Pouring Rain escrita por Mirchoff


Capítulo 11
Capítulo X - I run for the bus, dear, while riding I think of us


Notas iniciais do capítulo

São quase quatro da manhã, e cá estou.
Mil desculpas por não ter postado isso na segunda-feira. Foi o meu aniversário e saímos pra comer tacos (nem preciso dizer que lembrei do Leo, certo?) e realmente não deu. E digamos que eu não tinha terminado ainda. SORRY!
Ah, eu queria agradecer por todos os reviews fofos dos dois últimos capítulos. Eu não respondi tudo, mas li. OBRIGADA! Vocês são uns amores.



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A semana passa tão rápido que mal percebo.

Os treinos do futebol se tornam mais frequentes à medida que o grande dia se aproxima. Nós treinamos durante as aulas de educação física, à tarde, e na quarta-feira tivemos de treinar à noite. E enquanto o time inteiro sofre nas mãos de Jason, ele parece mais eufórico a cada reclamação.

– Olha – murmura Percy, quando nos sentamos na arquibancada para descansar. Ele estica os braços, resmungando de dor – depois desse jogo, eu vou matar o Jason. A menos que eu já esteja morto antes disso. Então, eu volto do além para enfiar a cabeça dele numa privada e afogá-lo.

– Eu te ajudo, ok? Nem acredito que já é amanhã. – eu deixo a cabeça pender para trás, sentindo pequenos pontos gelados tocarem meu rosto. – e também não acredito que vai nevar agora. Estamos no outono!

Os flocos de neve não caem aos montes, mas o treinador nos expulsa do campo dizendo algo sobre não querer jogadores doentes. Livres do uniforme pesado e desconfortável, e depois de mais uma ducha no banheiro nojento, Jason nos libera.

E toda sua animação desaparece quando o vestiário se esvazia, restando apenas ele e eu. Jason se senta no banco e olha para os armários antes de abaixar a cabeça.

– Estou com medo, Leo. – murmura ele, a cabeça entre as mãos.

Me sento ao seu lado, dando tapinhas em seu ombro. São raras as vezes em que eu sou o que consola, e não o consolado. Geralmente, é o posto de Piper. E geralmente ganhamos biscoitos, um sorriso e um beijo na testa depois de um dia de fossa.

– Tudo está ok, cara. – digo. – nós treinamos bastante e estamos bem. Vamos massacrar a St. Thomas, tá? Vamos fazê-los chorar e implorar pelas mamães deles.

Não tenho certeza se minhas palavras são para ele ou para mim mesmo. Ao parar para pensar sobre o assunto, percebo que estou tão apavorado quanto Jason. O jogo contra a St. Mark significava uma chance nas regionais, e o resto do time precisa disso. E eu sou o cara novo, de última hora, o que precisou "aprender" tudo em uma semana, o que pode ser bom, mas também pode ser bem ruim. Eu estou ferrado.

A minha vontade é de me enterrar no chão e só voltar a aparecer no ano que vem.

Jason e eu permanecemos em silêncio por algum tempo, até ele se levantar e ir até a pia, jogando água no rosto. Eu o espero, e saímos do vestiário ainda em silêncio.

– Escuta, superman – eu sorrio. – é bom você tirar essa cara de quem parece que vai morrer e se preparar para o cinema. Eu te dou cinco minutos após as aulas para chegar no portão sorrindo. Caso contrário, eu irei te arrastar. E sem pipoca pra você.

Ele dá de ombros, mas o esboço de um sorriso surge em seu rosto. É o bastante.

–x–

O prof. Eyre me olha feio quando peço licença e entro de fininho na sala. Robert é baixinho, calvo e sempre chega pelo menos vinte minutos antes da aula começar. Mesmo sendo intolerante a atrasos, alunos que tiram F e lactose, ele é o melhor professor de História da história dos professores de História. Quase aos sessenta, ele está prestes a se aposentar e continua dizendo que vai chutar o traseiro de todo mundo que levar bomba nos testes finais.

– Atrasado de novo, Valdez? – comenta, anotando algo em sua agenda. O meu nome, provavelmente, pela terceira vez só naquela semana. Seguido de um "Não tenho mais de onde tirar pontos", talvez.

