E num piscar de olhos não havia mais tempo, o dia e a hora haviam chegado. Carlisle e Edward carregavam a bagagem em direção a pista de embarque enquanto eu, Nessie, Jake e Esme caminhávamos alguns passos a trás, conversando. Havia dor na voz da matriarca, o medo de que não fôssemos mais nos ver. Eu sentia aquilo também, e queria ter tido mais tempo para me despedir dos outros que haviam ficado em casa. Queria ter abraçado Alice uma última vez, queria ter olhado nos olhos lindos de Rosalie e admirado seu rosto angelical, queria abraçar Emmett e me sentir uma anã em comparação a ele, queria me despedir de Jasper e então me sentir mais calma ao me aproximar dele.

- Nós iremos o mais rápido quanto possível. - Esme falou, esperando de alguma forma que aquilo fosse ser tranquilizante - Não perderemos um minuto sequer.

- Obrigada. - murmurei em resposta, fitando o chão, sem a mínima coragem para olhar para ela e ver sua expressão de dor ao saber o imenso perigo para o qual caminhávamos com as próprias pernas - Tentaremos sobreviver o máximo possível.

- Sobreviver? - Esme repetiu a palavra como se fosse uma linguagem desconhecida, ou algum palavrão profano 

- Ora, todos sabemos que não vai demorar. - hesitei porém a essa altura não havia mais motivo para tal ação - Não vai demorar até que Aro saiba tudo. E se mentiremos dizendo que a visita é amigável, não fará sentido eu tentar proteger a mente de todos. Eles perceberão na mesma hora, assim que Aro estender a mão.

- E então... na melhor das hipóteses aprisionará vocês em suas masmorras, ou com mais azar no calabouço. Um lugar horrível onde qualquer vampiro preferiria a morte entre chamas do que estar ali.

Jake e Nessie eram um casal de mudos ao nosso lado, estavam de mãos dadas, tão intensamente que as pontas de seus dedos estavam brancas. As veias nas mãos de Jake eram bem visíveis. Sua mandíbula estava contraída e ele encarava o chão, assim como Nessie. Seus passos pareciam coreografados, pé esquerdo com pé esquerdo, pé direito com pé direito.

E poucos instantes depois lá estávamos nós, prestes a caminhar para o avião que basicamente nos levaria até a face da morte. Esme abraçou a mim e me beijou na bochecha, em seguida despediu-se de Jacob, de Edward, ela lhe disse algo no ouvido, por fim deu um longo e apertado abraço em Nessie, finalizando o laço com um beijo na testa da neta. Carlisle também se despediu de nós, deixando-me por último devido ao fato de eu estar mais longe dele do que qualquer um dos outros estava. Ele me abraçou e se fosse humano, com certeza estaria vermelho de chorar. Assim como Esme.

- Proteja eles, Bella. - ele disse a mim - Os três contam com você caso algo corra errado antes do previsto. Você é o único trunfo, a única garantia de que todos ficarão bem. Boa sorte.

- Farei o meu melhor. - afirmei olhando em seus olhos - Darei tudo de mim.

Os microfones anunciaram a última chamada para o vôo e então Jacob pegou as malas que Carlisle carregara até ali. Com o coração em pedaços demos as costas a Carlisle e Esme e adentramos o corredor, indo apressadamente até o avião. Nos acomodamos nos assentos e ouvimos as instruções das aeromoças e as breves palavras do piloto. O avião decolou e alguns minutos após estabilizar-se no ar, notei que Jake e Nessie haviam adormecido. Apesar de tudo o que houve entre ele e eu, naquele momento ao olhar para Jacob, senti uma sensação completamente ''de mãe para filho'', eu queria protegê-lo, da mesma forma como protegeria Nessie.

- Eu queria mantê-los longe de tudo isso. - falei, apoiando a cabeça no ombro de Edward - Deixá-los a salvo num lugar onde eu soubesse que os Volturi jamais os encontrariam, num lugar onde eu soubesse que eles viveriam em paz por toda a eternidade. Sem nada para interferir nisso. Eu daria minha vida para ter essa certeza.

- Não diga isso. - ele me corrigiu, a voz tão baixa que pareceu estar conversando sozinho - Seria uma atitude nobre sem dúvidas. Mas só de pensar que algum dia eu teria de existir num mundo onde você não vivesse mais, me dói profundamente. Por pior que seja a situação, é bom que estejamos passando por isso juntos. Nós quatro.

- Será que vamos conseguir? - perguntei e então ele abraçou meu corpo, pousando o queixo no alto de minha cabeça - Pular mais esse obstáculo? 

