Não Há Quem Possa Ocupar Seu Lugar escrita por Amanda Catarina


Capítulo 15
Capítulo 15




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Capítulo 15 

Karakura, 05:20 AM


Não há outra de você,
Até agora, nem de agora em diante
Mesmo que chegue o momento em que
Todo mundo se torne seu inimigo
Eu irei protegê-la até o fim, por isso
Não se entregue, Flor Única.
 

Ichigo abriu os olhos de repente ao som deste refrão. E bateu depressa a mão sobre o rádio relógio no criado mudo ao lado, no intuito de impedir que Rukia também acordasse.

Baixou o rosto e olhou para ela, deitada ali com ele, as pernas encolhidas e as mãos juntas próximas ao rosto. Os cabelos escuros naquele contraste bonito com a pele clara e sedosa. Como se sentia afortunado por poder vê-la num momento tão sublime.

Eu irei protegê-la até o fim. Ele repetiu em pensamento. Gostava daquela música, tinha muito a ver com eles dois.

Olhava-a, com um leve sorriso nos lábios, quando começou a recordar do dia anterior, daquele instante em que esteve aprisionado dentro de seu coração, e no qual pôde apenas presenciar os próprios punhos erguidos contra a pessoa mais importante de sua vida.

O peito doeu.

Era assim que ele almejava protegê-la? Simplesmente porque Byakuya cogitou levá-la de volta a Soul Society ele perdia o controle? Não foi ele a dizer que suportaria a distância desde que soubesse que Rukia estaria lá pensando nele? Então por quê se descontrolou com a possibilidade do afastamento? Diante disso tudo se achou, mais que fraco, muito infantil.

Perturbado, ergueu o tronco e recostou à cabeceira da cama. Ficou uns instantes apenas olhando Rukia, então alcançou uma das mãos dela e apertou-a só um pouco entre os dedos. Naquele momento, não foi a beleza exuberante dela que lhe chamou mais a atenção e sim sua fragilidade. Ela era tão pequenina, tão delicada...

Então, sem levar em consideração que tinha sido Rukia a trazê-lo de volta à razão, e que ela fora capaz de aguentar seus golpes, ele pensou apenas no risco que correu, a ponto até de sua mão latejar quando o instante em que seu hollow a jogou no chão como uma bonequinha de pano, voltou nítido à sua mente. Pôde inclusive vislumbrar o medo nos olhos graúdos dela.

Bem depressa, buscou dissipar aquela horrível lembrança. Soltou então a mão de Rukia e se levantou. Veio até a janela. Ainda estava escuro. Abriu um pouco o vidro e uma brisa suave acariciou seu rosto. Inspirando fundo o ar fresco, olhou para o lado e avistou ali duas sacolas médias, abarrotadas com tudo que levariam para a estada na casa de Urahara.

Ele e ela treinando juntos...

Olhou novamente para Rukia e em seguida balançou a cabeça numa negativa querendo desistir daquela ideia. Não podia arriscar machucá-la de novo. Precisava encontrar um meio de ficar mais forte sozinho, ela teria que entendê-lo. Já estava decidido.

Ouviu então um resmungar dengoso e se aproximou de novo de sua cama. Sentou-se ali, bem devagar, e depois deslizou os dedos pela bochecha dela.

– ...já está na hora? - perguntou sonolenta a nobre deidade, com os olhos fechados.

– Não, é bem cedo ainda - respondeu baixo.

Ao ouví-lo tornou a resmungar:

– ...então tenha piedade dessa sua namorada, me deixa dormir...

Ele se atentou tanto ao jeito mandão dela como aquele ‘sua namorada’. Em meio às confusões, não tinha parado ainda para pensar nessa realidade com a devida atenção. Uma outra lembrança invadiu sua mente então: o momento em que se achava com a cabeça apoiada sobre as pernas de Rukia, e foi como se pudesse sentir de novo o abraço reconfortante que recebeu dela.

Suspirou resignado. Parte dele até podia querer mantê-la atrás de si, a fim de protegê-la como uma muralha, mas a outra sabia bem que precisava dela ao seu lado.

Com um olhar terno, Ichigo percebeu que Rukia tinha voltado a dormir, e resolveu deitar também. Virou o corpo para trás, alcançou o despertador e tornou a arrumá-lo, pensando no porque dele ter disparado tão cedo. Talvez ele estivesse distraído quando o programou à noite.

