua cama depois de vestir seu samba-canção.

— Vá dormir, amanhã será um dia muito longo. — Satori comentou, desligando o interruptor que ficava ao lado da cabeceira de sua cama. Joki assentiu e se deitou novamente, não demorando muito à dormir. O homem ficara em silêncio até ter a certeza de que ambos os dois estivessem dormindo profundamente. Se levantou de sua cama em silêncio, se aproximando de Ika e cortando com bastante dificuldade a parte da corrente que se prendia na coleira com os tais espinhos.

Logo após, pegou o garoto nos braços delicadamente, admirando o quão parecido com Joki ele era. Os dois pareciam duas bonecas de porcelanas sem nenhum defeito. Tentando deixar sua pena de lado, Satori descera as escadas com Ika até chegar no seu quintal, sentindo frio por estar praticamente desnudo. Ika vestia um grande moletom que ia até os seus joelhos, deixando o resto de suas pernas nuas. Satori notou que sua pele estava ficando cada vez mais branca, e o corpo de Ika estava gelado. O maior colocou o garoto no chão, que abriu os olhos lentamente. Ika sentou-se no chão.

— O que estou fazendo aqui? — Ele perguntou enquanto coçava os olhos. De repente, os espinhos de sua coleira penetraram subitamente seu pescoço, fazendo sangue jorrar na grama e no corpo de Satori que observava a cena horrorizado. Seus olhos que possuíam um degradê de preto para o vermelho agora não se passavam de um cinza opaco que arrodeava a minúscula pupila negra, e agora estavam lubrificados de lágrimas que escorriam pela face do garoto.

Satori correu para dentro de casa até chegar no quarto, e então fitou outra cena lastimável. A coxa de Joki fora cortada pela coleira, e sangue jorrava na cama e escorria pelo chão. Os olhos da garota também estavam opacos e cinzentos, porém parecia que Joki tentava resistir.

— I... I-ka... Ika-cha... — E então uma lágrima escorreu pela sua bochecha antes da garota morrer.

Fatos? Ika não conseguia viver sem Joki, e vice-versa. A corrente era o que os mantinham vivos naquele mundo, e as coleiras com espinhos serviam para que ninguém tentasse arrancá-la deles. Mas, obviamente, se a corrente fosse partida, os dois morreriam. E pensar que Joki acabara deixando tudo acabar por causa de algo que ela sentia, mas não sabia o que era. Às vezes, o amor pode destruir tudo se não for usado da maneira correta. Outras, o amor pode estar à nossa frente, porém nós não o enxergamos. E foi isso que aconteceu com Joki e Ika.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem até aqui. Sugestão, crítica, elogio...? Podem deixar um review, eu deixo ^^
E, Gisele, é bom você estar chorando agora È_É q
Você sabe que eu te amo muito, minha ipreta ♥ Feliz 14 anos, do seu ipreto Guii.
Notas: No Japão, Doki Doki é a onomatopeia que representa a batida do coração (o que equivale à "Tum Tum" aqui no Brasil). Essa é a origem do apelido que Ika deu à Joki, "Joki-Joki".



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