- Eu já lhe disse... - ele ficou em silêncio um instante, talvez estivesse sorrindo de algo - ... nosso amor pode superar qualquer coisa. E eu acredito nisso com todas as forças de meu ser, e lutarei por isso até que não haja mais esperança.

- Sempre há esperança. - mencionei, mais como um pensamento alto

- Então eu sempre lutarei. - Edward completou - Sempre lutarei pelo nosso amor.

- Eu sonhei tanto com os dias em que seríamos completamente felizes, sem nenhum tipo de problema. Apenas felicidade.

- Tudo o que se é de mais acaba, de uma forma ou de outra, fazendo mal. - ele comentou como se fosse a passagem de um livro que lera e gostara - Até algo bom pode se tornar uma maldição. - então ele beijou minha cabeça - Ah, Bella, eu te amo tanto. Você é meu bem mais precioso.

- E vale a pena arriscar sua vida por mim? - disse em ironia e ele riu

- Depois de tudo você ainda tem alguma dúvida. - ele me abraçou mais forte - Tudo o que se vale a pena ter, vale a pena lutar por isso. E você vale muito a pena. Mais do que possa, algum dia, imaginar.

Eu não respondi, deixei que ele tivesse dado a última palavra. Afundei meu rosto em seu peito e senti seus dedos acariciarem meu cabelo... tempos atrás, eu teria dormido em questão de segundos. Não falamos mais nada durante toda a viagem, Edward se distraiu brincando com minhas mechas e eu passei o tempo observando a paisagem através da janelinha. Jake e Nessie não se moveram um centímetro da posição inicial de quando começaram a dormir, provavelmente um deles, se não ambos, ficariam com torcicolo ao acordar. As horas passaram, assim como os quilômetros, as nuvens, a imensidão do mar, os países, um a um... até que aterrissamos, finalmente e indesejadamente, na Itália.

Logo na saída do aeroporto, havia um lindo Bentley preto... o modelo e o ano Edward saberia explicar melhor. Mas era um carro deslumbrante.

- Qualquer um diria que vamos a um evento de moda em Milão. - comentei ironicamente enquanto caminhava em direção ao veículo, Jake e Nessie, ainda sonolentos estavam logo atrás, o Lua iluminava as ruas divinamente

- Quem nos dera. - Jake falou, sua voz estava rouca devido a tantas horas sem falar

Todos entramos no carro, Edward obviamente tomou o volante. Eu sentei logo ao seu lado. Jake e Nessie tomaram lugar nos assentos traseiros. O percurso deu-se em silencio parcialmente, Jake e Nessie conversavam, o que distraiu meus pensamentos mórbidos. Eu não estava prestando atenção na conversa, mas o som de suas vozes era melhor do que pensar no que estava por vir. No perigo que enfrentaríamos, e que estava a poucas horas de distância.

Tempo depois, Edward guiou o Bentley Volterra adentro e, pelo retrovisor, eu via a apreensão e o medo nos olhos de minha filha. Edward estava sério, tentava olhar para todos os lugares ao mesmo tempo, tentando antecipar algum ataque surpresa. Com certeza seu ''sensor de pensamentos se aproximando'' estava ligado, não pronunciei uma só palavra, temendo desconcentrá-lo. Eu ouvia as rápidas batidas do coração de Jake, como uma bomba-relógio. Seu olhar estava fixo nas ruas, onde algumas pessoas caminhavam, algumas indo para casa, outras aproveitando a noite nos restaurantes.

- Por que parou? - perguntei a Edward quando ele desligou o motor - Aconteceu algo?

- Não, só... - ele refletiu, reformulando a frase, ele olhava para o nada, ou o que eu pensava ser nada, como se tivesse percebido alguém escondido na escuridão, ou como se esperasse que alguém fosse surgir do nada - ... a viagem foi longa, Jake e Nessie devem estar com fome. Vamos entrar nesse restaurante para que eles comam algo.

- Tem certeza? - perguntei receosa 

- O plano dos Volturi é evacuar a cidade, tirando todos os humanos daqui. - ele me lembrou, falando em voz baixa para que os humanos que passavam não desconfiassem de nada - Então eles não vão invadir um restaurante cheio de humanos. Para manter as aparências, eles teriam de parecer o menos imortais possíveis.

- Eu adoro comida italiana. - Nessie comentou enquanto todos saíamos do Bentley - É a melhor na minha opinião.

Eu fiquei do lado de fora enquanto Edward entrou com Jake e Nessie, ele falou com um garçom num italiano de turistas e então deixou os dois numa mesa reservada, de onde podiamos observá-los mesmo estando fora do estabelecimento. Edward se juntou a mim na calçada, sob um poste de luz. Atrás de nós havia um banco de madeira branco, porém não sentamos. A prioridade era ficar alerta e não conversar descontraidamente.