Ele deitou então e antes de fechar os olhos, beijou sua shinigami na testa, por cima da franja dos cabelos, e pousou ainda um braço na curva de sua cintura num gesto possessivo. Sim, ele precisava ficar mais forte sim, não só para protegê-la e deter os hollows, mas para suportar os momentos nos quais não iriam poder estar tão próximos.

ooo ooo ooo ooo

09:45 AM

Rukia via os lábios da professora se mexendo, mas não escutava uma só palavra. Ichigo mostrava-se revigorado fisicamente, contudo, desde o café da manhã estava muito quieto e introspectivo, e isso a preocupava.

Não bastasse naquela noite, ela tinha tido um sonho angustiante no qual seu irmão a repreendia severamente por causa do envolvimento amoroso dela com o rapaz. Em virtude do descontrole de Ichigo, só então ela conseguiu parar para refletir naquelas duras palavras de Byakuya no dia anterior:

...desde quando um membro da família Kuchiki age com tamanha insensatez?”

Insensatez. Essa era a palavra que mais a atormentava.

...a insensatez a qual me referi não está no fato de amar este moço, mas sim em você consumar um relacionamento sem ao menos anunciá-lo à sua família...”

Mas seu irmão sabia que ela e Ichigo se amavam! Estaria ela agindo realmente tão mal assim? Não podia abraçar Ichigo, nem beijá-lo, nem tocá-lo? Deteve bruscamente aqueles pensamentos, mas não conseguiu evitar o rubor que cobriu sua face, e até chegou a pensar que toda a sala houvesse escutado suas indagações.

Baixou o rosto, mas depois de alguns instantes, deu uma olhada de esguelha para Ichigo. Ele estava atento à aula, ou ao menos parecia estar. Olhou-o então com mais atenção. Ora, ele era só um adolescente e conseguia lidar com toda a intrincada complicação que era sua vida muito melhor que ela. Fosse em casa, fosse na escola ou enfrentando os hollows.

Seus olhos se iluminaram em admiração e com um discreto sorriso, pensou que devia tentar ser mais parecida com ele.

ooo ooo ooo ooo

12:47 PM

Orihime fechava seu armário quando avistou Rukia e Ichigo prestes a adentrar o prédio, e o exato momento em que eles soltavam as mãos unidas.

Baixou a cabeça um pouco e não pôde deixar de pensar em quantas carícias eles não teriam trocado durante o almoço, pelos cantos do colégio. Imaginou-os juntos se abraçando, se beijando...

Ainda doía. Mesmo que Uryuu estivesse sendo o melhor namorado que ela pudesse desejar, ainda doía. No entanto, quando ergueu de novo a cabeça para olhá-los, e se deparou com o semblante sorridente deles, sentiu também que as coisas não poderiam ser de outra forma.

Independente de ela se conformar ou não, apenas Rukia fazia Ichigo sorrir daquele jeito.

ooo ooo ooo ooo

04:30 PM

Rukia soltou a sacola estufada no chão, e pensou por um instante que não deveria ter tantas coisas assim. A ideia de que já tinha seu espaço na casa de Ichigo, roupas, livros e brinquedos, a desconcertou um pouco, mas ao lembrar daquele coelhinho de pelúcia que ele lhe dera algum tempo atrás, acabou sorrindo.

Fazia pouco mais de dois meses que namoravam, mas parecia que já estavam juntos há anos.

– Kuchiki-san - falou gentil Urahara –, deixe que o Jinta leve sua bagagem.

– Ah, obrigada.

– Kurosaki-kun já desceu e está te aguardando.

Assentindo, Rukia seguiu dali. Ichigo chegara primeiro porque ela resolveu de última hora comprar mais um pijama, e não o quis por perto dando palpites, pois o fato de quase sempre precisar recorrer à sessão infantil a deixava embaraçada. Quando chegou lá, encontrou o adolescente em sua forma shinigami, sentado no chão, escorado numa pedra. De novo aquele olhar perdido no nada. O que estaria passando pela cabeça dele?

Yo - disse ela e se aproximou.

Ichigo a recebeu com seu mais lindo sorriso.

– Que demora - implicou todavia, mas Rukia nem ligou.

– Estive pensando enquanto vinha pra cá... - começou ela enquanto puxava o frasco da gikongan das vestes para, em seguida, assumir a forma shinigami também – lembro-me dos meus dias de treino com o Kaien-dono. Acho que podemos seguir o mesmo esquema.

O tom ameno com que ela proferiu o nome de seu antigo vice-capitão, não passou despercebido por ele.

