Pouring Rain escrita por Mirchoff


Capítulo 13
Capítulo XII - Well some birds aren't meant to be caged


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu tenho algumas coisinhas importantes pra falar.
Primeiramente, um super obrigada e um cookie com gotas de chocolate pra Anna, porque ela recomendou a fic e eu adorei.
Segundamente, desculpa pela demora. Acabei de voltar de viagem.
Terceiramente, hoje (04/01) é aniversário da Mirellaaaaa!!! Parabéns lindinha, e obrigada por acompanhar a fic.. O capítulo de hoje é pra você.



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Como se para desgraçar a coisa toda de uma vez só, chove. E chove muito.

Eu não tenho muita certeza do que acontece em seguida. O campo se esvazia num piscar de olhos, com gente gritando e outras rindo. Vejo Sally entrando na ambulância, e Piper grita com uma equipe de torcida desesperada pela chuva.

Eu sinto milhares de gotas pesadas ensopando minhas roupas e gelando meus ossos. Quando eu consigo tirar o cabelo dos olhos, a equipe médica da escola já embalou Percy e eles somem de vista. Eu vejo um borrão loiro e não tenho certeza se é Jason ou Annabeth, mas pelo modo como corre, suponho que seja a garota.

Sinto uma mão quente repousar em meu ombro, e me viro.

– Jason disse que a gente pode ir pro hospital no carro dele. – diz Reyna. Ela afasta o cabelo ensopado do rosto, fazendo uma careta em seguida. Eu sei que ela odeia bagunçar o cabelo desse jeito. – você vem?

– É claro. – e eu a sigo pelo campo.

A chuva dificulta minha visão. Quando eu desisto de tentar proteger os olhos da chuva, Reyna se torna um borrão e mal consigo vê-la. Eu tropeço diversas vezes até cair na grama lamacenta.

Antes que eu possa soltar um "merda!" ou resmungar qualquer coisa, uma mão estendida surge em frente ao meu rosto.

– Você não consegue dar dois passos sem cair, né? – Reyna usa um tom brincalhão que me faz sorrir. Ela fecha seus dedos finos em meu pulso e não só me ajuda a levantar, como só solta minha mão quando atravessamos o campo por completo.

Sinto falta da temperatura de sua pele quase que imediatamente.

No carro, o caminho para o hospital dura quinze minutos. Jason não se importa com nossas roupas molhadas e cabelo pingando, até porque ele está na mesma situação. Eu agradeço mentalmente por ter passado no vestiário para me trocar antes de ir, ao passo que Jason parece sofrer com o uniforme molhado. Ele liga o ar condicionado e suspira, aliviado, com o ar quente.

No banco traseiro, Reyna prende o cabelo num coque desajeitado. Eu só percebo que a observei pelo espelho retrovisor o percurso inteiro quando nossos olhares se cruzam e ela levanta uma sobrancelha para mim. Rio, envergonhado, e desvio o olhar.

A cafeteria do hospital está praticamente vazia quando eu, Reyna e Annabeth nos sentamos numa mesa redonda. O cheiro dos pães de queijo faz com que o desconforto das roupas molhadas pareça mais suportável.

– Come um. – Reyna desliza a cestinha dos salgados para perto de Annabeth. – você não comeu nada durante o jogo inteiro.

Ela aceita, pescando o menorzinho. Eu e Reyna nos entreolhamos enquanto Annabeth come em silêncio.

Meus lábios se movem sem emitir nenhum som.

"Eu odeio hospitais."

Reyna responde da mesma forma.

"Eu também. Quebrei o tornozelo um tempo atrás. Traumatizei."

Cavo em minha memória alguma lembrança do ocorrido. Quinze pra dezesseis anos. Era o aniversário de Jason. Gesso com várias assinaturas e recados fofinhos. Eu rabisquei um "Leo" com uma carinha mais ou menos como "=)". Reyna sorriu e agradeceu, e eu levei um copo de suco para ela antes de Jason levantá-la e eles rodopiaram juntos pelo quintal.