- E então? - perguntei - Já consegue ler os pensamentos deles?

- Dificilmente. - respondeu, com certeza ele tentava fazer aquilo no exato momento - Mas já sei como vai acontecer. Eles já sabem que estamos aqui, Heidi nos viu e reportou a Aro. Quando chegarmos na entrada do castelo, ela nos receberá e nos levará até o grande salão.

- Heidi?! - exclamei incrédula - Ela nos viu? Onde ela estava?

- Escondida na multidão. - Edward explicou - Nos percebeu no momento em que o carro entrou na cidade.

- Como isso é possível?

- Na verdade ela estava, discretamente, procurando por vítimas as quais levaria para o castelo... então nos viu chegando. 

Jake e Nessie demoraram cerca de quarenta minutos para jantar, aproveitando para conversarem. Os quarenta minutos passaram como se fossem quatro, e me impressionei ao ver os dois saindo do restaurante.

- Bom, parece que o momento chegou. - Edward falou, com enorme decepção na voz - Não há mais como adiar.

- Iremos de carro até lá? - questionei ao ver que Edward guardara o chave do veículo no bolso do casaco

- Não, deixaremos ele aqui. - ele explicou - Ficaria estranho o carro estacionado próximo ao castelo e Aro poderia pensar que temos intenção de partir o quanto antes, como se quiséssemos fugir deles. E temos de manter as aparências o máximo possível.

- Então vamos. - afirmei abraçando Nessie, o brilho do pingente que ela usava, o mesmo que eu havia ganhado de Aro tempos atrás, foi intensificado quando o poste do luz ao nosso lado se apagou

Os quatro então, começamos a caminhar em direção a escuridão, o lado da cidade que não era iluminado quando a noite caia. O lado da cidade que em épocas de festa era mais que bem movimentado, porém em épocas comuns era tão monótono quanto uma manhã de domingo. Por duas vezes seguidas Jake tropeçou em pedras no caminho, Edward agil como uma bala se prontificou em auxiliá-lo a equilibrar-se. O percurso demorou algo em torno de cinco ou seis minutos, e então lá estávamos nós, dando a volta no chafariz branco pelo qual eu passara há tanto tempo, tentando impedir que Edward saísse no sol. Mais alguns passos e então estávamos a centímetros da porta.

Edward bateu um par de vezes, em seu rosto eu via uma expressão mais do que séria, eu diria até calculista. Um longo e atordoante minuto se passou até que passos podiam ser ouvidos do lado de dentro do castelo, aproximando-se da porta através do corredor. Apenas uma pessoa estava vindo e pelo que Edward disse, deduzi ser Heidi.

- Boa noite. - disse ela confirmando o que todos já suspeitávamos, Heidi abriu ambas as partes da porta e passou o olhar rapidamente por nós - Eu os vi chegarem na cidade. Imaginei que viriam aqui, me acompanhem por favor, Aro os aguarda no salão.

Antes de nos dar as costas, ela olhou a todos nós uma última vez, demorando mais ao fitar Jake que não demonstrou nenhuma reação. Heidi distanciou-se corredor adentro e Edward foi o primeiro a se mexer, caminhando para dentro do castelo, sendo seguido por Nessie, Jake e finalmente eu, que me senti na obrigação de fechar as portas atrás de mim. O único som ouvido em todo o andar era o de nossos passos, os corredores estavam escuros, apenas o luar iluminava o interior do castelo, através das janelas.

- Em algumas noites preferimos deixar tudo escuro. - Heidi falou na ponta da fila uniforme que havia se formado por nós, com certeza tinha notado que eu reparei na pouca iluminação - Se é que me entende.

Eu havia entendido, as noites as quais ela se referia eram as noites em que vítimas inocentes eram atraídas para lá, para serem brutalmente devoradas por ela e todos os outros. Eu não via o rosto dela porém imaginei que um sorriso tivesse brotado em seu rosto.

- Não vejo ninguém por aqui. - Edward mencionou, se dirigindo a ela - Nenhum dos guardas e nem mais ninguém.

- Não deveria mesmo ver. - Heidi respondeu, quase que gentilmente - Na realidade todo o clã acabou de participar de uma reunião.

- Atrapalhamos alguma coisa? 

- De maneira alguma, a reunião já foi encerrada. Porém todos permaneceram por lá, como já disse... essa é uma noite especial.

