Pouring Rain escrita por Mirchoff


Capítulo 7
Capítulo VI - How am I gonna get myself back home?




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Após o jogo, a maioria está cansada demais para se mexer. Piper traz copos de suco de laranja em uma bandeja, e acho que o dia não poderia ficar melhor.

Me encolho aos pés da árvore mais próxima. Gotinhas de água ainda estão presentes em meus braços e ombros, mas deixo o sol fazer seu trabalho. Eu observo Jason e Connor apostarem corrida no píer caindo aos pedaços. É algo meio estúpido para se fazer, já que as vigas estão quebradas e despencando, mas as risadas dão a dizer que eles estão se divertindo.

Na pilha de celulares ao meu lado, o meu vibra e ouço o ringtone familiar. É uma parte de "Our War", do Neon Trees. Eu gosto bastante dessa banda.

– Alô? – atendo, equilibrando o aparelho entre a orelha e o ombro enquanto alcanço uma toalha dobrada perto da pilha.

Ei, Leo. – é Nico. – como estão as coisas aí?

– Bem. Quer dizer, Annabeth quase afogou Percy, mas fora isso, está tudo bem. – respondo. – e aí?

Tudo tranquilo. – ele parece um pouco ansioso. – tenho uma novidade. É sobre os Summers.

– Por que não disse antes?! – exclamo, quase derrubando o celular.

Meses atrás, um casal visitou o orfanato. De início, pensei que estavam procurando por alguma criança pequena, ou bebê. Então, imaginem minha surpresa quando Patrick e sua esposa, Clara, vieram falar comigo. Eles foram bem legais, perguntando de onde eu era e há quanto tempo estava ali. Foi uma visita rápida, mas gostei deles. Anos atrás, eu teria ficado apavorado com a ideia de sair do orfanato pelo simples motivo de ter de chamar outra pessoa de mãe. Hoje, entendo que, não importa quanto tempo se passe, ninguém nunca vai substituir Esperanza. Então, qualquer chance de ser adotado é uma boa ideia.

Lembro-me de ter saído para almoçar com os Summers algumas vezes. Eles tem duas filhas, Charlotte e Phoebe, que são gêmeas. Devem ter no máximo sete anos, e são as menininhas mais fofas que eu já vi na vida. No primeiro almoço, ficaram um pouco tímidas, assim como eu, mas nas vezes seguintes, eu era recebido com um "Sentimos sua falta, Leo!".

Elas são incríveis. São extremamente parecidas com a mãe. O mesmo cabelo castanho claro, o formato dos olhos verdes. Mas o sorriso é o de Patrick, com toda a certeza.

Eu nunca tinha me sentido tão a vontade com alguém como me senti com os Summers.

Nós já não nos encontramos com tanta frequência. Clara as vezes me liga, pergunta como eu estou. Eu pergunto sobre as meninas. Ela diz que estão bem e nós conversamos sobre assuntos aleatórios. E então, ela desliga, e só volta a ligar dali alguns dias.

É praticamente impossível não ficar empolgado com a ligação de Nico.

– Anda, cara. – peço. – diz logo.

Ah, está bem. – ele ri. – bem, eles estiveram aqui ontem. A Sra. Smith explicou que você saiu com os amigos e tudo mais, mas eu não escutei a conversa inteira. Eles ficaram no escritório, e a monitora olhou feio para mim. Tipo, desde quando é crime ouvir atrás da porta?

Uma pausa dramática, mas ele tosse.

Bem, estavam falando de você. – Nico toma fôlego antes de continuar. – perguntaram como está o seu rendimento na escola, se você está tendo problemas e, claro, perguntaram o que você acha deles. Como se não fosse óbvio que você os adora!

Eu dou risada. Posso perfeitamente imaginar Nico gesticulando e revirando os olhos. Uma vez me dissera que morou por alguns anos na Itália com a mãe, e embora não se lembrasse muito da língua, ainda tinha o "jeito" de ser dos italianos.

Quando saíram do escritório, – continuou. – a Sra. Summers perguntou se você poderia sair com eles algum dia, de tarde. A Sra. Smith disse que sim, e que pediria para você entrar em contato com eles assim que voltasse. Você tinha que ver o sorrisão que o Sr. Summers deu! Sabe, eu acho que alguém aqui vai conseguir uma família…

– Fala sério! – eu sorrio. – cara, obrigado por ter ligado. De verdade.

Não há de quê. Agora, se divirta. Nos vemos no domingo. Ah! E eu não disse nada, tá?

– Ok. Até. – e desligo.

Meus dedos formigam. É impossível deixar de ficar animado com esse tipo de coisa.

Sei que pode não significar muito. Várias famílias visitam diversas crianças e adolescentes, não quer dizer que irão adotá-las. Mas sinto que dessa vez é diferente.

É sobre isso que converso com Annabeth, quando ela se senta ao meu lado e questiona toda essa minha felicidade com um sorriso brincalhão no rosto.

– Poxa, Leo – diz. – isso é incrível!

Annabeth tem esse relacionamento estranho com o pai. Eles vivem numa parte mais afastada da cidade, numa casa que é simplesmente incrível. Frederick é chegado em guerras e tipo de coisa, e tem objetos realmente legais espalhados até pela cozinha.

