Sex, Drugs And Problems - IV escrita por Julya Com Z


Capítulo 15
Capítulo 80 - Super Binho


Notas iniciais do capítulo

--confesso que chorei escrevendo o capítulo anterior e tive que segurar as lágrimas escrevendo esse aqui--

Boa leitura ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/332729/chapter/15

Eu tinha chorado tanto com aquele abraço do Binho que me fizeram sair do quarto. Cara, como eu não ia chorar? Eu passei três meses e meio esperando aquele abraço. TRÊS MESES E MEIO, CACETE!

O Beck ia passar a noite no hospital. Era pra eu ter ficado lá, mas nem o Binho deixou. São todos filhos duma arrombada.

Deixei a Liv e o Leo em suas respectivas casas e a Camila na casa do Victor. Aquele namoro deles tava durando mais do que eu esperava. E eu ficava muito feliz por ela. É difícil encontrar alguém que preste nesse mundo pra chamar de seu. Por isso as pessoas trocam de “amor eterno” a cada seis meses.

Minha mãe quase deu um mortal do sofá quando me viu entrar em casa.

Mãe: Filha! Ai meus Deus, você tá bem?!

Eu: Claro que tô. Afe, parece até que eu fui sequestrada.

Mãe: Senti sua falta, só isso. - me abraçando - Ah! Boas notícias! Seu pai ligou e disse que…

Eu: O Binho acordou. - interrompi - Eu sei, Tava com ele no hospital. - Sorri pra ela - E a Paloma? O que deu a história toda?

Mãe: Ela tá no seu quarto.

Eu: E o Pierre?

Mãe: Ele saiu dizendo que ia esfriar a cabeça e ainda não voltou. Faz dois dias que ele saiu.

Eu: E VOCÊ ACHA ISSO NORMAL?! - subi as escadas buscando o número do Pierre nos contatos do celular. Quando achei, apertei o “Send” e depois do terceiro toque ele atendeu.

Pierre: Naty?

Eu: Não quero saber onde você tá. Você tem vinte e cinco minutos pra estar passando pela porta dessa casa, entendeu? Vinte e cinco minutos, nem um segundo a mais, ok?

Pierre: Nossa, tá bom. Vinte e cinco minutos.

Depois de desligar, fui pro meu quarto e vi a Paloma deitada na minha cama, virada de costas pra porta.

Eu: Pá? - mexi no cabelo dela.

Paloma: Três meses, Naty. Eu tô grávida de três meses.

Eu: HÃ? Paloma, faz três dias que você fez o teste e…

Paloma: Eu fui no médico e fiz o teste de verdade, e nesse teste eles dão uma estimativa das semanas de gravidez que eu tô. São quinze semanas no total.

Quinze semanas…? Isso dá…

Eu: São quase quatro meses, Pá. Só mais uma semana e você completa quatro meses de gestação.

                                                       *

Os riscos que a Paloma e o bebê corriam eram tantos, que eu cheguei a pensar que ela tava caminhando no corredor da morte. Ela podia morrer no parto, o bebê podia morrer no parto, os dois podiam morrer no parto, o bebê podia nascer com alguma doença (ou todas), podia viver apenas horas… Aquela gravidez parecia mais um ritual satânico. Sem contar que a barriga dela não crescia. Segundo ela, o médico disse que era normal, já que ela era muito nova, magrinha e sei lá mais o quê. A barriga ia começar a aparecer depois dos cinco meses. Afe, que enrolação. Mas tá bom, né? O que eu posso fazer?

Uma semana passou e faltavam poucos dias pro Binho terminar o tratamento doido que tava fazendo e poderia (finalmente) voltar pra casa.

Eu tinha voltado pra minha casa com o Mick e deixei a Paloma no meu quarto da casa da minha mãe (afe, confusão mode on). Ela não tinha coragem de voltar pra casa e queria ficar com o Pierre, então ficou lá mesmo.

Minha casa era grande demais só pra mim. Eu sentia falta do Binho andando de cueca pra cima e pra baixo e cantando músicas em inglês, tudo errado e desafinado. O cheiro dele tava impregnado no sofá. Algum perfume caro pra caralho com algo tipo menta. Ele tinha um cheiro só dele, difícil de decifrar. Um cheiro perfeito, que ficava onde ele tocava.

Aquela sexta-feira fria de fim de junho foi “normal”. Nada novo, além do fato de ser o último dia de aula antes das tão sonhadas férias de julho. É, eu precisava decidir logo qual faculdade ia fazer. Foda-se, depois eu penso nisso.

Saí da escola e fui pra casa. Só tinha miojo e pipoca no armário. Ovos na geladeira e um pote de sorvete no congelador. Resolvi ir almoçar na padaria do Cláudio.

                                                *

Comprei cigarros e deixei um maço no bolso pra fumar um seguido do outro, até torrar meus pulmões.