Naquele momento eu quis parar, pegar nas mãos de Jacob e Renesmee e sair correndo dali, não queria que eles corressem o risco de ver uma chacina acontecendo. Eu não permitiria que presenciassem algo assim, eu morreria antes disso. Realmente considerei a ideia porém a forma como os passos de Edward se manteram suaves, sem nenhuma alteração, fez com que eu me sentisse mais tranquilizada, talvez ele soubesse que Aro não permitiria tamanha falta de educação com as visitas.

Após isso nenhum de nós pronunciou mais nenhuma palavra, com medo da resposta que, sem pudor algum, Heidi nos daria. Mais alguns minutos se passaram e então lá estávamos nós caminhando em direção as portas que nos separavam de Aro, Caius, Marcus e os outros. A distância foi coberta em questão de instantes e Heidi empurrou as portas graciosamente, abrindo espaço para que todos passássemos.

- Ora, ora, ora... Vejam só que surpresa mais agradável. - a voz estridente, suave e ao mesmo tempo repugnante de Aro invadiu meus ouvidos de forma escandalosa, me provocando a vontade de dar meia volta e ir embora naquele exato momento - Edward e Bella Cullen. E como era de se esperar, trouxeram consigo a adorável menina Renesmee e junto dela... - ele hesitou um momento ao olhar para Jacob, quase se recusando a acreditar que o transmorfo estava de fato ali, em frente a tantos vampiros considerados inimigos - ... seu amigo transmorfo.

- Jacob é mais que um amigo. - Edward corrigiu - Ele é parte de nossa família agora, como qualquer um dos outros.

- Oh, sim? Nesse caso peço perdão por meu... deslize. - Aro soou apologético - Então, caros amigos, a que devo a honra dessa agradável visita?

- Bom, eu, Bella e os dois estávamos fazendo uma viagem em família pelos arredores da Europa e pensamos: ''por que não dar uma passada em Volterra para assegurar noss trato?'' - Edward sorriu como se falasse a um amigo de longa data - Afinal, foi prometido que vocês tornariam a ver Renesmee, para garantir que ela teria se desenvolvido sem problemas e escondida do mundo humano.

- Mas que gentileza da parte de vocês. - Aro agradeceu e novamente observei o local a procura de Caius e ele estava lá, me surpreendia que não tivesse falado ainda - Uma pena que talvez tenha havido um desencontro pois... há poucos dias, talvez mais de uma semana apenas, enviei Afton e Chelsea até a América para visitá-los.

E então foi que percebi o deslize sem tamanho que havíamos cometido. Olhei o salão uma terceira vez, agora procurando por Afton e Chelsea... eles não estavam ali, mas poderiam estar em outro lugar do castelo. Teriam eles já voltado para a Itália? Eu deixei tudo nas mãos de Edward, ele saberia o que fazer. Ao menos eu esperava que ele soubesse. Aro continuou falando.

- Eles ainda não nos deram nenhuma resposta. - aquilo me aliviou - Porém esperamos que retornem em breve. Quem sabe antes mesmo que partam.

- Não temos intenção de ficar muito tempo. - Edward respondeu logo em seguida - Carlisle precisa de nós. A propósito, ele manda lembranças.

- Ah, Carlisle. - Aro refletiu - Que saudades de meu velho amigo. Queria que ele pudesse ter vindo com vocês, me agradaria muito.

Jane estava ao fundo do salão, por um instante pensei que fosse alguma estátua mas logo a reconheci, e disfarçadamente dei alguns passos a frente ao notar que ela olhava constantemente para Nessie.

- Vejam só que grosseria a minha. - Aro disse caminhando em nossa direção, automaticamente minhas mãos cerraram em punho e meu maxilar se constraiu, senti o veneno me subir a boca - Nem sequer cumprimentei vocês, quanta indelicadeza.

Ele passou por Edward e veio diretamente até mim, e eu esperava que fosse a única a ter de lhe estender a mão, minha mente estava protegida. Eu expandi o escudo sobre os outros e esperei que o cumprimento não fosse um eufemismo para vasculhar nossos pensamentos.

Estendi minha mão quando ele se encontrava numa distância que eu já considerava próxima demais. Aro apertou minha mão e sorriu brevemente. Em seguida ele apertou a mãe de Jacob e provavelmente se impressionou com a temperatura que emanava do corpo dele. Cumprimentou Edward mais demoradamente, o que me preocupou a princípio e então apertou a mão de Nessie brevemente. Logo se afastando de nós. Eu suspirei.

Como eu já imaginei que faria, ele começou a caminhar de um lado para outro no salão, pensando. Após dois minutos de puro silêncio e apreensão ele parou. Eu já estava cogitando a hipótese de ele ter entrado na mente de algum deles... eu me perguntava de quem seria. Aro olhou para Nessie, e então para Demetri.

- Demetri... - ordenou ele - ... pegue a menina.