De Volta Ao País Das Maravilhas escrita por Kremer


Capítulo 3
Capítulo três: O Jardim de doces e o formigueiro




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/332429/chapter/3

O jardim tinha um cheiro tão agradável e doce, que Mary Ann inspirou profundamente diversas vezes. Ele era feito de doces: macieiras que davam maçãs carameladas, arbustos com barrinhas de alcaçuz, tigelas de pudim espalhadas pelo chão e uma trilha feita de tabletes de chocolate. “Como não vão me invejar as crianças da escola quando lhes contarem sobre isto aqui!” pensou Mary Ann, que seguia pela trilha. “Talvez eu não deva comer muito, pois é certo que abusar dos doces acaba fazendo mal à gente.” Refletia, enquanto comia uma barrinha de alcaçuz aqui, um caramelo ali, e foi caminhando até se deparar com um laguinho de águas tão claras que era possível ver os pequenos cavalos nadando no fundo.

- Que peixes esquisitos! - Comentou a menina, quando viu que havia uma plaquinha na margem, dizendo "Beba-me".  - Acho que não fará mal se beber, estou com tanta sede... -  E pôs-se a beber da água do lago. E então algo aconteceu: Mary Ann começara a diminuir! Diminuíra tanto, a pobre Mary Ann, que agora o lago parecia um grande oceano que se estendia à sua frente.

- E agora? Como poderei ir assim para casa? - Estava assustada com seu tamanho, mas logo se esqueceu do acontecido, pois alguma coisa estava a empurrando, e quando ela viu o que era, notou que estava em uma trilha de formigas.

- Depressa! Temos que chegar ao formigueiro! - Ordenava a formiga atrás dela, que a empurrava teimosamente.

- Mas eu não sou formiga! - Discutiu Mary Ann, porém a formiga estava muito determinada.

- Depressa! Temos que chegar lá logo! -  E várias formigas fizeram coro: “Formigueiro! Temos chegar ao formigueiro!”

A pobre Mary Ann não teve escolha senão ir com elas. Marcharam por alguns minutos, e então entraram em um túnel em meio ao capim. “Terei de ter cuidado, posso me perder... aqui é tão escuro!” Pensou a criança, enquanto andava em meio à escuridão. Estava tão escuro que não podia evitar encontrões com as formigas o tempo todo. “Desculpem-me, é que está tão escuro...” Desculpava-se Mary Ann, porém as formigas apenas resmungavam algo e a empurravam. “Que vida curiosa essa,” pensou Mary Ann, “em que todos agem igual.”

De repente, o túnel abriu-se em um grande salão iluminado, que não tinha nenhum móvel, a não ser um grande trono de barro no centro. A figura sentada nele era maior que todas as formigas. “Esta é a rainha delas, e elas são as operárias.” Pensou, muito orgulhosa de si mesma, pois certa vez lera um livro que falava sobre as formigas. As operárias formaram uma fila única na frente da rainha, e foram despejando aos pés dela alguma coisa, talvez alimentos, Mary Ann pensou. E então ela se lembrou de que estava de mãos vazias, mas seguiu a fila assim mesmo, e quando chegou a sua vez, apenas fez uma mesura e se retirou.

A rainha não parecia estar muito interessada no que acontecia a sua volta, tinha o olhar perdido. Quando nenhuma formiga restava para lhe dar os alimentos e Mary Ann achou que aquilo iria acabar, elas formaram novamente uma fila e começaram a pegar os alimentos, cada uma pegava um de cada vez, e se retiravam. Mary Ann achou aquilo muito estranho, e quis ficar onde estava, porém as formigas a mandaram para o final da fila. Passou por tudo de novo, e obviamente, quando chegou a sua vez, nenhum alimento restara. Então ela novamente fez uma mesura e se retirou. A rainha ficou imóvel por alguns minutos que pareciam horas, Mary Ann estava ficando muito entediada. “Realmente, a vida das formigas não é tão legal quanto eu imaginava.” Refletiu. Ela até tomou um susto quando a rainha subitamente anunciou: 

- Queimem a comida! -  E começou uma grande comoção no formigueiro. Todas as formigas correram por trilhas que subiam, e Mary Ann as seguiu, apreensiva. Correram até chegarem ao topo do formigueiro, e esperaram todas estarem na superfície. Mary Ann lembrou-se que o topo do formigueiro deveria ser mais fino do que o resto dele, como uma montanha, portanto todas as formigas não caberiam lá em cima. Mas ela notou que toda vez que o lugar lotava, as bordas se esticavam como se fossem de borrachas e liberavam mais espaço. Mary Ann suspirou de alívio, pois nunca gostara de lugares lotados. “É como se a qualquer hora pudessem passar por cima da gente”, refletiu.