– Sei... - disse, meio mal humorado, sem disfarçar um certo ciúme – mas isso não foi logo que entrou no décimo terceiro esquadrão?

– É, sei que sua habilidade ultrapassa isso, mas é uma forma de avaliarmos nossos reflexos - explicou animada.

– Mas no que consiste esse treino?

– Num duelo com as zanpakutous. O objetivo é desarmar o oponente.

Ichigo bufou.

– Não vejo como algo tão básico poderá nos ajudar... Seu forte não é kidou? - retrucou ríspido.

– Acaso já nos enfrentamos dessa forma antes? - replicou ela sem se abalar.

O jovem fez que não com a cabeça.

– Então... não é que o treinamento consistirá disso, é simplesmente para termos um ponto de partida. E será bom para identificarmos melhor nosso nível, antes de treinarmos nossas especialidades efetivamente.

Ele ponderou uns instantes, ainda estava incerto, mas a empolgação dela começava a contagiá-lo.

– E você acha que vou precisar de quantos segundos pra te desarmar? - provocou matreiro.

– Ah é assim? Então reclamando porquê bonzão?

Ichigo riu levemente.

– Mas... depois você vai lutar comigo usando kidou? - indagou ele, e havia um quê de preocupação em seu tom que Rukia imaginou ser o receio de um novo descontrole.

– Claro! - exclamou animada, buscando transmitir segurança a ele. – Urahara já cuidou de isolar a área, sua reiatsu não vai ficar vazando daqui atraindo os hollows.

– Então vamos logo com isso! - falou e se colocou em pé.

Rukia assentiu com a cabeça e logo assumiu a posição de combate. Uma coisa Ichigo logo reparou, ela demonstrava total seriedade. Parecidíssima com Byakuya, ainda que sua reiatsu não chegasse nem perto do nível da dele.

– Então já sabe, o objetivo é desarmar o oponente - disse ela.

Ao levar a mão ao cabo de Zangetsu, Ichigo sentiu um frio na barriga. Rukia o instruíra quando sua maior ocupação era purificar hollows simplórios, mas desconsiderando o embate de ontem, eles nunca tinham se enfrentado daquele jeito.

Brandiram as espadas e ele logo se espantou por ela ter acompanhado sua movimentação, e com a firmeza do bloqueio, que o fez pensar inclusive que devia ter relaxado a própria força instintivamente. Rukia lançou-lhe um olhar desafiador e sumiu momentaneamente, então golpeou sua defesa com tamanha força que ele custou a acreditar que aquilo fosse possível.

Seguiram trocando golpes.

Totalmente na defensiva, Ichigo nunca imaginou que desarmá-la pudesse ser tão difícil, afinal era mais rápido que ela. Logo, entendeu que Rukia compensava a desvantagem valendo-se de sua experiência. Ela não devia enxergar sua movimentação de fato, mas parecia adivinhar cada um de seus movimentos. Isso o deixou muito admirado, na verdade, toda a movimentação dela, em contraste com sua delicadeza e feminilidade, tornou-se enormemente excitante aos olhos dele.

– Coloque atenção no que está fazendo! - bradou autoritária.

Ele assentiu de pronto, demonstrando ter entendido a chamada, mas foi tarde demais. Quando deu por si, fitava Zangetsu caída ao chão.

– Se vai continuar distraído assim, é melhor nem continuarmos - repreendeu severa.

– Foi mal... - desculpou-se sem jeito.

Encarando-o, apreensiva, Rukia pensou se ele não estaria tendo problemas com seu hollow interior. Guardando rapidamente a katana, se aproximou dele.

– Ichigo, tudo bem com você? Algo está tirando sua concentração?

A nítida preocupação nos olhos dela o fez se sentir péssimo. Compreendeu então que ela estava dando tudo de si para ajudá-lo a se aperfeiçoar, e que não podia menosprezar isso.

– Estou ótimo... - respondeu, e em sinal de respeito, fez então uma meia reverência. – Outra chance, por favor!

“Até que foi uma boa ideia afinal.” pensou ele consigo.

ooo ooo ooo ooo

09:15 PM

A água quente e relaxante o fez recostar nas bordas do ofurô. Juntando as mãos em concha, ele jogou um tanto de água no rosto. Depois escorou a cabeça e fechou os olhos. Que tarde.