Fiquei na beira da piscina, vendo o Mick correr pra lá e pra cá atrás de uma mosca. Cachorro besta.

?: Naty? - a Paloma sentou do meu lado. E mais uma vez eu esqueci de trancar a porta, e o portão, puta que pariu - Dei uma passada em casa pra pegar umas coisas e resolvi vir aqui ver como você tá. Tudo bem?

Eu: Acho que… sei lá o que eu acho a essa altura. Tá difícil saber o que eu mesma sinto, sabe?

Paloma: Sei com é. Você se sente sob uma pressão constante. Como se o mundo estivesse predestinado a te encurralar, prender, derrubar, sei lá. Mas ninguém precisa ser sábio, vidente mago ou o que for pra saber que o único objetivo do mundo é esse mesmo. Quem tem que decidir entre levantar e se manter no chão é você. Só você.

E aí estão as palavras que eu precisava ouvir pra entender minha confusão mental. Calma aí… a Paloma filosofando?

Eu: Teu bebê por acaso é o Caio Fernando Abreu?

Paloma: sei lá. Tô assim porque fumei o baseado que achei na sua gaveta.

Eu: TÁ MALUCA? VOCÊ TÁ GRÁVIDA E FUMA MACONHA!

Paloma: Live fast, die young.

Eu: But don’t kill your baby…

Ficamos de boa por mais um tempo, até que ela resolveu ir embora. Tomei um banho e me joguei na cama do Binho. Que comecem as férias.

O bom das férias é que todas aquelas vagabundas (e isso inclui as professoras) que você tem que ver todo dia somem. Aquelas galinhas do cu arrombado vão fazer um bico (sem trocadilhos) em algum puteiro e desaparecem, graças à Zeus e seus poderes. A verdade é que minha escola devia chamar galinheiro.

Quarta-feira. Dia de porra nenhuma. Acho que já disse isso antes, mas é verdade, não é?

Fui no hospital pra ver o Binho, mas cheguei bem mais cedo. Deu vontade de fazer uma coisa que com certeza ia mudar meu dia.

Beto: Naty, o Fabrício ainda tá na fisioterapia, vai demorar.

Eu: Eu sei, eu queria ir na parte que tem crianças com câncer.

                                                          *

Atravessei o hospital inteiro e cheguei num corredor mais iluminado. O Beto tinha me apresentado a uma enfermeira sorridente de uniforme rosa, a Catarina.

Catarina: Você tá procurando alguém?

Eu: Não, eu só queria ver as crianças mesmo.

Catarina: É raro vir alguém por livre e espontânea vontade. Você tem algum conhecido com câncer?

Eu: Não.

Catarina: Uau. Isso é realmente raro acontecer. Mas que bom que aconteceu. Vem cá, vou te apresentar aos meus anjinhos.

Ela me levou até uma sala colorida, cheia de puffs e almofadas coloridas, brinquedos, uma musiquinha infantil tocando, um ambiente alegre. Tinha mais ou menos dez crianças vendo TV, brincando de boneca, carrinho ou falando com amigos imaginários.

Catarina: Pessoal, essa é a Naty. - Sorriram pra mim - ela vai ficar um pouquinho com vocês, tá?

Conheci cada uma das crianças, e me encantei com todas. Mas o que mais me encantou foi o Fábio, um garotinho de cinco anos, com leucemia. Ele tinha traços parecidos com os do Binho e, com a cabecinha raspada era ainda mais parecido. Na verdade, ele era igualzinho ao Binho em uma das fotos que eu vi dele quando criança. Fiquei sentada no chão brincando de carrinho com ele durante um tempo.

Fábio: Naty, você veio me levar?

Eu: Como assim te levar?

Fábio: Uma moça igual a você disse que ia me levar embora.

Eu: Embora pra onde, Fábio?

Fábio: Ela não disse. Só falou que vinha me buscar.

Eu: Eu não vim te buscar, não. Mas eu posso trazer alguém pra te conhecer, que tal? É um amigo meu que é a sua cara, mas é desse tamanhão. - estiquei o braço no alto, indicando a altura do Binho.

Fábio: Uooou! Ele é um gigante?

Eu: Não, mas é quase da altura de um. E ele é um super-herói, sabia? O Super-Binho. Mas ele usa identidade secreta.

Fábio: E qual é?

Eu: Ele finge que o nome dele é Fabrício.

Fábio: Parece meu nome!

Eu: Parece, sim. - sorrindo com a animação dele.

Fábio: Eu posso conhecer ele?

Eu: Eu vou ver se dá, tá bom? Se não der pra trazê-lo hoje, eu trago outro dia.

Fábio: Tá bom.