Depois da pior crise daquele casamento conturbado, o Sr. Chase e a não mais Sra. Chase se separaram. Annabeth me disse que não foi uma coisa muito legal. Após o divórcio, Frederick ficara com a casa projetada pela ex-mulher, e casou-se novamente com Sarah. Asiática, alta e um doce de pessoa, tivera com ele gêmeos.

E é claro que Annabeth a detesta. Nós já conversamos sobre isso antes, mas nem Percy conseguiu convencê-la de que Sarah não era de todo ruim. Lembro-me de ter ficado na companhia deles nas várias tardes em que passei na residência dos Chase, fazendo trabalhos de matemática, e a nova Sra. Chase sempre se mostrou adorável. Ela nos fazia biscoitos e trazia copos de sucos, mas Annabeth apenas pedia para que ela saísse.

Ela foi gentil, Annie. – murmurou Percy, naquele dia. – não devia tratá-la assim.

Vê se cala a boca.– era o que ela dizia, e então rabiscava mais alguns exercícios para mim e permanecia de cara fechada pelo resto do dia.

Fotografias de Athena ocupam a maior parte do álbum de fotos da filha. Embora tivesse os cabelos negros, ela e Annabeth possuíam os mesmos olhos cinzentos.

Enquanto tagarelo sobre os Summers, ela adquire um ar meio chateado. Interrompo meu monólogo no mesmo instante, e isso a faz erguer uma sobrancelha para mim.

– Desculpe. – digo. – eu nem perguntei sobre você…

– Ah – ela dá de ombros. – tudo está a mesma coisa de sempre. Freder… Meu pai está planejando viajar no próximo feriado. Bobby e Matthew estão extasiados, e Sarah… Bem, ela está ok. As coisas nunca estiveram muito legais, mas atualmente o clima está insuportável.

Permaneço em silêncio, caso ela queira continuar. E o faz.

– Na semana passada saí com Percy. Fomos ao cinema e depois jantamos, mas acabamos por chegar um pouco tarde em casa. Isso foi o bastante para meu pai ter um ataque.

Frederick é calmo até demais. Ele é um cara despreocupado e liberal, mas um tanto apreensivo em relação a Percy. Acho que todo pai de filha comprometida é assim, afinal.

– Não é como se tivéssemos feito algo errado! – exclama Annabeth. – eu me senti péssima por ter chegado após o toque de recolher, mas tinha me divertido. É bom quebrar as regras às vezes, não é? Ele sempre diz isso, o meu pai. Mas quando se trata de Percy…

Ela suspira.

– É como se ele apenas fosse meu pai quando Percy está por perto. – conclui.

Eu assinto, percorrendo os dedos pela grama. Os dois começaram namorar há quase um ano, e fazem um casal realmente fofo. Annabeth sempre foi certinha, e Percy é o garoto-problema. Não que ele se meta com bebida ou drogas, mas problema no sentido de tudo de ruim que pode acontecer com uma pessoa, acontece com o Percy.

– Acho que você devia dar uma chance a ele, Annabeth. – digo. – ao seu pai. Vocês podiam sair, sabe? Ir a uma biblioteca, um museu. Um lugar onde ambos se sentissem confortáveis, e conversar. Talvez se você dissesse como se sente com essa relação entre vocês... Talvez ele mudasse.

Ela sorri.

– É melhor aproveitar – continuo, num tom mais baixo. – antes que ele não esteja mais aqui.

Annabeth aperta meu ombro amigavelmente. Ela coloca uma mecha do próprio cabelo atrás da orelha antes de se levantar.

– Obrigada, Leo. – diz. – vou fazer isso. E boa sorte com os Summers! Depois que encontrá-los, conte-me tudo.

– Pode deixar. – sorrio e ela se afasta, em direção à casa.

Me levanto e sacudo a grama da roupa. De repente, vejo o sol ser substituído por nuvens escuras.

Ah, fala sério.

Ajudo Reyna a recolher os copos e toalhas, e finjo não notar quando nossos dedos se tocam tentando alcançar a toalha que algum infeliz largou pendurada em um galho.

Ela mal percebe, é claro, mas isso me faz sorrir.

Sinto respingos em meu rosto, e logo eles se transformam em milhares de gotas afiadas como navalha. A chuva praticamente despenca, mas a sensação é boa. É quando noto que estamos parados no meio do temporal, rindo um do outro.

– Não é engraçado como uma garoa pode se transformar numa chuva dessas? – ela olha para o céu como se esperasse a resposta.

– Acho engraçado como duas pessoas completamente bobas podem ficar paradas no meio da chuva. – digo, retomando caminho para a casa. – a não ser que você realmente queira pegar um resfriado.

Reyna tira as sandálias antes de me acompanhar. Após o Marco Polo, ela vestira um shorts e regata, mas a roupa já se encontrava completamente colada em seu corpo. Eu demoro um tempo para desviar os olhos de suas curvas.

Antes de entrar, olho para ela de canto de olho, novamente. Talvez Reyna nunca saiba disso, mas a vontade de beijá-la no meio da chuva fica maior ainda quando há um sorriso estampado em seu rosto.


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Notas finais do capítulo

Eu queria agradecer por todos os comentários, e pela recomendação (!!!!!!!). Sério, galera, obrigada de verdade. Vocês não tem ideia do quanto eu fico feliz lendo essas coisas fofas.
Espero que tenham gostado e, bom, até a próxima.