– Meu relógio está quebrado. – digo, sorrindo amarelo. Eu ergo o pulso, mesmo não usando relógio nenhum. – ele não tem ponteiros, vê?

O professor sorri, divertido, antes de continuar sua aula.

Eu me sento ao lado de uma Rachel adormecida, que desperta por completo quando derrubo meu caderno no chão. Parabéns, Leo.

– Desculpe. – murmuro, mas ela dá de ombros, bocejando.

– Não tem problema. – diz, prendendo os cabelos ruivos num coque desajeitado. – eu teria que acordar em algum momento. Então, obrigada.

Quando Eyre não está olhando, ela coloca as pernas em cima da mesa e cruza os braços, bocejando novamente.

Rachel é o tipo de garota completamente despreocupada com tudo, e isso é legal. Alguns diriam que é completamente pirada, mas ela só tem o seu próprio modo de ver as coisas.

Em sua primeira semana de aulas, dois anos atrás, ela e Percy conseguiram ser suspensos por brigar com uma daquelas típicas turmas de valentões. Os caras pegavam no pé dos alunos menores e mais frágeis, e de algumas meninas também. Às vezes Percy tem dores no ombro que fora deslocado, mas diz que não incomoda tanto assim. Mas Rachel ainda abre aquele sorriso orgulhoso quando vê o nariz torto de Walter Gibbson, resultado vindo de seu pequeno (porém mortal) punho. E, também, das aulas de boxe que eu tenho certeza de que ela fazia até o ano passado.

– Eu gosto da sua calça. – digo, enquanto rabisco qualquer anotação em meu caderno. A ponta da lapiseira se quebra. Desisto. – e eu não me lembrava que tínhamos História juntos.

– E não tínhamos. – ela ri um pouco alto demais, chamando a atenção de uns cinco alunos. – eu pedi que mudassem meu horário devido a algumas garotas estúpidas. Fala sério, ninguém merece ouvir comentários idiotas antes das nove horas. E eu gosto da sua jaqueta.

A sala mergulha em um silêncio irritante enquanto o professor anota algumas coisas no quadro negro. Eu dou batidinhas na mesa com a lapiseira repetidas vezes, fazendo com que um ou dois alunos me olhem de forma irritada. Reviro os olhos, pousando a lapiseira sobre o caderno.

– Rachel? – murmuro, me virando para ela. – está dormindo?

– Descansando os olhos. Sim? – ela abre os olhos.

– A galera vai pro cinema depois da aula. Quer ir?

Ela baixa os olhos para a camiseta da Mona Lisa que está vestindo. Rachel não costuma sair muito, e sua ida para a casa do lago me surpreendeu. Geralmente está ocupada com alguma manifestação ou protesto, ou simplesmente fica pintando em casa. Ela faz parte do clube de artes da escola, e suas pinturas são realmente lindas. Mexe na barra da camiseta antes de responder.

– Desde que eu tenha um saco de pipoca doce só pra mim.

–x–

Cheiro de cinema é cheiro de pipoca. É maravilhoso. E feliz.

Eu entrego o último saco de para Frank, que parece um ursinho feliz. Ele recebeu um A+ naquele trabalho, e acho muito merecido. Eu não fui dormir lá pelas três da manhã para vê-lo receber um B, ok? Ok.

– Jason, não é pra comer tudo antes mesmo de entrar na sala. – ouço Piper dizer, num tom irritado. Ao meu lado esquerdo, Hazel tenta não rir. – e eu não vou dar a minha pipoca para você. É a vez do Leo.

– Não é, não! – protesto, revirando os olhos. – eu não quero falar sobre esse acordo estúpido, ok? E o filme vai começar, calem a boca.

As luzes se apagam e a sala finalmente se silencia. Eu sinto dedos finos apertarem meu braço de leve e é como se um choque atravessasse meu corpo inteiro.

– Obrigada pelo convite. – murmura Reyna. Eu posso sentir o aroma de seus cabelos, e a temperatura de sua pele em contato com a minha. Ela parece tão próxima...

E, como sempre, tão longe. Ela se distancia, se ajeitando na poltrona e colocando o celular no silencioso. Eu suspiro, derrotado.

O cheiro da pipoca começa a me parecer um tanto triste e incômodo, e não é porque Jason mastiga fazendo muito barulho.

O Casamento do Meu Melhor Amigo é de 1997, mas continua sendo um dos melhores filmes que já vi. E eu nunca tinha assistido esse começo. É realmente frustrante quando você gosta de um filme, mas não sabe como ele começa. Ao longo do filme, posso ouvir diversos "Cale a boca" que com toda a certeza são para Jason, que se cala assim que recebe uma cotovelada. Ou algo forte o suficiente para fazê-lo soltar um "Mas que mer... Ouch!"

Quando George começa com um "The moment I wake up..." e Reyna dá pulinhos em sua poltrona, eu sorrio. Ela se vira para mim e praticamente posso ver as estrelinhas brilhantes em seus olhos.

– É o meu filme preferido. – murmura. – ou, pelo menos, um deles.

Before I put on my make up

I say a little pray for you

– Eu gosto. – comento, no mesmo tom. – quais são os outros?

Mesmo no escuro, posso vê-la dando de ombros.

While combing my hair now

And wondering what dress to wear now

I say a little pray for you

– Eu tenho uma lista. – diz, num tom tão baixo que me esforço para entender. – nós podemos ver alguns, qualquer dia desses.

Ela permanece em silêncio e eu simplesmente congelo. O que foi isso? Eu ouvi direito? O. Que. Foi. Isso?

Nós ficamos assim durante o filme inteiro. Alguns sussurros ali, outros aqui. Eu ainda tento processar o que acabou de acontecer. Foi algo meio ah, vamos assistir uns filmes que eu gosto muito ou eu gostaria de ver meus filmes preferidos com você? Ou ela simplesmente disse isso por educação?

Eu realmente espero não ter ficado boquiaberto ou em órbita por muito tempo.

Perto do final, pouso minha mão no apoio da poltrona. Minutos depois, Reyna faz o mesmo. As pontas de seus dedos tocam as costas da minha mão. Eu paro de respirar, ela prende a respiração com um pequeno engasgo muito fofo.

Quando me viro para pedir desculpas, sinto sua respiração quente. Eu olho para ela, ela olha para mim. Obsidianas. Lavanda. Noites de inverno. Chocolate quente com marshmallows.

– Me descul... – antes que eu termine, acontece.

Eu sinto seus lábios roçarem nos meus por maravilhosos quatro segundos. Não que eu tenha contado. Ou sim. Gloss labial e jujubas açucaradas.

Reyna não diz nada. E nem eu. Ela abre os olhos e sorri antes de se virar.

Talvez não tenha acontecido e eu esteja apenas delirando. Quando as nossas respirações já não se misturam mais e os créditos rolam, ainda estou meio bobo.

–x–

Meu sorriso tímido e a desculpa de que é porque o filme é ótimo não engana Piper. Ela ergue uma sobrancelha para mim antes de abotoar o casaco. Eu dou de ombros, jogando o saco de pipoca parcialmente vazio no lixo.

Cada um segue seu caminho. Antes de ir pela rua oposta, Piper me abraça e murmura um "Você não me escapa, conversamos mais tarde", me fazendo rir. Jason decide pegar um táxi e Rachel vai junto, murmurando um tchau sonolento para todos.

Hazel pula nas minhas costas quando viramos na esquina do orfanato. Nossas risadas ecoam pela rua, e Frank e Reyna passam a fingir que não nos conhecem.

– Puxa, tem cada maluco morando nessa rua. – comenta Frank, segurando o riso.

– Concordo plenamente. – ela leva os dedos à boca, tentando não rir.

Hazel puxa meu cabelo de leve quando paramos em frente ao portão. Ela murmura um "Eu vi aquilo, Leo Valdez" risonho antes de pular para o chão. Tenho vontade de esconder o rosto nas mãos.

– Cara, eu tenho dever de inglês. – Frank revira os olhos, flexionando os braços. – vejo vocês depois.

– Quer ajuda? – ele assente com a cabeça e Hazel sorri, e os dois entram.

Eu olho para Reyna, que acena do outro lado da rua.

– Nos vemos no jogo. – diz. E sorri.

Eu aceno de volta.

É como se eu pudesse correr em volta do campo de futebol vinte vezes sem perder o fôlego. Me sinto bem.

E ainda sinto o gosto das jujubas açucaradas em meus próprios lábios.


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Notas finais do capítulo

Eu não tenho nada a dizer, ok. Somente... YEAH!