Durante A Lua escrita por Dani Schirmer


Capítulo 1
A Festa




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Ate que ponto podemos chegar para salvar quem amamos? Ate que ponto mentimos para salvar as pessoas? Por mais que eu queira proteger as pessoas a minha volta parece que meu outro lado não quer deixar, eu sou como um monstro, um monstro com um lado bom, mas também com um lado muito ruim.
Cada dia que eu penso que podia ser o que nasci para ser, percebo que sou um monstro, não posso ser isso, eu tenho que ser o que não querem, quero ser boa, quero ajudar, mas quando souberem quem eu realmente sou tudo vai acabar.
Na minha cidade todos culpam animais pelos desaparecimentos de pessoas, mas os verdadeiros animais são a minha família. Venho de uma linhagem de Lobisomens, uma maldição que assola minha família há séculos, posso parecer uma menina de dezessete anos normal, mas no fundo eu não passo de um animal faminto, minhas melhores amigas Anna e Luiza nunca suspeitaram disso, ninguém nunca suspeitou, mas ate em que ponto eu posso continuar mentindo?

– Senhorita Dux? – Sua voz estava em ponto de repressão.

Saio dos meus pequenos pensamentos e volto para a realidade de uma sala de aula com alunos normais, mas eu era a única que podia dizer que era diferente mesmo dos outros ali.

– Senhorita Dux? – Ela parecia estar furiosa.

– Desculpe professora. – Reviro os olhos.

– Pare de sonhar e preste atenção na aula. – A voz dela soava como um deboche.

Ela volta para sua aula chata de historia e eu olho com cara de deboche para Anna, professora Helena era ate legal, mas ainda achava que ela estava muito velha para dar aula de historia, era tão velha quanto à própria historia.
O Sinal do termino da aula tocou e sinto um alivio, fico sentada olhando todos saírem da aula e vejo Anna se aproximando.

– Como sempre dormindo. – Ela sorria.

– Eu não estava dormindo. – Começo a rir.

– Não imagina... – O sorriso dela era formalmente de deboche.

– Qual é a boa para hoje? – Reviro os olhos.

– Festa na floresta.

– Na floresta? – Olho espantada para ela.

– Sim, o Mike que vai dar. – Ela abre um sorriso de ponta a ponta do rosto.

– Mas hoje não é lua cheia? – Começo a ficar preocupada, mas tento sorrir.

– Sim... Por quê?

– Eu acho que não devíamos ir.

– Você esta com medo daqueles ataques de animais?

– Eles sempre rolam em lua cheia. – Tento sorrir mais era impossível.

– Nós vamos e ponto final.

– Eu não vou.

– Mas eu vou. – Ela bate na mesa e começa a rir.

– Então vá...

Enquanto ela brigava comigo sinto um cheiro estranho, talvez um cheiro familiar, mas era de alguém novo ali, o bom do meu lado monstro era que eu tinha um grande controle e conseguia proteger as pessoas que eu amava.
Levanto da cadeira e pego minha mochila no chão e vou atrás do novo “cheiro”, Anna odiava quando eu fazia isso de sumir rapidamente e do nada, mas era um instinto que eu não tinha controle, tinha certos momentos que meu lado monstro ficava mais forte e por isso que tinha que me afastar.
O cheiro novo e estranho me levou ate um menino alto e ruivo com olhos azuis lindos, mas então volto à realidade, ele me olhava atentamente enquanto eu ficava parada na sua frente parecendo uma maluca, e eu devia ser mesmo uma, mas ele não parecia ser como os outros, mas agora eu tinha que me preocupar com a festa na floresta.

Saio dali correndo e vou direto ate meu carro, jogo a mochila no banco de trás e dirijo pensando no que poderia acontecer naquela festa. Minha casa era a mais afastada da cidade e por bons motivos, paro o carro na garagem e vejo minha irmã gêmea brincando com um de nossos cachorros, quem olhasse assim ate falaria que éramos normais, mas todos nos tínhamos um monstro dentro de nos, só que eu tentava ser normal e ela aceitou seu outro lado.

– Como foi na escola? – Ela abriu um sorriso que dava para ver seus caninos salientes.

– Chata... – Reviro os olhos.

– E por que você vai? – Ela continuava sorrindo.

– Quero ser normal. – Começo a rir.

– Nós não somos normais.

– O que tem para jantar? – Me controlo para não dar uns tapas nela.