Conseguia rever em sua mente, como quem assiste um filme, cada um dos movimentos de Rukia. A firmeza com que seus dedos pequeninos seguravam a guarda da espada, a elegância da postura, os saltos, o olhar determinado, até os respingos de suor. Tão graciosa. Suspirou fundo. Como a amava. Nunca acreditou que houvesse alguém no mundo que iria completá-lo daquele jeito, sequer conseguia se imaginar com outra pessoa.

Flor única.  

O verso final do refrão daquela música, que ouviu pela manhã, voltou a sua mente. Ele próprio disse uma vez que ele e Rukia eram como uma só flor, pelo fato de terem dividido o mesmo poder, o poder dela de shinigami. E esse pensamento o fez começar a lembrar dos acontecimentos tão marcantes daqueles últimos dias.

O aparecimento dos hollows mutantes. A descoberta de seus sentimentos por Rukia e a relutância dela em aceitá-lo, mesmo gostando dele também. O desentendimento com Renji. Sua conversa com Orihime. Tanto em tão pouco tempo, não mais que oito semanas. Mas era assim, há menos de um ano Rukia cruzara seu caminho e as reviravoltas pelas quais passara desde então foram as mais significativas de sua vida. Todo seu mundo se transformou por causa dela.

Escorou os braços na borda do ofurô e deitou a cabeça por cima, desfrutando da calmaria que o invadiu e ficou ali algum tempo, só descansando. Submergiu brevemente então e logo se ergueu dando fim ao banho gostoso.

Saiu da água e veio até o meio do cômodo, atrás de uma toalha pendurada. Deslizava o tecido felpudo pelo corpo, devagar, quando sem mais nem menos temeu que Rukia entrasse ali de repente, reclamando que ele estava demorando demais no banho, mas logo caiu em si que, muito pior que a bronca, seria ela o flagrar daquele jeito, nu em pêlo. Corou bastante, mas um pouco depois começou a rir discreto, e nada disso aconteceu.

Gastou alguns minutos se vestindo e, em seguida, partiu dali para àquela sala aconchegante, onde normalmente se reuniam com Urahara. Rukia já estava lá.

Sentada sobre os joelhos, fitando concentrada uma caderneta, a shinigami nobre usava um vestido amarelo que, na opinião de Ichigo, ficara ótimo nela e um bolero de lã, branquinho. Ele se aproximou, quieto, e sentou-se a sua frente.

– O que está fazendo? - perguntou bem calmo, mas muito mais interessando em admirá-la do que em escutar a resposta de fato. Estava tão linda.

– Um roteiro pra semana... - respondeu amena, sem olhá-lo.

– Dos treinos?

– É - disse e fechou o caderninho e, quase no mesmo instante, Ururu entrou ali trazendo uma travessa cheia de doces.

Ambos demonstraram uma evidente satisfação. Educadamente, como era próprio dela, a pequena pediu que se servissem e depois os deixou. Assim que ela saiu, os dois se encararam.

A mesma sensação de leveza parecia envolvê-los. Uniram uma das mãos e sorriram um ao outro. Depois do esforço para cumprirem suas infindáveis obrigações, podiam se permitir uns momentos juntos. Esticaram-se por sobre a mesa baixa e colaram os lábios num beijo, carinhoso e apaixonado, nem tão breve, nem tão prolongado.

Findado o beijo, ainda próximos, sorriram novamente, cheio de cumplicidade. Mas assim que se afastaram, Ichigo não conseguiu segurar um bocejo, estava bastante exausto. Em contrapartida, Rukia ainda esbanjava disposição.

– Urahara me falou que a equipe de desenvolvimento logo terá uma solução efetiva contra os hollows... - contava, mas Ichigo pousou dois dedos sobre os lábios dela, querendo cortar aquele assunto.

Fitando com ternura os olhos amendoados, ela assentiu compreensiva:

– Tudo bem, amanhã conversamos... É melhor irmos deitar, você já está caindo de sono.

Ichigo concordou com a cabeça. Gostaria de poder ficar mais algum tempo ali com ela, mas seria o fim se Urahara os pegasse aos beijos. Já era duro agüentar as gracinhas de seu pai. Rukia se levantou primeiro, veio até ele e beijou-o no rosto.

– Boa noite - despediu-se ela.

– Pra você também - e antes que ela se afastasse, segurou-a um instante. – Obrigada por tudo que me ensinou hoje, e por ser tão paciente comigo.

Ela se surpreendeu com aquelas palavras e logo abriu um sorriso radiante.

– É bom saber que pude ajudá-lo de alguma forma. Isso é o que conta pra mim, já que devo tanto a você.