Em seguida, todas as formigas estavam ao redor da pilha de comida que coletaram. A formiga rainha aproximou-se com um uma lupa e a segurou em cima da pilha de alimentos.

- O que ela está fazendo? - Mary Ann perguntou para a formiga do lado, esta respondeu, sem tirar os olhos da comida:

- Está queimando a comida. - Mary Ann não via fogo algum, e sabia que aquilo era muita tolice. "Ela está fazendo errado”, pensou. “De qualquer forma, é melhor assim. Onde já se viu, ter o trabalho de pegar tanta comida para depois queimar?” Enquanto refletia, Mary Ann lembrou-se de todas as vezes que teve de engolir toda sua comida, porque seus pais não admitiam desperdício.

- Gostaria que eles vissem isso aqui, o que pensariam? Certamente colocariam todas elas de castigo. Mas não acho que eles possam chegar até aqui. E onde é exatamente aqui, afinal?

Questionou Mary Ann, e só reparou que o fizera em voz alta quando alguém disse atrás dela:

- É um formigueiro, menina tola. - Quando ela se virou viu que não se tratava de uma formiga, e sim de uma grande borboleta azul.

- É um formigueiro muito esquisito. - Disse, feliz por ter alguém com quem conversar.

- Se o acha esquisito, por que está aqui? - Perguntou. Mary Ann não gostou muito do modo como a borboleta falava, mas respondeu mesmo assim.

- Porque não tive escolha senão vir com elas, e devo dizer que estou muito entediada. - Comentou. A borboleta esticou suas asas um pouco e respondeu:

- Tolice, você sempre tem uma escolha. Agora se me der licença, vou voar daqui. - Disse a borboleta. Mary Ann, porém, logo gritou em resposta:

- Espere! Por favor, será que poderia me levar com você? - E tentou chegar até a borda onde estava a borboleta. Como as formigas não se moviam, ela por vezes murmurava um “com licença” e as empurrava para o lado. Por fim chegou até a borboleta, que fitava o horizonte e dizia com uma voz um pouco distante:

- Veja você, como sempre temos escolhas: posso escolher não levar você, tanto como posso escolher levá-la.

 Mary Ann observou que a borboleta tinha a expressão distante e calma, e perguntou-se por que todos ali pareciam ser tão desatentos.

- Pode, por favor, me levar? -  Repetiu a menina, mas a borboleta já abriu suas asas e disse:

- Suba! - Mary Ann obedeceu imediatamente: não queria passar mais nem um minuto com as formigas. Não que elas lhe fizessem algum mal, mas eram tão monótonas que não tinham graça nenhuma.

A borboleta voava muito depressa, e Mary Ann podia ver algumas coisas de relance se distanciando, como as grandes tigelas de pudim, as gigantes macieiras que davam maçãs carameladas, a trilha de chocolate e por fim o lago. Mary Ann se sentia muito perdida devido ao seu tamanho. Desejou não ter bebido do lago, pois certamente teria encontrado coisas muito mais interessantes pelo caminho se estivesse com seu tamanho normal. A borboleta por fim pousou em um cogumelo e Mary Ann desceu de suas costas.

- Muito obrigada, mas não deveria me dizer o seu nome? -  Perguntou, tentando não soar curiosa demais.

- Por que? - perguntou a borboleta.

- É natural duas pessoas desconhecidas dizerem seus nomes umas às outras, assim passam a ser conhecidas. O meu é Mary Ann. - Disse a menina, muito polidamente.

- Eu não sou uma pessoa, sou? - Disse a borboleta, que agora batia suas asas. - Mas se quer saber, um lado te faz crescer e o outro te fará diminuir! - gritou a borboleta, que começara a voar. Mary Ann achou muita falta de educação da borboleta, pois achara que poderiam ser amigas depois que ela lhe dera a carona. Mas não entendeu muito bem o que ela quis dizer. “Lado de quê?” perguntou-se. Como não havia nada ali além do grande cogumelo em que estava sentada, arrancou dois pedaços dele, um de cada lado.

- Qual lado será? -  Perguntou-se em voz alta, na esperança de que alguém lhe dissesse. - Só há um meio de saber... - e então deu uma mordidinha em um deles, e disparou para cima como um foguete na mesma hora. Porém crescera demais, estava do tamanho de uma árvore. Então pegou o outro pedaço do cogumelo e lambeu um pouco. E pronto! Agora ficara do tamanho ideal. “As coisas aqui funcionam de um jeito muito curioso”, refletiu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "De Volta Ao País Das Maravilhas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.