– Pro seu eu não sei, mas para o meu tem uma festa na floresta. – Ela solta um riso sarcástico.

– Não faça isso Sophie... – Tento sorrir para não mostrar meu medo e preocupação.

– Holly eu preciso me alimentar e não importa a onde. – Ela estava começando a ficar brava, e seus olhos mostravam isso.

– Mas lá vai ter muita gente.

– Já tenho meu alvo. – Ela deixa um riso sarcástico escapar. – Papai esta furioso.

– Por que? – Reviro os olhos.

– A um novato na cidade, o vimos em nossas terras ao norte.

– Ele viu alguém? – Começo a ficar preocupada.

– Não, mas papai mandou reunir todos. – Ela volta a rir.

– Todos? - Sorrio.

– Sim...

– Você quer dizer...

– Sim, eles mesmos...

– Papai deve estar muito preocupado.

– Parece que ele vem da família de quem matou a...

– Não diga o nome dela. – Reviro os olhos.

– Por que você a odeia tanto? – Ela me segura pelo braço.

– Por que sim. – Afasto-me dela.

– Quer saber vou caçar. – Ela estava furiosa.

– Sophie...

– Não Holly, me deixe sozinha. – Ela sumiu antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa.

Entro em casa e passo pelo meu pai direto, mal nos falávamos, ele não aceitava meu lado “normal”, e então vou direto para o meu quarto, eu era a filha renegada do grande Leonardo Van Der Dux, era um mito entre todos os clãs, ditava as ordens, era da linhagem dos primeiros, era respeitado no mundo todo e quando convocava os quinze era que a parada era seria e poucas vezes eu o vi convocar todos, mas eu sentia o medo entrar e possuir meu corpo.
Da ultima vez que eu vi todos eles reunidos eu perdi quase todos que eu amava, deixou-me marcas que nunca mais vão sair e feridas que vão ficar ali para sempre, mas um ódio muito grande também.

Esse estranho tinha algo que me fascinava e não só como humana, meu lado monstro sentia uma forte atração por ele também, fico ali pensando ate que escuto um barulho de porta batendo e sinto um calafrio tomando conta do meu corpo e então olho no calendário e vejo que hoje era o dia de todos os santos, o dia em que minha família mais gostava.
A festa devia ser pelo Halloween, mas eu tinha me esquecido plenamente, mas se a Sophie ia eu também iria, saio do meu quarto e vou ate o dela, e então a vejo com varias fantasias na cama e fico parada olhando.

– O que foi agora? – Ela estava irritada e dava para ver seus caninos.

– Eu também vou à festa. – Abro um pequeno sorriso.

– Que milagre...

– Eu vou a cidade comprar uma, você quer ir? – Continuou sorrindo na esperança de vê-la sorrir também.

– Claro, essas minhas já estão velhas mesmo.

– Te espero lá embaixo.

– Ok.

Deixo-a sozinha e desço as escadas pensando em que fantasia vestir, algo que tampasse a tatuagem da lua e algo que parecesse comigo, passo pelo meu pai de cabeça baixa e vou direto a garagem, e então vejo Conde rolando na lama e fico rindo para ele, o único que parecia me entender ali, quando volto para a vida vejo Sophie me olhando com cara de deboche.

– Vamos? – Ela sorria.

– Sim.

Ela entra rapidamente no carro e eu entro em seguida, ela liga o motor e sai em arrancada em direção ao portão, durante todo o caminho ate a cidade não trocamos nenhuma palavra, mas já dava para ver que todos estavam prontos para o Halloween menos a gente.
Paramos o carro enfrente a loja e saltamos rapidamente, todos olhavam para Sophie como se ela fosse um fantasma, minha família era temida por todos na cidade, e quase nunca viam meu pai ou minha irmã na cidade, somente quando alguém morria de forma estranha, ela entra rapidamente na loja e eu fico do lado de fora olhando para a vitrine como alguém normal. Q
uando entro na loja Sophie já estava com uma fantasia na mão, só que era algo que não combinava com ela.

– Você vai de princesa? – Olho espantada para ela.

– Eu sou uma princesa e você também. – Ela abre um sorriso.

– Fale mais baixo. – Começo a ficar irritada com ela.

– Vou experimentar e já volto. – Ela sorri.

– Ok.

Fico ali parada pensando no que vestir e então ela volta, estava linda, parecia uma princesa de verdade, mas a aparência não podia deixar enganar por que no fundo eu sabia o que ela era.