A risada de Reyna foi a trilha sonora daquele dia.

Meses antes, eu teria achado o relacionamemto deles o máximo. Mas, na época, eu já tinha aqueles pensamentos de "deveria ser eu".

– Vocês já podem conversar em voz alta, ok? – Annabeth cruza os braços e por alguns instantes penso que está irritada, mas ela sorri. – não sou surda e nem cega, tá?

– Desculpa. – eu passo a mão pelo cabelo ainda úmido, sem graça. – eu estava dizendo que odeio hospitais. É tudo branco demais, limpo demais.

– E o cheiro – Reyna enruga o nariz e eu acho o gesto extremamente fofo. – é insuportável. Entra na lista dos piores odores do mundo, atrás de "cheiro de dentista" e na frente de "lixo de restaurante japonês".

Annabeth se levanta depois de algum tempo, com dois cafés nas mãos para Sally e Jason. Ela murmura algo sobre voltar depois e deixa a cafeteria com passos rápidos.

– Você é de onde? – Reyna se vira para mim, girando o copo de café nas mãos.

– Houston. – respondo. – e você?

– Porto Rico. Os Muñoz encontraram Hylla e eu num orfanato por aí...

– Velásquez? – opino. Ela enruga o nariz novamente. – Hernández? Ah, vamos lá. Qual o sobrenome na sua carteira de identidade?

Ela revira uma bolsa que eu ainda não havia notado. Segundos depois, ergue uma carteira roxa e tira de lá a identidade.

– Eu adotei o nome dos Muñoz quando era muito pequena. – ela revela o nome dos pais adotivos no documento. – mas o sobrenome do meu pai era Avila. Pelo menos foi o que Hylla disse.

– Avila? Só Avila?

– Hylla Avila Ramírez–Arellano é o que consta na certidão da minha irmã. Eles só registraram ela. – Reyna faz uma careta. – eu prefiro Muñoz. Eu não... Não quero nenhum laço com as pessoas que deixaram minha irmã e eu num orfanato de Porto Rico.

– Reyna Muñoz.

Ela sorri.

– Só Reyna. – diz.

– Só Reyna. – repito, sorrindo de volta.

Quando eu decido subir para ver Percy, Reyna diz que precisa ir embora. Nós nos olhamos por alguns segundos antes que eu finalmente tome coragem pra perguntar se quer que eu a acompanhe.

– Não precisa, Leo. – e sorri. – mas obrigada. Eu vou pegar um táxi. A gente se vê depois.
–x–

Percy é liberado na segunda–feira à tarde, com pinos no ombro, uma costela fraturada e completamente desolado.

A ligação que recebo assim que saio do Taco Bell, seis e meia da tarde, é do celular dele, mas quem fala é Jason.

– Onde você tá?

– Ah, oi pra você também. – ironizo, fazendo sinal para o ônibus. – eu acabei de sair do trampo. Kent passou mal e eu tive que sair da escola e vir pra cá. Pelo menos não vou precisar vir na quarta...

– Vem pra cá. – é um tom quase manhoso, o que me faz rir. – o Percy tá numa fossa gigantesca. O Zack tá aqui e o Grover também.

Ele faz uma pausa antes de continuar, e noto que afasta o celular da orelha. Ouço Grover clamando por uma pizza ao fundo e o som de alguma coisa se quebrando. Mesmo com a voz abafada, posso ouvir Percy gritando algo parecido com "Que merda, Zachary, que merda. Limpa isso aí, cara!"

– A Sally saiu. – Jason volta. – ela foi comprar uns remédios pro Percy. Queremos duas pizzas de calabresa e uma de quatro queijos, por favor.

– A sua sorte é que tem uma pizzaria pertinho daí. – digo, revirando os olhos. – chego em uns quarenta minutos.

