Hoje fazia cinco meses que Annabelle estava sequestrada. Os noticiários já não falavam com a mesma frequência sobre ela, minha mãe e nem Margot apareciam nos programas de fofoca. De vez em quando tudo era resumido num quadro de menos de três minutos.

            A casa para onde nos mudamos não era muito diferente, os moveis eram da mesma qualidade, a única diferença era que, agora os cômodos eram um pouco maiores, e havia uma dispensa para que Maria pudesse comprar mais comida.

            De vez em quando Maria vinha ver como as coisas estavam ela trazia cartas de Margaret, e dizia que a mesma fazia muitas perguntas sobre por quê eu havia voltado para a cidade sem ao menos me despedir. Em todas as cartas que recebia, haviam a mesma pergunta: 'O que Maria está fazendo com você? Pode confiar em mim.', mas eu nunca respondi nenhuma de suas cartas. Maria não me permitia fazê-lo.

            O aniversário de Annabelle seria no próximo mês, contudo, não poderia dar-lhe nada, e muito menos deixá-la circular pela casa neste dia, pois Maria já havia nos avisado que ficaria conosco durante todo o dia. Confesso que fiquei um pouco irritada com isso, mas eu não poderia contestá-la.

                    - Quanto tempo faz? - Annabelle perguntou quando entrei no quarto com seu jantar.

                    - Cinco meses, Belle. - Ela suspirou.

                    - Quando vou poder voltar para casa? - Casa. Aquele seria um lugar que eu não veria tão cedo.

                    - Não sei, mas fique tranquila, não vou deixar que eles façam nada com você.

                    - Você sempre leva tapas e socos me protegendo. - Ela deslizou as costas de sua mão em meu rosto. - Não precisa disso...

                    - É o mínimo que posso fazer. - Annabelle ia falar algo, mas eu me retirei antes que ela pudesse começar qualquer frase.

            O lugar onde havia aquela nova casa era bastante movimentado. Era uma longa rua com várias casas, e belos jardins. Por conta do movimento diário, quando chegamos aqui era madrugada, tudo para que ninguém visse Annabelle.

            Maria me alertou que talvez alguém pudesse vir dar boas vindas, contudo, ninguém apareceu, e acho que ninguém fosse aparecer, afinal, já estávamos morando nesta casa a quase um mês. Mas como sempre tem alguém para acabar com toda a minha esperança de ser “invisível”, naquela noite apareceu um rapaz.

                    - Olá! - Disse ele quando abri a porta. - Me chamo Ricardo, mas pode chamar e Rick. - Eu pensei durante alguns segundos antes de respondê-lo. Ele era mais alto do que eu, tinha músculos pouco definidos, cabelos e olhos escuros, e parecia estar sem jeito. - Bem vinda ao bairro. - Ele sussurrou as ultimas palavras.

                    - Obrigada, Rick. - Sorri, e acho que isso fez com que ele ficasse mais a vontade.

                    - Eu teria vindo antes, mas... Tive umas coisas para fazer. - Ou seja, ele esteve tomando coragem.

                    - Tudo bem, não aconteceu nada demais por aqui. - Olho atrás dele, e vi Maria e Marcos saindo de um carro. Maria parou durante alguns segundos, nos observou e voltou a andar, sendo seguida por Marcos.

                    - Olá, Mel. - Ela disse quando estava perto da casa, o que fez Rick olhar para trás. - Quem é seu amigo?

                    - Este é o Rick. - Apontei para Marcos e Maria – Rick, estes são Maria, e Marcos. - Marcos apenas lançou um olhar e entrou em casa, Maria o abraçou, e isso o deixou sem reação.

                    - Não demore, precisamos conversar. - Maria disse depois de soltá-lo. Ela entrou em casa nos deixando a sós.

                    - Acho melhor eu ir... - Rick disse.

                    - Também acho. - Sussurrei.

                    - Volto numa outra hora – Eu sorri, acenei para ele, e quando ele se virou para ir embora, eu fechei a porta.

            Depois que Rick foi embora, Maria me observou durante alguns minutos. Ela me olhava atentamente. Ficou me encarando durante alguns minutos, até que saí de seu campo de vista e fui para a cozinha. Demorei algum tempo lá, e quando voltei, parecia que Maria não havia se movido, porém, Marcos não estava na sala, por um momento pensei que ele estivesse com Annabelle, o que me deixou desesperada, mas todo o desespero sumiu quando Marcos entrou pela porta da frente com uma pequena caixa nas mãos.

                    - Temos algo para você, querida Melissa. - Maria fez um sinal para que Marcos deixasse a caixa sobre a mesa, e assim ele o fez.

                    - O que é isso? - Ela nada me disse, apenas bateu levemente ao seu lado, onde eu me sentei. Maria abriu a caixa calmamente. Lá haviam algumas fotos, e alguns recortes de jornais.

                    A primeira foto que ela tirou era de minha mãe saindo da gravação do programa de fofocas, ela estava de óculos escuros, e usava um livro com a tentativa falha de se esconder dos fotógrafos. Na foto seguinte estava Margot. Sorri ao vê-la. Ela estava com algumas sacolas de mercado, parecia estar na frente de nosso prédio. Ela não se importava nem um pouco com os fotógrafos, e acho que era assim que devia ser.

                    As outras fotos eram os recortes de jornais. Algumas haviam algo escrito embaixo. Numa delas havia: “Carmem Thompson sofre com a ida de sua filha, Melissa Thompson para a reabilitação”. Ri ironicamente com aquela frase, se ela estava sofrendo com alguma coisa, era com a fama dela, e nunca comigo.