Pouring Rain escrita por Mirchoff


Capítulo 2
Capítulo I - Someone like you, and all you know, and how you speak


Notas iniciais do capítulo

Bem, aqui está o primeiro capítulo



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Meus olhos se abrem assim que Frank Zhang grita para que eu acorde. Minhas pálpebras pesam e sei que não dormi direito. Nunca durmo direito, desde que fui largado nesse orfanato sem mais nem menos. São sempre os mesmos pesadelos. Uma casa em chamas, minha mãe gritando.

Frank dá risada ao ver minhas olheiras, ele joga a mochila nas costas e sai dizendo para que eu não me atrase. Não vou me atrasar. Eu nunca me atraso.

As paredes cinzentas me dão bom dia, e a água fria que jogo em meu rosto me desperta por completo. São seis e quarenta e cinco. Tenho dez minutos para me trocar e pegar o ônibus. O forro range e cai poeira em meu cabelo. É uma clara mensagem de Hazel. "Reyna acabou de aparecer na janela".

Hazel e Jason são as únicas pessoas que sabem sobre meu pequeno segredo, coisa que só Jason devia saber, porém Hazel notou o "jeito diferente com que eu olho para Reyna" no dia do passeio da escola. Fomos para um museu, e eu disse para ela usar o bebedouro antes de mim. Hazel disse que eu fui muito fofo, e Jason disse que eu sou muito babaca.

Espio pela janela. Ela está ali, debruçada sobre o parapeito da janela de seu quarto, acenando para a irmã que acaba de sair de casa para ir ao trabalho. Hylla deve ser seis ou sete anos mais velha que a irmã, mas as duas são tão parecidas que é difícil não dizer que ambas tem dezesseis anos.

Eu me apresso, pulando num moletom e vestindo a camiseta do colégio. Hazel sempre diz que eu devia usar jeans, mas não troco meus moletons por nada.

Chuto o pé da cama de Nico, que ainda está desmaiado na beliche. Ele resmunga qualquer coisa, tentando me atingir com um tapa lento demais.

– Acorda, Di Angelo. - digo. - você quer mesmo que eu jogue suas cartas de mitomagia fora?

Eu saio do quarto antes que ele jogue um travesseiro em mim. Nico tem uma coleção impressionante de cartas e bonequinhos de mitomagia. Sempre tira pó da prateleira repleta de miniaturas de deuses gregos. Eu cedi parte da minha prateleira para que ele colocasse seus livros, já que não tenho tanta coisa para por ali. Meus livros ficam na escola, e tudo que levo na bolsa de carteiro é o dever de casa e um caderno de anotações, além de balas, canetas e borrachas perdidas.

Nico está na faculdade, e em um ano será maior de idade. Seu plano é arrumar um emprego e conseguir uma casa boa para ele e Hazel morarem, dentro de três ou quatro anos. Ah, sim. Eles são irmãos. Por parte de pai, acho. Ninguém que os visse na rua diria que são irmãos, são diferente demais. Hazel está animada com a ideia de sair do orfanato.

Nico é um dos caras mais antigos daqui, chegou até mesmo antes de mim. Ele já tinha dezesseis anos quando Hazel chegou, com doze. Nem sabiam que eram irmãos, foi só a conselheira tutelar mostrar-lhes que ambos tinham o mesmo pai, nas certidões de nascimento.

Vejo Hazel descendo as escadas e apostamos corrida até o refeitório. Me despeço dela e pego uma torrada, saindo em seguida.

Corro para o ponto de ônibus e vejo Reyna subir. Ela está, desta vez, com uma revista de palavras cruzadas em mãos.

O ônibus leva quarenta e cinco minutos para chegar em frente a escola. Durante esses quarenta e cinco minutos, ela não ergue os olhos para mim

nenhuma vez. Agradeço silenciosamente, acho que não conseguiria desvirar o olhar sem sentir minhas bochechas esquentarem.

Alguns alunos estão curtindo os vinte minutos antes do sinal bater, deitados na grama e se aquecendo ao sol, ou lendo algo, ou sentados numa roda de amigos.

Como sempre, atravesso a rua e compro um café. Como sempre, Reyna faz a mesma coisa. Frapuccino com muito creme e pouco caramelo. Hoje, ela pede um biscoito de chocolate. A vejo atravessar a rua e volto a tomar o café.

– VALDEZ! - é o que Jason grita assim que chego na sala designada para as aulas de inglês.

– E aí? - cumprimento-o. Nós fazemos aquele típico "Toque de cumprimento masculino" ou seja lá qual for o nome para bate-aperto-ombros-se-chocam.

– Não entendo qual é a desse "E aí?". - murmura Piper. - o que há de errado com "Oi"?

– "Oi" é coisa de mulher. - Jason e eu damos risada após dizermos isso juntos, fazendo-a revirar os olhos.