E o faço. Quando dou três toques na porta, equilibrando precariamente as caixas de pizza numa mão, Jason abre com um sorriso no rosto.

– Eu pensei que você fosse dar cano na gente. – e arranca as três caixas das minhas mãos, rumo ao quarto de Percy.

Eu fecho a porta e o sigo.

A casa dos Jackson é, provavelmente, a casa mais confortável que já vi na vida. Eles moravam num apartamento no Upper East Side, em Nova York, e sabe–se lá porque vieram para Bristol.

As poltronas cor de creme, o tapete antigo que era da avó de Percy, os quadros pintados por Sally pendurados nas paredes. É tudo familiar demais e me sinto grato por isso. Foram várias as vezes que passei fins de semana aqui jogando buraco com os Jackson.

Eu deixo a mochila na sala, porque sei que Sally me diria para que o fizesse. No corredor, o quarto de Percy é a segunda porta à direita.

E assim que entro, ele começa a chorar.

Não chorar assim, escondendo o rosto, secando as lágrimas com as pontas dos dedos. Percy abre o berreiro, a cabeça encostada na parede da janela, o rosto contorcido numa mistura de mágoa e dor.

– Bota pra fora, cara – murmura Grover, dando tapinhas no ombro (bom) dele. – bota pra fora que é melhor.

Eu me sento na cadeira da escrivaninha, recebendo uma olhada de canto de olho de Zack. Ele movimenta os lábios. Duas coisas. "Bolsa de estudos" e "Faculdade". Minutos depois, "Perdeu a chance".

– Percy, olha pelo lado bom. – diz o slotback. – tem pizza. E bebida.
Percy puxa o travesseiro e afunda o rosto ali por alguns minutos, e então ergue o olhar.

– Se eu pudesse – diz, soluçando em intervalos irregulares. – eu tomava um porre daqueles agora mesmo. Mas. Eu. Não. Posso.

Jason, sentado na ponta da cama, toca um cooler vermelho de cerveja com a ponta do pé.

– Você aceita se eu tomar uma por você? – pergunta, se virando para Percy.

Ele balança a cabeça positivamente, esfregando o olho em seguida.

– Aproveitem por mim. – ele se ajeita na cama com visível desconforto.

E nós bebemos, e comemos pizza, e conversamos sobre qualquer coisa que faça Percy se distrair. Ele chega até a dar risada, mas se arrepende em seguida. Pelo visto, até respirar dói.

Assim que Sally chega, ela revira os olhos para as latas vazias de cerveja e pergunta se precisamos de alguma coisa.

– Obrigado, Sally. – digo. – estamos tranquilos.

Ela sorri e vai para seu pequeno ateliê no final do corredor. Assim que bate a porta, Percy ameaça chorar novamente. Eu rio, jogando uma almofada em sua cabeça.

Ele faz uma careta, mas dá um sorriso assim que todos começam a gargalhar.

Quando eu pego o ônibus e chego no orfanato, às sete e quarenta e oito, a cerveja me revira o estômago.

Dios, se eu beber toda vez que alguém quebra alguma parte do corpo...

Cruzando um dos corredores, encontro Hazel. Ela questiona meu desaparecimento repentino, mas apenas balanço a cabeça.

– Vejo você no jantar, Hazy. – murmuro. Ela dá tapinhas no meu ombro antes de continuar andando.

Meu celular vibra em meu bolso. Número desconhecido.

(07:53 PM)

Hey, n te encontrei pela escola então pedi seu número p annabeth. Qr sair p tomar sorvete? - reyna x

(07:54 PM)

claro. amanhã dps da aula? - leo

Eu salvo seu número antes que ela responda. Sorrio.

(07:55 PM)

Yep. See ya ;) - reyna x

Dios. – eu me recosto numa parede aleatória, sorrindo para o nada. – sorvete. Reyna. Ah.