– E você? – Ela me olha de uma forma estranha.

– Eu não sei. – Reviro os olhos.

– Que tal chapeuzinho vermelho? – Ela solta uma risada sarcástica.

– Tudo a ver comigo.

Ela pega a fantasia e me entrega, fico segurando e olhando para ela com cara de mau humor.

– Vai experimentar logo. – Ela começa a ficar irritada e eu sabia que isso não era bom sinal.
Vou andando ate o provador sem reclamar por que eu sabia que ela iria escutar, visto a fantasia e me sinto uma criança e então ao sair do provador ela fica me olhando de boca aberta.

– Esta perfeita. – Ela deixa um lindo sorriso escapar.

– Chata.

– Você ate parece normal com essa fantasia.

Fico quieta pensando se o misterioso garoto iria à festa quando percebo que ela chega mais perto de mim e fica me encarando.

– Se fosse normal, seria uma boa presa. – Ela continuava sorrindo.

– Sophie, fale mais baixo. – Falo o mais baixo o possível.

– O que foi? A mostrinha aqui não pode falar o que quer? – Ela ria debochadamente.

– Vamos embora? – Reviro os olhos.

– Sim...

Ela tira o preço da minha fantasia e vai ate o caixa, o cara que estava atendendo ela, não tirava os olhos do seu decote, e ela sabia provocar qual quer homem e sabia ganhar o que queria, fico só escutando a conversa furada dos dois ate que percebo que aquilo podia acabar mal.

– Vamos Sophie? – Tento falar o mais docilmente possível.

– Sim Holly. – Ela abre um sorriso falso.

Puxo-a pelo braço e a arrasto ate o carro.

– Se controla...

– Eu me transformo desde dos meus seis anos, sei me controlar, mas você não, eu não sou o monstro aqui e sim você.

– Te vejo a noite. – Suspiro.

– A onde você vai? – Ela me olha meio confusa.

– A floresta. – Reviro os olhos. – Ate mais tarde.

Saio andando furiosa pela rua, ela sabia me irritar, sabia como me tirar do serio, sabia tudo sobre mim, mas ela não entendia como eu me sentia.

Vejo pessoas que conhecia só de vista indo em direção à floresta, todos estavam felizes e sorrindo, mas eu tinha que protege-los dos monstros que andavam por ali.
A festa rolava e as pessoas curtiam como se sua vida fosse acabar ali, escuto um uivo não vindo de muito longe e eu sabia que Sophie já tinha jantando, mas será que ela estava satisfeita, isso era uma pergunta que não saia da minha cabeça, e então vejo Luiza acompanhada do garoto misterioso.

– Oi Lu...

– Holly esse é o Nicholas e ele estava querendo saber quem era você. – Ela abre um sorriso estranho.

– Oi. – Abro um pequeno sorriso.

– Vou deixar vocês conversarem, se divirtam crianças. – Ela some na escuridão rapidamente e fico ali parada olhando para ele.

– Oi Holly. – Ele sorri. – Adorei sua fantasia. – Ele me olhava de um jeito diferente, ele não sentia medo.

– Obrigada. – Continuou sorrindo.

Ficamos em silencio quando sinto algo que parecia um sinal que Sophie estava em perigo.

– Então você vem sempre a essas festas? – Ele fica um pouco serio.

– Não. – Tento esconder minha preocupação mais parecia impossível.

O quanto mais eu ficava ali parada mais forte a dor ficavam ate que escuto um grito vindo de não muito longe dali e quando olho em vejo alguém trazendo Sophie no colo, tinha um corte no braço e estava desacordada, eu não podia suportar ver minha irmã assim, corro ate Luiza e a fico olhando espantada.

– O que houve? – Eu tentava controlar a raiva.

– O Joe a achou assim. – Ela estava assustada e com medo, eu conseguia sentir isso.

– Leve ela ate em casa e avise ao meu pai o que aconteceu. – Eu só conseguia expressar raiva e preocupação, mas não queria assusta-la.

– E você? – Ela abre um pequeno sorriso.

– Eu vou mais tarde. – Reviro os olhos.

– Mas Holly? – Ela me segura pelo braço.

Olho para ela tentando esconder meu lado monstro e a deixo ali com Sophie, vou andando ate a mata mais densa, mas escuto passos atrás de mim e quando olho para trás vejo Nicholas me seguindo, mas antes que ele disse algo escuto um uivo vindo de perto e então ficamos em silencio....


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