Eu me sento ao lado de Jason, notando que Reyna acaba de se sentar na primeira carteira, ao lado de Annabeth Chase. Elas vivem grudadas, é incrível.

– Terra para Leo, câmbio. - Jason estala os dedos na frente de meu rosto. - qual é, cara. Daqui a pouco você tira um cartãozinho em forma de coração e vai lá entregar pra Reyna.

– O que? - indaguei, sacudindo a cabeça. - ay dios mio, como você é irritante!

– Isso é tão fofo! - exclama Piper, rindo. - Leo & Reyna sitting in a tree, k-i-s-s-i-n-g...

ESPERA! Como assim?

Eu me viro para ela, incrédulo. Isso só a faz rir mais.

– Qual é, Leo. Tá na cara. - murmura.

– Dios mio. - me viro para frente e escondo as mãos no rosto, derrotado. - a última pessoa que devia saber disso era você, Rainha da Beleza. Melou tudo agora.

Ela e Jason gargalham tão alto que eu afundo na cadeira. Assim que eles param de rir, conto qualquer piada inútil para que esqueçam esse assunto. Piper se engasga depois de ouvir a do "Era uma vez um pintinho chamado Relam. Quando chovia, Relam piava!".

A professora gordinha e com um sorriso gentil entra na sala. Seu nome é Tanya. Ela está com um vestido florido que faz parecer com que ela tivesse saído de um livro infantil.

– Hoje, meus alunos - diz ela. - iremos juntar algumas duplas! Vocês irão escolher um poema de seu agrado, e recitá-lo para a classe.

A sala se enche de murmúrios, mãos se lançam no ar, esperando as respostas para suas perguntas. Tanya dá um sorrisinho, apontando para cada um como quem estivesse fazendo "Minha mãe mandou eu escolher esse daqui...".

– Reyna. - diz ela, com as mãos na cintura. - querida, você lê bastante, não é?

– Na maioria das vezes. - responde a garota. - por que, Prof. ª Webb?

Tanya sorri, desta vez olhando para a classe.

– Para formar as duplas, juntarei alunos, digamos que, diferentes. - explica ela. - Jason, por exemplo, você ficará com Katie. A Srta. McLean e o Sr. Zhang também!

E uma longa lista de nomes se desenrola. Katie Gardner é quietinha e lê muito, alguns dizem que ela é apaixonada por Connor Stoll, e vice-versa. Jason é falante e muito bocó (na maioria das vezes). Piper é disléxica, e Frank tem sono pesado e gosta de poesia chinesa.

É totalmente bizarro. Duplas que eu nunca imaginei que poderiam ser formadas.

Depois de Travis Stoll reclamar que não queria recitar poesia com Dakota, e a professora ceder e dizer que ele poderá sim ter Clarissa Jones como par, e Hazel quase chorar quando a professora disse que seu par era Octavian, eu notei as duas únicas pessoas que não tinham par.

– E o Sr. Valdez com a Srta. Muñoz. - diz a professora, cruzando os braços. - agora, vocês deverão se reunir com seus pares e dec...

Eu não ouço mais nada além do "tum tum tum tum" frenético que são os meus batimentos cardíacos. Não vejo Jason levar uma livrada na cabeça, nem Silena dançando pela sala com Clarisse, nem Travis tentando roubar um beijo de Clary. A única coisa que vejo é Reyna sentando-se ao meu lado e jogando a trança para trás, colocando alguns livros de poesia em cima da carteira e olhando para mim. Seus olhos escuros perfuram minha alma e eu tenho vontade de virar pó. Meu cérebro vira gelatina e eu sinto minhas mãos caírem em meu colo. Mãos, vocês poderiam parar de suar agora.

– É Leo, né? - pergunta ela, franzindo a testa. - você está bem?

– Como dizia Shakespeare, sim. - respondo.

Imediatamente começo a murmurar "Idiota, tosco, ridículo, besta, inútil, burro, palhaço. Ela nunca mais vai querer falar comigo. Você é um babaca, Valdez, não podia pensar em coisa melhor? Idiota, tosco, ridículo, besta, inútil, burro, palhaço..."

Eu quero morrer.

– Hum, Valdez? - Reyna me cutuca, e percebo que me desliguei completamente enquanto recitava meu mantra da vergonha. - desculpe interromper seu quase-surto mas... Nós temos que escolher o poema.

– Ah, claro. - murmuro. - ok...

Preciso me enfiar numa bolha de sabão e viver lá o resto da minha vida. Fim.


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Notas finais do capítulo

Eu estava assistindo "Boa Sorte Charlie", e a Evy (eu acho que se escreve assim) respondia as perguntas com "Como dizia Shakespeare...", então me inspirei nisso, desculpe se ficou um lixo *esconde o rosto nas mãos*
Não deixem de comentar, viu? Se quiserem falar comigo, pode ser pelo twitter ---> @PercysJacksons (: