Galhadas escrita por Probleminhas


Capítulo 1
Madness




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Era uma pequena garota, com talvez seus onze. As orbes gélidas e negras, refletindo todas as faces em um púrpura efervescente que abria caminho entre a escuridão de suas íris, fitavam a face daqueles a quem chamava de "família" e pouco se importava com ela. Jogada nos cantos, a jovenzinha fora esquecida há muito por tudo e por todos, jogada sozinha abaixo da fachada politicamente correta e social do mundo.

Ninguém mais a reconhecia, exceto por "ele".

Ele, com suas galhadas em terminação espiral e pelo albino, apoiando os olhos negros. O antílope bizarro e sem gênero definido arrastava-se até o tapete, as manchas na macia pelagem cintilando assim como o olhar apático da crianças. Finalmente com um sorriso no rosto, a menina sentava-se e com ele brincava de tudo por horas e horas, a criatura tornando-se cada dia mais vívida e humanoide. 

Ser fitada pela imponente criatura causava à garotinha calafrios, os olhos de ambos fixos um no outro. E o animal rebelava-se e magoava-se, mostrando-se mandão e, uma vez que não obedecido em suas brincadeiras, por vezes realmente divertidas mas por vezes bizarramente mórbidas, cobria a pálida e esquelética pequena com cinismos. Sem dó alguma, ameaçava-a; Ameaçava largá-la, sendo aquele ser a única criatura na qual a menininha poderia apoiar-se, divertir-se e em seu "ombro" afogar rancores. 

Mas, embora com toda elegância e teatral afeto, aquela bizarrice genética via-a apenas como objeto de diversão, nada mais do que um brinquedo para passar o tempo, e a pequenina, apesar da pouca idade, tinha plena consciência que ele pouco se importava com ela, assim como todos os outros.

Quando pela primeira vez em tempos a criança ouviu o estalar súbito da porta abrindo-se e o flash de luz abatendo-se sobre a escuridão quase completa do quarto. O antílope nada fez, apenas recuou um pouco, observando a mulher crescida contra a inocente jovenzinha, em meio a berros e palavras que para ela não repercutiam de forma alguma, não faziam-lhe sentido algum. Apenas o fato da adulta repreendê-la rancorosa e freneticamente já a fazia encolher-se e simplesmente chorar.

Seu parceiro apenas levantou-se e enfiou as galhadas contra o crânio da alta senhora.

Horrorizada mas ainda silenciosa, ela jogou-se no chão, fitando a criatura de face humanoide com seus olhos apáticos. Ali ficou jogada por dias, observando-se ser amarrada, enrolada, asfixiada nos próprios pensamentos que afogavam seu consciente e matavam-na psicologicamente.

Ela não entendia porque todos a ignoravam e muito menos porque homens de branco a imobilizavam e a tratavam como uma espécie de monstro, transportando-a de um canto para outro em seus cômodos brancos ambulantes e assustadores, sempre em companhia do ser.

A menininha apenas gostaria de ser esquecida novamente. 

Corajosamente, pôs as mãos sobre o pescoço e apertou-o rancorosamente, descontando toda a tristeza e loucura que acumulara no mundo em seu quarto de manicômio, finalmente com as mãos libertas por anos e anos sendo mordidas e rasgadas lentamente pelo próprio mármore podre que soltava-se do resto do chão.

Afinal, ela era Emilly, a garota paranoide que, em uma de suas alucinações, matara a própria mãe.

E, logo abaixo de seu peito, galhadas espirais marcadas por uma faca.


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Notas finais do capítulo

Tenho plena consciência que não foi um pingo assustador, apenas quis criar algo "ao estilo" mórbido, assim como Sicária.