Depois de alguns minutos completamente fora de órbita, subo as escadas rumo ao corredor dos quartos masculinos. Me troco rapidamente, cutucando um Nico adormecido. Ele resmunga qualquer coisa e se levanta.

– Você não vai trocar isso aí? – ele indica o curativo em meu cotovelo, resultado de uma das quedas no jogo.

– Depois do jantar. – respondo, fazendo careta. – e se tentar arrancar o esparadrapo enquanto eu estiver distraído, eu mato você.

Nós descemos as escadas em silêncio. O refeitório é grande e fresco, com duas mesas amplas e banquinhos como aquelas mesas do Salão Principal, de Harry Potter.

Eu não gosto muito de falar sobre o orfanato. Mesmo que eu esteja aqui há tanto tempo, continua sendo um lugar de atmosfera ruim. É grande, com várias janelas e portas de madeira maciça, com paredes cinzentas e tapeçarias antigas. Eu costumava ter pesadelos nas primeiras noites.

A verdade é que é como se fosse uma prisão.

A cozinheira faz pizzas deliciosas toda segunda–feira. Eu pego apenas uma maçã na fruteira, alegando ter comido na casa de um amigo, e me sento com Hazel e Nico.

– Como o Percy tá? – Nico cutuca um pedaço de pizza com a ponta do garfo. Ele revira os olhos, passando a mão pela barriga. – ai, tô enjoado demais pra comer.

– Ele tá péssimo. – respondo, girando a maçã nas mãos. – tipo, vocês sabem que geralmente os olheiros das faculdades aparecem nos jogos, certo?

Eles assentem, esperando que eu continue.

– Nenhum deles aparece nos primeiros jogos da temporada. – eu deixo a maçã em cima do prato. – o Percy tá no último ano, a Sally não tem como pagar uma faculdade extremamente boa. Ele estava contando com o futebol para conseguir uma bolsa em Yale, NYU ou Princeton.

– E... ? – Hazel cobre a boca com a mão para poder falar enquanto come.

– E o médico disse que ele não pode mais jogar. – concluo.

Eles ficam em silêncio e tudo o que ouvimos são as conversas das outras pessoas.

– Talvez se ele prestasse para a universidade daqui... – diz Nico, baixinho.

– É. – concordo. – mas ele quer ir pra Nova York. Quem sabe Cornell...

– Assim que fizer vinte e um vou pedir transferência para Berkeley. – diz Nico. – e aí eu e Hazel damos o fora daqui. Certo? É só esperar mais um ano...

Ela sorri para o irmão. Os dois batem um high five.

– Certo. – Hazel diz, antes de voltar sua atenção para a pizza.

Nico está na Penn State. É uma longa distância entre Bristol e a Filadélfia, mas ele não se deixa abalar. Pega o trem todos os dias, vai e volta.

– Vocês vão me abandonar e ir pra Califórnia. – começo a choramingar, fazendo bico.

– Não fique assim, Valdez. – Nico bagunça meu cabelo, o que me faz bufar e Hazel dá risada. – espero te ver em Berkeley um dia. Ou Cornell. Não fique nesse fim de mundo, cara. Sério.

– Isso foi uma recomendação ou uma ameaça? – brinco, rindo.

Ele dá de ombros.

– Os dois.

Nós conversamos sobre coisas aleatórias como faculdade e molho de tomate até que todos se retiram, inclusive nós.

Eu penso sobre o que Percy deve estar sentindo até pegar no sono.


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Notas finais do capítulo

E um olá para os novos leitores, porque eu ia colocar isso nas notas iniciais mas achei que ia ficar comprido demais. Hey!
Desculpe por qualquer errinho. Escrevi nas notas do celular e revisei super rapidinho aqui no notebook antes de colocar no site. :3
Anyway, até a próxima. x
(e obrigada por todos os reviews fofos, acho que não respondi tuuudo, mas li. eeeee)