Ele também demonstrou surpresa com a resposta, e foi bom porque serviu para que percebesse que tanto quanto ele precisava dela, ela também tinha seu porto seguro nele.

– Vai sonhar comigo? - perguntou ele, infantil.

– Espero que sim... - disse desvencilhando devagar seus dedos dos dele.

Enlevado, Ichigo a acompanhou com os olhos até que ela sumisse no corredor.

ooo ooo ooo ooo

10:40 PM

Inquieta, Rukia se revirou no futon. Ainda não tinha conseguido pregar os olhos. Não se achava mais tão preocupada, mas o sono simplesmente não vinha. Talvez estivesse mal acostumada e sentindo falta dos afagos de Ichigo.

Mordeu os lábios. Só podia ser isso. Era tão bom aninhar-se em seus braços fortes e sentir o calor do corpo viril dele aquecendo o seu próprio, sentia-se tão protegida, tão mulher. Talvez mais mulher que protegida e esse raciocínio fez seu estômago se contrair.

Vivia aflita com a realidade de Ichigo só ter quinze anos, não conseguia se livrar disso. E enquanto ele não atingisse a maturidade (uns dezoito anos no mínimo) ela não se permitiria ter relações com ele. De modo algum, essa era uma ideia absolutamente indecorosa a ela.

Naturalmente, isso tudo a fez relembrar mais uma vez das represárias de Byakuya. Ela entendia seu irmão, até mesmo concordava com ele, no entanto, se esquivar dos avanços de Ichigo, que, a cada dia, cresciam em ousadia, era uma bela duma provação.

Somado a isso, acontecia às vezes dela ceder por medo de desapontá-lo. Mas precisava ser responsável, porque ele estava em plena puberdade, na fase das descobertas do próprio corpo, ou seja, num período muito intenso e delicado.

Virou-se, ficando de barriga para cima. Fechou os olhos e a face de Ichigo, num sorriso casto, se imprimiu em sua mente. Tão inocente. E justamente para não macular a inocência do amor deles, com escapadas antes do tempo, ela buscou ver com bons olhos a chamada de seu irmão. Além do que, o laço que unia ela a Ichigo era forte o bastante para não desatar pela falta de interações que não seriam, de forma alguma, descartadas, e sim postergadas até que o momento certo chegasse.

Acalentada com essas ideias, Rukia sentiu-se mais tranquila, e enfim o sono resolveu dar as caras. Bocejou longamente, puxou o cobertor mais para cima e, em poucos instantes, adormeceu.

ooo ooo ooo ooo

Soul Society, 03:15 AM

– Muito alarde por nada... - declarou Kurotsuchi Mayuri, diante da carcaça do imenso hollow capturado por ele mesmo no Mundo Real três dias atrás.

– Devemos organizar uma força de extermínio, capitão? - indagou Akon.

– Não é necessário. Além do que só poderíamos atacar a raiz do problema se fossemos ao Hueco Mundo. Tendo mapeado o padrão de reiatsu deles será fácil rastreá-los no caso de voltarem a aparecer.

Mayuri fez uma pausa, afastando-se da mesa de dissecação, então retomou:

– Desenvolvi um microorganismo perfeitamente adaptado e destrutivo a fisiologia desses hollows. Basta um mero dardo embebido num soro cheio dessas bactérias que poderemos abatê-los como moscas.

O terceiro posto assentiu e ainda que sua expressão não denunciasse, estava muito impressionado com a genialidade de seu capitão.

– Iremos projetar um rifle para esses dardos imediatamente.

– Façam isso. E depois, Akon, peça a Nemu para enviar um relatório ao vice-capitão do primeiro esquadrão, informando que esses inimigos não representam mais ameaça à Soul Society. A partir de agora, devemos voltar nossos esforços aos Arrankar novamente.

– Sim, capitão!

ooo ooo ooo ooo

O dia seguinte amanheceu ensolarado em Sereitei.

Matsumoto Rangiku passava orientações a alguns subordinados quando foi informada de que Abarai Renji desejava vê-la.

– Ele veio até aqui, é? - perguntou ela ao serviçal.

– Sim, vice-capitã. Posso fazê-lo entrar?

Ela suspirou pensativa, ainda estava bastante brava com Abarai por causa de suas rudes palavras no dia anterior, contudo, não podia simplesmente recusar-se a vê-lo.

– Tudo bem.

Meio amatutado, Renji entrou na sala e não falou nada enquanto o serviçal não os deixou a sós.

