Sex, Drugs And Problems - IV escrita por Julya Com Z


Capítulo 17
Capítulo 82 - De volta à placenta




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O caminho pra casa foi totalmente silencioso, já que o Fábio dormiu assim que eu liguei o carro. Ele era uma cópia perfeita do Binho em tamanho menor. Magrelo, bocão, careca, olhos esbugalhados e verdes. E dormia com a boca aberta.

Desci do carro, abri o portão e estacionei do lado da moto do Binho. Ele não ia poder andar nela por um bom tempo.

Tive que carregar o Fábio até o quarto e coloquei ele na cama e o cobri com o edredon cheio de jacarés que eu comprei pra ele. Fechei a porta e fui pro quarto do Binho, dormir no colchão criado por um ser divino que irradia luz própria.

Tirei os tênis e morri.

Ooh, baby, don’t you know i suffer?
Ooh, baby, can’t you hear me moan?
You caught me under false pretenses
How long before you let me go?

Porra, que merda de telefone. Pra que tocar às duas da manhã?

Eu: Que é?

Camila: posso ir pra tua casa?

Eu: pra quê mano?

Camila: Vizinhos em festa.

Eu: Consegue uma carona e vem. Mas não quero ouvir nenhum tipo de sermão, porque você vai ver algo que não vai gostar. - desliguei.

*

Camila: Por que tem um moleque dormindo no antigo quarto da tua mãe?

Arrastei ela até meu quarto e contei tudo pra ela, que ouviu calada. Até eu terminar de falar.

Camila: Qual seu problema? Naty, você pode ser presa por isso, sua jumenta.

Eu: é a felicidade dele, porra. O garoto não podia ficar mofando num hospital. Se eu for presa, pelo menos foi por alguma coisa boa.

Camila: Não manda o foda-se, cara. É até bonito o que você tá fazendo, mas é muito arriscado.

Eu: Eu sei e FO. DA. SE. De verdade. Eu quero ver o Fábio feliz, custe o que custar.

Camila: Bom, eu não vou ganhar essa discussão, então vou dormir.

Deixei ela na minha cama e fui pro quarto do Binho me afogar no colchão. Finalmente dormi.

*

A Camila me acordou às dez e meia e nós ficamos conversando até o Fábio acordar. Ela olhou pra ele, pra mim e perguntou por que o Binho tava com cinco anos de idade. Eu ri, apresentei os dois e ele sentou na cama.

Eu: O que você quer de café da manhã?

Fábio: Brigadeiro!

Eu: Que tal um bolo de chocolate agora e depois a gente come brigadeiro?

Fábio: Pode ser!

Eu: Mas antes você vai tomar um banho.

Camila: Então eu vou comprar o bolo enquanto isso. Ah! Eu queria ir visitar a Ju hoje.

Eu: Tá, a gente vai.

Ele foi pro banheiro e disse que tomava banho sozinho, mas queria que eu ficasse com ele no banheiro. Depois que ele saiu, levei ele pro quarto todo enrolado na toalha e o ajudei a se secar.

Eu: A gente vai visitar uma amiga minha, tá?

Fábio: Onde ela mora?

Eu: Agora no céu. Ela virou um anjinho.

Fábio: Por quê?

Eu: por que ela já cuidou de quem tinha que cuidar aqui na Terra. Agora ela cuida de mim lá de cima.

Fábio: e quem cuida de mim?

Eu: Eu cuido de você. - bagunçando o cabelo dele.

Fábio: Mas você nem sabe cuidar de você.

Eu: Eu posso não saber cuidar de mim. Mas eu vou aprender a cuidar de você.

*

O bolo de chocolate que a Camila comprou não passou de um daqueles bolos de caixinha que vem aquela faca escrota de plástico marrom. O Fábio não gostou muito não, mas comeu.

Camila: Você queria bolo de chocolate, eu comprei.

Fábio: Eu queria brigadeiro.

Eu: Ei, ei. Já chega. Fábio, vai escovar os dentes pra gente ir logo.

Ele subiu e eu fiquei com a Camila no sofá falando merda esperando ele voltar.

Fomos pro carro e ficamos ouvindo T Mills o caminho todo. Estacionei perto da entrada do cemitério e descemos do carro. Peguei o Fábio no colo e fomos até o túmulo da Juliana.