Saí da sala e liguei pro Beto, que disse que eu podia levar o Binho até a ala de câncer do hospital, pois ele tinha boas notícias, mas só diria depois que eu e o Binho voltássemos da nossa visita ao Fábio. Fui pro quarto do Binho e ele tava colocando uma camiseta regata preta do Guns’n’Roses. 

Binho: Ei, o Beto disse que eu ia visitar alguém.

Eu: Vai sim, Super- Binho. - sorrindo.

Binho: O quê? - ele riu. - Quem eu vou visitar?

Eu: A gente vai visitar. E cala a boca, não vou responder às suas perguntas. Vem comigo.

Peguei a mão dele e fomos até a outra ala, o Binho sem entender nada do que tava acontecendo.

Entramos na sala onde o Fábio tava antes, mas ele não tava mais lá. Olhei em volta algumas vezes, mas nem sinal dele. Encontrei a Catarina e perguntei pra ela onde ele tava. Ela nos levou até o andar de cima, pra um quarto todo colorido. Imagens de arco-íris, borboletas e mais coisas coloridas e felizes decoravam todas as paredes. O Fábio tava sentado na cama, empilhando cartas de baralho. Puxei o Binho pra dentro do quarto e a Catarina saiu, fechando a porta. O Binho olhou pro Fábio, depois pra mim e sorriu.

Eu: Psiu!

Fábio: Naty! Você voltou! - um sorriso iluminou o rosto dele

Eu: Claro que voltei! e olha só quem eu trouxe. - olhei pro Binho - Desculpa Super-Binho, mas eu falei pro Fábio que você é um super-herói e disse que sua identidade secreta é Fabrício. - pisquei pra ele, que entendeu logo o que eu tava falando.

Binho: Tudo bem, ele podia saber. - piscou pra mim - Beleza aí, mano? - bateu na mão dele.

Fábio: Aham. Você não é tão alto que nem a Naty disse.

Binho: Ah não, é? Bate aqui. - ele ergueu um pouco a mão. O Fábio esticou o braço e bateu na mão do Binho. - Ah, droga, você conseguiu. Deixa eu ver… bate aqui. - ele esticou o braço pro alto e o Fábio tentou bater, mas não alcançou. Ele saiu da cama e começou a pular, mas não alcançou.

Fábio: Tá bom, você é alto sim.

Eu: Hahahahaha Eu falei.

O Fábio nos encarou um pouco e pegou minha mão.

Fábio: Vocês são namorados?

Olhei pro Binho, meio que sem saber o que responder.

Binho: Não. Ainda não - os dois piscaram um pro outro e o Binho sorriu pra mim, com cara de inocente.

Eu: Ei, o que você tava fazendo aí? - apontei pras cartas de baralho, querendo mudar de assunto.

Fábio: Eu tava arrumando as cartas pra fazer um castelo. Vocês querem fazer comigo? - os olhos ele brilharam, como se implorassem.

Binho: Claro! Vamo fazer, Ná? - os olhos dele, da mesma cor que os do menino, brilharam com a mesma intensidade. - Por favor. - Fez um biquinho.

Eu: Tá bom, vamo fazer. - eles comemoraram e nós três sentamos no chão. Cada um fez uma parte, até completarmos a primeira fileira e, quando o Fábio foi colocar uma carta na segunda fileira, caiu tudo.

Fábio: ah, que droga. Quer saber? Esquece o castelo, deixa pra lá.

Binho: Ei, tampinha. Ninguém nunca te ensinou a não desistir de nada?

Fábio: Não, isso eu aprendi sozinho. - Touché.

Binho: Então não desiste de montar o castelo.

Fábio: Mas é muito difícil. Eu não vou conseguir.

Binho: Se você não tentar eu vou virar um super-vilão.

Fábio: Qual?

Binho: O Senhor-Cócegas! - e começou a fazer cócegas no menino, que caiu rindo. Ele tinha uma risada gostosa, daquelas contagiantes.

Passamos umas duas horas montando o castelo de cartas com o Fábio, atpe a Catarina entrar no quarto e dizer que ele tinha que descansar.

Fábio: Vocês vão voltar? Não vão me abandonar?

Eu: Claro que vamos voltar. Quem abandonaria você?

Fábio: Minha mamãe. Ela nunca veio me visitar. - engoli um nó que se formou na minha garganta.

Eu: Olha só. Eu e o Super-Binho prometemos que nunca vamos te abandonar, ok? - passando a mão no rosto dele. - amanhã a gente volta pra terminar o castelo, tá legal?

Fábio: Vocês dois?

Binho: Nós dois. Tchau, Super-Tampinha. - bateu na mão dele. - Saímos do quarto e o Binho me abraçou antes de começarmos a andar. - Promete que vai me dar um filho foda igual àquele moleque? - beijando minha cabeça.

Olhei nos olhos dele.

Eu: Prometo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sex, Drugs And Problems - IV" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.