– Bom dia, vice-capitão. O que o traz aqui tão cedo? - perguntou friamente.

O ruivo se retraiu um pouco, mas foi logo respondendo:

– Bom dia. É... bem, eu quis vir falar contigo ontem, mas surgiu um imprevisto e precisei comparecer ao primeiro esquadrão. Por isso vim hoje, é... eu gostaria de me desculpar por ontem.

– Ah, então é isso? - revidou aguda.

– É... - disse um tanto desconcertado.

Um incômodo silêncio reinou por vários instantes, até que a ruiva soltou um longo suspiro. O que mais ela poderia querer? Afinal a iniciativa do amigo era digna de reconhecimento.

Mirando o azul daquele olhar indecifrável, Renji aguardava, aflito, uma resposta, até que achou melhor dizer algo mais:

– Kira me falou que você... sentiu muito a traição de Ichimaru Gin.

– Talvez não tanto quanto ele... - retrucou de pronto, mas depois voltou a ficar quieta.

Como paciência não era uma das virtudes de Abarai, ele quis liquidar logo o assunto.

– Vai me desculpar ou não?

Rangiku deu um leve sobressalto com a pergunta feita de supetão, mas logo acabou rindo.

– Ah, está bem! - disse ela então. – Talvez eu tenha levado tudo muito a sério.

O ruivo até expirou aliviado, almejando nunca mais ter aquele olhar gélido sobre si. Encararam-se uns instantes e então acabaram rindo juntos.

– Muito bem... virá almoçar conosco hoje? - perguntou Rangiku.

– Pode ser. Mas nada de apostas!

Um risinho sapeca foi toda a resposta dela. Claro que iria fazê-lo mudar de ideia.

ooo ooo ooo ooo

Ichimaru aproximou-se de uma sala, sorrateiro, de onde podia ouvir um dos Espada despejar impropérios contra o nome de seu aliado, Tousen Kaname.

– Algum problema, Grimmjow? - perguntou de súbito, naquele seu cinismo irritante.

Na mesma hora, o impulsivo Arrankar voltou-se em sua direção.

– Ichimaru! Por que Nnoitra foi chamado para caçar aqueles hollows e não eu?! - indagou ousado, num tom bastante alto.

– Dada a sua condição... - e apontou para onde deveria estar o braço dele – não pude escalá-lo, além do que o próprio Aizen-sama foi quem sugeriu mandar seu colega.

– Meu colega uma ova! - vociferou. – Eu poderia dar conta disso mesmo sem os dois braços!

Gin meneou a cabeça.

– É mesmo? - rebateu sem disfarçar a ironia. – De qualquer forma, não pude ir contra as ordens. Você, melhor do que ninguém, já devia saber que isso não é muito saudável.

O Espada estremeceu de ódio e crispou o punho com a provocação.

– Isso não vai ficar assim! Não vai! - esbravejou irado e saiu arrastando o pé.

Gin esboçou um sorriso zombeteiro, acompanhando-o com seus olhos cerrados.

– Grimmjow tem passado por muito estresse, não o deixe ainda mais irritadiço, Gin.

O ex-capitão do terceiro esquadrão deu um sobressalto, surpreendido por Aizen Sousuke.

Are, are... Aizen-taichou. Não perde essa mania de aparecer assim.

– E quanto aos dados que lhe pedi? - desconversou o líder.

– Ah, sim, já estava indo transmiti-los... Posso adiantar que daqueles três humanos que invadiram a Soul Society com Kurosaki Ichigo, a habilidade de Inoue Orihime merece alguma atenção. O relatório de Ulquiorra também comprova isso.

Aizen estreitou os olhos.

– É mesmo? - indagou com um discretíssimo sorriso. – Estou ansioso para saber mais a respeito.

Ichimaru assentiu com a cabeça e ambos seguiram dali em direção à outra sala.

CONTINUA...

ooo ooo ooo ooo

Notas:
1) Música no início, Ichirin no Hana (Flor Única), tema da terceira abertura do animê.
2) Ofurô é um tipo de banheira feita no Japão caracterizada pelo seu formato mais profundo e mais curto que uma banheira ocidental.


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Até o próximo e um forte abraço pra todos!
 

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Título: Olhos Espirituais
Gênero: Romance
Sinopse: Jussara e Caíque são dois jovens que vivem na cidade de São Paulo, seguidores de crenças divergentes, e cujas vidas se cruzam em função disso. Debates, escolhas, amor...Pode um amor vencer as divergências religiosas?
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