“Eu matei uma pessoa.”

 -Não - Falei quando percebi que ele iria dizer alguma coisa - Deixa eu continuar.

 “Depois que o meu pai se mudou, eu fiquei muito revoltada. Não entendia o porquê de ele ter que ir para tão longe. Porque ele não tinha um emprego normal como os pais dos meus colegas? Porque ele não podia ser um médico, advogado ou mesmo o dono de uma padaria? Isso era muito injusto para mim. De início eu fiquei com essa revolta dentro de mim. Mas quando fiz 14 anos eu não aguentava mais. Eu ainda não o tinha visto depois que ele foi embora e nunca conseguíamos nos falar. Eu queria ele em casa. Então fiz umas merdas bem grandes para chamar a atenção dele. Comecei a frequentar festas bem pesadas, usava identidade falsa e  bebia todas, me drogava e dormia com qualquer um. Roubava, desrespeitava a minha mãe, os professores, todo mundo. Não estudava para as provas e me ferrava em todas. Fui expulsa da escola. Até que a minha mãe me internou. Lá eu descobri que estava grávida. O pai? Não fazia ideia de que era. O tempo ia passando, a minha barriga crescendo. Não conseguia mais agir como quem não liga para nada pois estava com medo. Não sabia o que fazer. O que o meu pai ia achar de mim? Voltei para casa, e comecei a ter aulas particulares. Não tínhamos dinheiro suficiente e ainda mais com o meu filho, que descobri ser um menino, chegando. Minha mãe começou a trabalhar todos diariamente. Meu irmão nem olhava mais para a minha cara. Até que um dia eu estava sentada na minha cama. Chorando. Meu pai apareceu, e ficou me olhando. Eu nem conseguia olhar para a cara dele. Me desculpa, eu disse. E o que foi que ele disse? Algo que eu nunca vou esquecer. Foram apenas 6 palavras. Ele disse: Eu estou muito decepcionado com você.” As lágrimas saiam violentamente dos meus olhos, minha visão estava embaçada. Eu olhava para o chão e Jeremy estava quieto ao meu lado. “Me perdoa! Eu dizia, e ele não falou mais nada. Saiu do meu quarto. Ele ficou um mês lá em casa. Me evitava, nunca falava comigo. Uma noite escutei ele conversando com a minha mãe: Ela queria que eu estivesse aqui, ela fez tudo isso para que eu viesse. Bom, eu estou aqui. Mas ela não vai me ver com muita frequência. Eu só vou ficar aqui até essa criança nascer. E ela vai para a adoção. Sem mais nem menos.” Eu soluçava e tentava continuar a contar. Jeremy se aproximou de mim e ficou passando a mão nas minhas costas. – Não precisa terminar – Ele disse. Mas eu tinha. “Então, de todos os erros que eu cometi eu fiz o meu pior. Eu só tinha 14 anos e estava desesperada. Na hora eu não sabia o que fazer. Aquilo tinha que acabar. Então sem pensar, eu rolei da cama e cai com toda a força de barriga no chão.” Jeremy arfou e arregalou os olhos, tirou as mão das minhas costas e me encarou com uma expressão horrorizada. “Eu gritei. Muito alto. Aquilo doeu demais. Meus pais entraram correndo no quarto e me levantaram. Eu chorava descontroladamente enquanto segurava a minha barriga. Tinha percebido o quê havia feito, o erro que havia cometido. Meu bebê! O quê que eu tinha feito? Eu tinha matado ele! E eu ficava murmurando: não, por favor não, não. Meus pais me arrastaram para o hospital e  lá eu descobri o que eu já sabia. Ele tinha morrido. A cabeça do meu filho estava próxima demais do local onde houve a batida. Ele morreu na hora. Eu matei uma pessoa! Eu matei o meu filho!” Comecei a chorar muito enquanto falava: Eu matei o meu filho. Eu matei o meu filho. Eu matei o meu filho.