Camila: Eu vou comprar uma flores, tá?

Fábio: Posso ir com você? - ela deixou e pegou a mão dele.

Quando fiquei totalmente sozinha apoiei os braços na lápide e encarei o nome da Juliana na pedra. “Nosso anjo da guarda.”, o epitáfio dizia.

Eu: Ei, Ju. É meio estranho falar com uma pedra mas, sei lá, ela te representa, né? Cara, como você faz falta. Você nem imagina o quanto. Ah! Mano, sabe esse molequ que veio comigo e a Camila? Ele tava no hospital e eu tirei ele de lá. Claro que, sem permissão oficial, mas uma médica lá, a Catarina me ajudou.

Juliana: Sério?

Eu: Sér… JU?!

Juliana: Oi Naty.

Eu: Ju… Cadê você?

Juliana: Aqui, boba. - senti um cutucão nas costas e quase desmaiei quando virei e dei de cara com a Juliana, me olhando.

Eu: J…JU?! - eu não sabia o que fazer, o que falar. Era um fantasma?

Juliana: Cara, jura que você caiu nessa? Mendes, olha pra mim. - Filha da puta. - Você acha mesmo que eu sou a Ju?

Filha. De. Uma. Arrombada.

Eu: Vai tomar no seu cu, Mariana.

Mariana: HAHAHAHA você acreditou mesmo? E que papo é esse de sequestrar um pivete?

Eu: Nada do teu interesse. Agora some da minha frente. - passei por ela, mas ela me puxou pelo braço - Me solta, porra.

Mariana: Você sequestrou um garoto ou não? - num tom ameaçador.

Eu: Eu não sequestrei ninguém. Me solta logo, vagabunda.

Camila: Naty? - colocando as flores no túmulo. A Mariana me soltou e foi direto pra perto do Fábio.

Mariana: ei, qual teu nome inteiro?

Fábio: Fábio Rossi Sales.

Mariana: E por que você tá careca? - com ar inocente.

Fábio: eu tenho leucemia.

Ela passou a mão na cabeça dele com o olhar triste, sussurrou algo no ouvido dele e foi embora. Agora fodeu de vez.

Camila: O que ela…

Eu: Ela me ouviu falar do… Sequestro.

Camila: E pra quem você tava falan… Ah, Naty. Porra, você é muito burra, velho. Falar com uma pedra?

Eu: Me erra, mano. - saí de lá correndo e vi a Juliana indo em direção ao ponto de táxi, mas puxei ela pela blusa e a joguei na parede. Apertei o pescoço dela, quase a enforcando.

Eu: Se você abrir esse bico eu juro que vou fazer você se arrepender do dia em que resolveu sair da placenta.

Mariana: E o que você vai fazer? Me mandar de volta pro útero?

Eu: Vou fazer você voltar pro pó do inferno de onde veio. - Ok, confesso que me senti num filme.

Mariana: Ui. Que medo de você. E fique sabendo que você não vai poder fazer nada lá da cadeia, minha querida. - minha mão, que ainda tava no pescoço dela, se fechou com mais força e eu finquei as unhas na pele escrota dela, com cheiro daqueles perfumes doces, que ataca a rinite de qualquer um. - Me… Solta… Agora.

Eu: Tá avisada. - Dei mais um empurrão no pescoço dela e a soltei. Ela começou a tossir e colocou a mão no pescoço, meio que fazendo massagem, sei lá.

Fui pro meu carro e esperei a Camila e o Fábio saírem do cemitério. Eles apareceram e a Camila fez o Fábio entrar, depois sentou no banco da frente.

Camila: Pensei que você ia largar a gente aqui. - fechando a porta.

Eu: Eu nunca largaria vocês sozinhos em lugar nenhum, por mais puta que eu tivesse.

Vi pelo canto do olho que ela sorriu e liguei o carro.

Eu: Fábio, o que a Mariana te falou?

Fãbio: Ela falou que logo eu vou pra um lugar melhor.

Eu: Que lugar melhor? - freando com tudo.

Fábio: Não sei.

Camila: Naty, a gente parou. - engatei a primeira e arranquei a milhão, até entrar numa rua mais cheia, então comecei a dirigir numa velocidade normal, que nos manteria vivos.

Fábio: A gente pode comer brigadeiro agora?


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