POV’ Kate

O meu despertador tocou – Zombie. Primeiro dia de aula começando, e com isso, a chateação começando também. O volume do despertador aumentava até eu desligar, mas eu gostava de ouvir rock enquanto acordo.

- Kate, desliga essa porcaria e vem tomar café! – esse sempre era o bom dia do meu pai.

- Já vou, pai que acorda sempre feliz e de bom humor! – eu provoquei.

Desliguei o som e levantei. Me olhei no espelho e me assustei com a bestante que eu vi no vidro. Tentei domar o meu cabelo com a escova, mas não adiantou. Tomei um banho, coloquei uma calça jeans e uma camiseta vermelha, e depois de marcar bastante meus olhos com sombra e lápis de olho, eu desci as escadas. Coloquei meu All Star cano alto e comi uma panqueca com caldo.

Meu pai me olhou com desgosto e me mandou usar um casaco. Peguei minha jaqueta e desci o elevador para esperar o ônibus da escola. Achei que iria começar a nevar bem naquele instante.

O carro do visinho saiu da garagem e minha panqueca estava querendo voltar para o mundo. A questão é essa: eu odeio o Jake. Tipo, nós estudamos juntos todos os anos da nossa vida. Ele é um ano mais velho que eu – sou adiantada – e se acha no direito de pensar que tem que pegar todas as garotas da escola. Mas eu tenho um ódio mortal por ele desde os meus sete anos.

Estávamos na aula de artes e a lição era fazer uma arte com cola, tinta, e uns recortes que tínhamos que trazer de casa. Ele simplesmente cortou um tufo do meu cabelo e usou na lição dele. Claro, ele levou uma advertência, mas eu que saí no prejuízo. O meu cabelo foi cortado. Tive que ficar estilo “Joãozinho” por um ano. Desde aquele dia eu peguei ódio mortal daquele idiota.

Ele saiu da garagem e parou na minha frente. Abriu a janela e sorriu de um jeito estranho. Mas que me deu vontade de socar a cara dele, me deu.

- Oi pirralha.

- O que você quer bobão? – eu já me encolhia de frio.

- Quer uma carona?

- Desculpa, mas eu não aceito carona de idiotas cortadores de cabelo da segunda série.

- Você ainda não esqueceu isso?

- Quem teve o cabelo cortado não foi você!

- Chega! Quer carona ou quer virar um picolé humano? Seu ônibus vai levar uns dez minutos pra chegar.

- Ninguém pode saber disso, o.k? Não quero manchar a minha imagem.

- Nhenhenhém! Entra logo!

Entrei e pus o cinto. Ele ficou me encarando de um jeito muito, muito chato.

- Como você quer que a gente chegue na escola? O carro não se meche sozinho!

- Desculpa nervosinha!

Chegando na escola, eu saí como um raio do carro e corri para dentro da escola. Não era permitido entrar nas salas, mas eu falei que iria ao banheiro. Os corredores estavam vazios e eu corri direto para a sala de biologia. Fiquei lá lendo meu livro até ouvir a porta abrindo.

Me escondi atrás de um armário e prendi minha respiração por um momento.

- Pirralha, pode sair. Sou eu, o seu vizinho mais lindo do mundo.

- Vai se gabando, idiota – eu saí e peguei meu livro.

- Escondida na sala... Tcs, tcs, tcs... Que feio – ele disse se aproximando.

- Tem razão. Acho que eu vou sair.

- Agora você não pode. A monitora vai perceber que você demorou e vai te advertir.

- Ótimo! – eu disse com falsa animação me sentando na cadeira. - Presa na sala de aula com o pior visinho do mundo!

- Não ofende!

- Te odeio.

O sinal tocou e eu sentei na minha carteira, e só para me provocar, ele sentou do meu lado – carteiras de dois lugares, as piores.